quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Passei no vestibular!

Passei no vestibular!



Esse era o grito de comemoração mais querido, e ainda creio que seja de jovens estudantes. A guerra dos estudos termina com um alívio incalculável, o passaporte para a vida adulta é adquirido, agora é contigo herói, o mundo é seu! Eu me senti assim, na maior conquista palpável e reconhecida que tive, quando bem mais moço... Passei! Vamos comemorar! Disse o jovem George, antecipadamente, com a certeza do Cabral ao ver nossa terra, confiante desafiou “Hoje quem paga sou eu!”. O rapaz magro, com boas entradas na testa, era um remanescente dos amigos já universitários: Ele tinha ficado prá trás, no desejo de fazer engenharia civil, mesmo para o curso “operacional” não passava no vestibular. Na época as provas eram no Maracanã, prova verde, amarela, azul, múltipla escolha. Foi um domingo de verão que “Jorginho das bocas” adentrou o bar com essa boa notícia, devidamente aceito com orgulho pelos amigos do botequim, vamos tomar todas! Eu fiquei com a “pulga atrás da orelha”, bebia a alegria do nobre colega, futuro engenheiro, com uma leve desconfiança da convicção inabalável e tão adiantada do fato. Passou como? Acabou de fazer uma prova difícil, pela qual ele não abandonou sua vida atlético-noturna, e as praias, assíduo freqüentador diário: Uma boa vida de primeira, e mulherengo...

A mágica se fez após o sexto chope. Como você tem essa certeza meu camarada? Bicho, tu voltou do Maracá e já comemora o final do campeonato? Qual é meu irmão? Resposta: “Tenho uma certeza absoluta! Colei o gabarito da prova!" Dez, dez, nota dez! Fiquei meio sem jeito de ter perguntado, se o amigo tinha o gabarito certo que iria passar, etc. Naqueles tempos não tinha Enen e outros testes, e muito menos vasava gabarito, estávamos em plena ditadura militar, o bicho pegava feio, e o Pai da criatura (Jorginho) não era General, então como? O mistério começou a me embebedar mais que o álcool, fui ficando chato e, novamente, perguntei " George, abre o jogo, qual foi o pulo do Gato?”. Ele riu, riu muito e disse “Sentei atrás de um gênio!” Não tenho dúvidas, zerei o gabarito! No oitavo chope indaguei quem era o tal Einstein? Simplesmente um Japonês magro, olhos fundos de tanto estudar, óculos de grau, pinta de CDF, fera total, gênio! Paguei a décima rodada, estava confirmado, George estava na faculdade e triste de quem o contratasse como estagiário, só se for à companhia cervejaria Antártica, para o controle de qualidade, disso ele entendia, e de gastar pouco. O Pai tinha uma Rural Willys, coisa fina, dava para percorrer Santa Tereza com desenvoltura e pegar as meninas para umas voltas na barra da tijuca; veículo 4 x 4 , e a graça era atolar com as “gatinhas” que, sem chance de voltar,ficavam presas fáceis, então era só faturá-las ! As meninas ficavam desesperadas, com hora para voltar, ás 4 horas da manhã, carro atolado na areia frouxa e o bom Jorginho dava as ordens “Roberto, fica aqui na rural que vou pedir socorro na estrada” Era a senha, ele pegava seu cobertor de lã e levava sua vitima para os matos rasteiros da praia deserta e Eu tinha o tempo de dar conta do recado na espaçosa cabine da rural atolada... Amanhecia tempo frio, as meninas choravam, e Jorginho das bocas colocava uns gravetos nas rodas e ligava a marcha menor (segredo viu?), o carro se animava nas 4 rodas e salvos seguíamos o caminho do asfalto!

Essa figura era o rei do “ovo colorido”, não tinha tempo feio, a grana da cerveja estava garantida e o tira gosto também: Um pouco de sal e a cor preferida! Delícia! Nos acampamentos tínhamos o macarrão miojo (que nojo!), ele traçava de lamber os beiços! Gastava pouco e curtia muito a vida, bom engenheiro, tão bom que se formou e foi trabalhar na conservação das redes elétricas da cidade. Eu o vi em uma tremendo apagão no bairro de botafogo, tudo parado, engarrafamento monstruoso até eu avistar a “peça rara” ali, na boca do buraco, consertando (ou causando) o desastre. Saudades do sorriso farto e da malandragem implícita em tudo que fazia.

Ele demorou a passar no vestibular, graças á incompetência da “japa” que tirou ZERO ( passou uma semana querendo matar o nipônico, graças a Deus não achou sua vítima...), mas com esses fracassos na vida ele se formou um bom Pai, marido. Tenho a certeza de ter conhecido um gênio na arte de ser feliz, com pouco, gostando da vida dura, sem reclamar, e ainda por cima aprendi a gostar de ovo colorido ! Sempre escolhi o vermelho...



Roberto Solano

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Problema? Só 20 % ...

Problema? Só 20 % ...

Uma vez, anos atrás, estava em um momento difícil, pouca grana e sem objetivos. Sentia-me mal, fracassado, triste mesmo, e caí em depressão. Não desejo a ninguém essa tal de “depressão”, é a morte em vida! Um castigo acordar, comer, trepar, e outros desejos: Não há vontade, brochura total! Tive tratamento (caro!) e sobrevivi... Neste temporal me aparece um consultor econômico-financeiro na TV, em um desses canais pouco assistidos, via cabo. O japa era magro, feio e de óculos, perfeito para o cargo, fala lenta, português péssimo e teoria ótima. Eu ali deitado, na fossa, sofrendo, vi o cidadão nipônico falando de problemas! Parei claro. Eu cheio de problemas, na merda, e alguém joga uma corda! Atento fiquei; as frases saiam meio truncadas, lentas, dava prá entender: “Problema 100 % ?, elado!” O japa estava convicto que tinha a solução da humanidade. Prestei mais atenção “50 % de problema não é seu problema!” Opa! Já caiu pela metade, beleza, estou gostando desse xingue-lingue ! “Explico: 50 % de problema são dos outros, e não é seu ! os outros que querem te passar problema ! Tua mulher não tem dinheiro prá comprar sapato ? Problema da tua mulher ! Teu filho não estuda, problema de teu filho, dê castigo !” Já estou gostando desse consultor, cabra bom ! Aumentei o volume e observei a gravata amarela sobre um terno cinza, coisa mais desarrumada... Cientista é meio desligado mesmo... “Sobrou 50 % céto? 30 % não tem jeito” Gostei! Já contabilizo 20 %, estou ficando melhor, e, aliviado, aumento o volume, chego para perto da TV. O japa tem uma cara de bom aluno mesmo, pouco cabelo, face magra e um óculos que nem meu avô usaria, fundo de garrafa, que trazia uns olhos maiores para fora daquele rasgo horizontal do povo do Sol nascente. “30 % problema estrutural! Você é feio e quer ser bonito, né? Solução zélo! Teu filho é bulo??? Muito bulo mesmo,né ? Não pode ser engenheiro, né ? Solução zélo ! Tua sógla é chata, né ? Solução zélo” Japa inteligente, pensei. “quanto soblou ??? 20 % !” É isso, 20 % de 100 %, uma economia de 80 % de problemas a menos ! Fiquei animado demais, feliz, cheguei a esboçar um sorriso, e fui melhorando da depressão... Gradativamente fui reduzindo a minha conta de problemas. Estou devendo o Bradesco, né? Solução zélo! Liguei para o gerente e passeia a “batata quente” prá ele, sem antes perguntar se ele tinha visto o " meu consultor ", não viu? Problema é seu ! A sogra ligou, problemas mil na família, né ? Solução zélo ! Minha querida, desligue a novela e vá ver o meu ídolo na TV cultura, vale á pena, beijo no sogro ! Pai, vai rolar um show de rock MARAVILHOSO ! Ingresso R$ 250,00 ! Está de graça, né ? Solução zélo ! Filho fale com a sua mãe ela tem sempre uma solução prá tudo ! “ Amor, a Cláudia está com um vestido lindo, comprou baratíssimo, o que você acha ? " Solução zélo, pensei... Querida, o Paulinho quer um ingresso para o rock, não é hora, mas fale com ele, e aproveitem para dar uns puxões de orelha, as notas estão baixas e ele só fica ouvindo música enquanto você vai para a academia, conversem que prá tudo se dá um jeito, né ? SOLUÇÃO MIL !!!!!!!!!!!

Fiquei curado!



Roberto Solano

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Feliz Natal

Feliz Natal!



Desejo comum, fim de ano, festas. Aproveito para deixar o meu carinho e a vontade de te conhecer melhor, para que eu possa errar menos. Gostaria que me visse como um “alguém” que te quer bem e te quer mal, quando você pisa na bola e perde o gol. Mas nada que eu não perdoe, nada que não se dissipe no meu coração velho de guerra, bom perdedor, acostumado aos ciclos do bem e do mal. Te quero bem, amigo ! Feliz Natal!

Peço-te que pares um pouquinho para ver o mundo com outros olhos, o da paciência, ela (grande arvore) dá frutos saborosos, te trará calma, aprenderás a esperar e pensar junto, a inteligência da calma... Sejas mais calmo e paciente com teu amigo aqui! Respingue essa água benta em todos, nos filhos, na sogra (um pouco mais!), na digníssima esposa e respire fundo. Agora peça calma e aprenda a lição de ver uma mesa plena, agradeça e encha-se de orgulho, de ser provedor e saber que a batalha da vida não te derrubou: Meus parabéns! Peça calma, quando essa mesa estiver vazia, reze. Abrace todos, peças desculpas pelo que não fez por eles, agradeça o que fizeram por ti. Tua família, união.

Coma e beba, fique feliz, abra presentes e não os valorize muito, olhe mais para os rostos das crianças, elas detêm a sinceridade, pureza. Veja os velhos como novos, trate-os como se fossem jovens, coloque uma música que os agrade, dance com eles, vibre com as piadas mil vezes repetidas pelo teu avô, ele vai gostar, vai rir de você rindo. Dê amor ao idoso, ele não quer presente, ele quer o passado! Percebeu a mágica? O passado doce, fatia-parida na mesa, ele já foi você e teu filho será você! Mostre que os que viveram estão ainda felizes, não passe a imagem da nulidez da vida cansada, ria, muito.

Só queria te dizer que eu sei perdoar e gosto de ser perdoado, não sei esperar, mas tento aprender, pouco rezo porém com muita fé, fé em ti amigo. Que os céus tragam o que a terra nunca te dará: luz. Veja o mundo com essa luz , e ilumine todos que te cercam, pedindo para ver a luz do próximo, é a festa da luz, vamos aproveitar e nos ver melhor. Que essa dança das lanternas se espalhe por aí, todos vistos como um pontinho na terra, que de longe vai se moldando; cada homem um ponto na seqüência infinita de luzes, formando uma arvore colorida de vida, de natal.

Paz, paciência, paixão, perdão.



Feliz Natal!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Mentira

Mentira



Já pensou um mundo sem mentiras? Aliás, sem o mentiroso? Eu já e não gostei do que vi. O mentiroso é, em primeiro lugar, mal entendido (nem todas as mentiras “colam”), por isso sofre demais. Quem fala só a verdade sofre muito mais, pela burrice que toda verdade traz, e pode ser muito pior conviver com esses chato de galochas, o santo da verdade pura, o certo, certíssimo! Grande filho da mãe! Nunca erra, só tem verdades. Para você só falar a verdade tens que ser um chato, estudioso, para não cometer enganos! Errar? Jamais, só a pura verdade, informação correta, na bucha, sem deslize, chato prá encrenca! E encrenca tu vais arrumar se andas com esse cidadão da confiabilidade total, ele te entrega: “Não foi bem isso que você falou!” Pronto, ferrou tudo, você já estava avançando no papo, a galera acreditando na tua manobra, a mentira virando um fato, e chega o contraditório, teu colega chaturinha, desfaz tudo... “Não acredito, prove!” De novo o intrigante vem pentelhar teu memorável fato, tua conquista, estavas agradando a menina, fazendo o perfil atlético que ela gosta, e dissestes que subiu a pedra da Gávea, 2 vezes, certo? Não acredites! Putz, que cara chato! E a facada no coração é aquela frase “Mentindo de novo!” Essa é mortal! Normalmente vêm da ala feminina, elas sempre não acreditam na tua estória e nunca há uma “mentirinha” só, uma vez só, nunca. Não! Sempre mentes “de novo”, é duro mesmo, mas, ainda assim é melhor mentir.

Mentir é uma arte! Final de ano prova você chega a casa, véspera de Natal, pedido já feito e vem à maldita pergunta “Foi bem na prova?” E aí, colega, você entrega teu pescoço? Vai dar uma de santo e se martirizar, ou confiante na revisão de prova, arrancar os pontos que te faltam? Eu sempre respondia, fui muito bem, mamãe! Olhava para o Pai, que tirou brevemente os olhos do jornal, desconfiado, eu dizia “Deu prá passar!”. A linda garota também deu prá passar! ( Ela respondeu : DEI ) Mas isso é outro artifício. Eu sabia que meus irmãos passavam por média, fato terrível de ser aceito e entendido. Pô, sempre assisti às aulas, os professores é que são exigentes demais! Colégio de São Bento, duro, e mais ainda estudar para a prova final, largando a bola e os amigos já de férias, que merda...

E você? Sempre passou por média? Disse a verdade, sabe de tudo, é um “consultor”? Nunca mentiu né? Mas teve vontade de pular a cerca... Seu frouxo ! Tua inteligência emocional é ZERO!!! É isso aí, inventaram a tal da inteligência emocional, que infelizmente não havia no meu tempo de guri. È a ONG dos mentirosos atuando no mundo intelectual, coisa de gênio preguiçoso, dá certo! Você passa a mentir e agrada todos! É comunicativo, alegre, descontraído, todos te querem, sabe prá que? Mentir, mentir muito, com classe e respeito! A nossa ONG é coisa séria!

Estamos salvos: Mentirosos unidos jamais serão vencidos! Viva a UM (Universidade da Mentira), faça seu MBA (Mentir Bem Agrada) por lá e tenha sucesso na vida! Sem a mentira não há a criatividade, a arte, e você não sobrevive nesse mundo cão! Viva o Barão de Munchhausen (Karl Friedrich Hieronymus von Münchhausen )! Nosso patrono na UM!



Roberto Solano

sábado, 11 de dezembro de 2010

Visão curta

Visão curta



Vi uma reportagem de um engenheiro Francês ( Guy Négre, ex-engenheiro da Fórmula 1), que desenvolveu um motor movido a ar! Piada não! Acredites se quiser, mas é verdade verdadeira. Eu vi o carro do cidadão andando e o motor eliminando ar puro! É, mais ou menos, assim: Você abastece teu carro com ar comprimido (igual ao que calibras teus pneus) e esse ar se mistura ao ar ambiente gerando calor e energia para colocar o carro em andamento. O bichinho anda até 150 km/hora e não faz feio, rodando até 300 km sem abastecimento pulmonar! Ou seja, ar no pulmão da máquina. Genial, e já será produzido para frota de taxis em Paris e outras cidades!

Visão curta, não é mesmo? Tantos engenheiros desenvolvendo motores e nunca se pensou em enchê-los com ar comprimido. Lembro-me de caçadas que fiz com uma espingarda de ar comprimido e balas de chumbinho, e dava pra matar passarinhos (hoje teria pena dos coitados...). Lembro-me da piada do “Pau-de-vento”: Um rapaz que, após casar-se por cinco anos, não engravidava a mulher, na cidade pequena, corria o apelido maldoso. Um belo dia o cidadão matou um ciclista que passava. O delegado perguntou “Porque você fez isso”?”E ele respondeu” Doutor, eu até aceito o apelido, MAS pedir o meu pingulinho para encher pneu de bicicleta é DEMAIS! “ No que o Dr. Delegado concordou !

Voltando às idéias que nos passam pela cabeça todos os dias e que são, muitas vezes, totalmente descartadas por serem simples demais e (ou) até idiotas! Fazer um motor movido a ar é uma delas! Que besteira, não é mesmo? Papo de maluco ou bêbado, um motor precisa de gasolina ou algo calórico; vento, parceiro, é prá empurrar barco à vela! E olhe que eles têm um motorzinho escondido para as calmarias.

Meu pai tinha idéias loucas, como o “ costa-cóptero “ que seria uma mochila se transformando em um helicóptero portátil , beleza não é mesmo ? O povo feito moscas de padaria flanando por aí, em enxames, daqui da barra para o Leblon seria uns 10 minutos com vento à favor, sobre a Niemayer, belo cenário... Outra maluca dele foi o “Tira-grilo” um sistema em que você levava seu carro para a oficina, colocando-o sobre esse ” tapete simulador”, com o carro parado e as rodas sendo movidas na esteira mágica, balançando e simulando as estradas os buracos que trazem aquele barulhinho infernal que habita teu carro e você não descobre de onde vem (o tal do ”grilo” que ele batizou). Visão muito louca tinha o velho, que criou muitas soluções na engenharia civil, e de quem herdei um pouco de criatividade, criando o “Remofezes”, um sistema que você coloca uma massa sobre o cocô do cachorro e enfia um palito, em minutos o tal ” creme” decanta sobre a bosta, secando-a e endurecendo, daí o nobre colega levanta gentilmente o conjunto (pasta dura + merda de cachorro) e joga fora! PATENTEI a idéia, caro leitor ! Testei e ainda vou comercializar se Deus quiser! Idéia maluca, fazer um cocô ( limpo ) por cima do outro cocô ? Não é mesmo ? Mas dá certo ! Ainda ganhei o título de ser um “ Engenheiro de Merda ! " Pura e aplicada ! De um amigo...

Então, leitor, não tenha visão curta não, acredite nas besteiras, sonhe muito e acordes com uma solução na mão, fé! Como diria os Novos Baianos “loucura pouca é bobagem” e se não acreditares nelas ouça também "Besta é tu, besta é tu... "



Roberto Solano

A hora boba

A hora boba



Nos anos 70 havia um médico, neurologista e psiquiatra, que convivia na minha família com grande freqüência, ficando como mais um nos finais de semana, sempre. Homem culto, letrado, grande profissional e divertido em estórias contadas. Ele desenvolveu a teoria da hora boba, com a certeza de fatos ocorridos, e a delicadeza do bom uísque fornecido pelo dono da casa. Vamos à tese: O nosso cérebro tem neurônios que se comunicam por eletricidade, eles “trocam figurinhas” entre si a cada idéia que você, amigo que pensa, desenvolve. Eu nunca entendi direito como funciona, mas já levei um bom murro na cara e vi algumas “estrelas” e acho que é uma boa demonstração técnica do assunto. Há, com certeza, um tremendo tráfego de impulsos elétricos percorrendo os canais cerebrais! Deve ser tal e como a cidade de Amsterdã: Carros, bondes, bicicletas a dar no pau, gente, trem, avião e muito doidão dando cabeçada pelas ruas, no verão. Estive lá e vi como um povo lindo (realmente muito bonitos, e seios femininos fantásticos!) ficam nesse “pinball” regado a apressados moradores e desencontrados fumantes da erva do diabo. Doideira mesmo! Essa grande confusão funciona, um esbarrão aqui, um escorrego ali, uma freada mais brusca da moça do lado (vi um seio!) e um trupicão do cavalheiro que vos fala. Esqueci dos barcos, colega, os canais cheios de lanchas, barcos de turismo, e casas flutuantes, decoradas com flores! E quando o cidadão dá uma paradinha para observar os prédios antigos (a maioria) percebe que os mesmos fumaram muita maconha! Não tem um só no prumo! É uma escora aqui e me segura dali, uma dança russa, de mãos dadas vão bailando em um inexplicável equilíbrio interno, uma escora o outro, na seqüência ilógica e mágica do equilíbrio lateral. Como engenheiro estrutural fiquei abismado! O solo é muito ruim e as estacas dançam ao sabor das águas, um balé estrutural, coisa linda de se vê! Então voltemos para dentro de nossa cuca, nossa Amsterdam, loucamente confusa que no fundo, no fundo mesmo, acaba dando certo. Engano seu, o Dr. José Octávio de Freitas júnior (tem uma sala no hospital do Pinel que o homenageia), concordava com a teoria do caos e preferia Paris! A hora boba, não escaparás nunca dela, nem na cidade Luz e nem em Nossa Senhora dos Remédios (PI), muito menos em Amsterdam.

Vou esclarecer, é simples: Por um motivo eletro-químico, tua massa cinzenta sofre um colapso instantâneo (igual o Nescau no leite) e pifa, uma parada geral, apagão, Black-out em NY, pensou? Se pensou é porque ainda não ocorreu sua hora boba, aliais são três! Ele afirmava que são três! Com um gênio não discutimos, acatamos. Nunca contei três no mesmo dia, umas dois eu garanto, já sofri. Três falhas diárias e três motivos para você rezar muito (pode ser para Nossa Senhora dos Remédios) para que não passes por esta situação acordado, atravessando a rua, se não viras um pastel! A hora boba deve ser “gasta” na calada da noite, sobre teu travesseiro, dentro do sonho, no mundo virtual; aquele estrimilique que você sente dentro da noite e dá aquela babadinha na fronha, caístes do cavalo branco, naquele sonho que corrias na relva verde, galopando com a Paola Oliveira na garupa! Ela com os pequenos seios (puxa, acho que vou mudar o título da crônica para “fixação em peito de mulher nova”) duros, duríssimos, devido ao vento frio, roçando nas tuas costas másculas! E o cavalo escorrega e tomba com sua carga preciosa: Hora boba você foi premiada colega! Gastou uma, só restam duas mais! Meus sinceros parabéns!

Voltemos ao pastel: Correria, centro da cidade, calor dos infernos, Rio de Janeiro, e o executivo ali, pasta de couro legítima, rolex no pulso e celular na mão, venta, vai chover, ele corre. O sinal fecha, mas o ônibus vem “chutado”, toca o celular, a mulher dele (belos seios!) pede Nescau para os marquinhos! Pronto, bateu a hora boba, atendeu ao telefone, não viu o buzão e a cena terrível se vê: Jovem, bonito, rico, morreu atropelado na Av. Rio Branco...

Eu desenvolvi as minhas preces: Sorte no azar! Isso mesmo peço isso todos os dias, Santo Onofre está de orelhas doendo e São Judas Tadeu recebe meus e-mails diários (pedi pelo Mengão também e deu certo!). Sorte no Azar! Só, e como se diz em Passione : Punto e basta !!!! Não quero “gastar” minha sorte em loterias esportivas e outras tentações, prefiro ficar vivo, bulindo. Então sorte no azar. O pneu furou? O carro estava na garagem! Escorregou, torceu o joelho em bariloche? Não quebrou amigo, pura sorte, vá mancando para o hotel e agradeça aos Céus! Foi assaltado? Levaram tudo, rasparam teu tacho? Estou vivo, meu filho criado, já se passaram 21 anos... Dei muita sorte no azar, graças a meu bom Deus e seus afilhados na fé.

Mas bom mesmo é escorregar no sonho, cair do cavalo, sobre a linda Paola que, mesmo descabelada, se inclina suavemente sobre teu rosto suado e dá um beijo na tua boca, mostrando, evidentemente, os belos seios perfuradores sob a camisola branca, te estende à mão. Você levanta e acordas de membro duro. Vá mijar, colega ,e agradeça pela hora boba, noturna, graças a Deus...



Roberto Solano

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Explicando a cara de tristeza...

Explicando a cara de tristeza...



Do Panda, minha gente! Está hoje no jornal O globo (pag. 2, dia 7/12/2010) “Ameaçados de extinção, os pandas têm uma reprodução complicada: Os machos têm pênis pequeno e as fêmeas um cio de apenas 72 horas por ano. Para piorar, ambos têm baixo apetite sexual. Até filme pornô já foi tentado”


Gente, imagine a cena, um casal de Pandas sai para jantar fora, entram no restaurante vegetariano “Só Bambu”, de lá partem para um motel na floresta ” Toco cru pegando fogo” e lá se deitam na cama de relva silvestre, colocam um filme pornô para esquentar o clima ” A vida erótica do urso Balu” ou ” Os ursos comem piranhas”. Rola o clima e a fêmea tenta achar o bilau do Balu... Que tristeza, nada paupável, tenta e acha um pedaço de bambu, da cama, falhou... O nosso herói, entediado, já dorme de olho aberto para a tela e ela desiste, tadinha, estava no 69 (não é o que estás pensando, seu maldoso!) horas, horas meu amigo, e num piscar de olhos do sonolento macho ela chega nas 72 horas e acaba o cio... Que tristeza, olham-se e choram muito, pedem a conta e voltam prá casa. Mais um ano sem trepar (acho que nem em arvores!) e só resta seguir em frente, com a cara de triste que a mãe natureza lhes deu, virar um bichinho de pelúcia e desistir de continuar a espécie.


Em resumo, colega, sorria, transmita energia sexual no seu rosto, não chore e nunca abrace um panda, vai que essa brochura é contagiosa ????



Roberto Solano

Objetivo e objetiva

Objetivo e objetiva



Volto a falar de um ensinamento paterno. Uns dirão que sou um eterno apaixonado pelo Pai, outros que sou saudosista e repetitivo, o último grupo não gostou do título e objetivamente vai parando por aqui.

O poder de coesão e simplificação do pensamento me seduz, gosto disso, do direto e condensado, da pílula que traz a cura, dose única, se possível. Agora vamos tomar 2 comprimidos para explicar o bem viver e talvez o caminho da felicidade e da realização pessoal. Abra a boca, copo d’água na mão e objetivo na outra, tome. Vais se sentir um pouco tonto, de início e desconcentrado depois, é o início do barato. Essa droga é pesada, colega, um alucinógeno (tirem os menores de idade da sala), a loucura é grande e a viagem vai mudar a tua vida, relaxe, feche teus olhos, ligue o som, e concentre-se. Uma escuridão ocupa tua mente, normal. Haja como um pintor e dê luz a sua tela, ela é só sua, você é um artista, comece com o branco, abra tua mente, vá para o teu cenário preferido, esprema tua imaginação, tire suco d’alma, crie. Criou ? O que queres para você ? Dinheiro, sexo, saúde, beleza, etc... Cada desejo uma cor, pinte e borde, a tua vida está , neste momento diante de ti, uma mágica, teu quadro. Imagine Paris, sol, o “jardin du Louxemburg “, flores, crianças correndo, o bom vinho na mão e tua companheira do lado : felicidade. Caribe, calor, mojito na cuca, salsa, você lá dançando ao lado da mais linda morena que já vistes ( ela estava no avião ), paquerou, gostou e a noite só começa com um belo beijo, faça-o realidade, tua vida teu sonho, pintura tropical... Grana, muita grana, aplicações, você faturando com a empresa, o negócio “ bombando “, pedidos chegando, uma loucura. Da onde saiu a idéia de fazer os doces maravilhosos da vóvó ? Deu certo, você saiu da merda, literalmente, resolveu tua dura vida de duro, agora só parabéns e “amigos” na tua cola, né? Sonhos... Criou teu objetivo ? Ele é o teu futuro, meu amigo. Agora abra os olhos, desligue o som, lave o rosto com água bem fria, mesa diante de ti, papel. Tome a segunda pílula, espere. Comece pelo básico : lembre-se do sonho, anote. Item um, dois, três... Estás concentrado ? Caixa de banco, Bradesco, atenção! Conte nas mãos essa moeda preciosa que é teu sonho, R$ 100,00 ( grana ), R$ 50,00 ( mulher ), R$ 20,00 ( Caribe ), R$ 10,00 ( Paris )... Não se esqueça das moedas (Tio Patinhas começou assim!), junte as de R$1,00 para a saúde, as menores contabilize sorte, fé, guarde-as com muito amor, os pequenos valores são os que vão crescer. Os cheques para compensar são da amizade (ás vezes voltam...), da fidelidade (cheque administrativo, dinheiro vivo), do amor (pré-datados). Aplique seu dinheiro, sem esquecer a poupança da sua vó ! Agora tens tudo, meu amigo : Objetivo e Objetiva ! Meu Pai dizia, com a simplicidade que cabia na cabeça mais sonhadora que conheci “Meu filho, para ser feliz o homem só precisa de 2 coisas : Objetivo e Objetiva !” A vida resumida em uma máquina fotográfica para você ver o mundo, fotografá-lo no mais belo e focar, bem perto no teu caminho: Pedra por pedra, pó e poeira, sol e chuva, dor e coragem, força e fé, vai dar certo, tenho certeza.

Bom ano novo prá você, meu amigo! Nos vemos no Caribe!Não se esqueças de me apresentar a linda morena, quem sabe ela não viajou com a loira dos MEUS SONHOS????



Roberto Solano

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pio

Pio

Não é um Papa, é um piado:

“s.m. Voz imitativa de certas aves.
Recurso de que se servem caçadores para atrair pássaros.
Instrumento adaptado para esse fim. “

Outro dia um amigo me disse “ Você vai gostar desse carro hidramático porque você não tem direção esportiva! “ Magoei, mais por não entender direito o que significava a tal direção do que me sentir um sujeito “ não esportivo “, talvez careta e quem sabe um velho. Doeu...
Sempre admirei o vento como um personagem invisível do cinema, participa das cenas ao ar livre, faz os cabelos visíveis, embeleza as mulheres e é fundamental nos carros conversíveis! Eu acho o máximo, o camarada andando em uma estrada, ao sol, em um belo carro conversível (eu, pessoalmente, adoro os da marca Alfa Romeu), vermelho (tem que ser!), óculos escuros, vento no rosto e ao lado da linda mulher. Essa pode estar de lenço no cabelo ou descabelada mesmo, embora se o lenço for amarelo vai vestir como uma luva a minha imagem preferida. E lá vai o carro, suave, não corre tanto, o rádio toca um rock clássico ou um blues, o mar é azul esverdeado, não há outro carro, outra mulher, outro homem, e o tempo parece parar... Linda imagem, e para mim, um belo exemplo de direção esportiva; sempre abaixo dos 100 km / hora (se não voa o lenço da atriz!), velocidade que desliza o veículo, suavemente, adoro isso! Um dia realizarei esse desejo juvenil. Será que a tal “direção esportiva” é isso? Penso que não...


A imagem da galinha no quintal, seguida pelos lindos pintinhos, também mexe comigo... Pio, pio, pio... Lá vai a família unida...



Outro amigo gosta de correr, contra as metas que ele mesmo determina, bater seus próprios recordes, nem que não sejam objetivos, com finalidade. Ele já saiu de casa para o destino em cidade próxima, sem parar em um sinal! Isso é um recorde! E conseguir o mesmo só freando uma vez? Maravilha, não é mesmo? Subir a serra em quarta marcha, outro feito inigualável, são fatos relevantes, mas ele os mantém em segredo: Tudo que é valioso tem que se guardar! Vai que a moda pega e vão querer bater seus recordes??? Sacanagem.



Piu-Piu é um personagem interessante:

“ Piu-piu (Tweety), é um passarinho, personagem de desenho animado criado por Bob Clampett em 1940. Faz parte da série Looney Tunes, produzida pela Warner Bros. É perseguido por Frajola/Silvester.
Mostra-se como um personagem extremamente meigo e doce, mas reage com extrema maldade aos ataques do gato Frajola. Seu bordão é "Eu acho que vi um gatinho!"

Ele e o gato frajola, sempre há um final feliz para o pequeno projeto de galo, eu recomendo os desenhos animados!




Na minha juventude aprendi a dirigir, mas não aprendi a correr. Meu amigo Zé Luis, era uma fera, com seu poderoso Ford Maverik, dava shows de velocidade no aterro, sua pista particular, bons tempos sem multas eletrônicas, eu tinha inveja... Não do carro, nem da velocidade, sim da felicidade, do sorriso e da glória. A auto-estima vai aos céus! E eu procurando me animar pegando jacaré de peito nas praias cariocas, fazia bonito, porém saía da água do mar cansado, meio ofegante, pé de pato na mão e nada mais. Cadê o tesão, a sensação do recorde, do pódio imaginário? Estourar a champanhe com as lindas moças seminuas do teu lado, levantar o troféu! Meu recurso era levantar um copo de chope no bar da esquina, imaginando a minha felicidade idiota de pegar uma onda-caixote de 2 metros! Boa bosta! Que inveja tinha do Zé.
Tenho que perder o medo de dirigir, e quem sabe obter a licença para a prática da direção esportiva, que minha mulher definiu como: 1 ) Cantar pneu ; 2) Acelerar até o limite da marcha; 3 ) Não ficar atrás de nenhum carro ! Aí, caro leitor, fudeu geral! Eu adoro ler placa de caminhão nas estradas, acho criativo, divertido e filosófico! Como vou ler as ditas placas nessa velocidade infernal? Terei que praticar leitura dinâmica também? Os 2 primeiros itens já estou treinando, e com relativo sucesso, mas não abro mão das placas de caminhão, meu lado escritor precisa de informação.
Na verdade tenho medo do carro e de ser carona. Nada pior que um ás do volante mal acompanhado (ou vice-versa), me borro todo... Sou cagão mesmo, fico com dor na perna de tanto frear sem ter o freio no pé, rezo, seguro no " Puta-que-o-pariu " (aquele apoio de mão que o medroso usa ), tento me distrair, não dá colega... O zigue-zag do piloto, corta um, corta outro, cortando meu coração. Pálido fico, com vergonha de pedir para diminuir a velocidade. Hoje sei que todos os que dominam a tal “direção esportiva” são SURDOS !!!! Não adianta você pedir, ele não vai te atender e no máximo aumenta o som, só.
Nos anos 70 estava na faculdade e peguei uma carona com um “colega”, desconhecido, em um fuscão 1600, carburação dupla colega, o bicho corria, e da PUC até Ipanema foi uma tirada só. Pegamos o canal da Afrânio, sem parar nos sinais e na praia o cidadão fez a curva fechada para esquerda com classe, uma mão só no volante, olhando para o lado, confiante, derrapou, um pouco. O fusca balançou para um lado, para o outro e se aprumou na Vieira Souto, aonde o piloto atingiu sua velocidade de cruzeiro. Eu gelei, e apliquei o contra golpe do PIU-PIU, comecei a piar, baixinho, mais audível: Pio, pio, pio... E aquilo foi incomodando o Schumacher. Passou o sinal fechado: PIOOOOOOOOO. Acelerou mais, Pio,pio, pio,pio... Freou e falou “O que significa isso, você não fala, só pia?” E de pronto respondi” É que um colega lá da faculdade morreu, de acidente de automóvel, tadinho, morreu sem dar um PIO...”
Agradeci a carona, abandonei o bólide e voltei á pé prá casa, vendo o mar e as ondas, comecei a me orgulhar de saber nadar, ser jovem, saudável e saber pegar jacaré!

Roberto Solano

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Homem que é homem

Homem que é homem

Fui criado com a educação clássica, para ser homem, macho e viril! Homem que é homem não chora isso todos sabem. Meu avô dizia, “Um homem só é homem conquanto coloque a meia em pé!” Vôvô está difícil prá caramba! Confesso que estou manchando o nome da família e colocando a meia sentado na cama, perdoa-me... Meu pai dizia que remédio bom para curar a flacidez nos países baixos era usar colar de milho! Sim, o pinto vai olhar prá cima, e tudo se resolve. Uma vez ele me disse “Meu filho, meu pinto se apaixonou pelos meus pés, quando estou de pé ele olha prá baixo, quando me deito ele continua olhando, é uma paixão absoluta!”, eu ria, mas pensava nos tempos antigos. Você já tomou uma gemada? Essa geração não conhece o poder de uma gemada, cura tudo! E alimenta! Não gostava daquilo não, mas era macho e tomava. Meu Pai comia 2 ovos quentes por dia, pela manhã, cedinho, minha Mãe era cuidadosa com isso, 1 minuto e meio na água fervendo, manteiga derretida e a mistura estava feita. Lembro das mãos longas do meu velho picando o pão torrado que caía suavemente sobre a saborosa mistura, ele comia de lamber os beiços!
Canja de galinha, outra prova de que você vai melhorar! Seja o que for, adoeceu e acamou: Canja de galinha! Não gostava, mas, de novo macho, tomava, firme, de colher em colher, morna...
Escalda pés... Vi poucas vezes, mas relaxava e prevenia o organismo, funciona mesmo! Banho frio é sacanagem! Nunca enfrentei, nisso fui frouxo mesmo, até conhecer a “sauna de pobre”: Você toma seu banho na temperatura que desejas e no final vai aumentando a água quente sobre as costas, vai suportando até sentir-se em uma sauna a vapor, então o colega fecha tudo e abre a água gelada no costado. Confesso que quase morri ao fazer tal operação em Bariloche, o pinto sumiu! Recomendo a prática em países tropicais “solamiente”.
Dor de garganta? Infalível o gargarejo com um bom uísque, arde e mata as bactérias, pode fazer que dá certo! Meu amigo são tantas soluções simples que vais querer abrir uma clínica após essa leitura. O que interessa mesmo, e me marcou para sempre, era o carinho com que se tratava o doente; desde o médico de família até o cobertor suavemente ajeitado no teu pescoço pela carinhosa mãe. E o beijo na testa ? Esse é infalível! Um beijo na testa e o tradicional “durma com os anjos”, a luz se apagava e vinha a certeza de que você é forte, capaz, homem ! E homem que é homem não chora e enquanto puder vai colocando a meia de pé!

Roberto Solano

Madame Complain

Madame Complain

Madame vem do francês e todos sabem, já o verbo “To complain” é da língua inglesa e significa RECLAMAR, junte os dois e verás o meu personagem de hoje : Madame Complain. Eu conheço uma e já vi várias, existem por aí e se você, caro leitor, prestar atenção vai localizar uma no teu ciclo de amigos.
Lembram da piada do Zé com a Share Stone? O Zé naufraga e sobra com a belíssima atriz em uma ilha deserta, e na falta do que fazer rola um sexo selvagem por vários dias, regado a água de côco e peixe assado (deve ser uma combinação extremamente afrodisíaca). Belo dia o nosso herói broxou... E continuou amuado até a nossa deliciosa Stone reclamar “O que está havendo Zé? Não dá mais no couro?”, imagino que em inglês fique assim” What's happen, Darling? Do you never more beat on the leather?”, sim Zé estava caído. Mas nosso herói bolou a solução e vestiu a sua amada com a roupa do capitão morto e fizeram o encontro na praia, onde ele diz para o amigo fantasiado (ela vestida de homem!) que está comendo a Share Stone! Sim, voltou o vigor, a alegria, e foram felizes até o resgate da marinha americana ! Conclusão, temos que contar o fato heróico para alguém, é vital saborear a vitória e , por outro lado, liberar o sofrimento. Aí é que entra a Madame Complain ! Ela sofre com tudo gente, como todos nós, do engarrafamento, do parco salário, do chefe chato e agressivo, do time rebaixado para a segundona, a empregada faltou! Um absurdo! Tudo é dramático e ela sofre. Tem que desabafar sempre precisa de um colo amigo para debulhar as lágrimas de seu martírio. Amplifica a dor, no máximo da sua capacidade interpretativa, ela é atriz, e de primeira linha: Dramática, ganha o Oscar, te faz acreditar no que fala, e você se compadece... Uma vez, duas, três e descobre que ela é a Madame Complain ! Aí enche o saco, a mesma ladainha, e você se vacina e vê que a novela da globo não é real, a " Passione “é mais embaixo, daí começa a se irritar com amiga, tenha calma! Ela é boa pessoa, só que muito carente, é isso. Ela é uma que sofre e divulga boa de mídia! Como você e tantas outras necessitam de platéia: Zé, eu comi a Share Stone! O fluminense é campeão ! O complexo do Alemão está tranqüilo e vou rezar na igreja da Penha! Na versão negativa, o Mengão não tem solução, o Rio vai alagar nesse verão, meu carro vai ter perda total, e se bobear vou ficar desempregada... Tadinha dela sofram por ela, e se quiserem ajudar chorem, ela vai amar!
Mamãe já dizia: “Quem não chora não mama!” Certo, não mama, não madame, don’t complain! Please...

Roberto Solano

domingo, 5 de dezembro de 2010

A Dúvida

A Dúvida

Mal maior. Nascemos com sentidos para perceber fatos, pessoas, ver. Não sabemos do não saber, e nasce a dúvida. Uma sensação rápida, sempre coerente no primeiro momento e monstruosa em seguida. Ela se multiplica por si só, calada, não se manifesta, mora na tua cabeça e nela é dominadora. Com a dúvida tua vida se paralisa, morre de autoflagelo, se condena à própria forca. Não posso nem pensar na dita que me desequilibro, preciso saber do bem, do mal, sofrer com a matéria, sentir a dor, respirar a solidão, cavar meu desespero para enterrar o que me matou. Tenho que ser e viver de coisas palpáveis não dá para ser escravo da imaginação, isso gera a loucura e o caminho não tem volta.
Se não sabes onde estás, com quem vives, se a verdade é falsa, o amigo um traidor, a fidelidade uma hipótese, a vida uma eternidade de interrogações, estás no inferno. Não há sangue, não terás o fogo te queimando vivo, o veneno já te contaminou na veia jugular, não tens a resposta. Não há vida sem resposta, o mundo te engole, e ficarás um paralítico de tua própria respiração, a cada segundo a dúvida te consome como uma erva daninha, vai te abraçando lentamente, subindo no teu caule de gente e trazendo parasitas e vermes para te consumir, lentamente.
È melhor ver, sentir a faca te penetrar do que saber a notícia da condenação, que não terás a chance de retroceder, e viver no corredor da morte, pagando teus pecados ou mastigando o amargo da tua inocência. Não podemos saber da morte e muito menos viver a dúvida dela.
Perdão, mas fiquei realmente em dúvida se deveria te falar isso como um amigo ou um inimigo, se esse texto te fará sofrer ou em um desespero máximo te abrir os olhos para esse monstro escuro, que te habita, me habita, ser humano, eu.

Roberto Solano

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sofrimento

Sofrimento

Tema delicado, sentimento direto, ligado a dor. A dor, já dizia o Dr. Jatene, “A dor é como o amor, só sabe quem sente”, verdade pura, a minha dor não será igual a sua; mesmo a física, cada um responde de uma forma, temos defesas maiores ou não. Não vou falar do lado triste do sofrimento, esse é banal, e mais simples. Quero falar do lado bom, o que pode nos trazer algo de muito positivo, nascendo no negativo. Posso dizer que sofrer é necessário, faz o nosso limite humano. As alegrias são sempre voláteis, curtas, rápidas e enganosas. Procure aí, dentro da cachola, os bons momentos de tua vida, tente relembrá-los, pescou um? Agora vá lá no fundo e pegue uma perda, uma dor maior, é fácil não é mesmo. A dor é lambari e a alegria um robalo, na pescaria da vida, temos mais lambaris, mas esse humilde peixe pode ser um bom peixe! Não desanime.
Eu tenho uma natureza mais introvertida e propensa ao sofrimento, sensível talvez. E não sou o otimista do dia a dia, tendo mais para ver o lado ruim, por defesa mesmo, isso não é bom! Já maturei e redobro meus cuidados com o meu lado triste e pessimista, hoje tiro proveito dele! Fiquei “esperto” e posso dar umas dicas valiosas. Meu médico disse que é do estrume que adubamos as plantas e chegamos à flor! Gostei da metáfora, e pensei: Os poetas, escritores, artistas, são criativos na fossa, no mais profundo da tristeza saem versos e idéias maravilhosas. Se o Vinícius de Moraes não fosse nunca chifrado, abandonado pela amada, aonde iria nossa música e letra, o que seria do parceiro Toquinho? Talvez professor de Português (ele tem cara não tem?). O Lupicínio, tadinho... Já te convenci? Então vamos entender um pouco do masoquista, o que gosta de sofrer, esse é o topo da loucura maturada, sujeito complicado, doente mesmo... Aprenderemos com ele? Sim, é valioso ver o valor da dor nos atos humanos, a dor direcionada e que te emociona pelo autor. Explico: A dor tem que ter mídia, o proprietário tem que valorizar o produto e por mais louco que isso seja ele tem que sofrer feliz, como as Mães, resignadas, como Cristo em sua longa caminhada até a morte. Exagero de exemplo, mas nos faz pensar, se ele, o filho de Deus, não morresse em sofrimento máximo, na dor infinita, teria se mostrado ao mundo como fez? Um Cristo assassinado em uma emboscada, não tem a mesma força da morte na Cruz.
Então, você tem que aprender a sofrer para renascer mais forte, procurando mostrar o valor da tua dor, com um sorriso, com esperança. A dor constrói e a falta dela é a nulidade do homem sem memória, sem valor, um pária na vida, um morto-vivo. Viva a sua dor como padre vive a sua renúncia ao sexo, doe-se a ela, essa malvada no fundo é boa Mãe, te educa, te ensina a viver melhor; e humanamente verás o outro com mais doçura, entendendo da falta, da fome, do frio, valorizarás o cobertor, o carinho, a mão estendida do melhor amigo, e bem melhor serás!

Roberto Solano

Chegou Natal

Chegou Natal



O espírito natalino já dá o ar de sua graça, as ruas se enfeitam, shoppings decorados, propagandas infindas nos jornais e televisão. Eu, pessoalmente, já não gosto do natal, cresci, sofri a desilusão de não acreditar no bom (será que ele é bom?) velhinho, fiquei velho e chato. Tem gente que adora, mesmo adulto, curte as brincadeiras de amigo secreto e outras babaquices que os que não gostam não podem dizer que não gosta, e isso é chato, você não quer participar da brincadeira e vai dizer pro teu chefe, me tire da lista! Duvido, perde a simpatia do grupo, vira um chato de carteirinha. Mas que é chato é, principalmente o amigo secreto que você escolhe teu próprio presente! Muito chato cadê a surpresa? Porém, são os tempos de contenção econômica, verba curta, fica como está e pronto, vá pra festa com teu presente disfarçado para não ser descoberto, teu amigo secreto pediu uma caneta, vá embrulhá-la em uma caixa de sapato! Se ele pediu uma sandália dê uma BIC e depois das risadas (forçadas de todos) tire de dentro de seu casaco a sandália escondida, etc... Que graça tem isso? Confraternização colega, hora de mostrar teu lado humano e alegre, se arrume direitinho (o patrão nota detalhes), não leve teu cunhado chato pra festa da empresa, ele bebe e fica se engraçando pra gostosa da secretária que o chefe está pegando, cuidado! Faça cara de compenetração (não é com a penetração não, isso é outra estória, mais erótica) e mire seu chefe ou o dono da empresa, reze nessa hora e acredite no sucesso desse ano e no mercado futuro, nas oportunidades vindouras no crescimento econômico da empresa, na solidez do negócio. Dê uma olhada na Mercedes nova do “big boss”, nos peitos de silicone da patroa e acredite que você vai ter um aumento no próximo ano! Creia nisso, leia “o segredo” e seja positivo colega, o sol nasce para todos, mas é muito mais gostoso no caribe, meu bom companheiro do departamento, sorria para o pessoal do RH, esses são muito sensíveis, e faça bonito na festa de fim de ano.

Você aí gosta do natal? Então vá parando sua leitura por aqui, eu vou falar mal. Não gosto da falsidade, do presente obrigatório, do Saara lotado, do cunhado e das bebedeiras natalinas. Castanha e nozes passo batido. Cidra, alguém já tomou coisa pior? Vinho, aí tem do bom e o garrafão, meio fora de moda, mas um sucesso ainda entre os menos favorecidos, o Peru e o pernil, nada que me faça bem e o fígado velho agradece quando como só o bacalhau, esse sim é uma exceção! A árvore é outro elemento complicado, eu nunca me dei bem com a dita cuja, me espeta, dá choque, caiem aquelas malditas bolinhas, enfim, essa brincadeira não é boa para um sujeito que não sabe segurar os 2 pauzinhos de comida japonesa...

O Papai Noel, esse é uma figura interessante, mora no frio o ano todo, faz porra nenhuma, só lê carta e coça o saco, é gordo, barrigudo e gosta de ouvir os pedidos da criançada. Dizem que tem um trenó e com uns viados puxando, devia chegar no mês passado e dar uma voltinha na avenida Atlântica com os milhares de viados da terra, na parada Gay! O nosso Papai Noel é um sofredor, naquela roupa quente, fazendo bico em shoppings, mas eu concordo com a atividade, desde que Eu não seja o Papai Noel da família, tudo bem!

As decorações, aí tem de tudo, os prédios se enfeitam ou se maquiam, sim prefiro entender como uma maquiagem, normalmente mal feita nas fachadas. Tem prédio que o síndico deve ser sócio da companhia de luz e dana-se a iluminar a fachada, normalmente com aqueles fios de pequeníssimos pontos de luz, que beleza, uma penteadeira de puta... Botam aquelas árvores com presentes vazios no hall de entrada, acumulando poeira (eu sempre espirro quando olho aquilo lá no canto). Mas as crianças gostam, disse a minha mulher, posso concordar, é um sonho é bonito na imaginação delas, tudo bem, estou até gostando... Mas Papai Noel escalando o prédio, aí é sacanagem! Fico muito PUTO mesmo! Propaganda enganosa. No meu tempo o bom velhinho vinha de noite pela chaminé ou janela (Mamãe dizia para deixar aberta, “Botei meu sapatinho na janela do quintal...”), eu aceitava, era crível que ele pudesse chegar de táxi, com o saco vermelho (o do Collor é roxo, não se esqueçam!) e colocar meu presentinho na janela, ou se fosse mais “descolado” entraria na casa, silencioso. Agora, vender a idéia, que o velhaco escala fachada, é demais! E está na moda, você compra o boneco e pendura (pendura a conta também, é fácil ) na varanda, na janela, a gosto. Tem um modelo que o “homem aranha da Ferrari” vem com escada e tudo! Isso me irrita, como pode, não há explicação, o velhinho não pode ser alpinista, nem ladrão. Tô fora dessa mentira, não comprem, deixe-me acreditar no que eu nunca vi, mas que venha de táxi, suba de elevador e deixe o meu relógio ROLEX debaixo da minha cama, viu? Vai que o gordinho despenca lá de cima...



Roberto Solano

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A inveja

A inveja

Sentimento mal explicado esse, tão mal explicado que quando olhamos com desejo para alguém e mostramos inveja, o outro retruca “Está com inveja POR QUÊ?” Já notaram? Incrível, quem tem inveja é sempre um indeciso, será um duvidoso, não sabe nunca da nossa inveja? Vamos com calma, o mal está na raiz mesmo, a inveja nasceu gêmea, e a Mãe, com preguiça, deu o mesmo nome: Maria Eduarda prá uma e Eduarda Maria prá outra, o que dá no mesmo, gera confusão! Ou seria Clédia e Clébia? Uma amiga de minha mulher tinha uma família engraçada de irmãos: Clênio, Clécio, Cléris, Clédia, Clébia e.... Renatinho. O apelido de Clédia era “Nena” e de Clébia " Neninha”, que gente criativa... Renatinho foi salvo pelos irmãos mais velhos! O Pai não conseguiu terminar a saga da família “C” “C”... Na hora do batismo o nome escolhido era Cléber, MAS os irmãos gritaram “Cléber não! CARALHO!!! Chega de " C " nessa família !” O Padre se assustou, quase cancela o batizado, mas houve consenso familiar e o Pai se contentou com o " C " do CARALHO e sapecou RENATINHO no pequeno bebê... Voltemos à INVEJA, ela tem duas vertentes (irmãs gêmeas, suba para o princípio) uma boa, saudável, construtiva e a outra ruim, venenosa e destrutiva. Eu proponho mudarmos para “Invejabem e Invejamal” ou “ Invejão e Invejinha “, sei lá, um código ou sinal, escrevamos “ Inveja+ e Inveja- “, temos que escolher com calma, aceito sugestões, tá?
Então amigo, vamos dissecar essa idéia e olhar por dentro desse sentimento universal e tão popular. Nascemos querendo tomar tudo do outro, não é mesmo? Vá nesses “ points “ de bebês, baixo bebê, bebê barra, etc... E fique ali saboreando os conflitos, metade dos moleques dormem tranqüilos e a outra está brincando. Os olhares perdidos das babás e as conversas bestas das mães, “Ontem o rodriguinho arrotou na camisa do Paulo, ele teve que trocar de roupa, perdeu a carona pro trabalho, tadinho!” Paulinha está com uma coceira na virilha, não melhora... “Dudu está chato, com febre e diarréia, você viu a promoção de fraldas das lojas americanas?” Tem troço mais chato que papo de mãe recém parida? Voltemos aos fatos, os sacaninhas já colocam a inveja na mamadeira! É tal de puxar o paninho do outro e quando pega na chupeta o pau come, aquela cara redondinha vai se intumescendo, ficando vermelha, os olhos incham, uma gotinha de lágrima anuncia o temporal! Buauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu ! E tome pernadas para o ar e o carinho balança: O filho da outra Mãe pegou a chupeta que minha Mãe me deu! Menino novo ainda não conhece a categoria de Mãe, filho da Mãe e filho da Puta... Vá tomar a “ pepeta “ do pimpolho! É guerra acústica!
Já me perdi de novo, merda! Inveja boa e a ruim, voltei. A boa é super saudável e faz o tempero do desejo, só há desejo material com inveja não é mulheres ? Aquela bolsa da Claudinha , hem ? E o biquíni de Glória (se Eu perder uns quatro kilos...)? O pajero da Patrícia não é inveja não, aquilo é sonho... A boca do Brad Pitt... Xiiii, vou parando por aqui que Ricardo, meu marido, está chegando... Todas as mulheres são invejosas! Pronto! Eu acho que até a mais remota freirinha descalça tem inveja do terço da Madre superiora!
A inveja direcionada para a conquista é ótima, mas perigosa... Esse bicho inveja é peçonhento e solta veneno, você fica rindo e mostrando alegria ao ver aquele lindo peito siliconado da amiga, já prá lá de boazuda, que tinha um peito bucal (peito bucal é o peito que cabe na boca do amado, definição, patenteada, de meu Pai, que me dizia “Filho o peito da mulher não precisa ser maior que a cavidade bucal, prá que? Eu não sou americano!), lindo, duro e com mamilos” astrônomos " sempre olhando para o Céu "! Mas ela queria entrar no clube das mulheres “ avançadas “, seios fartos para olhos gordos... E você já começa a maldar, não é mesmo? Moça bonita, mas quando ficar MAIS velha ( o mais já é prá derrubar a muito jovem parceira de academia ) vai sofrer da coluna! Vai encagalhar geral! Agora teu pensamento pegou pesado amiga! Já estás na inveja ruim, sem volta.
Temos o grupo, bem mais numeroso, das invejosas do mal! Essas são foda mesmo, seca pimenteira. Conheço várias, tenha cuidado! Se você contar uma vantagem sexual do maridão ele vai broxar na próxima! Se ela olhar teu vestido branco podes ter certeza que vai encardir; elogiou o namorado da tua filha, é bicha, queridinha, não pague prá ver, não vá à parada Gay, por favor! Essas víboras estão soltas por aí, cuidado, use avenca atrás da orelha (minha Vó dizia que funcionava), vá se benzer com Pai João, correndo! E se ela está de olho no teu marido só tem um jeito, lindinha, café pilão extra-forte cuado na cueca dele!
Sorte!

Roberto Solano

O complexo do Alemão

O complexo do Alemão



Vocês já viram um alemão complexado? Eu não, pouco conheço a cultura deles, mas imagino o que deve ser a vida de um alemão! Primeiro é ter que falar alemão, gente deve ser difícil, eu não passaria do primário, com certeza seria complexado por não passar de ano, Eu e alguns milhões de alemãs que tem inteligência mediana, e pronto o sujeito já fica complexado na infância. Ficar vermelho, putz é muito chato, você olha prá menina e ela pisca o olho, ficou vermelho, faces rosadas, esfogueteado. Hans, meus parabéns, você é o primeiro da nossa sala, a melhor nota do curso, favor subir no palco que a professora Elfriede vai entregar a sua medalha, uma salva de palmas para Hans! E lá vem o coitado do Hans, mais vermelho que salsicha de hot dog, suado, fumegante, tem que ficar complexado mesmo...

Klaus é um boa praça, divertido, bom de papo e de bebida, não perde um oktoberfest, mas tem uma bela barriga de chope, que já tirou sua paz várias vezes, perdeu namoradas, ficou complexado mesmo. Dizem que uma vez viram o Klaus no mictório derramando o chope direto na calha! O que é isso meu camarada, perguntou um amigo, e o Klaus se defendeu, “estou cansado de ser o intermediário!” Cansado de ser barrigudo, não ver o bilau, e prá trepar...

Wolfgang, esse é bom de garfo, traça tudo! Chucrute é seu forte, joelho de porco, delícia, mas tem um tremendo complexo de não digerir os molhos, as mostardas pretas, então ele tenta segurar a força maior, o vento interno, em vão... Dá-se o peido! Vocês sabem, em qualquer ambiente se houver um alemão e um odor desagradável, fudeu! Foi ele! Então, nosso amigo Wolfgang é mais um alemão complexado, mora no Brasil, come de tudo, em especial nossa feijoada! Caracas! Ainda bem que eles não conhecem o nosso feijão preto, com farofa de ovos, e uma caipirinha prá disfarçar os movimentos peristálticos, não há alemão que não estrague uma festa! Um perigo!

Bernhard sempre gostou de carros desde menino, corria de kart, era muito bom até conhecer o Michael, bom amigo, uma cara meio quadrada, mas legal com ele, foram crescendo e melhorando, o Bernhard era muito bom, fantástico, evoluiu até chegarem à fórmula 1, deu no que deu, mais um complexado Alemão...

Amigos são tantos exemplos, tantas estórias tristes, que esse povo complexado resolveu trabalhar duro, estudar mais, e fazer o país deles uma potência mundial! Audi, Mercedez Bens, Porsche, ferramentas precisas e autocontrole! Disciplina é tudo, ajuda a controlar flatulência, faz o gordinho ficar bonito dentro do belo conversível, e se o carro for vermelho combina com aquele rosto redondo. Parabéns a esse povo, que embora tenham tantos complexados fazem os Brasileiros ficarem envergonhados do nosso Alemão, complexo do Alemão, que Deus nos ajude!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Vai casar? Então estude física!

Vai casar? Então estude física!

As leis de Newton:

"Todo corpo permanece em seu estado de repouso, ou de movimento uniforme em linha reta, a menos que seja obrigado a mudar seu estado por forças impressas nele"


"A mudança do movimento é proporcional à força motriz impressa e se faz segundo a linha reta pela qual se imprime essa força"


"A uma ação sempre se opõe uma reação igual, ou seja, as ações de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e se dirigem a partes contrárias”


Não se assuste, vou explicar, preste bem atenção!

A primeira lei é a que você vai sentir de cara quando casar, ou seja, você enquanto solteiro vai em linha reta e em movimento uniforme para o bar, jogar seu futebolzinho, festinhas e baladas, e quando estás bêbado podes permanecer em estado de repouso! Que maravilha, não é? Sim, mas com o advento do casamento você vai perceber que uma força vai mudar tua trajetória, a regra é clara: “a menos que seja obrigado a mudar seu estado por forças impressas nele" Esse é o ponto, a tua mulher vai mudar tua trajetória, meu amigo, e como! A lei de Newton é implacável, imperiosa, definitiva, vai mudar o teu eixo de translação (ida ao bar) e de rotação (ficar bêbado), uma força misteriosa, eletro-magnética e por vezes física mesmo (aquele mico de ser levantado da mesa, puxado pelo braço, pela furiosa patroa, ouvindo o grito fatal “Vamos prá casa já”), é duro, duríssimo. Esse novo objeto gravitacional pode trazer satélites que também alteram a tua órbita, por exemplo: O satélite SOGRA, massa normalmente grande, fria, não habitada (o sogro já fugiu prá lua!) e de forte efeito gravitacional. Quando estás já se acostumando a tua nova rota ela aparece, a sogra, tua lua negra, e adentra no teu caminho embaralhando teu norte, te desviando totalmente, não é fácil...
Voltemos ás leis, a segunda:

"A mudança do movimento é proporcional à força motriz impressa e se faz segundo a linha reta pela qual se imprime essa força

A lei do empurrão fui claro? Você vai ser impelido á ir à feira, supermercado, padaria, etc... E tudo proporcional à força motriz! Cuidado com essa força, meu amigo nubente, ela por vezes vem como um direto no queixo do cidadão e te pega de surpresa. Quando acontece a tal da TPM, ou Tou Puto Mulher! Você não tem idéia desse fenômeno químico no cérebro da digníssima esposa, o bicho vai pegar! Não tem jeito não, nem adianta aplicar a terceira lei de Newton (a seguir!), o melhor é o abandono do terreno, fuga total! Você viu as imagens dos traficantes correndo dos blindados cheinhos de cordiais soldados do BOPE? Viu a carreira dos malandros? Se esconda da patroa e deixe a carteira e o cartão de crédito com ela, pode minimizar a fúria! Vem todo o mês meu amigo, e quando não vem piora... A patroa engravidou! Aí você não terá um terror explícito, mas implícito, desejos, carinhos extras, mimos, compras de tortas e chocolates na calada da noite, mas você se adapta, e se bobear até vai gostar.

Calma que o curso de física básica está acabando! Última lei:

"A uma ação sempre se opõe uma reação igual, ou seja, as ações de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e se dirigem a partes contrárias

Aí é que começa teu casamento de verdade, quando você reage! O pau come e o bicho vai pegar! Uma regra vital da física é aquela que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo! FUNDAMENTAL! Leia e releia a danada da regrinha e aplique seus conhecimentos no casamento, você vai ser feliz, vamos lá, comece pela cozinha, tenha uma geladeira de bebidas, só cerveja! Tua mulher vai colocar as maravilhosas louras junto com o chuchu, cacete ! É humilhação demais! Chegas cansado da labuta e corres para a Brastemp que ganhastes do sogro e cadê a cerva? Ali, tadinha, deitada ao lado de um chuchu! Porra, que merda é essa! Você pensa mas não diz nada, né? E ficas com raiva, pega o objeto do desejo, quente nas mãos e choras... Então, querido leitor, uma geladeira de cerveja é importante, e vai ser seu maior tesouro na casa! Compre!
Banheiro, isso é sinônimo de problema. O ideal é ter dois banheiros, sonho quase impossível de um casal. Mulher é um bicho muito carente de espelho e de luz, até acredito que elas têm células fotossensíveis. Ela vai usar pela manhã, ao chegar em casa e para se aprontar; isso mesmo, as palavras mágicas “se aprontar”. O tempo para, o relógio congela, e você meu amigo tenha paciência, e muita! Vá treinando usar o banheiro da empregada, quando ela disser “Vou me aprontar”, fudeu! Corra para seu tesouro (a geladeira de cerveja, já esqueceu?) e abra uma, fique calmo e sente, respire e aguarde o desfile de modas, lá vem ela, linda de calcinha e maquiada, batom na mão e solta a pergunta “que horas é o teatro” , você já meio calmo, diz, pela quinta vez, nove horas! Olhas o relógio e já sabes que vai dar merda, não vai ter vaga, o João não gosta de esperar,chato, chato mesmo. Olhas prá ela, linda, com aquele rabo balançando do banheiro para a sala, já nervosa, sabendo que está atrasada, coisas de mulher, você pensa. Vai lá meu amigo, toma outra gelada e tira da tua cabeça o desejo de morder aquela bunda durinha e sensual, e de passar o ferro nela, que passa, novamente, perfumosa na tua frente; mulher se arrumando é um tesão mesmo, mas se tentares atacar você vai levar porrada! (leia a segunda lei, de novo, por favor!). Aí começa o drama do vestido, da bolsa, do cinto e quando está tudo certo ela coloca o brinco que você deu,seu babaca! E diz, não combina com essa roupa... É amigo, é duro escolher roupa, combinar, estar na moda. Ela volta para trocar à indumentária e você liga pro João, vá na frente amigo, nos vemos na saída do cinema, liga não, já estou me acostumando...
Banheiro, sim um só banheiro, devia ser proibido, uma lei municipal, “suítes só com dois banheiros” e pronto, tudo resolvido! Tomar banho quente sem pressa, jogar a roupa suja no chão, etc... E ela lá, toda refletida, feliz. E cagar? Isso é um problema, cagar de porta aberta é sonho de consumo, delícia, sem cheiro, ouvindo música e contactado com o mundo! Uma maravilha, até a tua mulher descobrir, ferrou! Que nojento, assim não dá amor...
Passemos para a cama, lugar mais querido da casa, amor sexo, carinhos, no começo, depois... Tinha que ser duas também, é um tal de roncar, de puxar o cobertor, luz acesa é chato mesmo, você quer ler e ela quer ver TV. O jogo vai começar e ela tem que acordar cedo. Então amigo, dois quartos é o certo, cada qual com seu banheiro, sua cama, sua TV, maravilha de arquitetura!

Prá terminar, será que Newton era casado?

Roberto Solano

domingo, 28 de novembro de 2010

Quem te aponta um defeito?

Quem te aponta um defeito?

Um amigo é um bom amigo quando te elogia e te coloca prá cima, estimula, alegra e te faz feliz, não é mesmo? Será que ele é teu verdadeiro amigo? Ele já te questionou? Alguma vez te alertou e discordou? Apontou-te um erro e um defeito? Como você vê essa amizade?
Hoje tenho a certeza do poder renovador da crítica bem feita, não aquela maldosa de pessoas invejosas e recalcadas que no fundo querem te derrubar, a sincera observação é rara e vale ouro! Quem vai te apontar um erro? Se você é um chato então fica mais complicado ainda... Teu Pai, tua Mãe já fizeram o papel de te corrigir, agora estás só, meu amigo. Tua mulher será que te alerta dos reais defeitos ou aceita para não brigar mais? É duro falar duro, acusar, apontar, dedo na cara! Nascemos para o elogio, uma beleza, como engrandece o ego, meus amigos são ótimos estimuladores, e é a platéia que quero ter no teatro da vida. Você já foi vaiado? Uuuuuuuuuuuu !!! Fora !!! E se a besteira for grande vai voar uns tomates e ovos... Exagero meu, não te quero mal nem te ver sofrer meu bom amigo! Mas não tenho coragem de te dizer que quando bebes ficas inconveniente, piadas sem graças, olhas demais pras pernas das meninas, acho que éis meio tarado, e teu bafo meu velho? Tens que investigar isso, já foi num gastro ? Caramba eu sou teu amigo, não posso te falar isso, pega mal, né ? Vais ficar zangado comigo...
E assim vamos ao mundo nos enganando, trocando a roupa da falsidade pela da conveniência, e conquistando “bons” amigos. Não quero mais isso, quero a verdade nua. Sei que não terei resposta direta, nunca teremos, e vou penteando a idéia, imaginando artifícios para obter a minha imagem na tua retina, meu bom e velho amigo, sejas duro comigo! Use teu passaporte da amizade e entre no meu coração, sente na sala VIP e fale da minha companhia. O que achas do meu vôo pela tua vida, as minhas aeromoças são agradáveis, e o serviço de bordo? O piloto foi perfeito, e as malas chegaram? Pontualidade é importante! Preencha aqui esse formulário, por favor, a nossa companhia precisa melhorar a cada dia, “Fale com o presidente” dê sua mais sincera opinião e a nossa amizade vai percorrer o mundo em rotas seguras, e acumulando milhas, vamos trocá-las por críticas e conversas, sem esquecer os elogios tá? Notou como Eu emagreci?
Abração do amigo, que um dia te criticou...

Roberto Solano

sábado, 27 de novembro de 2010

Tudo pela metade

Tudo pela metade

Um amigo carioca morando muitos anos na França fica impressionado como estamos acostumados com a favelização no Rio de Janeiro e com o famoso “Isso sempre foi assim, não tem jeito” dos familiares que por aqui habitam. Somos assim, brasileiros em geral e com mais malandragem os cariocas: Nada seguem com perseverança até o fim! Comecemos pelos políticos, que não sabem além do benefício partidário e pessoal, os bons programas já implantados e bem sucedidos morrem pela metade ou até menos. Idéias geniais e objetivas morrem de inanição. O Darcy Ribeiro fez um trabalho primoroso e criou os CIEPs, colocando as crianças em tempo integral nas escolas, focando na educação, alimentação e laser. Cadê essas escolas? O programa não foi seguido, deu certo enquanto gestão daqueles políticos e de resto foi abandonado. Não há solução sem educação, isso é o básico do básico. E no passado mais longe a favela do Pinto foi removida da lagoa Rodrigo de Freitas, difícil, mas deu certo e as outras que cresciam sem controle? Nada feito...
O Rio, hoje, sofre de câncer, incurável e está sofrendo uma pequena cirurgia que pode prolongar a sobrevida e até minimizar o sofrimento, mas é uma doença lenta e progressiva. Alguém aí já chegou ao Rio de avião e teve a curiosidade de olhar prá baixo procurando o Cristo ou Copacabana? Viu quantos e quantos quilômetros de casas apinhadas em ruas estreitas? Percebeu que o que sobra nos morros são a pedra dura e o abismo? O resto é gente pobre e sofrida se espalhando morro acima, que vai morrer de tiro ou da chuva, morro a baixo, tristeza. O problema é imenso, social e político, o destrato e abandono foi total, e o que se fez é sempre pela metade.
Cidade da música Veja:

“A Cidade da Música será um complexo cultural localizado na cidade do Rio de Janeiro. Seria inaugurada no dia 26 de dezembro de 2008, mas a inauguração foi adiada. [1][2]
Recentemente foi declarado que ainda não há previsão de inauguração para 2009. Todos os eventos de inauguração e a programação para 2008 e 2009 foram cancelados.
Após investimentos de R$ 518 milhões e muita polêmica, a inauguração da obra foi realizada pelo prefeito do Rio de Janeiro César Maia.[3] O investimento bancado pela Prefeitura do Rio custou quatro vezes mais do que outro grande projeto cultural de Maia: a Cidade do Samba, inaugurada em 2006 com custo de R$ 102 milhões, em valores da época.[2] Segundo a secretaria municipal das Culturas, o complexo cultural deve consumir só para manutenção – que inclui custos de água e luz, por exemplo – R$ 7 milhões por ano.[4]


Vamos brincar de ser rico? Primeiro mundo é ótimo! Os filhos da puta roubaram minha gente, e muito! Para fazer o inútil ser útil aos bolsos famintos desses safados! E aí, pela metade, está lá o elefante branco, parado de frente para os enormes engarrafamentos, nobre, belo, inacabado como tudo que se faz!
Vamos criar a rede de esgoto da barra da tijuca? Cadê, o emissário funciona pela metade, a elevatória também, as redes não chegam às casas e tome merda na lagoa. Não quero ser chato e menos ainda um jornalista, quem quiser pode colher os dados e perceber que o que nos faz pequeno é a nossa metade nunca atingida, não temos nada completo, acostumamo-nos ao incompleto e tocamos nossas vidas elegendo os meio-políticos, meio - cobrando, meio - aceitando.
Carioca é assim, pela metade mesmo, se faz um tempo nublado vai prá praia assim mesmo, se o chopp não está gelado toma uma cerveja, se o Mengão não ganha deixa prá lá... O salário está pouco, vai melhorar... A mulher está gorda e chata, deixa prá lá... Nada nesse mundo nada vai tirar a MINHA paz e a tranqüilidade do bom malandro carioca segue, ele sabe tão bem viver e ser feliz com tudo pela metade.

“Deixa a vida me levar, vida leva eu... Deixa a vida me levar”

Um meio abraço a você “mermão” que leu até a metade esse texto e foi fazer coisa melhor, gente boa, eu também sou carioca e vou parar por aqui, cansei, fui...

Roberto Solano

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A digestão pelo tempo

A digestão pelo tempo

Uma noite de Natal, a mesa posta, o Peru e o pernil, farofa, arroz, castanhas e nozes. Feliz dos que tem todos à mesa, Pai e mãe, filhos e com sorte avô e avó, abrigo também para alguns solitários. Da avó a neta, uma refeição completa! Saudades de uma boa digestão, do tempo que meu coração suportava tantas alegrias, digerindo felicidades e risadas, sem a maldita azia que me persegue hoje, nesse vazio coração. A felicidade vem das crianças, isso é certo, elas não têm problema, comem de tudo, balas e sorvetes são bem vindos, nada de comida natalina, sem gosto! Mas elas têm a fome da vida e dos presentes que caem da linda árvore piscante, do canto da sala. Os sorrisos brotam a cada chegada, e Eu fico parado sem fome pensando no que já fui, sou um convidado a mais, sobrei da linda família que tive unida. Colho migalhas da felicidade alheia, não reclamo, calmo fico, vinho na mão, o coração se aquece a cada olhar, vou digerindo as emoções guardadas, um pouco anestesiadas e um olhar por vezes meio perdido. Aqui está mamãe teu presente! Ouço na alegria dos filhos, no carinho de dar a quem só dá, pouco recebe. Pai acho que vais gostar! Isso é certo, ele não é homem de carinhos, só trabalho e família, ele é o que tento ser, alvo nunca atingido. Meu estomago pede pouco, tem medo de digerir com o coração magoado, fica acanhado e triste chora seu suco gástrico. Tomo meu sal de frutas, escondido, mantendo o espírito natalino vou digerir aquele prato feito pela dona da casa, mas por educação, sou forte, como. Segue o natal noite adentro, paz, união, data única, espírito leve, alegria e penso, nos que não digerem a dor, a perda maior, o vazio total do coração doído. Penso nos que não comem, e nos que só tem uma fogueira e uma garrafa na mão, habitantes das ruas, ratos.
O próximo Natal será o melhor, sem fome, utopias vão se realizar e no meu coração o tempo vai anestesiar a dor, ele, o remédio maior, que não cura, alivia, parceirão! Teremos um mundo melhor e justo, doce ilusão que o sonhador acalenta... Só peço que o tempo me livre da culpa, do arrependimento, alivie a saudade, me embebede e traga-me o Natal dos homens de boa vontade, que eu durma mais cedo e encontre uma cama mais macia e sob ela muitos presentes para dar, só fico com um, a crença de dias melhores. Papai Noel, venha me iludir de novo, me traga muito tempo para essa digestão incômoda, Eu acredito em você, Noel, o tempo é o melhor presente da vida e o melhor digestivo da dor. Não fique triste você aí! Espero-te ano que vem, saúde, paz, amor e tempo! Feliz natal!



Uma noite de Natal, a mesa posta

Feliz dos que tem todos à mesa

Da avó a neta, uma refeição completa!

A felicidade vem das crianças,

Os sorrisos brotam a cada chegada,

O coração se aquece a cada olhar



Aqui está mamãe teu presente

Pai acho que vais gostar!

Segue o natal noite adentro





Penso nos que não comem,

O próximo Natal será o melhor

Teremos um mundo melhor e justo,

Natal dos homens de boa vontade

Muitos presentes para dar

A crença de dias melhores...



Eu acredito em você, Noel

Não fique triste

Espero-te ano que vem!

Feliz natal!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pros que qué e pros que não qué

Pros que qué e pros que não qué

Noivado, apresentação das famílias, classe média alta, Recife, Pernambuco. A noiva estava ansiosa, a mãe tinha programado tudo com devido cuidado, um almoço de qualidade e fartura como manda a tradição local. A sala é ampla e a grande mesa está posta, louça fina, cálices de vinho de cristal (foi da Mãe da matriarca, avó da noiva), toalha bordada à mão, guardanapos de puro linho.
Chegam os convidados e sentam na bela varanda, um uísque escocês Red Label, como é de bom tom no recife, só o Red é bom e não se discute isso! Aliás, eu desconfio que foi a escócia que invadiu aquelas terras no passado, nada de holandês, um calor danado e a classe dominante só toma scotty, é o maior consumidor do mundo!
O almoço é servido após as famílias se observarem, é certo que no dia seguinte o comentário será e decote da futura sogra, mulher bem fornida, de amplas cadeiras e uma comissão de frente que já deve ter afogado os bigodes gordos do sogro. O irmão da noiva sei não, se o cardápio fosse um frango de cabidela ele não comia, a classe é unida! Em recife frango não come frango! Sorte que não era, tinha um belo cozido, muito bem feito por Maria do rosário, empregada antiga e prendada, tinha de tudo, quiabo, jiló, banana da terra, couve, carne de charque, músculo, paio dos bãos, e o detalhe gastronômico do pirão, esse era de comer rezando!
Sobremesas diversas, doces de banana, de jaca, bolo de rolo, e um queijo manteiga vindo de surubim, bem assado coberto com o verdadeiro mel de engenho. Dava prá casar na hora! A moça não sabia cozinhar mais a cozinheira podia fazer comida lá no futuro apartamento no bairro de casa forte, promessa da Mãe! O noivo acreditou...
Vamos para a sala de estar, disse o dono da casa, já meio cambaleante, mais pelos whiskys do que pela conversa chata do pai do noivo, doutor formado em recife, mas com pós em Denver ou Huston, sei lá, um desses lugares que o patrão de Maria do socorro nunca ouviu falar e nem queria saber. Maria do socorro, ou “Mary Help” era uma figuraça, vinda do interior, do sertão, boa moça, preservada e virgem, com seus 15 anos era feinha de doer, mas um doce de menina, esperta aprendeu rápido a andar de elevador (morria de medo da porta fechar e ela ficar sozinha naquela caixa de aço e espelho de rainha). Ficou feliz em conhecer a cidade grande, carros, avenida boa viagem com seus coqueiros verdes e aquela brisa suave nunca sentida na pele seca da lavoura dura de milho. Viu o mar, gostava de limpar as vidraças do patrão e ver o infindável oceano, muito maior que todos os açudes de limoeiro! Trabalhava aquele dia como uma distinta ajudante e promissora garçonete. Tinha treinado com a bandeja de prata (baixela de prata, dizia a patroa) coisa fina, para ocasiões especiais. Saiu da cozinha bem empinada (não olhe para os convidados, aprendeu, isso não é “chic”, sem saber o que queria dizer chic ela seguiu em frente), doze xícaras finamente pintadas, de porcelana chinesa (disse a patroa), e foi adentrando a sala animada. Que povo prá falar, pensava ela, rico quando come fala muito, pobre cochila e ronca de barriga cheia... O sucesso da festa se via no sorriso solto do noivo e alegria discreta da noiva, os outros homens tinham bebido bem e ela não achou justo julgá-los, embora aquele bigode do Pai estava ainda com umas lembranças do pirão entranhadas. Foi servindo, avançava com firmeza, não tremia, estava orgulhosa do serviço, era uma garçonete de classe! Na frente da patroa ficou esperando uma expressão de elogio naquele rosto fino e maquiado de “madame”, quando sentiu que não a agradou, a dona da casa não sorriu e ela percebeu algo errado, o que será? O vestido azul estava amarrotado ou o chapéu que teria ficado torto? Ela se lembra de ter prendido com vários berilos, não podia ser. Seguiu e voltou para a cozinha reabastecer a fina louça do café, com certeza aquele tio gordo ia pedir outro e acender o maldito charuto, homem fedido, volto prá lavoura e saio do emprego mas não lavo a cueca daquele porco, pensava.
A patroa estava de pé plantada, na cozinha indagou “Maria, o que é isso minha filha, você serve as xícaras com metade cheia de café e a outra sem café! Tu endoidou mulher!” Já perdendo a classe, encarou a serviçal com os olhos mais orbitais e um pouco vermelho da maquiagem excessiva. Maria não entendeu a raiva da patroa, estava tudo certo, dentro da mais perfeita ordem e harmonia, e com a certeza da confissão de domingo encarou ela como a imagem de nossa senhora da conceição, com um pouco de doçura e um pouco de pena de si mesma (será que errei?) e disse: “É pros que qué e pros que não qué” Pronto, claro como a água da nascente da fazenda, estava certíssima! Imaginem a desfeita de você não aceitar uma xícara e uma colher de prata nas mãos? Os que “não qué” tem que representar, custa nada segurar objeto tão valioso na mão e fingir que toma o café? A patroa se viu vencida e voltou prá sala pensando “Essa Maria do socorro é danada de inteligente se aprender a cozinhar vai pra casa de meu filho, esses jovens não gostam muito de café mesmo” e o sol se recolheu na tardinha do Recife.

Roberto Solano

Um arrecife no meu coração

Um arrecife no meu coração

“Arrecife ou recife (nomenclatura atual) é uma formação rochosa submersa logo abaixo da superfície de águas oceânicas, normalmente próxima à costa e em áreas de pouca profundidade.”
Comecemos assim, com a definição. O meu coração tem seus acidentes geográficos que alteram as “ondas da emoção” e assim se consolidou meus arrecifes, quando ainda menino, no Recife, Pernambuco, Brasil.
Sou filho de pernambucanos, meu Pai saiu da cidade “pequena porém descente” meio fugido e com muita garra para enfrentar São Paulo, e minha mãe com muita coragem para enfrentar os dois : Meu Pai e São Paulo. Ela se adaptou ao frio e aos desencantos de Sorocaba, fez amizades, cozinhou muito (ela gostava), mas sempre com o coração saudoso. Meu Pai foi um herói, comandou uma metalúrgica, aprendeu a pilotar avião, foi campeão de tiro, andou de cavalo, fez amigos também e talvez alguns irmãos que eu não conheça...
Nasci no Rio de Janeiro e aprendi a ter um jeito nordestino pela convivência de minha mãe e pelas aventuras em Recife. Sim, aventuras emocionantes. Minha Mãe, consumida pela saudade de uma família numerosa, marcava a data e, pilotando seu carro, ia sozinha com os filhos dirigindo para Recife. Amigos, isso seria loucura hoje, imagine na década de 60? Claro, tínhamos o movimento Hippie, os Rolling Stones, as drogas, sexo livre e Dona Maria do Carmo! A vanguarda da juventude nacional. Eu tinha muito medo, frouxura mesmo! Era o mais velho dos filhos homens, meu irmão muito novo, minha irmã meio abestalhada e animada com qualquer novidade e meu Pai ausente. A viagem era programada em três dormidas, mas a minha progenitora era da virada! Eita mulher doida e energética, avançada no tempo, acreditava que as estradas estariam melhores, que seu carro era poderoso e sem GPS se mandava por dentro desse nordeste feito um caminhoneiro experiente, encurtando os prazos, fazia em duas dormidas o percurso. O problema era o estado da Bahia: Até Minas Gerais ela se conformava com a distância e seguia o planejamento, mas ao sentir a presença dos coqueiros na estrada e a voz mais arrastadinha dos baianos criava coragem e lançava o grito de guerra “Dormir agora só no Recife” FUDEU GERAL! Eu começava a suar frio, sabia dos riscos, já tinha visto esse filme e às 5 da manhã saíamos de Governador Valadares para Recife, parando para abastecer e comer alguma coisa. São 1717 km em tempo estimado de 20 horas e 20 minutos, consulte o papai Google! Naquela época levávamos umas 25 horas, que loucura meu Deus! O santo de minha Mãe era forte, nossa senhora da Conceição, padroeira da cidade querida, Recife.

Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meus sonhos sem dizer adeus
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim.

Caetano, meu bom baiano, é isso aí! Belezura de canção e me remete às mais saborosas lembranças. O meu coração vagabundo queria guardar o Recife em mim, seu mar, suas pedras e meus amigos. Na época o mundo se dividia, na minha cabeça em, Londres (o rock por lá fermentava), EUA com suas eternas guerras, e o Brasil partido no meio: Nordeste e Sudeste. As culturas eram por demais diferentes, não havia a rede globo roubando a beleza dos sotaques regionais, as estradas eram difíceis, a comunicação no telefone do Chacrinha (enfia o dedo enfia do dedo e roda, não é nada disso que vocês estão pensando é do telefone que eu estou falando! O velho guerreiro era demais!), tinha que dar linha, viu? Dar linha no velho aparelho preto betume era um ato de amor, minha namorada Pernambucana sabe disso, domingo de tarde e a prova de amor posta, ligar para o amado! Eram umas 2 horas se desse sorte falava...
Voltemos ao meu coração e suas ondas de emoções, vinham fortes na viagem, no medo absoluto, e se acalmavam em bater nos arrecifes (a minha família), para chegarem espumosas na praia linda e quente de Boa Viagem. Sim Boa Viagem para os outros ! Cacete, era duro, chegava morto em Benfica, casa de minha Vó, já de dia claro, com fome e agradecendo aos milagres ocorridos. Vinha Zé Oião abrir o portão, o DKW dava sua última e espalhafatosa acelerada, queimando gasolina e óleo e eu saía do carro desconfiado... Eu era um bicho estranho, que o diga minhas primas olhando aquele branquelo com cabelos longos (não tinha cabeludo em Recife!). Claro que Eu sentia a diferença circunstancial, tinha medo (ô cabra frouxo sô...). E ia me adaptando, tanto que cheguei até o galinheiro, o galo não gostou e voltei correndo com um belo rasgo na perna do maldito galo campeão de taekwondo, marca que até hoje trago. Normalmente íamos ao carnaval, tinha corso, que loucura! Voltava sujo e doidão das batidinhas infernais vendidas em tubos plásticos e o lança-perfume, doideira! Os bailes eram de primeira, Whiskys, mesa familiar, umas meninas para dançar, bebedeira, rodoro e a porrada comia! Claro, todo pernambucano é macho e festa sem uma briga não era completa. Lembro-me de tirar uma galega prá dançar no clube internacional (a família Novaes era prata da casa) e um rapaz, apaixonado, chegou e olhou para mim com olhos quentes de frevo e bebida, com uma garrafa vazia deu uma porrada na quina da mesa e declarou seu ódio aos cabeludos, roqueiros, hippies, paz e amor é o CARALHO! Sou nordestino macho e a mulher é minha! Amigos, o galo cantou no galinheiro errado, era primo prá todo lado (até hoje não conheci a metade), e o pau comeu legal! Cadeirada, soco na cara, em uma onda os foliões secos por continuar dançando davam o sinal para o segurança que de pronto passava para a orquestra soltar o famoso frevo das vassourinhas! Tudo resolvido, a porrada era carinhosamente desviada para o jardim e o baile seguia ma santa paz até acabar, já de manhã, na praça com orquestra e tudo “E no melhor da festa chega quarta-feira... É de fazer chorar...”.
Isso me marcou, numa época que só tínhamos em comum o desejo de chicletes americanos e fumar o famoso Marlboro importado (meu Pai fumava Minister e Eu Hollywood), todo o resto era descoberta, em terras afastadas e perigosas! Sobrevivi e tenho hoje não primos e sim amigos de farras, graças a ela, minha Mãe, a maior diplomata do mundo!

Roberto Solano

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Vivendo de aluguel

Vivendo de aluguel

Estamos sempre, você dirá “Eu tenho casa própria, todo feliz!”, não vivo de aluguel... Pode ser mas não é ! Por mais que você tenha bens em algum momento terás que alugar alguma coisa, um amigo, um amor, uma ilusão. Não temos tudo, embora tenhamos a sensação de ter e bate o isolamento, a solidão. Difícil de explicar o desejo da posse, ele é imperativo, vivemos comprando e acumulando bens, uma cultura americana de poder e glória. Eu já entendi que não se faz felicidade com compras e sim com o aluguel! Isso é uma maravilha: Tem seu uso-fruto e não tem o ônus do “para sempre”, uma cultura do desapego, temos que entender e dominar esse sentimento para viver os momentos como devem ser vividos. Não estou dizendo que o cidadão não tenha que ter dinheiro e recursos, quero que saiba usar e se desapegar ás coisas, vou explicar: O que é melhor? Ter uma casa de praia ou de campo ou viajar para bons hotéis e pousadas? SEm a obrigação de pagar o caseiro e olhar para a mesma churrasqueira... Não seria melhor andar de táxi sempre? O carro é um problema, mas temos que carregar essa “medalha” do poder; tenho um carro zero bala, cheio de acessórios, etc... Isso faz até a pessoa melhorar seu desempenho sexual! Loucura mesmo. Não é melhor alugar um carro bem bacana, e de motorista? Casamento de Mercedes Benz, viagem de Audi, ida ao interior de Land Rover, um veículo prá cada ocasião! E um jatinho? Eu acho o máximo quem pode viajar de taxi-aéreo! Não tem fila, check-in, goiabinha da Gol, não perde tua mala, isso é um sonho.
Vamos às análises para provar que tudo é locação, começando pelo dinheiro. O dinheiro nunca é imóvel, ele entra e sai; precisamos pagar as contas e crescer, investir, esse é o ponto: O Banco! Lá se aluga o dindin, certo? Quem nunca correu para um banco para sair do sufoco ou investir? E tem os viciados em locação de dinheiro, muita gente, mas muito mais gente do que imaginamos, que deve e vive devendo. A locação é a mola do desenvolvimento, o crédito barato (baixo aluguel do dinheiro) faz a economia crescer e salva o Brasil de hoje. A construção civil, por exemplo, vive do crédito a longo prazo, ou seja, um imóvel é uma falsa locação de dinheiro.
O amor? Uma locação que também é forte! A prostituição direta ou indireta é um mercado, exemplo fácil, né? A linda menina que quer casar, educada, de família, começa te alugando; o teu tempo, atenção, teu carro (financiado!), e se você for um bom pagador ela vai querer casar.
Estou amargo mesmo, é prá chocar mesmo, balançar tua cabeça meu amigo, aceite não comprar e mesmo comprando veja o bem como algo que tem vida útil, assim como você também, um dia se acaba. Alugue a vida, a família os filhos e o botequim da esquina, use por tempo determinado e saiba que nada é teu por definitivo, nem a tua vida! Aproveite meu caro, pois “caixão não tem gaveta” e nada restará, como meu bom Nelson Ned cantava” E tudo passa tudo passará, e nada fica nada ficará...”
Acabei alugando seu tempo, espero que tenha sido uma boa estadia nesta página, volte sempre!

Roberto Solano

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Meu primeiro violão

Meu primeiro violão



Um Di Giorgio, comprado por minha mãe no super mercado Makro. Ela tinha adoração pelo Makro, lá fazia suas compras mensais e ao ver o belo violão, lembrou-se do meu aniversário e ganhei um ótimo violão de supermercado! Engraçado não é? Mas ela sem querer acertou no presente que hoje, por sorte divina, está no quarto do meu filho, também um interessado por música.

Meu pai era ótimo violonista, se orgulhava de ter tocado com Dorival Caymmi em Recife, aprendeu sozinho quando jovem ficou tuberculoso em um ano de cama! O gosto pela música era de Pai e Mãe, sempre tinha uma fartura de discos lá em casa, dos 78 rotações ao “long-play” de 33, os famosos bolachões. Minha Mãe se atualizava comprando vistosas vitrolas RCA Victor, Telefunken, Phillips e outras. Eu pequeno tinha um prazer de trocar de roupa (gravata borboleta) e ouvir Dorival “O mar quando quebra na praia é bonito... é bonito” Isso até cochilar sentado. Ouvia outros que gostava, Almirante com músicas curiosas “Faustina”! “Olha quem está no portão é minha sogra com as malas e ela vem resolvida a morar no porão "... Outra” "Atichim ( O coro dizia Deus te ajude ). Pelo costume de beber gelado apanhei um resfriado que foi um horror, porém com medo de fazer despesas eu com franqueza não fui ao doutor. E tudo o quanto foram me ensinando eu fui tomando e cada vez pior e quem quiser que siga o tratamento, pois se não morrer da cura ficará melhor “ A letra do “ P “ era ótima, etc... A música reinava lá em casa, tinha Noel Rosa cantado por Aracy de Almeida, que mulher feia... Ataulfo Alves, uma delícia. Meu Pai cantava umas músicas não comerciais que decorei e sei até hoje, com orgulho! E “Pesadas trevas”, de 1904, ??? Essa era cantada por minha Vó, decorei. Eu pegava tudo de ouvido e fui aprender a tocar violão. Meu Pai me ensinou o “Velho Marinheiro” um dedilhado fácil que ele garantia que na primeira aula eu já saberia tocar, era o otimismo em forma de gente! Quando já arranhava montei um conjunto com o Celso Fonseca, morador do Alto e lá descobri que como amador eu seria um sucesso, e resolvi me dedicar mais aos dribles infernais que aplicava nas peladas do São Bento, de bola era bom mesmo !

O tempo passou e a timidez chegou. Com uns 18 anos fui retornar às cordas e aprendi com o então Maestro Rildo Hora como se tocar bem um violão. Melhorei e acho que encantei algumas moças desavisadas, mais com os longos cabelos do que com a sonora viola de supermercado.

Mudei-me para Ipanema, ferrou tudo! Só tinha maluco por lá e acabei me enfeitiçando por uma moça muito louca, bailarina e cheiradora de cocaína. Conheci o Luis Melodia, figuraça, na época ainda ralando para ser conhecido “Eu quero é mel, eu quero mel... Quem tem tem quem não tem não se conforma... “ E Eu sabia das composições em primeiríssima mão pois ele morava com a irmã de minha namorada, éramos cunhados ! Gostava de tirar um som com ele. Lá na casa o Alto tinha umas festas animadas ( começava na 6af e terminava no Domingo! ), uma vez o Melodia foi prá lá e como estava uma noite linda de Verão e a galera "queria ficar a vontade", ficamos na grama, foi chegando mais gente e ali tocamos várias músicas do repertório do neguinho afinado. No dia seguinte papai perguntou “ Quem é aquele neguinho que tocava na grama? “ Ficou interessado pelo promissor artista. A casa era sempre musical, Vanuza esteve por lá várias vezes e não cantou o hino nacional ( graças à Deus ), Paulo Sérgio, Fábio com Stella :


"Stella
Em que estrela você se escondeu
Em que sonho você vai voltar
Quanta espera de você"


Era o maior sucesso ! Casa cheia, muita comida e bebida e músicos famintos tocando, tirando a barriga da miséria ! Minha Mãe não deixava prato vazio, arroz, feijão (ótimo) e galinha de cabidela (sucesso total), a música se respirava com muitos borrachudos (mosquito bravo de lá), Whiskys não faltava, boas gargalhadas e muitas visitas com os weimareners circulando livres, assim foi um tempo que me valeu e ficou aderido, que trás saudades musicais, me faz sorrir ao ver o baterista dos Rolling Stones com 69 anos e Keith Richards beirando os 70. Fui feliz com muito rock na cabeça e “ satisfaction “ na linda família Novaes, hoje resta um violão do Makro com um lindo filho dedilhando os ídolos dele : Mamãe sabia comprar violão !


Roberto Solano

Yamandu Costa

Deixa eu te contar uma estórinha : Estava em Paris retornando para o Brasil e no corredor de espera estava o Yamandu tocando sozinho, com sua mochila no chão e um olhar perdido, do lado uma jovem francesa ouvindo seu MP3... Claro que sou brasileiro e gosto de música, sentei diante do fenômeno! Uma maravilha! Então , quando ele parou Eu falei com a maior intimidade " E aí , tudo bem ? Voltando prá terrinha ? " Ele me olhou como quem olha um poste, meio bêbado e de noite na rua, falou : " Estou gravando " Putz ! Fiz merda ! Aliás " merde " é mais condizente com a situação. Que nada, o cabra é simpático e lunático como os bons artistas e retornou a conversa com um mais tranqüilo " Tudo beleza ! Eu só componho em aeroporto, chego cedo e fico gravando pois depois esqueço, em Praga eu perdi uma música genial, coloquei no gravador e nada de achar depois... " E imediatamente recomeçou, fiquei mais tranqüilo, não sou tão chato assim, pensei. Outra pausa e emendei o papo com o famoso " Você sabia ? " O baden powel esteve lá em casa quando eu tinha uns 15 anos, chegou completamente bêbado pelos braços do meu tio que o encontrou solitário no bar e puxou assunto ( tão chato como Eu... ) . Lá chegando meu Pai ofereceu um William the Conquerous ( grande Whisky ) para o gênio que se animou ! Ele vinha com uns óculos de grau que só tinha lente do lado esquerdo e meu velho perguntou " Baden, porque são de um lado " a resposta veio poética " è para Eu enxergar o resto do mundo ! " Ponto para o violonista e me animei buscando meu " Di Giorgio " para afinar ! Foi um momento raro, ele afinando e tocando, era uma mão boa mesmo chapado, bons tempos. Rapaz o Yamandu é fã do Baden e começou a tocar as músicas dele para meu completo deleite ! De repente ele me olhou e disse, quero uma coca cola. Pegou a mochila e despejou tudo no chão, foi roupa, cueca , um tigre e umas 100 moedas de euros correndo prá todo lado e ele de quatro catando, eu avisei " vou comprar " e saí do cenário cômico, rindo disfarçadamente... Voltei e ele queria me pagar, o que recusei, ficou agradecido e me mostrou a maravilha que tinha trazido de praga : Um tigre de brinquedo ! Disse " A coisa mais engraçada que já vi, vou te mostrar ! " Botou o tigre no chão e nada... O felino dormia... Ele de pronto disse " Que merda já veio quebrado ! " Eu intervi, será que está com pilha ? Você já viu uma criança vendo a clássica experiência de eletrostática, que perto do globo os cabelos ficam de pé ? A cara de espanto e alegria dele foi a mesma quando abriu a barriga da fera e não tinha pilha ! Feliz ficou e voltou para tocar ( ainda bem.. ) mais 15 minutos e era hora de embarcar. A pergunta ! Será que deixam entrar queijo francês no Brasil ? " Já com um pacote grande no colo. Eu disse que não sabia, e ele me justificou " A minha mulher é francesa, adora " Seguimos para o avião... No desembarque o vi novamente, com a mochila nas costas, todo enrolado de pé escrevendo contra a parede aquele formulário chato da imigração, pensei com meus botões, artista é mesmo desligado...

Roberto Solano

domingo, 21 de novembro de 2010

Sete Baseados

Sete Baseados

Sim, você já fumou um? Ficou doidão? Então imagine fumar sete! Papo de maconheiro, eu? Não amigos, a minha praia é outra... Praia, foi lá que surgiu o apelido, uma senhora gorda com um potente veículo, motor de 2 tempos (o bicho misturava gasolina com óleo), fedia muito aquela fumaça, o barulho era mais para uma motocicleta: DKW, marca alemã de carros, comuns aqui no Brasil na década de 60. Barra da Tijuca, Av. Sernambetiba, pista de barro, praia linda e enorme, só explorada em frente á Olegário Maciel, era o “Point” dos tijucanos, principalmente a turma da Usina e Muda, tendo lá uma juventude da” pesada”, os jovens sabiam nadar e pegar jacaré naquele mar bravio, eu era ainda um menino de 14 anos quando lá ia aos sábados me banhar. A praia tinha poucos freqüentadores, a grande maioria de fortes rapazes que lá exibiam o corpo moreno e seus narizes lotados de pomada minâncora, com a vegetação rasteira avançando pela areia branca e escaldante do verão. Vamos á cena: A senhora gorda do DKW vermelho descia o Alto da Boa vista com um rapazola e duas lindas meninas, uma bem morena (2 pés na cozinha) e outra branquíssima (3 pés na Escócia, um dela e dois do Pai); na mala vinham a barraca de praia e esteiras de palha, o carro era bom e a estrada convidava às curvas mais emocionantes, porém sem platéia que graça tinha? Ela então embalava na Olegário e dobrava prá direita, um pouco distante do posto do salvamar, era mais cheio e avistava-se os rapazes em” panelinha”, sim eles ficavam juntos para contar vantagens e aparecerem mais para as modestas meninas que por ali passavam. Alvo visto ela dava um arrancada em linha reta por cima daquele mato rasteiro, o carro parecia um cabrito, eu me segurava firme, já sabendo do” gran finale” ficava rubro de vergonha... As rodas começavam a patinar no encontro com a areia finíssima da praia até o bicho morrer atolado, ela, toda feliz gritava:” Chegamos meninas, ajeitem os biquines, Roberto vá buscar as tralhas lá na mala, que dia lindo né? “Saía com esforço abrindo uma porta que, do outro lado, tinha a resistência da areia, e ela dava aquela buzinada fina para os rapazes beira mar. Eles avistavam e acenavam, corriam para ajudar as belas garotas na montagem da barraca, quem sabe elas não passariam óleo nas costas? A praia estava posta, mar bom, ondas para me divertir e alguns sorvetes poderiam passar, fugia para o mar: A minha diversão era pegar o famoso” jacaré” de peito mesmo, cheguei a ter um pé de pato dos bons e a encarar, do lado de seu Francisco (um negão que era o responsável pelo salvamar da Barra) uma ressaca.
Bem, o dia passava rápido e a fome vinha à galope, tínhamos que voltar. As meninas já bronzeadas e na sombra, chega à hora da retirada, vem o grito de guerra “Vamos apostar um pega na subida do Alto”?”Os rapazes eram bons pilotos e estavam preparados para a empreitada, resposta:” Vamos !!!”Juntavam uns quatro na frente e a gordinha engatava a marcha ré olhando pelo retrovisor a minha orientação manual, o carro roncava bravo e saía do atoleiro, atolava de novo... Buscávamos tábuas e com um pouco de engenharia o possante estava na pista, os fuscas e opalas viriam a seguir fazer a marcha comportada até o pisca-pisca (início da subida do alto) a regra é clara: Não vale trocar de posição e” Sete baseados” vai na frente! Não sabia do apelido, mas Paulinho maluco era rapaz de palavra e não iria inventar um nome á toa não! Isso mesmo, SETE BASEADOS, minha Mãe, dona Maria do Carmo Cavalcanti de Novaes, reduzida a um conjunto de cigarros de Cannabis Sativa! Mãe extremosa, bem casada com um engenheiro José Solano e moradora do Alto da Boa Vista, porém a mais jovem e maluca daquele grupo de rapazes paqueradores. Eu ficava indignado e calado... Fazer o que? Era um adolescente tímido, fracote e branquelo, irmão das coxas morenas mais torneadas que andavam na zona norte com aquela branca de neve de olhos azuis da cor do mar, não tinha opção ! Para ir na praia dar meus mergulhos tinha que pagar esse” mico” familiar.
O pior está por vir: A corrida! Eu tinha muito medo, a coisa era séria, não tinha cinto de segurança e nem se sabia o que isso significava. Sete baseados abria o quebra-vento (antigamente os carros tinham uma janelinha perto do retrovisor que direcionava o vento para dentro do carro) regulando o retrovisor com a mão esquerda, verificando os oponentes, um fusca branco rebaixado e tala larga, opala azul com faróis de milha e pneu de corrida e outros curiosos que vinham de testemunha ocular. Maria do Carmo dava o sinal com aquele braço gordinho e a mão balançando no conhecido gesto “venham” e acelerava! O bicho peidava mais que Alemão em oktoberfest, a primeira engatada e o motor zumbia em máxima rotação até a segunda que vinha com um sorriso maroto de mamãe, as meninas debruçadas no banco de trás tentando ver alguma coisa que não fosse a fumaça do DKW, a terceira entrava já na velocidade de cruzeiro, minha mãe era só concentração, vento no rosto e duas mãos no volante, curva prá direita, prá esquerda, não tinha ônibus nem carros descendo o alto, só subindo de volta prá casa e a minha pressão também! Missão estava cumprida, nenhum daqueles rapazes conseguia ultrapassá-la, o carro era muito forte e até uns 80 km/h, em subida, não tinha prá ninguém! Uma paradinha na Cachoeirinha, comunidade que dava acesso a rua que nos levava prá casa ( graças à Deus ! ), para se despedir dos competidores que passavam zunindo, seguiam o pega até a Usina, ela buzinava feliz, as meninas davam adeus e Eu parava de rezar...
Amigos, acho que de infarto nunca vou morrer, se sobrevivi aos pegas de “sete baseados” estou salvo para sempre!

Roberto Solano