terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pio

Pio

Não é um Papa, é um piado:

“s.m. Voz imitativa de certas aves.
Recurso de que se servem caçadores para atrair pássaros.
Instrumento adaptado para esse fim. “

Outro dia um amigo me disse “ Você vai gostar desse carro hidramático porque você não tem direção esportiva! “ Magoei, mais por não entender direito o que significava a tal direção do que me sentir um sujeito “ não esportivo “, talvez careta e quem sabe um velho. Doeu...
Sempre admirei o vento como um personagem invisível do cinema, participa das cenas ao ar livre, faz os cabelos visíveis, embeleza as mulheres e é fundamental nos carros conversíveis! Eu acho o máximo, o camarada andando em uma estrada, ao sol, em um belo carro conversível (eu, pessoalmente, adoro os da marca Alfa Romeu), vermelho (tem que ser!), óculos escuros, vento no rosto e ao lado da linda mulher. Essa pode estar de lenço no cabelo ou descabelada mesmo, embora se o lenço for amarelo vai vestir como uma luva a minha imagem preferida. E lá vai o carro, suave, não corre tanto, o rádio toca um rock clássico ou um blues, o mar é azul esverdeado, não há outro carro, outra mulher, outro homem, e o tempo parece parar... Linda imagem, e para mim, um belo exemplo de direção esportiva; sempre abaixo dos 100 km / hora (se não voa o lenço da atriz!), velocidade que desliza o veículo, suavemente, adoro isso! Um dia realizarei esse desejo juvenil. Será que a tal “direção esportiva” é isso? Penso que não...


A imagem da galinha no quintal, seguida pelos lindos pintinhos, também mexe comigo... Pio, pio, pio... Lá vai a família unida...



Outro amigo gosta de correr, contra as metas que ele mesmo determina, bater seus próprios recordes, nem que não sejam objetivos, com finalidade. Ele já saiu de casa para o destino em cidade próxima, sem parar em um sinal! Isso é um recorde! E conseguir o mesmo só freando uma vez? Maravilha, não é mesmo? Subir a serra em quarta marcha, outro feito inigualável, são fatos relevantes, mas ele os mantém em segredo: Tudo que é valioso tem que se guardar! Vai que a moda pega e vão querer bater seus recordes??? Sacanagem.



Piu-Piu é um personagem interessante:

“ Piu-piu (Tweety), é um passarinho, personagem de desenho animado criado por Bob Clampett em 1940. Faz parte da série Looney Tunes, produzida pela Warner Bros. É perseguido por Frajola/Silvester.
Mostra-se como um personagem extremamente meigo e doce, mas reage com extrema maldade aos ataques do gato Frajola. Seu bordão é "Eu acho que vi um gatinho!"

Ele e o gato frajola, sempre há um final feliz para o pequeno projeto de galo, eu recomendo os desenhos animados!




Na minha juventude aprendi a dirigir, mas não aprendi a correr. Meu amigo Zé Luis, era uma fera, com seu poderoso Ford Maverik, dava shows de velocidade no aterro, sua pista particular, bons tempos sem multas eletrônicas, eu tinha inveja... Não do carro, nem da velocidade, sim da felicidade, do sorriso e da glória. A auto-estima vai aos céus! E eu procurando me animar pegando jacaré de peito nas praias cariocas, fazia bonito, porém saía da água do mar cansado, meio ofegante, pé de pato na mão e nada mais. Cadê o tesão, a sensação do recorde, do pódio imaginário? Estourar a champanhe com as lindas moças seminuas do teu lado, levantar o troféu! Meu recurso era levantar um copo de chope no bar da esquina, imaginando a minha felicidade idiota de pegar uma onda-caixote de 2 metros! Boa bosta! Que inveja tinha do Zé.
Tenho que perder o medo de dirigir, e quem sabe obter a licença para a prática da direção esportiva, que minha mulher definiu como: 1 ) Cantar pneu ; 2) Acelerar até o limite da marcha; 3 ) Não ficar atrás de nenhum carro ! Aí, caro leitor, fudeu geral! Eu adoro ler placa de caminhão nas estradas, acho criativo, divertido e filosófico! Como vou ler as ditas placas nessa velocidade infernal? Terei que praticar leitura dinâmica também? Os 2 primeiros itens já estou treinando, e com relativo sucesso, mas não abro mão das placas de caminhão, meu lado escritor precisa de informação.
Na verdade tenho medo do carro e de ser carona. Nada pior que um ás do volante mal acompanhado (ou vice-versa), me borro todo... Sou cagão mesmo, fico com dor na perna de tanto frear sem ter o freio no pé, rezo, seguro no " Puta-que-o-pariu " (aquele apoio de mão que o medroso usa ), tento me distrair, não dá colega... O zigue-zag do piloto, corta um, corta outro, cortando meu coração. Pálido fico, com vergonha de pedir para diminuir a velocidade. Hoje sei que todos os que dominam a tal “direção esportiva” são SURDOS !!!! Não adianta você pedir, ele não vai te atender e no máximo aumenta o som, só.
Nos anos 70 estava na faculdade e peguei uma carona com um “colega”, desconhecido, em um fuscão 1600, carburação dupla colega, o bicho corria, e da PUC até Ipanema foi uma tirada só. Pegamos o canal da Afrânio, sem parar nos sinais e na praia o cidadão fez a curva fechada para esquerda com classe, uma mão só no volante, olhando para o lado, confiante, derrapou, um pouco. O fusca balançou para um lado, para o outro e se aprumou na Vieira Souto, aonde o piloto atingiu sua velocidade de cruzeiro. Eu gelei, e apliquei o contra golpe do PIU-PIU, comecei a piar, baixinho, mais audível: Pio, pio, pio... E aquilo foi incomodando o Schumacher. Passou o sinal fechado: PIOOOOOOOOO. Acelerou mais, Pio,pio, pio,pio... Freou e falou “O que significa isso, você não fala, só pia?” E de pronto respondi” É que um colega lá da faculdade morreu, de acidente de automóvel, tadinho, morreu sem dar um PIO...”
Agradeci a carona, abandonei o bólide e voltei á pé prá casa, vendo o mar e as ondas, comecei a me orgulhar de saber nadar, ser jovem, saudável e saber pegar jacaré!

Roberto Solano

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