terça-feira, 30 de novembro de 2010

A inveja

A inveja

Sentimento mal explicado esse, tão mal explicado que quando olhamos com desejo para alguém e mostramos inveja, o outro retruca “Está com inveja POR QUÊ?” Já notaram? Incrível, quem tem inveja é sempre um indeciso, será um duvidoso, não sabe nunca da nossa inveja? Vamos com calma, o mal está na raiz mesmo, a inveja nasceu gêmea, e a Mãe, com preguiça, deu o mesmo nome: Maria Eduarda prá uma e Eduarda Maria prá outra, o que dá no mesmo, gera confusão! Ou seria Clédia e Clébia? Uma amiga de minha mulher tinha uma família engraçada de irmãos: Clênio, Clécio, Cléris, Clédia, Clébia e.... Renatinho. O apelido de Clédia era “Nena” e de Clébia " Neninha”, que gente criativa... Renatinho foi salvo pelos irmãos mais velhos! O Pai não conseguiu terminar a saga da família “C” “C”... Na hora do batismo o nome escolhido era Cléber, MAS os irmãos gritaram “Cléber não! CARALHO!!! Chega de " C " nessa família !” O Padre se assustou, quase cancela o batizado, mas houve consenso familiar e o Pai se contentou com o " C " do CARALHO e sapecou RENATINHO no pequeno bebê... Voltemos à INVEJA, ela tem duas vertentes (irmãs gêmeas, suba para o princípio) uma boa, saudável, construtiva e a outra ruim, venenosa e destrutiva. Eu proponho mudarmos para “Invejabem e Invejamal” ou “ Invejão e Invejinha “, sei lá, um código ou sinal, escrevamos “ Inveja+ e Inveja- “, temos que escolher com calma, aceito sugestões, tá?
Então amigo, vamos dissecar essa idéia e olhar por dentro desse sentimento universal e tão popular. Nascemos querendo tomar tudo do outro, não é mesmo? Vá nesses “ points “ de bebês, baixo bebê, bebê barra, etc... E fique ali saboreando os conflitos, metade dos moleques dormem tranqüilos e a outra está brincando. Os olhares perdidos das babás e as conversas bestas das mães, “Ontem o rodriguinho arrotou na camisa do Paulo, ele teve que trocar de roupa, perdeu a carona pro trabalho, tadinho!” Paulinha está com uma coceira na virilha, não melhora... “Dudu está chato, com febre e diarréia, você viu a promoção de fraldas das lojas americanas?” Tem troço mais chato que papo de mãe recém parida? Voltemos aos fatos, os sacaninhas já colocam a inveja na mamadeira! É tal de puxar o paninho do outro e quando pega na chupeta o pau come, aquela cara redondinha vai se intumescendo, ficando vermelha, os olhos incham, uma gotinha de lágrima anuncia o temporal! Buauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu ! E tome pernadas para o ar e o carinho balança: O filho da outra Mãe pegou a chupeta que minha Mãe me deu! Menino novo ainda não conhece a categoria de Mãe, filho da Mãe e filho da Puta... Vá tomar a “ pepeta “ do pimpolho! É guerra acústica!
Já me perdi de novo, merda! Inveja boa e a ruim, voltei. A boa é super saudável e faz o tempero do desejo, só há desejo material com inveja não é mulheres ? Aquela bolsa da Claudinha , hem ? E o biquíni de Glória (se Eu perder uns quatro kilos...)? O pajero da Patrícia não é inveja não, aquilo é sonho... A boca do Brad Pitt... Xiiii, vou parando por aqui que Ricardo, meu marido, está chegando... Todas as mulheres são invejosas! Pronto! Eu acho que até a mais remota freirinha descalça tem inveja do terço da Madre superiora!
A inveja direcionada para a conquista é ótima, mas perigosa... Esse bicho inveja é peçonhento e solta veneno, você fica rindo e mostrando alegria ao ver aquele lindo peito siliconado da amiga, já prá lá de boazuda, que tinha um peito bucal (peito bucal é o peito que cabe na boca do amado, definição, patenteada, de meu Pai, que me dizia “Filho o peito da mulher não precisa ser maior que a cavidade bucal, prá que? Eu não sou americano!), lindo, duro e com mamilos” astrônomos " sempre olhando para o Céu "! Mas ela queria entrar no clube das mulheres “ avançadas “, seios fartos para olhos gordos... E você já começa a maldar, não é mesmo? Moça bonita, mas quando ficar MAIS velha ( o mais já é prá derrubar a muito jovem parceira de academia ) vai sofrer da coluna! Vai encagalhar geral! Agora teu pensamento pegou pesado amiga! Já estás na inveja ruim, sem volta.
Temos o grupo, bem mais numeroso, das invejosas do mal! Essas são foda mesmo, seca pimenteira. Conheço várias, tenha cuidado! Se você contar uma vantagem sexual do maridão ele vai broxar na próxima! Se ela olhar teu vestido branco podes ter certeza que vai encardir; elogiou o namorado da tua filha, é bicha, queridinha, não pague prá ver, não vá à parada Gay, por favor! Essas víboras estão soltas por aí, cuidado, use avenca atrás da orelha (minha Vó dizia que funcionava), vá se benzer com Pai João, correndo! E se ela está de olho no teu marido só tem um jeito, lindinha, café pilão extra-forte cuado na cueca dele!
Sorte!

Roberto Solano

O complexo do Alemão

O complexo do Alemão



Vocês já viram um alemão complexado? Eu não, pouco conheço a cultura deles, mas imagino o que deve ser a vida de um alemão! Primeiro é ter que falar alemão, gente deve ser difícil, eu não passaria do primário, com certeza seria complexado por não passar de ano, Eu e alguns milhões de alemãs que tem inteligência mediana, e pronto o sujeito já fica complexado na infância. Ficar vermelho, putz é muito chato, você olha prá menina e ela pisca o olho, ficou vermelho, faces rosadas, esfogueteado. Hans, meus parabéns, você é o primeiro da nossa sala, a melhor nota do curso, favor subir no palco que a professora Elfriede vai entregar a sua medalha, uma salva de palmas para Hans! E lá vem o coitado do Hans, mais vermelho que salsicha de hot dog, suado, fumegante, tem que ficar complexado mesmo...

Klaus é um boa praça, divertido, bom de papo e de bebida, não perde um oktoberfest, mas tem uma bela barriga de chope, que já tirou sua paz várias vezes, perdeu namoradas, ficou complexado mesmo. Dizem que uma vez viram o Klaus no mictório derramando o chope direto na calha! O que é isso meu camarada, perguntou um amigo, e o Klaus se defendeu, “estou cansado de ser o intermediário!” Cansado de ser barrigudo, não ver o bilau, e prá trepar...

Wolfgang, esse é bom de garfo, traça tudo! Chucrute é seu forte, joelho de porco, delícia, mas tem um tremendo complexo de não digerir os molhos, as mostardas pretas, então ele tenta segurar a força maior, o vento interno, em vão... Dá-se o peido! Vocês sabem, em qualquer ambiente se houver um alemão e um odor desagradável, fudeu! Foi ele! Então, nosso amigo Wolfgang é mais um alemão complexado, mora no Brasil, come de tudo, em especial nossa feijoada! Caracas! Ainda bem que eles não conhecem o nosso feijão preto, com farofa de ovos, e uma caipirinha prá disfarçar os movimentos peristálticos, não há alemão que não estrague uma festa! Um perigo!

Bernhard sempre gostou de carros desde menino, corria de kart, era muito bom até conhecer o Michael, bom amigo, uma cara meio quadrada, mas legal com ele, foram crescendo e melhorando, o Bernhard era muito bom, fantástico, evoluiu até chegarem à fórmula 1, deu no que deu, mais um complexado Alemão...

Amigos são tantos exemplos, tantas estórias tristes, que esse povo complexado resolveu trabalhar duro, estudar mais, e fazer o país deles uma potência mundial! Audi, Mercedez Bens, Porsche, ferramentas precisas e autocontrole! Disciplina é tudo, ajuda a controlar flatulência, faz o gordinho ficar bonito dentro do belo conversível, e se o carro for vermelho combina com aquele rosto redondo. Parabéns a esse povo, que embora tenham tantos complexados fazem os Brasileiros ficarem envergonhados do nosso Alemão, complexo do Alemão, que Deus nos ajude!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Vai casar? Então estude física!

Vai casar? Então estude física!

As leis de Newton:

"Todo corpo permanece em seu estado de repouso, ou de movimento uniforme em linha reta, a menos que seja obrigado a mudar seu estado por forças impressas nele"


"A mudança do movimento é proporcional à força motriz impressa e se faz segundo a linha reta pela qual se imprime essa força"


"A uma ação sempre se opõe uma reação igual, ou seja, as ações de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e se dirigem a partes contrárias”


Não se assuste, vou explicar, preste bem atenção!

A primeira lei é a que você vai sentir de cara quando casar, ou seja, você enquanto solteiro vai em linha reta e em movimento uniforme para o bar, jogar seu futebolzinho, festinhas e baladas, e quando estás bêbado podes permanecer em estado de repouso! Que maravilha, não é? Sim, mas com o advento do casamento você vai perceber que uma força vai mudar tua trajetória, a regra é clara: “a menos que seja obrigado a mudar seu estado por forças impressas nele" Esse é o ponto, a tua mulher vai mudar tua trajetória, meu amigo, e como! A lei de Newton é implacável, imperiosa, definitiva, vai mudar o teu eixo de translação (ida ao bar) e de rotação (ficar bêbado), uma força misteriosa, eletro-magnética e por vezes física mesmo (aquele mico de ser levantado da mesa, puxado pelo braço, pela furiosa patroa, ouvindo o grito fatal “Vamos prá casa já”), é duro, duríssimo. Esse novo objeto gravitacional pode trazer satélites que também alteram a tua órbita, por exemplo: O satélite SOGRA, massa normalmente grande, fria, não habitada (o sogro já fugiu prá lua!) e de forte efeito gravitacional. Quando estás já se acostumando a tua nova rota ela aparece, a sogra, tua lua negra, e adentra no teu caminho embaralhando teu norte, te desviando totalmente, não é fácil...
Voltemos ás leis, a segunda:

"A mudança do movimento é proporcional à força motriz impressa e se faz segundo a linha reta pela qual se imprime essa força

A lei do empurrão fui claro? Você vai ser impelido á ir à feira, supermercado, padaria, etc... E tudo proporcional à força motriz! Cuidado com essa força, meu amigo nubente, ela por vezes vem como um direto no queixo do cidadão e te pega de surpresa. Quando acontece a tal da TPM, ou Tou Puto Mulher! Você não tem idéia desse fenômeno químico no cérebro da digníssima esposa, o bicho vai pegar! Não tem jeito não, nem adianta aplicar a terceira lei de Newton (a seguir!), o melhor é o abandono do terreno, fuga total! Você viu as imagens dos traficantes correndo dos blindados cheinhos de cordiais soldados do BOPE? Viu a carreira dos malandros? Se esconda da patroa e deixe a carteira e o cartão de crédito com ela, pode minimizar a fúria! Vem todo o mês meu amigo, e quando não vem piora... A patroa engravidou! Aí você não terá um terror explícito, mas implícito, desejos, carinhos extras, mimos, compras de tortas e chocolates na calada da noite, mas você se adapta, e se bobear até vai gostar.

Calma que o curso de física básica está acabando! Última lei:

"A uma ação sempre se opõe uma reação igual, ou seja, as ações de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e se dirigem a partes contrárias

Aí é que começa teu casamento de verdade, quando você reage! O pau come e o bicho vai pegar! Uma regra vital da física é aquela que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo! FUNDAMENTAL! Leia e releia a danada da regrinha e aplique seus conhecimentos no casamento, você vai ser feliz, vamos lá, comece pela cozinha, tenha uma geladeira de bebidas, só cerveja! Tua mulher vai colocar as maravilhosas louras junto com o chuchu, cacete ! É humilhação demais! Chegas cansado da labuta e corres para a Brastemp que ganhastes do sogro e cadê a cerva? Ali, tadinha, deitada ao lado de um chuchu! Porra, que merda é essa! Você pensa mas não diz nada, né? E ficas com raiva, pega o objeto do desejo, quente nas mãos e choras... Então, querido leitor, uma geladeira de cerveja é importante, e vai ser seu maior tesouro na casa! Compre!
Banheiro, isso é sinônimo de problema. O ideal é ter dois banheiros, sonho quase impossível de um casal. Mulher é um bicho muito carente de espelho e de luz, até acredito que elas têm células fotossensíveis. Ela vai usar pela manhã, ao chegar em casa e para se aprontar; isso mesmo, as palavras mágicas “se aprontar”. O tempo para, o relógio congela, e você meu amigo tenha paciência, e muita! Vá treinando usar o banheiro da empregada, quando ela disser “Vou me aprontar”, fudeu! Corra para seu tesouro (a geladeira de cerveja, já esqueceu?) e abra uma, fique calmo e sente, respire e aguarde o desfile de modas, lá vem ela, linda de calcinha e maquiada, batom na mão e solta a pergunta “que horas é o teatro” , você já meio calmo, diz, pela quinta vez, nove horas! Olhas o relógio e já sabes que vai dar merda, não vai ter vaga, o João não gosta de esperar,chato, chato mesmo. Olhas prá ela, linda, com aquele rabo balançando do banheiro para a sala, já nervosa, sabendo que está atrasada, coisas de mulher, você pensa. Vai lá meu amigo, toma outra gelada e tira da tua cabeça o desejo de morder aquela bunda durinha e sensual, e de passar o ferro nela, que passa, novamente, perfumosa na tua frente; mulher se arrumando é um tesão mesmo, mas se tentares atacar você vai levar porrada! (leia a segunda lei, de novo, por favor!). Aí começa o drama do vestido, da bolsa, do cinto e quando está tudo certo ela coloca o brinco que você deu,seu babaca! E diz, não combina com essa roupa... É amigo, é duro escolher roupa, combinar, estar na moda. Ela volta para trocar à indumentária e você liga pro João, vá na frente amigo, nos vemos na saída do cinema, liga não, já estou me acostumando...
Banheiro, sim um só banheiro, devia ser proibido, uma lei municipal, “suítes só com dois banheiros” e pronto, tudo resolvido! Tomar banho quente sem pressa, jogar a roupa suja no chão, etc... E ela lá, toda refletida, feliz. E cagar? Isso é um problema, cagar de porta aberta é sonho de consumo, delícia, sem cheiro, ouvindo música e contactado com o mundo! Uma maravilha, até a tua mulher descobrir, ferrou! Que nojento, assim não dá amor...
Passemos para a cama, lugar mais querido da casa, amor sexo, carinhos, no começo, depois... Tinha que ser duas também, é um tal de roncar, de puxar o cobertor, luz acesa é chato mesmo, você quer ler e ela quer ver TV. O jogo vai começar e ela tem que acordar cedo. Então amigo, dois quartos é o certo, cada qual com seu banheiro, sua cama, sua TV, maravilha de arquitetura!

Prá terminar, será que Newton era casado?

Roberto Solano

domingo, 28 de novembro de 2010

Quem te aponta um defeito?

Quem te aponta um defeito?

Um amigo é um bom amigo quando te elogia e te coloca prá cima, estimula, alegra e te faz feliz, não é mesmo? Será que ele é teu verdadeiro amigo? Ele já te questionou? Alguma vez te alertou e discordou? Apontou-te um erro e um defeito? Como você vê essa amizade?
Hoje tenho a certeza do poder renovador da crítica bem feita, não aquela maldosa de pessoas invejosas e recalcadas que no fundo querem te derrubar, a sincera observação é rara e vale ouro! Quem vai te apontar um erro? Se você é um chato então fica mais complicado ainda... Teu Pai, tua Mãe já fizeram o papel de te corrigir, agora estás só, meu amigo. Tua mulher será que te alerta dos reais defeitos ou aceita para não brigar mais? É duro falar duro, acusar, apontar, dedo na cara! Nascemos para o elogio, uma beleza, como engrandece o ego, meus amigos são ótimos estimuladores, e é a platéia que quero ter no teatro da vida. Você já foi vaiado? Uuuuuuuuuuuu !!! Fora !!! E se a besteira for grande vai voar uns tomates e ovos... Exagero meu, não te quero mal nem te ver sofrer meu bom amigo! Mas não tenho coragem de te dizer que quando bebes ficas inconveniente, piadas sem graças, olhas demais pras pernas das meninas, acho que éis meio tarado, e teu bafo meu velho? Tens que investigar isso, já foi num gastro ? Caramba eu sou teu amigo, não posso te falar isso, pega mal, né ? Vais ficar zangado comigo...
E assim vamos ao mundo nos enganando, trocando a roupa da falsidade pela da conveniência, e conquistando “bons” amigos. Não quero mais isso, quero a verdade nua. Sei que não terei resposta direta, nunca teremos, e vou penteando a idéia, imaginando artifícios para obter a minha imagem na tua retina, meu bom e velho amigo, sejas duro comigo! Use teu passaporte da amizade e entre no meu coração, sente na sala VIP e fale da minha companhia. O que achas do meu vôo pela tua vida, as minhas aeromoças são agradáveis, e o serviço de bordo? O piloto foi perfeito, e as malas chegaram? Pontualidade é importante! Preencha aqui esse formulário, por favor, a nossa companhia precisa melhorar a cada dia, “Fale com o presidente” dê sua mais sincera opinião e a nossa amizade vai percorrer o mundo em rotas seguras, e acumulando milhas, vamos trocá-las por críticas e conversas, sem esquecer os elogios tá? Notou como Eu emagreci?
Abração do amigo, que um dia te criticou...

Roberto Solano

sábado, 27 de novembro de 2010

Tudo pela metade

Tudo pela metade

Um amigo carioca morando muitos anos na França fica impressionado como estamos acostumados com a favelização no Rio de Janeiro e com o famoso “Isso sempre foi assim, não tem jeito” dos familiares que por aqui habitam. Somos assim, brasileiros em geral e com mais malandragem os cariocas: Nada seguem com perseverança até o fim! Comecemos pelos políticos, que não sabem além do benefício partidário e pessoal, os bons programas já implantados e bem sucedidos morrem pela metade ou até menos. Idéias geniais e objetivas morrem de inanição. O Darcy Ribeiro fez um trabalho primoroso e criou os CIEPs, colocando as crianças em tempo integral nas escolas, focando na educação, alimentação e laser. Cadê essas escolas? O programa não foi seguido, deu certo enquanto gestão daqueles políticos e de resto foi abandonado. Não há solução sem educação, isso é o básico do básico. E no passado mais longe a favela do Pinto foi removida da lagoa Rodrigo de Freitas, difícil, mas deu certo e as outras que cresciam sem controle? Nada feito...
O Rio, hoje, sofre de câncer, incurável e está sofrendo uma pequena cirurgia que pode prolongar a sobrevida e até minimizar o sofrimento, mas é uma doença lenta e progressiva. Alguém aí já chegou ao Rio de avião e teve a curiosidade de olhar prá baixo procurando o Cristo ou Copacabana? Viu quantos e quantos quilômetros de casas apinhadas em ruas estreitas? Percebeu que o que sobra nos morros são a pedra dura e o abismo? O resto é gente pobre e sofrida se espalhando morro acima, que vai morrer de tiro ou da chuva, morro a baixo, tristeza. O problema é imenso, social e político, o destrato e abandono foi total, e o que se fez é sempre pela metade.
Cidade da música Veja:

“A Cidade da Música será um complexo cultural localizado na cidade do Rio de Janeiro. Seria inaugurada no dia 26 de dezembro de 2008, mas a inauguração foi adiada. [1][2]
Recentemente foi declarado que ainda não há previsão de inauguração para 2009. Todos os eventos de inauguração e a programação para 2008 e 2009 foram cancelados.
Após investimentos de R$ 518 milhões e muita polêmica, a inauguração da obra foi realizada pelo prefeito do Rio de Janeiro César Maia.[3] O investimento bancado pela Prefeitura do Rio custou quatro vezes mais do que outro grande projeto cultural de Maia: a Cidade do Samba, inaugurada em 2006 com custo de R$ 102 milhões, em valores da época.[2] Segundo a secretaria municipal das Culturas, o complexo cultural deve consumir só para manutenção – que inclui custos de água e luz, por exemplo – R$ 7 milhões por ano.[4]


Vamos brincar de ser rico? Primeiro mundo é ótimo! Os filhos da puta roubaram minha gente, e muito! Para fazer o inútil ser útil aos bolsos famintos desses safados! E aí, pela metade, está lá o elefante branco, parado de frente para os enormes engarrafamentos, nobre, belo, inacabado como tudo que se faz!
Vamos criar a rede de esgoto da barra da tijuca? Cadê, o emissário funciona pela metade, a elevatória também, as redes não chegam às casas e tome merda na lagoa. Não quero ser chato e menos ainda um jornalista, quem quiser pode colher os dados e perceber que o que nos faz pequeno é a nossa metade nunca atingida, não temos nada completo, acostumamo-nos ao incompleto e tocamos nossas vidas elegendo os meio-políticos, meio - cobrando, meio - aceitando.
Carioca é assim, pela metade mesmo, se faz um tempo nublado vai prá praia assim mesmo, se o chopp não está gelado toma uma cerveja, se o Mengão não ganha deixa prá lá... O salário está pouco, vai melhorar... A mulher está gorda e chata, deixa prá lá... Nada nesse mundo nada vai tirar a MINHA paz e a tranqüilidade do bom malandro carioca segue, ele sabe tão bem viver e ser feliz com tudo pela metade.

“Deixa a vida me levar, vida leva eu... Deixa a vida me levar”

Um meio abraço a você “mermão” que leu até a metade esse texto e foi fazer coisa melhor, gente boa, eu também sou carioca e vou parar por aqui, cansei, fui...

Roberto Solano

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A digestão pelo tempo

A digestão pelo tempo

Uma noite de Natal, a mesa posta, o Peru e o pernil, farofa, arroz, castanhas e nozes. Feliz dos que tem todos à mesa, Pai e mãe, filhos e com sorte avô e avó, abrigo também para alguns solitários. Da avó a neta, uma refeição completa! Saudades de uma boa digestão, do tempo que meu coração suportava tantas alegrias, digerindo felicidades e risadas, sem a maldita azia que me persegue hoje, nesse vazio coração. A felicidade vem das crianças, isso é certo, elas não têm problema, comem de tudo, balas e sorvetes são bem vindos, nada de comida natalina, sem gosto! Mas elas têm a fome da vida e dos presentes que caem da linda árvore piscante, do canto da sala. Os sorrisos brotam a cada chegada, e Eu fico parado sem fome pensando no que já fui, sou um convidado a mais, sobrei da linda família que tive unida. Colho migalhas da felicidade alheia, não reclamo, calmo fico, vinho na mão, o coração se aquece a cada olhar, vou digerindo as emoções guardadas, um pouco anestesiadas e um olhar por vezes meio perdido. Aqui está mamãe teu presente! Ouço na alegria dos filhos, no carinho de dar a quem só dá, pouco recebe. Pai acho que vais gostar! Isso é certo, ele não é homem de carinhos, só trabalho e família, ele é o que tento ser, alvo nunca atingido. Meu estomago pede pouco, tem medo de digerir com o coração magoado, fica acanhado e triste chora seu suco gástrico. Tomo meu sal de frutas, escondido, mantendo o espírito natalino vou digerir aquele prato feito pela dona da casa, mas por educação, sou forte, como. Segue o natal noite adentro, paz, união, data única, espírito leve, alegria e penso, nos que não digerem a dor, a perda maior, o vazio total do coração doído. Penso nos que não comem, e nos que só tem uma fogueira e uma garrafa na mão, habitantes das ruas, ratos.
O próximo Natal será o melhor, sem fome, utopias vão se realizar e no meu coração o tempo vai anestesiar a dor, ele, o remédio maior, que não cura, alivia, parceirão! Teremos um mundo melhor e justo, doce ilusão que o sonhador acalenta... Só peço que o tempo me livre da culpa, do arrependimento, alivie a saudade, me embebede e traga-me o Natal dos homens de boa vontade, que eu durma mais cedo e encontre uma cama mais macia e sob ela muitos presentes para dar, só fico com um, a crença de dias melhores. Papai Noel, venha me iludir de novo, me traga muito tempo para essa digestão incômoda, Eu acredito em você, Noel, o tempo é o melhor presente da vida e o melhor digestivo da dor. Não fique triste você aí! Espero-te ano que vem, saúde, paz, amor e tempo! Feliz natal!



Uma noite de Natal, a mesa posta

Feliz dos que tem todos à mesa

Da avó a neta, uma refeição completa!

A felicidade vem das crianças,

Os sorrisos brotam a cada chegada,

O coração se aquece a cada olhar



Aqui está mamãe teu presente

Pai acho que vais gostar!

Segue o natal noite adentro





Penso nos que não comem,

O próximo Natal será o melhor

Teremos um mundo melhor e justo,

Natal dos homens de boa vontade

Muitos presentes para dar

A crença de dias melhores...



Eu acredito em você, Noel

Não fique triste

Espero-te ano que vem!

Feliz natal!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pros que qué e pros que não qué

Pros que qué e pros que não qué

Noivado, apresentação das famílias, classe média alta, Recife, Pernambuco. A noiva estava ansiosa, a mãe tinha programado tudo com devido cuidado, um almoço de qualidade e fartura como manda a tradição local. A sala é ampla e a grande mesa está posta, louça fina, cálices de vinho de cristal (foi da Mãe da matriarca, avó da noiva), toalha bordada à mão, guardanapos de puro linho.
Chegam os convidados e sentam na bela varanda, um uísque escocês Red Label, como é de bom tom no recife, só o Red é bom e não se discute isso! Aliás, eu desconfio que foi a escócia que invadiu aquelas terras no passado, nada de holandês, um calor danado e a classe dominante só toma scotty, é o maior consumidor do mundo!
O almoço é servido após as famílias se observarem, é certo que no dia seguinte o comentário será e decote da futura sogra, mulher bem fornida, de amplas cadeiras e uma comissão de frente que já deve ter afogado os bigodes gordos do sogro. O irmão da noiva sei não, se o cardápio fosse um frango de cabidela ele não comia, a classe é unida! Em recife frango não come frango! Sorte que não era, tinha um belo cozido, muito bem feito por Maria do rosário, empregada antiga e prendada, tinha de tudo, quiabo, jiló, banana da terra, couve, carne de charque, músculo, paio dos bãos, e o detalhe gastronômico do pirão, esse era de comer rezando!
Sobremesas diversas, doces de banana, de jaca, bolo de rolo, e um queijo manteiga vindo de surubim, bem assado coberto com o verdadeiro mel de engenho. Dava prá casar na hora! A moça não sabia cozinhar mais a cozinheira podia fazer comida lá no futuro apartamento no bairro de casa forte, promessa da Mãe! O noivo acreditou...
Vamos para a sala de estar, disse o dono da casa, já meio cambaleante, mais pelos whiskys do que pela conversa chata do pai do noivo, doutor formado em recife, mas com pós em Denver ou Huston, sei lá, um desses lugares que o patrão de Maria do socorro nunca ouviu falar e nem queria saber. Maria do socorro, ou “Mary Help” era uma figuraça, vinda do interior, do sertão, boa moça, preservada e virgem, com seus 15 anos era feinha de doer, mas um doce de menina, esperta aprendeu rápido a andar de elevador (morria de medo da porta fechar e ela ficar sozinha naquela caixa de aço e espelho de rainha). Ficou feliz em conhecer a cidade grande, carros, avenida boa viagem com seus coqueiros verdes e aquela brisa suave nunca sentida na pele seca da lavoura dura de milho. Viu o mar, gostava de limpar as vidraças do patrão e ver o infindável oceano, muito maior que todos os açudes de limoeiro! Trabalhava aquele dia como uma distinta ajudante e promissora garçonete. Tinha treinado com a bandeja de prata (baixela de prata, dizia a patroa) coisa fina, para ocasiões especiais. Saiu da cozinha bem empinada (não olhe para os convidados, aprendeu, isso não é “chic”, sem saber o que queria dizer chic ela seguiu em frente), doze xícaras finamente pintadas, de porcelana chinesa (disse a patroa), e foi adentrando a sala animada. Que povo prá falar, pensava ela, rico quando come fala muito, pobre cochila e ronca de barriga cheia... O sucesso da festa se via no sorriso solto do noivo e alegria discreta da noiva, os outros homens tinham bebido bem e ela não achou justo julgá-los, embora aquele bigode do Pai estava ainda com umas lembranças do pirão entranhadas. Foi servindo, avançava com firmeza, não tremia, estava orgulhosa do serviço, era uma garçonete de classe! Na frente da patroa ficou esperando uma expressão de elogio naquele rosto fino e maquiado de “madame”, quando sentiu que não a agradou, a dona da casa não sorriu e ela percebeu algo errado, o que será? O vestido azul estava amarrotado ou o chapéu que teria ficado torto? Ela se lembra de ter prendido com vários berilos, não podia ser. Seguiu e voltou para a cozinha reabastecer a fina louça do café, com certeza aquele tio gordo ia pedir outro e acender o maldito charuto, homem fedido, volto prá lavoura e saio do emprego mas não lavo a cueca daquele porco, pensava.
A patroa estava de pé plantada, na cozinha indagou “Maria, o que é isso minha filha, você serve as xícaras com metade cheia de café e a outra sem café! Tu endoidou mulher!” Já perdendo a classe, encarou a serviçal com os olhos mais orbitais e um pouco vermelho da maquiagem excessiva. Maria não entendeu a raiva da patroa, estava tudo certo, dentro da mais perfeita ordem e harmonia, e com a certeza da confissão de domingo encarou ela como a imagem de nossa senhora da conceição, com um pouco de doçura e um pouco de pena de si mesma (será que errei?) e disse: “É pros que qué e pros que não qué” Pronto, claro como a água da nascente da fazenda, estava certíssima! Imaginem a desfeita de você não aceitar uma xícara e uma colher de prata nas mãos? Os que “não qué” tem que representar, custa nada segurar objeto tão valioso na mão e fingir que toma o café? A patroa se viu vencida e voltou prá sala pensando “Essa Maria do socorro é danada de inteligente se aprender a cozinhar vai pra casa de meu filho, esses jovens não gostam muito de café mesmo” e o sol se recolheu na tardinha do Recife.

Roberto Solano

Um arrecife no meu coração

Um arrecife no meu coração

“Arrecife ou recife (nomenclatura atual) é uma formação rochosa submersa logo abaixo da superfície de águas oceânicas, normalmente próxima à costa e em áreas de pouca profundidade.”
Comecemos assim, com a definição. O meu coração tem seus acidentes geográficos que alteram as “ondas da emoção” e assim se consolidou meus arrecifes, quando ainda menino, no Recife, Pernambuco, Brasil.
Sou filho de pernambucanos, meu Pai saiu da cidade “pequena porém descente” meio fugido e com muita garra para enfrentar São Paulo, e minha mãe com muita coragem para enfrentar os dois : Meu Pai e São Paulo. Ela se adaptou ao frio e aos desencantos de Sorocaba, fez amizades, cozinhou muito (ela gostava), mas sempre com o coração saudoso. Meu Pai foi um herói, comandou uma metalúrgica, aprendeu a pilotar avião, foi campeão de tiro, andou de cavalo, fez amigos também e talvez alguns irmãos que eu não conheça...
Nasci no Rio de Janeiro e aprendi a ter um jeito nordestino pela convivência de minha mãe e pelas aventuras em Recife. Sim, aventuras emocionantes. Minha Mãe, consumida pela saudade de uma família numerosa, marcava a data e, pilotando seu carro, ia sozinha com os filhos dirigindo para Recife. Amigos, isso seria loucura hoje, imagine na década de 60? Claro, tínhamos o movimento Hippie, os Rolling Stones, as drogas, sexo livre e Dona Maria do Carmo! A vanguarda da juventude nacional. Eu tinha muito medo, frouxura mesmo! Era o mais velho dos filhos homens, meu irmão muito novo, minha irmã meio abestalhada e animada com qualquer novidade e meu Pai ausente. A viagem era programada em três dormidas, mas a minha progenitora era da virada! Eita mulher doida e energética, avançada no tempo, acreditava que as estradas estariam melhores, que seu carro era poderoso e sem GPS se mandava por dentro desse nordeste feito um caminhoneiro experiente, encurtando os prazos, fazia em duas dormidas o percurso. O problema era o estado da Bahia: Até Minas Gerais ela se conformava com a distância e seguia o planejamento, mas ao sentir a presença dos coqueiros na estrada e a voz mais arrastadinha dos baianos criava coragem e lançava o grito de guerra “Dormir agora só no Recife” FUDEU GERAL! Eu começava a suar frio, sabia dos riscos, já tinha visto esse filme e às 5 da manhã saíamos de Governador Valadares para Recife, parando para abastecer e comer alguma coisa. São 1717 km em tempo estimado de 20 horas e 20 minutos, consulte o papai Google! Naquela época levávamos umas 25 horas, que loucura meu Deus! O santo de minha Mãe era forte, nossa senhora da Conceição, padroeira da cidade querida, Recife.

Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meus sonhos sem dizer adeus
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim.

Caetano, meu bom baiano, é isso aí! Belezura de canção e me remete às mais saborosas lembranças. O meu coração vagabundo queria guardar o Recife em mim, seu mar, suas pedras e meus amigos. Na época o mundo se dividia, na minha cabeça em, Londres (o rock por lá fermentava), EUA com suas eternas guerras, e o Brasil partido no meio: Nordeste e Sudeste. As culturas eram por demais diferentes, não havia a rede globo roubando a beleza dos sotaques regionais, as estradas eram difíceis, a comunicação no telefone do Chacrinha (enfia o dedo enfia do dedo e roda, não é nada disso que vocês estão pensando é do telefone que eu estou falando! O velho guerreiro era demais!), tinha que dar linha, viu? Dar linha no velho aparelho preto betume era um ato de amor, minha namorada Pernambucana sabe disso, domingo de tarde e a prova de amor posta, ligar para o amado! Eram umas 2 horas se desse sorte falava...
Voltemos ao meu coração e suas ondas de emoções, vinham fortes na viagem, no medo absoluto, e se acalmavam em bater nos arrecifes (a minha família), para chegarem espumosas na praia linda e quente de Boa Viagem. Sim Boa Viagem para os outros ! Cacete, era duro, chegava morto em Benfica, casa de minha Vó, já de dia claro, com fome e agradecendo aos milagres ocorridos. Vinha Zé Oião abrir o portão, o DKW dava sua última e espalhafatosa acelerada, queimando gasolina e óleo e eu saía do carro desconfiado... Eu era um bicho estranho, que o diga minhas primas olhando aquele branquelo com cabelos longos (não tinha cabeludo em Recife!). Claro que Eu sentia a diferença circunstancial, tinha medo (ô cabra frouxo sô...). E ia me adaptando, tanto que cheguei até o galinheiro, o galo não gostou e voltei correndo com um belo rasgo na perna do maldito galo campeão de taekwondo, marca que até hoje trago. Normalmente íamos ao carnaval, tinha corso, que loucura! Voltava sujo e doidão das batidinhas infernais vendidas em tubos plásticos e o lança-perfume, doideira! Os bailes eram de primeira, Whiskys, mesa familiar, umas meninas para dançar, bebedeira, rodoro e a porrada comia! Claro, todo pernambucano é macho e festa sem uma briga não era completa. Lembro-me de tirar uma galega prá dançar no clube internacional (a família Novaes era prata da casa) e um rapaz, apaixonado, chegou e olhou para mim com olhos quentes de frevo e bebida, com uma garrafa vazia deu uma porrada na quina da mesa e declarou seu ódio aos cabeludos, roqueiros, hippies, paz e amor é o CARALHO! Sou nordestino macho e a mulher é minha! Amigos, o galo cantou no galinheiro errado, era primo prá todo lado (até hoje não conheci a metade), e o pau comeu legal! Cadeirada, soco na cara, em uma onda os foliões secos por continuar dançando davam o sinal para o segurança que de pronto passava para a orquestra soltar o famoso frevo das vassourinhas! Tudo resolvido, a porrada era carinhosamente desviada para o jardim e o baile seguia ma santa paz até acabar, já de manhã, na praça com orquestra e tudo “E no melhor da festa chega quarta-feira... É de fazer chorar...”.
Isso me marcou, numa época que só tínhamos em comum o desejo de chicletes americanos e fumar o famoso Marlboro importado (meu Pai fumava Minister e Eu Hollywood), todo o resto era descoberta, em terras afastadas e perigosas! Sobrevivi e tenho hoje não primos e sim amigos de farras, graças a ela, minha Mãe, a maior diplomata do mundo!

Roberto Solano

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Vivendo de aluguel

Vivendo de aluguel

Estamos sempre, você dirá “Eu tenho casa própria, todo feliz!”, não vivo de aluguel... Pode ser mas não é ! Por mais que você tenha bens em algum momento terás que alugar alguma coisa, um amigo, um amor, uma ilusão. Não temos tudo, embora tenhamos a sensação de ter e bate o isolamento, a solidão. Difícil de explicar o desejo da posse, ele é imperativo, vivemos comprando e acumulando bens, uma cultura americana de poder e glória. Eu já entendi que não se faz felicidade com compras e sim com o aluguel! Isso é uma maravilha: Tem seu uso-fruto e não tem o ônus do “para sempre”, uma cultura do desapego, temos que entender e dominar esse sentimento para viver os momentos como devem ser vividos. Não estou dizendo que o cidadão não tenha que ter dinheiro e recursos, quero que saiba usar e se desapegar ás coisas, vou explicar: O que é melhor? Ter uma casa de praia ou de campo ou viajar para bons hotéis e pousadas? SEm a obrigação de pagar o caseiro e olhar para a mesma churrasqueira... Não seria melhor andar de táxi sempre? O carro é um problema, mas temos que carregar essa “medalha” do poder; tenho um carro zero bala, cheio de acessórios, etc... Isso faz até a pessoa melhorar seu desempenho sexual! Loucura mesmo. Não é melhor alugar um carro bem bacana, e de motorista? Casamento de Mercedes Benz, viagem de Audi, ida ao interior de Land Rover, um veículo prá cada ocasião! E um jatinho? Eu acho o máximo quem pode viajar de taxi-aéreo! Não tem fila, check-in, goiabinha da Gol, não perde tua mala, isso é um sonho.
Vamos às análises para provar que tudo é locação, começando pelo dinheiro. O dinheiro nunca é imóvel, ele entra e sai; precisamos pagar as contas e crescer, investir, esse é o ponto: O Banco! Lá se aluga o dindin, certo? Quem nunca correu para um banco para sair do sufoco ou investir? E tem os viciados em locação de dinheiro, muita gente, mas muito mais gente do que imaginamos, que deve e vive devendo. A locação é a mola do desenvolvimento, o crédito barato (baixo aluguel do dinheiro) faz a economia crescer e salva o Brasil de hoje. A construção civil, por exemplo, vive do crédito a longo prazo, ou seja, um imóvel é uma falsa locação de dinheiro.
O amor? Uma locação que também é forte! A prostituição direta ou indireta é um mercado, exemplo fácil, né? A linda menina que quer casar, educada, de família, começa te alugando; o teu tempo, atenção, teu carro (financiado!), e se você for um bom pagador ela vai querer casar.
Estou amargo mesmo, é prá chocar mesmo, balançar tua cabeça meu amigo, aceite não comprar e mesmo comprando veja o bem como algo que tem vida útil, assim como você também, um dia se acaba. Alugue a vida, a família os filhos e o botequim da esquina, use por tempo determinado e saiba que nada é teu por definitivo, nem a tua vida! Aproveite meu caro, pois “caixão não tem gaveta” e nada restará, como meu bom Nelson Ned cantava” E tudo passa tudo passará, e nada fica nada ficará...”
Acabei alugando seu tempo, espero que tenha sido uma boa estadia nesta página, volte sempre!

Roberto Solano

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Meu primeiro violão

Meu primeiro violão



Um Di Giorgio, comprado por minha mãe no super mercado Makro. Ela tinha adoração pelo Makro, lá fazia suas compras mensais e ao ver o belo violão, lembrou-se do meu aniversário e ganhei um ótimo violão de supermercado! Engraçado não é? Mas ela sem querer acertou no presente que hoje, por sorte divina, está no quarto do meu filho, também um interessado por música.

Meu pai era ótimo violonista, se orgulhava de ter tocado com Dorival Caymmi em Recife, aprendeu sozinho quando jovem ficou tuberculoso em um ano de cama! O gosto pela música era de Pai e Mãe, sempre tinha uma fartura de discos lá em casa, dos 78 rotações ao “long-play” de 33, os famosos bolachões. Minha Mãe se atualizava comprando vistosas vitrolas RCA Victor, Telefunken, Phillips e outras. Eu pequeno tinha um prazer de trocar de roupa (gravata borboleta) e ouvir Dorival “O mar quando quebra na praia é bonito... é bonito” Isso até cochilar sentado. Ouvia outros que gostava, Almirante com músicas curiosas “Faustina”! “Olha quem está no portão é minha sogra com as malas e ela vem resolvida a morar no porão "... Outra” "Atichim ( O coro dizia Deus te ajude ). Pelo costume de beber gelado apanhei um resfriado que foi um horror, porém com medo de fazer despesas eu com franqueza não fui ao doutor. E tudo o quanto foram me ensinando eu fui tomando e cada vez pior e quem quiser que siga o tratamento, pois se não morrer da cura ficará melhor “ A letra do “ P “ era ótima, etc... A música reinava lá em casa, tinha Noel Rosa cantado por Aracy de Almeida, que mulher feia... Ataulfo Alves, uma delícia. Meu Pai cantava umas músicas não comerciais que decorei e sei até hoje, com orgulho! E “Pesadas trevas”, de 1904, ??? Essa era cantada por minha Vó, decorei. Eu pegava tudo de ouvido e fui aprender a tocar violão. Meu Pai me ensinou o “Velho Marinheiro” um dedilhado fácil que ele garantia que na primeira aula eu já saberia tocar, era o otimismo em forma de gente! Quando já arranhava montei um conjunto com o Celso Fonseca, morador do Alto e lá descobri que como amador eu seria um sucesso, e resolvi me dedicar mais aos dribles infernais que aplicava nas peladas do São Bento, de bola era bom mesmo !

O tempo passou e a timidez chegou. Com uns 18 anos fui retornar às cordas e aprendi com o então Maestro Rildo Hora como se tocar bem um violão. Melhorei e acho que encantei algumas moças desavisadas, mais com os longos cabelos do que com a sonora viola de supermercado.

Mudei-me para Ipanema, ferrou tudo! Só tinha maluco por lá e acabei me enfeitiçando por uma moça muito louca, bailarina e cheiradora de cocaína. Conheci o Luis Melodia, figuraça, na época ainda ralando para ser conhecido “Eu quero é mel, eu quero mel... Quem tem tem quem não tem não se conforma... “ E Eu sabia das composições em primeiríssima mão pois ele morava com a irmã de minha namorada, éramos cunhados ! Gostava de tirar um som com ele. Lá na casa o Alto tinha umas festas animadas ( começava na 6af e terminava no Domingo! ), uma vez o Melodia foi prá lá e como estava uma noite linda de Verão e a galera "queria ficar a vontade", ficamos na grama, foi chegando mais gente e ali tocamos várias músicas do repertório do neguinho afinado. No dia seguinte papai perguntou “ Quem é aquele neguinho que tocava na grama? “ Ficou interessado pelo promissor artista. A casa era sempre musical, Vanuza esteve por lá várias vezes e não cantou o hino nacional ( graças à Deus ), Paulo Sérgio, Fábio com Stella :


"Stella
Em que estrela você se escondeu
Em que sonho você vai voltar
Quanta espera de você"


Era o maior sucesso ! Casa cheia, muita comida e bebida e músicos famintos tocando, tirando a barriga da miséria ! Minha Mãe não deixava prato vazio, arroz, feijão (ótimo) e galinha de cabidela (sucesso total), a música se respirava com muitos borrachudos (mosquito bravo de lá), Whiskys não faltava, boas gargalhadas e muitas visitas com os weimareners circulando livres, assim foi um tempo que me valeu e ficou aderido, que trás saudades musicais, me faz sorrir ao ver o baterista dos Rolling Stones com 69 anos e Keith Richards beirando os 70. Fui feliz com muito rock na cabeça e “ satisfaction “ na linda família Novaes, hoje resta um violão do Makro com um lindo filho dedilhando os ídolos dele : Mamãe sabia comprar violão !


Roberto Solano

Yamandu Costa

Deixa eu te contar uma estórinha : Estava em Paris retornando para o Brasil e no corredor de espera estava o Yamandu tocando sozinho, com sua mochila no chão e um olhar perdido, do lado uma jovem francesa ouvindo seu MP3... Claro que sou brasileiro e gosto de música, sentei diante do fenômeno! Uma maravilha! Então , quando ele parou Eu falei com a maior intimidade " E aí , tudo bem ? Voltando prá terrinha ? " Ele me olhou como quem olha um poste, meio bêbado e de noite na rua, falou : " Estou gravando " Putz ! Fiz merda ! Aliás " merde " é mais condizente com a situação. Que nada, o cabra é simpático e lunático como os bons artistas e retornou a conversa com um mais tranqüilo " Tudo beleza ! Eu só componho em aeroporto, chego cedo e fico gravando pois depois esqueço, em Praga eu perdi uma música genial, coloquei no gravador e nada de achar depois... " E imediatamente recomeçou, fiquei mais tranqüilo, não sou tão chato assim, pensei. Outra pausa e emendei o papo com o famoso " Você sabia ? " O baden powel esteve lá em casa quando eu tinha uns 15 anos, chegou completamente bêbado pelos braços do meu tio que o encontrou solitário no bar e puxou assunto ( tão chato como Eu... ) . Lá chegando meu Pai ofereceu um William the Conquerous ( grande Whisky ) para o gênio que se animou ! Ele vinha com uns óculos de grau que só tinha lente do lado esquerdo e meu velho perguntou " Baden, porque são de um lado " a resposta veio poética " è para Eu enxergar o resto do mundo ! " Ponto para o violonista e me animei buscando meu " Di Giorgio " para afinar ! Foi um momento raro, ele afinando e tocando, era uma mão boa mesmo chapado, bons tempos. Rapaz o Yamandu é fã do Baden e começou a tocar as músicas dele para meu completo deleite ! De repente ele me olhou e disse, quero uma coca cola. Pegou a mochila e despejou tudo no chão, foi roupa, cueca , um tigre e umas 100 moedas de euros correndo prá todo lado e ele de quatro catando, eu avisei " vou comprar " e saí do cenário cômico, rindo disfarçadamente... Voltei e ele queria me pagar, o que recusei, ficou agradecido e me mostrou a maravilha que tinha trazido de praga : Um tigre de brinquedo ! Disse " A coisa mais engraçada que já vi, vou te mostrar ! " Botou o tigre no chão e nada... O felino dormia... Ele de pronto disse " Que merda já veio quebrado ! " Eu intervi, será que está com pilha ? Você já viu uma criança vendo a clássica experiência de eletrostática, que perto do globo os cabelos ficam de pé ? A cara de espanto e alegria dele foi a mesma quando abriu a barriga da fera e não tinha pilha ! Feliz ficou e voltou para tocar ( ainda bem.. ) mais 15 minutos e era hora de embarcar. A pergunta ! Será que deixam entrar queijo francês no Brasil ? " Já com um pacote grande no colo. Eu disse que não sabia, e ele me justificou " A minha mulher é francesa, adora " Seguimos para o avião... No desembarque o vi novamente, com a mochila nas costas, todo enrolado de pé escrevendo contra a parede aquele formulário chato da imigração, pensei com meus botões, artista é mesmo desligado...

Roberto Solano

domingo, 21 de novembro de 2010

Sete Baseados

Sete Baseados

Sim, você já fumou um? Ficou doidão? Então imagine fumar sete! Papo de maconheiro, eu? Não amigos, a minha praia é outra... Praia, foi lá que surgiu o apelido, uma senhora gorda com um potente veículo, motor de 2 tempos (o bicho misturava gasolina com óleo), fedia muito aquela fumaça, o barulho era mais para uma motocicleta: DKW, marca alemã de carros, comuns aqui no Brasil na década de 60. Barra da Tijuca, Av. Sernambetiba, pista de barro, praia linda e enorme, só explorada em frente á Olegário Maciel, era o “Point” dos tijucanos, principalmente a turma da Usina e Muda, tendo lá uma juventude da” pesada”, os jovens sabiam nadar e pegar jacaré naquele mar bravio, eu era ainda um menino de 14 anos quando lá ia aos sábados me banhar. A praia tinha poucos freqüentadores, a grande maioria de fortes rapazes que lá exibiam o corpo moreno e seus narizes lotados de pomada minâncora, com a vegetação rasteira avançando pela areia branca e escaldante do verão. Vamos á cena: A senhora gorda do DKW vermelho descia o Alto da Boa vista com um rapazola e duas lindas meninas, uma bem morena (2 pés na cozinha) e outra branquíssima (3 pés na Escócia, um dela e dois do Pai); na mala vinham a barraca de praia e esteiras de palha, o carro era bom e a estrada convidava às curvas mais emocionantes, porém sem platéia que graça tinha? Ela então embalava na Olegário e dobrava prá direita, um pouco distante do posto do salvamar, era mais cheio e avistava-se os rapazes em” panelinha”, sim eles ficavam juntos para contar vantagens e aparecerem mais para as modestas meninas que por ali passavam. Alvo visto ela dava um arrancada em linha reta por cima daquele mato rasteiro, o carro parecia um cabrito, eu me segurava firme, já sabendo do” gran finale” ficava rubro de vergonha... As rodas começavam a patinar no encontro com a areia finíssima da praia até o bicho morrer atolado, ela, toda feliz gritava:” Chegamos meninas, ajeitem os biquines, Roberto vá buscar as tralhas lá na mala, que dia lindo né? “Saía com esforço abrindo uma porta que, do outro lado, tinha a resistência da areia, e ela dava aquela buzinada fina para os rapazes beira mar. Eles avistavam e acenavam, corriam para ajudar as belas garotas na montagem da barraca, quem sabe elas não passariam óleo nas costas? A praia estava posta, mar bom, ondas para me divertir e alguns sorvetes poderiam passar, fugia para o mar: A minha diversão era pegar o famoso” jacaré” de peito mesmo, cheguei a ter um pé de pato dos bons e a encarar, do lado de seu Francisco (um negão que era o responsável pelo salvamar da Barra) uma ressaca.
Bem, o dia passava rápido e a fome vinha à galope, tínhamos que voltar. As meninas já bronzeadas e na sombra, chega à hora da retirada, vem o grito de guerra “Vamos apostar um pega na subida do Alto”?”Os rapazes eram bons pilotos e estavam preparados para a empreitada, resposta:” Vamos !!!”Juntavam uns quatro na frente e a gordinha engatava a marcha ré olhando pelo retrovisor a minha orientação manual, o carro roncava bravo e saía do atoleiro, atolava de novo... Buscávamos tábuas e com um pouco de engenharia o possante estava na pista, os fuscas e opalas viriam a seguir fazer a marcha comportada até o pisca-pisca (início da subida do alto) a regra é clara: Não vale trocar de posição e” Sete baseados” vai na frente! Não sabia do apelido, mas Paulinho maluco era rapaz de palavra e não iria inventar um nome á toa não! Isso mesmo, SETE BASEADOS, minha Mãe, dona Maria do Carmo Cavalcanti de Novaes, reduzida a um conjunto de cigarros de Cannabis Sativa! Mãe extremosa, bem casada com um engenheiro José Solano e moradora do Alto da Boa Vista, porém a mais jovem e maluca daquele grupo de rapazes paqueradores. Eu ficava indignado e calado... Fazer o que? Era um adolescente tímido, fracote e branquelo, irmão das coxas morenas mais torneadas que andavam na zona norte com aquela branca de neve de olhos azuis da cor do mar, não tinha opção ! Para ir na praia dar meus mergulhos tinha que pagar esse” mico” familiar.
O pior está por vir: A corrida! Eu tinha muito medo, a coisa era séria, não tinha cinto de segurança e nem se sabia o que isso significava. Sete baseados abria o quebra-vento (antigamente os carros tinham uma janelinha perto do retrovisor que direcionava o vento para dentro do carro) regulando o retrovisor com a mão esquerda, verificando os oponentes, um fusca branco rebaixado e tala larga, opala azul com faróis de milha e pneu de corrida e outros curiosos que vinham de testemunha ocular. Maria do Carmo dava o sinal com aquele braço gordinho e a mão balançando no conhecido gesto “venham” e acelerava! O bicho peidava mais que Alemão em oktoberfest, a primeira engatada e o motor zumbia em máxima rotação até a segunda que vinha com um sorriso maroto de mamãe, as meninas debruçadas no banco de trás tentando ver alguma coisa que não fosse a fumaça do DKW, a terceira entrava já na velocidade de cruzeiro, minha mãe era só concentração, vento no rosto e duas mãos no volante, curva prá direita, prá esquerda, não tinha ônibus nem carros descendo o alto, só subindo de volta prá casa e a minha pressão também! Missão estava cumprida, nenhum daqueles rapazes conseguia ultrapassá-la, o carro era muito forte e até uns 80 km/h, em subida, não tinha prá ninguém! Uma paradinha na Cachoeirinha, comunidade que dava acesso a rua que nos levava prá casa ( graças à Deus ! ), para se despedir dos competidores que passavam zunindo, seguiam o pega até a Usina, ela buzinava feliz, as meninas davam adeus e Eu parava de rezar...
Amigos, acho que de infarto nunca vou morrer, se sobrevivi aos pegas de “sete baseados” estou salvo para sempre!

Roberto Solano

sábado, 20 de novembro de 2010

O gosto por relógios

O gosto por relógios

Vem da infância solitária. Morava no meio do mato, tinha poucos amigos e quando escurecia nada muito emocionante a fazer... Vasculhava os livros e revistas de meu Pai, homem dado à leitura e gostava de mulheres nuas. Foi como a descoberta de um tesouro que, na parte alta do armário de seu quarto, descobri uma pequena montanha de revistas. Eram suecas e francesas, tinham campos de nudismo, algumas playboy importadas e a de Brigitte Bardot, meu primeiro alumbramento! Passei seguramente uma semana deslumbrado com uma deusa de carne clara e sardas no rosto, que mulher meus amigos. Voltemos aos relógios, vinham em revistas nobres os anúncios de Ômegas, Mido (muito afamado na época) e outras marcas de renome. Eu era solitário e passava o tempo vendo as duas maravilhas: mulheres e relógios. As propagandas me atiçavam, eram carros e homens bem sucedido com belos relógios, virava a página e tome de coelhinhas lindas e nuas, desejo carnal entremeados de relógios lindos. Fixei a imagem na minha memória infanto-juvenil, daí esse gosto até hoje pelas belas máquinas (com duplo sentido, por favor)
Aos 15 anos recebi meu primeiro relógio, um Tissot Visodate que trago até hoje comigo. Meu padrinho era rico e voltava da Europa com esse pequeno tesouro no bolso. Fiquei encantado! Vi pela primeira vez um relógio de revista! Maravilha! Estonteado fiquei e sonhava desfilar com ele no pulso em Cannes a procura da Bardot, loucura desfiada em horas de masturbação.
Percebo hoje o quanto me marcou aquelas revistas “secretas” e o valor real do proibido. Meu pai, um belo dia descobriu que tinha um sócio no paraíso dele e me chamou “Filho, essas revistas são suas! Vou assinar a playboy prá você com uma única condição: Quem tira o plástico sou Eu!” Tortura meus amigos, chegava a revista e ele deixava na cabeceira para abrir no fim de semana, um ritual, sentado na piscina (quando o sol aparecia), cachimbo na boca, o saco de fumo half and half a garrafa de uísque e pedia para eu buscar o gelo. Copo cheio, uma baforada e a sua unha fina cortava aquela camada fina e transparente que me afastava do prazer. Ficava ali sentado, dava umas braçadas na água gelada e esperava a hora de dar o bote! Ele folheava rápido, dava uma paradinha e abria o pôster, que maravilha! Destacava e me chamava “Filho, para a parede do seu quarto, essa merece!” Era a seleção. Eu tinha a parede do meu quarto toda colada de mulheres nuas, coisa de louco para aquela época, um sucesso com meus amigos, um Pai que era um homem sem frescuras e bem moderno para a época , minha mãe respeitava a minha individualidade, era feliz no Alto da Boa Vista.
Tinha uma mania de recortar propagandas de relógios, principalmente os que eram á prova d’água, achava que para ser importante e ter sucesso não bastava ter dinheiro, mulheres, sem um Rolex ou um Mido (The King of waterproof watchs) no pulso, meu Tio tinha um Mido Multifort, eu acha o máximo quando ele entrava na piscina com ele. Meu Pai tinha um Mondaine com alarme que ele usava sempre, um dia coloquei o bicho dentro da banheira! Achava que se era de meu Pai tinha que resistir a tudo! Ele era meu ídolo e super herói! O relógio pifou é claro... O velho mandou consertar reclamando da chuva forte que tomou naquele verão, fui salvo pela Mãe natureza, e ele morreu sem saber dessa travessura, acho que ele iria dar uma boa gargalhada e dizer “Filho, com tanta mulher boazuda você foi perder seu tempo com relógio?” O velho era bom papo, bom de estórias, cachimbo e whiskys. Tenho saudades dele e de Miss November, a minha preferida da parede do quarto...

Roberto Solano

O gato pereba

O gato pereba

Tive infância feliz, criado no mato urbano da floresta da tijuca, Rio de Janeiro. Minhas alegrias eram o jogo de bola, caçar passarinhos, soltar pipa e animais domésticos. Conheci os gatos e tive uma gatinha muito meiga que odorava ficar ao sol se esquentando, minha companheira. Nas ninhadas ela se escondia nos armários e no telhado da casa para ter os filhotes, sem antes mostrar o esconderijo para uns poucos escolhidos, minha Mãe era a primeira da lista e depois eu. Mamãe, como boa mãe, tinha sua tática maternal “Vamos deixar parir os filhotes e depois vamos trazê-los prá cestinha” Com carinho ela preparava um cesto bem forrado de panos e jornal, o novo leito da família de felinos estava pronto uma semana antes do parto. A gata ficava irrequieta, pesada, miava e nos levava para a “sala de parto” escolhida, deitava e se acalmava com um olhar feliz para os humanos escolhidos. No dia ela sumia, tinha seus filhotes e vinha nos mostrar, não sossegava enquanto não deitava em forma de “C” com os pequenos gatos tentando mamar naquelas tetas rosadas, era uma aventura penetrar no espaço entre as telhas e a madeira do forro para ver aquela cena de amor. Dias depois fazíamos a transferência da sala de parto para o quarto de visitas (o cestinho) e ficávamos curtindo os gatinhos já com pequeninos olhos abertos querendo sair do local e a orgulhosa mamãe com suas inesgotáveis lambidas mostrando fadiga e um pouco de irritação com a prole insaciável por leite. Essa era a minha Mimi.
Pereba, nome dado a um gato esguio e comprido que apareceu faminto lá por casa, gato de rua, desconfiado, vinha muito magro e a minha mãe teve pena, acolheu-o. Esse malandro de patas era malhado em cinza e branco, pernas compridas e de poucos afagos, nos via como vemos caminhões nas estradas “mantenha a distância”, chegava perto o mínimo para se abastecer e sumia. Já tínhamos a carinhosa mimi para os afagos e carinhos, Pereba não fazia falta... O nome veio de uma ferida que trazia na pata traseira, o batismo foi rápido “gato pereba” disse mamãe com pena do bichinho que mancava faminto. A ferida curou e o nome ficou Pereba.
Meu pai chegava tarde, e minha mãe sempre preparava uma boa comida, feita na hora para o provedor. Um dia ela comprou um filé mignon, limpou a carne, temperou e deixou sobre a bancada da cozinha, erro fatal! Gato pereba era escolado e não dispensava uma carne fresca, como um bom malandro, uma aventura e a boca livre. Mamãe foi na sala para ver o repórter Esso e quando voltou na cozinha a cena do crime estava montada: Um prato vazio e um rastro de sangue! Ela gritou “Perebaaaaaaaaaaaaaa”, corremos prá lá e vimo-la já indignada e arrependida de ter acolhido no sagrado seio do lar um gato safado. Declarou guerra: “Fechem as portas e as janelas da casa, vamos pegar esse traidor!” Eu, minha irmã e meu irmão menor foram à luta! Caçar Pereba. “““ ““A casa de dois andares era grande para um gato e fácil de se esconder, me lembro de ouvir um grito de mamãe “desgraçado” e em seguida um” pega ele “. Eu estava no gol ( o corredor dos quartos ) e me preparei para a defesa mais espetacular, de fazer inveja ao “ aranha negra “ o goleiro da seleção Russa, melhor do mundo! Amigos, já tentaram pegar um gato em fuga? Menino, foi o maior frango do afamado goleiro; a bola-gato passou por entre as pernas, quente e gorda, cheguei a apertá-lo na barriga e tentar um recurso extremo , segurar o rabo ! Que vexame, minha Mãe com uma vassoura na mão era, do outro lado do corredor, a torcida do meu querido Flamengo, animada, ela tinha um sorriso de campeã nos olhos e eu do outro lado postado, esperando o chute felino. Passei amigos esse vexame, um frangaço, no meio das pernas, só ficou uns pelos nos dedos e nada mais... Não era hora de chorar a derrota não, o campeonato não acabou, meu irmão Maurício também foi ludibriado e levou um “ come “ do maroto que desceu as escadas de treze degraus em um pulo só ! “ Corre “ disse mamãe, Conchita era a última esperança no andar térreo, ela nem viu a bola do jogo...
Ficamos tristes e na falta da emocionante caçada voltamos para ver a televisão, não qualquer, uma TELEFUNKEN! Alemã, pesada, de válvulas feitas, um armário disfarçado de TV. De repente o locutor deu uma notícia e soltou um gemido cavernoso “Miauuurrrrrrr” Não era nem grito nem miado, uma mistura de ronco de um fórmula 1 com o estridente grito em filme de Hitchcock. Minha mãe sorriu: “É ele, Pereba está dentro da televisão, Roberto desligue e vamos caçar o bicho!” Amigos, eu só entendia de mexer no macarrão da TV e colocar Bombril na antena, explico: O macarrão era um tubinho enrugado que servia para equilibrar a imagem na tela, naquele tempo os quadros teimavam e subir ou descer de acordo com o humor do alemão que projetou aquela estrovenga. Abrir a TV não era prá mim e mamãe sabia dos riscos, declarou “Amanhã seu Waldir cuida disso” Seu Waldir era o faz tudo, homem prendado, eletricista, bombeiro, mecânico e ainda motorista! O ídolo de minha mãe, depois de Chico Buarque e Fafá de Belém (nunca entendi o porquê minha mãe gostava dela...). Fomos dormir.
Dia seguinte eu estava prá lá de curioso, será que Pereba morreu? Diziam que as TVs operavam em alta voltagem, havia relatos de mortes para os desavisados que tentavam consertar domesticamente suas TVs e as válvulas aqueciam... Pensei, não há sobrevivente, sem chance para esse gato. Seu Waldir chegou e em dois tempos abriu o monstro nada viu “Dona Carminha liga a televisão, por favor,” Miaurrrrrrrrrrrrrrrrrr, de novo! O bicho estava vivo! Seu Waldir pescou um rabo e puxou para fora o monstro do lago Ness. O gato saiu mais arrepiado que porco espinho, olhos esbugalhados e com quase um metro! Quanto mais se puxava mais se espichava e crescia o gatuno, coisa de louco! Ele estava entre as válvulas e o tubo de imagem! Pereba nasceu de novo! Fugiu rápido como um raio! Passei bons tempos procurando Pereba no morro que ficava diante da casa, tinha pena do ladrão, eu era muito bobo mesmo... Aprendi a lição de que os gatos são muito resistentes e que tem sete vidas, porém posso afirmar: Pereba tinha oito!

Roberto Solano

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Acho que esse galo veio de Igarassu

Acho que esse galo veio de Igarassu

Venho de família nordestina, pernambucana de pai e mãe. Nasci no Rio de Janeiro mas criado “a moda” nordestina, já aprendendo os gostos da” terrinha”, uma boa tapioca, bolo de rolo, manguzá, agulha frita, valorizando a família e os amigos, falando alto e se achando o maior, isso é o óbvio. Desde menino gostava das estórias fantásticas dos desbravadores daquelas terras, dos ricos senhores de engenho e dos seus filhos bastardos, aventuras que me orgulhava e sempre remetiam à sapiência e esperteza de um povo sofrido. Recife, cidade pequena porém decente ! O Beberibe se encontra com o Capibaribe prá que? Pense, não é pouca coisa não... Formar o oceano Atlântico! E isso é ensinado nas escolas com orgulho de ser nordestino. Uma sobrinha vinda ao Maracanã saiu-se com essa pérola “Tio, sei não, mas o Arrudão parece ser maior...” Rapaz, Eu é que não vou questionar essas verdades de uma terra que expulsou um grupo de judeus incompetentes para eles fundarem aquela ilhota do norte, uma tal de Nova York. Graças a Deus os competentes ficaram “ no Recife !”
Igarassu, cidade próxima de Recife, muito antiga, vejam:
“O município localiza-se no litoral norte da Região Metropolitana, e possui um dos patrimônios mais invejáveis e expressivos da arquitetura de cunho civil e religioso do Brasil. Lá se encontra a mais antiga igreja em funcionamento do país (1535), de São Cosme e Damião, a quem é atribuído um milagre, em 1685: quando as cidades de Recife, Olinda, Itamaracá e Goiana foram assoladas pela febre amarela, Igarassu escapou ilesa da praga.”
Nesta cidade um parente afastado, Coronel Siqueira Brito, tinha nas proximidades sua propriedade, sua mulher, filhos, criados e animais. Homem conhecido pela sua maldade e objetividade, não se satisfazia com pouco, ambicioso, poderoso dono de terras e de gente. Gente sim, naquele tempo os criados eram parte da propriedade, dizem que ele escolhia as meninas (filhas dos seus serviçais) na época em que os seios da jovem ficavam do tamanho de um limão, era a senha dele “Está na hora do abate” e a menina escolhida era usada. A mulher era passiva, não reclamava quando sabia, mas estranhava quando o varão não comparecia com o dever semanal, dizem que ela, antes de se recolher consultava seu dono “Vóismecê vai me ocupar?” Pergunta direta para, em caso afirmativo, ela se asseiar.
A vida era lenta e os grandes acontecimentos raros. Um dia chegou um primo das bandas do sul, com novidades e boa conversa, moço da cidade, letrado. O coronel levou-o até Recife , via Igarassu, se despedindo de Mariazinha, a esposa, com um sonoro “ já volto !“ . Foram em bons cavalos até Igarassu e de lá para Recife, era mês de carnaval e as putas da terra não ofereciam um diferencial de peles brancas e olhos claros das polacas e francesas do Rio de Janeiro. O primo rico lançou o convite “Vamos, meu primo, para conhecer um carnaval de verdade!” Lançaram-se em um vapor e dias após aportaram na Praça Mauá, antro de fêmeas, malandros e bebidas. Foi uma festa! Mulheres brancas como neve, petelhos loiros nunca vistos, perfumes franceses e até champanhe ele tomou, e muito bebeu. Farreou e voltou com uma maldita blenorragia clássica, sem antibióticos fez o tratamento local com permanganato de potássio, pingado na uretra, na cabeça inchada e dolorida do tão utilizado instrumento do amor...
Voltou prá casa, um mês depois, galopante, feliz, com um vidro no bolso e a séria recomendação médica de se abster de atividade sexual, principalmente com a digníssima esposa, por três malditos meses. O que foi feito a risca! Mariazinha logo desconfiou de outra mulher, o coronel não cumpria com o dever! Sempre que voltava de viagem ele era mais amoroso com a fêmea oficial, mais por remorso ou um pouco de caridade, bom coração, bom homem, pai exemplar.
Domingo de calor e vento, a tardinha refrescou. Deitado na rede ficou vendo a propriedade do alpendre, cachacinha do lado pensando nas coxas grossas e bem fornidas de Margot, a francesa fogosa que deixou prá trás, o pau respondendo ao pensamento já endurecia mas doía... Triste isso. Mais triste estava à esposa carente de sexo, orgulho ferido, tomava banho e vestia uma anágua rosa que tanto alegrava o parceiro na cama e ele nada, chegava a cafungar na nuca dele, nada. De repente uma vontade de falar, questionar o macho, mas cadê a coragem, isto é má educação, mulher não procura homem, aonde já se viu! E cobrar a obrigação matrimonial nunca! Como fazer se perguntava a triste Mariazinha, entretida com sua costura, sentada do lado do seu senhor. Um barulho, uma correria e lá vinha um galo na frente, pulando e se safando das bicadas das enfurecidas galinhas, Mariazinha chamou bem alto o menino negrinho e descalço que passava, “Ô esse menino, vá pegar esse galo prá fazer uma canja prá Ceia pois eu acho que esse danado veio de Igarassu” O coronel se engasgou com a pinga, tossiu e sentiu que o pau amolecia de vergonha... Só falta um mês mariazinha, pensou ele ajeitando a meia e dizendo prá ela “vou à vacaria e não volto prá ceia não, estou com um fastio danado hoje”.

Roberto Solano

Eu sei valorizar a arte

Eu sei valorizar a arte

Foi nos anos 80, eu já formado engenheiro trabalhava com meu Pai. Naquele tempo não havia celular e as ligações eram feitas, nas ruas, pelos orelhões. Víamos da Tijuca em direção à Ipanema para visitar uma obra e o caminho era túnel Rebouças desaguando na lagoa Rodrigo de Freitas. Meu Pai sentiu a falta de um documento e precisava falar com o escritório, paramos. Existe um posto de gasolina em concreto aparente, uma cúpula que se assenta em quatro pilares, arquitetura moderna e bonita, uma referência na Av. Epitácio Pessoa, então paramos diante de um distinto orelhão. Saltamos do carro e já era fim de tarde, uma brisa agradável afagava meu rosto, olhei os belos prédios de luxo e recordei o samba do Billy Blanco:

“ Olho daquela janela na Epitácio pessoa
Bairro chamado Lagoa
Rio de Janeiro, GB

Caso a cortina se afaste
Vê-se um divã importado
Contrasta com o outro lado
Onde a favela se vê...


Era isso que sentia, a classe rica, bem assentada na zona sul da cidade prá lá de maravilhosa. Voltemos ao orelhão e ao fato: Tinha um sujeito falando no telefone, demorava, meu Pai tinha pressa, homem de negócio, decisão. Aproximamos-nos mais para mostrar urgência e sensibilizar o ocupante do aparelho. Naqueles tempos era curioso observar as filas dos orelhões, as pessoas faziam caras feias e conversavam para mostrar a pressa e o desgosto que tinham da moça namoradeira que ficava melosa sacudindo beijos para o amado e com fichas na mão, mal sinal essas fichas. Sim era o alimento da máquina que se chamava telefone de ficha, gulosa, comia aquelas moedas a cada 3 minutos ou quando endoidava comia sem dar a porra do sinal! Aí o pau comia e tome pancada no aparelho até ele cuspir o objeto roubado. O homem ali falando e o tempo passava até que desligou e saiu daquela semi-caverna telefônica aos prantos, ainda me lembro, magro com uma camisa branca suada e uma pasta marrom, deu-se o espanto. Papai, sempre curioso e de bom coração perguntou objetivamente com o famoso “posso ajudar?” E ao lado ele sentou no banco de concreto com o desconhecido contando um drama, uma esposa morta por câncer e um enterro a fazer sem nada no bolso, só aquela última ficha telefônica para suplicar ajuda da irmã que por ali morava e não atendia... Meu Pai, homem de não perder tempo e resolver problemas questionou o valor do enterro, algo em torno de um salário mínimo, puxou a carteira preta e amassada e me pediu para fazer o cheque (ele só gostava de assinar, nunca preencher). Estupefato segui as ordens do Pai-patrão, sem perguntar nada, ele assinou e deu para o homem da pasta marrom, um abraço apertado e um agradecimento acompanhado de um sorriso tímido de um enlutado.
Voltamos para o carro, um Passat bege, e nos dirigimos ao destino planejado, nada dito, estávamos com pressa, e a reunião de trabalho ocorreu sem maiores novidades; novamente no carro a pergunta martelava a minha cabeça, porque meu Pai deu essa grana toda para um mero desconhecido? Criei coragem e perguntei, ele respondeu: “Meu filho o sujeito quando é pobre sofre muito e pode se desesperar”...” Eu disse curto e grosso “ Pai, você acreditou naquela estória? “ Ele matou no peito e devolveu com a classe de um Nilton Santos, “ Filho, se for verdade eu fiz o que meu coração mandava fazer, mas caso seja mentira eu sei valorizar a arte ! “ A minha boca abriu, indaguei “ que arte pai ? “ Ele de bate - pronto devolveu a bola do jogo da vida com uma expressão calma, “ filho aquele rapaz é um dos melhores artista que já vi ! Valeu a cena, eu sei valorizar a arte ! “
Nunca me esqueci disso, me marcou para o resto da vida, um fato isolado que me mostrou a generosidade e a sensibilidade de um homem lido que trabalhava muito e se divertia pouco, raramente ia à um teatro ou cinema, mas tinha um coração enorme e um desapego ás coisas materiais quando colocadas em frente da palavra e da emoção. Querido Pai, vou aqui tentando acreditar no ser humano e nos artistas, valorizando cada dia a arte, tentando ser um pouquinho de você, beijos saudosos do filho que te acompanhou e aprendeu a preencher como ninguém os cheques da minha conta bancária preferida, meu coração.

Roberto Solano

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Muito dinheiro

Muito dinheiro

O Sílvio Santos vem aí, tchan, tchan... E um empresário fez fortuna. E agora, vai quebrar, deu um calote, vão salvá-lo? Enfim, é difícil de entender, quase uma adivinhação e ELE ? Com seus 80 anos ainda traz alegrias para o povão e distribuí dinheiro! Isso não é SBT, isso é FANTÁSTICO, da rede Globo! A minha empregada me perguntou: O doutor pode me explicar como se o Sílvio Santos está quebrado e continua distribuindo dinheiro??? Não pude explicar... E prá que explicar? Ela e muitos estão incrédulos com essa fatalidade nacional, um ídolo, um ricaço, um dono de televisão, banco e outras empresas, podem cair? Nunca! O povo não aceita e tem gente querendo enviar dinheiro para ele! A Caixa econômica já deu sua, a nossa colaboração! Isso é amor, incondicional, passional e legítimo, verdade.
Dinheiro é bom, mas muito é complicado... Eu penso que os muito ricos só sobrevivem se forem competentes e colecionadores! Esse é o caminho da eterna prosperidade econômica, colecionar a moeda, vibrar a cada conquista e guardar seu patrimônio como um cão de guarda. Será que o Sílvio não tinha essa competência? Vi alguns empresários de sucesso vivendo só para conferir números e a conta bancária, controles e mais controles, sempre com o desconfiômetro ligado, e sabendo “pular fora” na hora certa, isso é uma regra de sobrevivência, não ter pena de demitir e fechar o negócio errado para salvar a coleção. Ter, muito dinheiro é prá pouquíssimos, raras pessoas, que não são só ricas são loucas por colecionar cifras e vivem para isso, só.
Não gostaria de ter essa exuberância bancária, traz muito sofrimento pela deformidade social que o “très riche” tem que administrar. Outro dia vi um sujeito em uma Ferrari vermelha, estacionando em frente ao bar aberto, na hora de pico. Claro que ele tinha a melhor vaga e os “bajuladores” vieram estender o tapete para o” deformado” que acelerou antes de desligar; um barulho louco sai daquela máquina, ele saltou sorridente com um charuto na boca e uma roupa de grife sentou-se à mesa já posta com o drink pronto para mostrar-se aos mortais e mulheres que estavam ali. Esse cara não pode ser feliz, pensei, é muito complicado ter que carregar a fantasia de Rei o ano todo e não poder ser normal, tomar um cafezinho e contar uma mentira no bar da esquina, difícil assim viver. E os ladrões? Estão em todos os lugares, se você é rico meu amigo, entenda que o alvo é você, sempre, na família e no resto, rico sofre. Não tem a chance de vibrar com o primeiro carro, com a vista da torre Eiffel, e até de poder dar uma bola de couro para o filho, uma bicicleta no Natal, que delícia! São tantas as alegrias que o muito rico não alcança, ficou exilado nesse mundo que não vale à pena, triste ele vai ficar sempre, sem sentir o desejo e saborear a conquista, o avanço do muro do sucesso financeiro, dia a dia, tijolo a tijolo.
O importante é brigar, competir. Papo de pobre dirá o leitor, ser rico é que é bom, sei não... O bom mesmo é ter recurso para queimar, isso é ótimo! Aquela doença, a vontade de recomeçar e ter o mapa na mão, poder se dar um tempo e gastar esse recurso: Tempo! Essa moeda é tudo, é a força, um valor que quando jovem não quantificamos, desprezamos e jogamos fora.
Sílvio acorda! Troque seu banco falido e tua TV por tempo, muito tempo, abra um circo e corra o Brasil de cidade em cidade levando tua arte, a dentadura posta, faça o que gostas, chame o deputado tiririca e vá estrada á fora gastando teu tempo-dinheiro para o mundo viver melhor. Salve o nosso País de jovens já sem tempo, dessa correria tecnológica, desse caos urbano, tempo é dinheiro viu Sílvio? Vocês querem dinheiro? Não, só tempo, amigos, um bom botequim para gastar com essa moeda forte e o resto deixe prá lá. Repense sua moeda amigo, invista em “ bens “ para você mesmo, colecione viagens, estórias, amigos, filhos e sinta o prazer de sair mais cedo do teu trabalho e olhar o mundo correndo na frente de tua retina e dê uma sonora gargalhada, raraííí... Sílvio Santos venha aí...E ouça o Lombardi te dizer, seja feliz !

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Weimaraner

Weimaraner

Já fui criador dessa raça de cães, são superiores e especiais, e tenho algumas estórias para contar. Meu Pai, um eterno otimista, gostava de animais e mais ainda de aparecer, vaidoso, estava sempre na vanguarda de seu tempo. Ainda pequeno, na época da construção de Brasília, o engenheiro José Solano por lá trabalhou e, como bom aventureiro, achou na estrada um filhote de avestruz o colocando no carro, trazendo a ave para conhecer a cidade maravilhosa. Na ladeira do Leme tinha uma bela casa com um pátio grande aonde a ave seria cuidada pela minha mãe ( sobrava sempre prá ela ) e ele tomaria seus whiskys acompanhado das estórias do planalto central e amigos incrédulos, esse era o plano ! Falhou... O bicho sobreviveu uma semana e foi de encontro ao Padre eterno, morreu de fome, tadinho. Não , por favor, meu querido Pai não era má pessoa não, ele não deixou de dar milho, farinha com leite, migalhas de pão, e outros alimentos para a penosa. A moça não comia, simplesmente. O velho entrou em contacto com biólogos e estudantes do assunto, só que não se tinha celular nem o papai Google para ajudar e quando chegou o solução o óbito já tinha ocorrido. Explico : A mamãe Avestruz bota seus ovos e antes de chocá-los bica um e deixa lá apodrecendo, os outros quando saem vão comer as moscas do irmão morto, e assim a espécie sobrevive nos primeiros dias. Esse meu Pai...
Voltemos aos cães. Com mesmo espírito de vanguarda e exibição pessoal o Coroa passou na casa do Moogen , um biólogo famoso da época, e após a sua conversa fantástica e sábia, fez amizade com o cientista. Esse homem tinha os Weimaraners , um cão diferente e raro, lindo, pêlos prateados, olhos claros, belo porte e grande caçador. Papai voltou com a cadela no carro, tal qual o filhote de avestruz do passado, com uns quatro meses de vida eu vi Iaba, uma paixão logo de cara e um projeto de renda extra. Jovem, já morando em Ipanema e com casa no Alto da Boa Vista resolvi criar os cães. Munido das informações básicas e desfilando com aquela belezura fiz uma pesquisa de campo e vi um negócio bem rendoso : Investimento ZERO, custo de manutenção ( comida ) ZERO, venda FÁCIL, preço ÒTIMO, então nasceu meu canil de weimaraners, sucesso total ! Vendi alguns, e quando estava prosperando me mudei para a barra da tijuca, avenida “ F “ ( hoje Adilson Seroa da Motta), quadra da praia e me desfiz da criação, sem antes trazer a cadela Tula, filha de Iaba . Tulinha era um amor, conquistava todos com seu suspiro ao sentar e no cruzar elegante das pernas. Corria comigo na praia da barra, atrás dos pombos; era lindo vê-la tentar pegá-los, sem sucesso, mas com aquele porte de caçadora, que ao chegar perto da presa “ congelava “, isto é, a clássica pose de três patas no chão e a outra suspensa no ar, dobrada, prenúncio do ataque fatal ! Bons tempos de praia vazia. Barra da Tijuca limpa, mar caribenho todos os dias, saudades... Taciana tinha medo de todos os cachorros nessa vida, menos de Tulinha. Tulinha sabia das unhas treinadas da patroa e ao vê-la corria com seu focinho frio para o meio das pernas dela e suspirava esperando a divina carícia na cabeça. Bem, nem tudo é maravilha e a danada tinha problemas digestivos, com uma fabricação espetacular de gases tóxicos, coisa de louco! Porém, tudo tem um ponto positivo pois quando em uma reunião familiar algum conviva soltava um traque a coitada levava a culpa “ Foi Tulinha “, escurralada para fora aos gritos de Mamãe saía ela, cabeça baixa, para o jardim e o mão pálida se safava do vexame.
Eles são animais especiais e com uma boa dose de sorte você pode ter um “ Buck “ na sua vida. Meu amigo de colégio, infância e bar, foi convidado a levar para sua casa um belo macho, que escolhi em prova da minha forte amizade. E lá foi Luiz com aquele cachorrinho de 3 meses, já vacinado e rabo cortado ( Eu mesmo aprendi a cortá-los nas ninhadas, era fera nisso ! ), a cabeça de formato quadrado, pequena mancha no peito, cor adequada e patas grandes, um belo exemplar de weimaraner. O fato é que esse amigo morava no Flamengo em um apartamento que tinha uma área pequena, não adequada para receber o novo habitante. O plano “ B “ era , em caso de recusa da Mãe ( Dona Lúcia ) o quatro patas voltava lá prá casa e seria vendido, mas o bicho era charmoso e bonito demais! Aqueles olhos azuis conquistaram a família Castro, não deu outra, virou um ente querido da casa. Ele cresceu com o carinho habitual e a disciplina do meu querido Luiz e foi o animal mais humano que conheci : Educado, comportado e obediente ! Aprendeu a andar sem coleiras e atravessar a rua. Seu “ playground “ era o aterro do Flamengo, uma festa ! Ele corria feliz da vida, nas gramas, pegando as bolas que Luiz jogava, até um fatídico dia que a namorada do Antonio, tio do cão, levou o bichinho para andar de bicicleta com ela na pista escaldante do aterro ! Que sofrimento ! O animal foi até o MAM com aquelas almofadinhas que a espécie tem nas patas, um amortecedor natural, e voltou sem. Vocês já checaram um hambúrguer que está sendo feito com o pão por cima e dá aquela levantadinha prá ver o ponto da carne, uns 30 graus de inclinação já é o bastante para ver o cozimento, né ? Assim estava o Buck, com 4 hamburgers nas patas, olhos vermelhos e lacrimejantes, com Tereza a reclamar de Luiz “ Você disse que esse cachorro corria, que decepção... “ o bichinho mancava e olhava para o Pai em um suplício final “ Me afaste dessa mulher “ . E lá foi Luiz colocar as patas do bicho “ on the Rocks “.
Nossa casa em arraial era um paraíso e BUCK sabia que o mar era gelado, tanto que, ao olhar Tereza, corria desesperado para água, estranho isso, nunca entendi, cachorro tem cada coisa esquisita... Outro drama era CHOPP, um animal grande, pesado, e morador da praia grande, um boxer. O tal cão odiava o Buck, latia desvairadamente ao vê-lo, ódio mortal : Um feio e preso , o outro lindo e solto, de férias ! Sacanagem ! E aí se deu o embate, a tal bebida alemã se soltou das ferragens que o prendia e em um átimo correu na direção de Buck, indefeso adolescente, uma luta de um atleta de vale tudo com o cantor Fiuk, um cheiro de morte emergiu da areia branca , nós tínhamos que salvar o Buck ! Foi feito com coragem e valentia ! Cadeira de praia quebrando, barraca no quengo do cachorro e pau comeu, quando num lance de habilidade, entre uma dentada e outra, nossa vítima foi resgatada com vida.
Hoje sinto falta de um cão, amigo e parceiro, e se um dia você leitor quiser viver essa alegria animal tenha um weimaraner, com muita sorte e benção divina um outro Buck pode reaparecer aqui na face da terra mas longe, bem longe do aterro do Flamengo.

Roberto Solano

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Antonin Dvorák - Slavonic Dance No. 2

Antonin Dvorák - Slavonic Dance No. 2

Quando a ouço um suspiro vem do fundo da alma

Que tristeza é essa ? Que amor perdido na imensidão

E pássaros passeiam sobre minha áurea

Estou a caminho do Céu ?



Sou um triste vagabundo musical !



E o amor materno me aflora como um raio de sol

Vem esquentar minha esperança

Vem trazer a última lágrima já derramada sobre ela

Oh Pai celeste, porque criastes a música ?

E você Dvorák, vindo a cavalo com essa partitura na mão

Partitura para partir, quebrar, estraçalhar um pobre coração...


Obrigado Meu Pai, minha mãe, meus amigos, por tudo

Agora peço uma prece para esse gênio da música

Que fez a folha verde da vida flutuar mais leve

No céu de nossa mortalidade.


Agora seco e palha, um velho coração fica

Parado

Sentado na cadeira do alpendre

Padece feliz nas ondas sonoras

Esperando aquela que nos tolhe...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A teoria do “Foda-se”

A teoria do “Foda-se”



Grotesco título, baixo escalão, mal educado esse que te escreve! Espere aí amigo, não é ofensa não, vou tentar “limpar” minha imagem, calma. Para não ser ainda mais agressivo convencionamos o termo chulo acima por FDS, legal né, até mais bonitinho e moderno Federação de Desporto de Salvador, ou Faculdade Dinamarquesa de Sociologia! Lindo! Porém, aqui nesse texto fica com o codinome de FODA-SE mesmo!

Bem, o FDS tem várias conotações, das que me lembre são: Raiva, não me diz respeito, onanismo, etc... A primeira é perdoável, quase um desabafo, de Pai prá filho é uma orientação pedagógica: “Puxa Pai não posso ir contigo ver o Mengão no Maracanã, vou jogar vídeo-game com o marquinhos... E você todo paramentado, camisa vestida, boné, ingresso na mão, atrasado prá encontrar a galera no barzinho e calibrar a mente antes do jogão, e aquele FDP (da digníssima, que já tinha avisado que o moleque estava descambando pro Vasco por causa do marquinhos) e aí vem aquele rubor na face, um borbulhão no estomago, calor e a bomba: FODA-SE! Porta batida para não ver o sorriso sacana do garoto e a cara de espanto da patroa; vira-se de costas para o” lar-doce-lar” caminha pelo corredor, desce o elevador sem olhar para o espelho (prá não ficar mais puto ainda), abre o portão e respira fundo, alívio total! Uma brisa fresca bate no rosto, um caminhão da Brahma do outro lado abastece o bar, essa frescura remete a dois pensamentos gêmeos: Esse meleque vai acabar Gay, fresco, boiola, viado e Vascaíno é dose... E Eu vou tomar meu Chope gelado! Outro FDS e tudo resolvido.

O “não me diz respeito” é o famoso” não tenho nada haver com isso”, que remete ao problema maior e social. Me derrota ver o meu País convivendo com esse FDS social, é uma doença, um câncer que cresce e não tem cura simples. Você sai de casa, no seu carro, tranqüilo e vê os ônibus lotados, pessoas velhas de pé (ninguém dá o lugar, FDS prá velhota!), criaturas de Deus que brigam pelo pão nosso de cada dia sofrendo e se acostumando ao sofrer que aumenta todo santo dia. Estou de carro, música, ar condicionado, então FDS! As crianças de chicletes na mão, futuros ladrões, certo? Não é comigo não! Cadê o governo? Então FDS, fecho o vidro negro como a fome do guri e acelero até o próximo sinal, lá avisto um cidadão com o carro quebrado, uns dois ou três pobres (excluídos) ajudam a empurrar, eu vou parar? Não! FDS! Meu carro é novo e aquela lata velha devia ser recolhida pela prefeitura, isso sim! Os pobres então é uma sucessão de FDS, em carreira, um FDS pro porteiro, outro para a empregada e por aí vamos, esse “povinho” não estudou por quê? Outro FDS! E assim vou Eu, você, a torcida do Fluminense (elite, viu?) e a turma que viaja de avião, carro novo, Credicard, visa, euro, vida boa, FDS pros outros! O governo já não dá bolsa família? Não é uma beleza? Estão reclamando de que? Agora esses malditos assaltos estão de mais, até joalheria em shopping, absurdo isso! Minha amiga quando viaja dorme no hotel internacional Tom Jobim, chega cedo (dia claro), faz umas comprinhas, janta com um bom vinho, dorme confortávelmente e vai de 1ª classe para Paris, está um horror a linha amarela, cuidado! Ela já blindou o carro, prevenida, inteligente, fina flor da nossa sociedade e o resto da população FDS, alías “ Fuck yourself “ ! E vamos vivendo esse egoísmo capitalista e nos afundando em tantos FDS, os FDS não são biodegradáveis não! Ficam aí pairando no ar, saindo do pensamento dos ricos e da classe média, até decantarem no chão e virando lama de chuva, enchentes, engarrafamentos colossais, entupindo nossos bueiros e fedendo muito. Você votou na Dilma né ? FDS e no careca tucano, não quis né ? FDS !!! Estamos morrendo juntos, sem ideologia social, sem olhar para o lado ( meu Armani não permite ) e então nos Fodemos juntos, até aquela bala perdida te achar ou enfartar olhando o Tietê na tarde de segunda-feira, não comprou teu helicóptero né? FODA-SE !!!

Que Deus nos salve, ele já salvou os EUA...


Roberto Solano

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sexo é briga

Sexo é briga

Só hoje percebi a propaganda na TV, um coroa bem apessoado, com uma mulher mais jovem, tem uma cara de felicidade! E o grupo promete resolver todos os problemas sexuais, disfunções eréteis (brochura), ejaculação precoce (coelho) e outras, com o chamado eficiente: Sexo é vida! Será? Penso que a vida vem do sexo, esse ato milenar que transmite os códigos genéticos do homem para a mulher gerar o futuro da espécie.
Isso é lógico, pensa o colega aí. Mas sexo não é vida, nem pretende ser, pode ser até uma profissão, etc...Creio mais na versão da briga, a luta do desejo, a força maior que nos empurra atrás do parceiro, como se a fome e o poder se fizessem um só. Briga boa, saudável, que acaba no “rala e rola “ da cama e no descanso do guerreiro. Você, macho aí de plantão, não sente aquela vontade de morder a carne fresca que passa oferecida e fresca na tua frente? As mulheres provocam a briga do sexo, elas não têm noção do poder de fogo que atiçam aos pobres fuzileiros, são adoráveis alvos, caça. As mais modernas acham que podem entrar na briga como ativas, lutadoras de box, atacando o macho, isso assusta... Mas elas são poderosas, em carrões e apliques nos cabelos loiros, coxas de halterofilista e peitos infláveis, atributos infalíveis do poder.
Voltemos ao tema, todo mundo gosta de brigar? E de sexo? Tem gente que não gosta por não ser galo de briga, falha no DNA... Não é normal! Dar “aquelazinha” uma vez por mês é uma operação mecânica, um ajuste químico, lubrifica o corpo e derrama a culpa no parceiro, isso é triste. E os atletas do sexo? São fantásticos, todo dia, toda hora é hora, 2 ou 3 seguidas! Não é mole não... Esses merecem nosso respeito e admiração, são reprodutores e propagadores das brigas, ficam doentes como esses atletas de lutas radicais, vão sofrer muito quando pendurarem as luvas.
E vocês estão na briga? Treinando muito? Não importa mesmo! O gosto pelo esporte é alternativo, Eu prefiro um vale-tudo a uma corrida de automóvel, é meu lado bélico, cada um com sua preferência: O importante é competir.
A briga é a própria vida em forma de desejo. Não se acomode na sua relação matrimonial, se olhem sempre como caça e caçador (podendo inverter as funções, certo?). O amor deve ser o alimento do desejo, nunca ao contrário! E brigar, ter sua opinião sempre, provocar e ser provocado, instigar, questionar, ser do contra, tudo pode SOMAR quando se sabe acelerar e frear nesse campeonato de FÓRMULA 2!

Roberto Solano

sábado, 6 de novembro de 2010

A beleza como castigo

A beleza como castigo

Filhinha acorda, hoje é seu aniversário, parabéns! A menina acorda animada, cinco aninhos, e um dia diferente e alegre pela frente, findando com aquela memorável festa de princesa. A Mãe ávida por proporcionar o melhor, o Pai orgulhoso da menina, olhos grandes, pretos, sorriso cativante, brancos dentes, sapeca, cabelos encaracolados, e só! Mas, aos olhos da família, ELA é a mais linda! O DNA não foi bonzinho no grupo familiar, até pegou pesado nos avós Portugueses e Nordestinos, são feios sem perdão. A Mãe sempre cadeiruda e coxões amostrados conquistou o branquelo fraquinho na festa da prima, e o amor se fez. Casaram. Uma filha única nasceu, sem muitos predicados foi ficando mais ajeitada que o resto. Dá pro gasto infantil!
Vamos lá, a Mãe tem em mente o plano de transformar a pequena em princesa, na indumentária, pois na beleza ela já é ! A tadinha já começa a sofrer no fim do dia, banhos, perfumes, calcinhas de renda, meias maquiagens mil... Está quase pronta, lindérrima, uma gata, a festa vai começar e Ela é o foco.
Seis da tarde, convidados e mais presentes, alegria, bolo na mesa decorada, amiguinhos e amiguinhas chegam, música infantil, parabéns! Tudo lindo, MAS a menina não é boba, a vizinha do terceiro andar está abafando, loira, olhos azuis marinhos, branca como a neve, face rosada, alegremente vestida de azul (só prá combinar com os olhos, claro! A Mãe é a gostosa do prédio e embora Loira não é burra!). A princesa foi roubada de cena! A coleguinha é muito linda, MAS Mamãe disse que Eu estou mais bonita, estou abafando, né?
E assim a menina do Grajaú foi crescendo, na beleza aderida, no esforço da Mãe e no credo do Pai, se achando linda, e era um “ mais ou menos “. Andréia, do terceiro andar, sim, foi virando a referência absoluta do prédio, escola, quarteirão, Grajaú e quiçá da Tijuca!
Vêm os 12 anos, os malditos hormônios, pêlos (porque tê-los? Diz a propaganda estampada na traseira do ônibus), espinhas, peitos, barriguinha e as malditas celulites, que horror! Mamãe é pau prá toda obra e coloca a menina no balé, na academia também, o Pai começa a ter grana com o restaurante herdado do avô, tudo bem, ele confessa que ela precisa melhorar um “pouquinho” para passar a ser a lindinha de sempre... Andréia não precisa disso, é linda por natureza, uma flor, seios empinados, coxas já adivinhando a perfeição, a bundinha um patrimônio e o rosto, o rosto é uma pintura de Botticelli.
Aos 18 anos a vida aponta as oportunidades, a nossa heroína já tem dotes para a matemática e é alegre. A loirinha tem dotes prá casar e fila de espera!
Casam mas sofrem... Tudo é fruto da vida, dos meros mortais, casar e ser feliz.
E aí, pergunta o leitor, o que tem haver com o título? A beleza? O castigo? Sim, agora vou ao ponto: Todas as mulheres são criadas para serem as mais lindas princesas do MUNDO! Umas serão e outras continuarão tentando, se produzindo, invejando as amigas em uma luta sem fim. E aquelas Andréias do Grajaú? São divinas e sempre serão, e vão sofrer muito... A carne não perdoa, o marido vai te trair em busca da perfeição (nunca a atingimos, é uma norma), outras divinas vão cruzar no caminho dele. O espelho, antigo aliado, vai te derrubar em rugas e botox. Teu lindo Bumbum que era um sonho masculino é agora o sonho da padaria! Minha linda você está caída como todas as outras... Tua amiga já era feinha e continua, como uma empresária de sucesso ganha dinheiro, é feliz com o marido fiel viajando todo ano para Paris, passando em Lisboa com a filharada e ela já te confessou grande medo de fazer plástica, naquele chá das cinco, toda feliz em um chique trailer vermelho... É, ser bonita é um grande CASTIGO!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Terapia monetária

Terapia monetária

Quando triste recorro aos médicos, medicamentos, terapias... Chato! Inveja tenho das mulheres, elas têm o poder. Explico: Nunca esteja satisfeito com você mesmo, você sempre pode estar melhor, mais bonito, mais feliz, isso é o LEMA! Acorde e olhe no espelho as melhorias que terás no decorrer do dia. Não vi e nem verei uma mulher se achando linda por mais de 24 horas; uma mágica ocorre, um encanto se desfaz e a “borralheira” se autodestrói... O lado bom é que há de se acostumar diariamente com essa decepção, então, logicamente, teu cérebro vai se adaptar com a tristeza e dormir tranqüilo.
Está confuso não é? Mas é muito simples, imagine se você acordou mal, desanimado, caído e tem a solução na bolsa de mão? Nada de medicação, isso é para os homens! Mulheres “GO to shopping” , YES !!! Paradinha no cabeleireiro, novo corte sedutor, mais rente, nuca à mostra, show! As unhas devem ser repaginadas coloridas da moda, garras do amor felino, gata, gostosa! O astral já está melhorando, né ? E agora, uma roupinha prá combinar é fundamental! Aquele vestido verão, seios empinados no espelho da ZARA, ufa... Que emoção! Já estou me sentindo leve! Legal, vou levar... No caixa passa aquela “colega” da academia de te dá uma forcinha:” Oi querida, que lindo vestido, puxaaaaaa, vai abafar “ Isso é melhor que um Lexotan ! Carambolas, estou começando a achar que esse é meu dia de sorte, vou levar esse lencinho aqui, vai dar o “ tchan “ que faltava ! E que sorte a minha! Uma loja em promoção, sandálias lindas de verão, tudo haver com meu novo “ look “ , show ! A loja está cheia, saco, essa perua aqui do lado pegou aquela verde limão. Moça, favor, tamanho 36, esse modelo nas cores laranja, azul celeste, amarelo Ferrari e, por favor, veja se tem outro verde limão que aquela chata ali pegou, o dedo apontando e procurando a vítima do teu ódio, que pagava a “ maldita sandália e já caminhava com aquela bunda invejável prá fora da loja ( o marido deve ser rico mas BROCHA ), bruxa !
Sandálias escolhidas vamos levar iguais de cores diferentes, quem sabe uma bolsa nova não aparece, né?
Chegar em casa é um pouco chato, o maridão não vai gostar de tantas sacolas... Isso se resolve com aquela lingerie sex que comprei e não usei, será que ele chega cansado? Bom, deixa prá lá, vou ligar prá Lurdinha e contar que aquela “deprê” mixou! Estou renovada! Um banho de Shopping, delícia !!!!
Pois é, Eu aqui morrendo de inveja, tomando remédio, dor nas costas, problemas e problemas, unhas mal feitas, raiva, e tendo de pagar analista... Sou um babaca mesmo, quisera ter saia e todo dia me achar mais ou menos ou feia, acordar, ir para o shopping e renovar as energias na minha terapia monetária ! Facinho facinho, beijoca, tchau !


Roberto Solano