Passei no vestibular!
Esse era o grito de comemoração mais querido, e ainda creio que seja de jovens estudantes. A guerra dos estudos termina com um alívio incalculável, o passaporte para a vida adulta é adquirido, agora é contigo herói, o mundo é seu! Eu me senti assim, na maior conquista palpável e reconhecida que tive, quando bem mais moço... Passei! Vamos comemorar! Disse o jovem George, antecipadamente, com a certeza do Cabral ao ver nossa terra, confiante desafiou “Hoje quem paga sou eu!”. O rapaz magro, com boas entradas na testa, era um remanescente dos amigos já universitários: Ele tinha ficado prá trás, no desejo de fazer engenharia civil, mesmo para o curso “operacional” não passava no vestibular. Na época as provas eram no Maracanã, prova verde, amarela, azul, múltipla escolha. Foi um domingo de verão que “Jorginho das bocas” adentrou o bar com essa boa notícia, devidamente aceito com orgulho pelos amigos do botequim, vamos tomar todas! Eu fiquei com a “pulga atrás da orelha”, bebia a alegria do nobre colega, futuro engenheiro, com uma leve desconfiança da convicção inabalável e tão adiantada do fato. Passou como? Acabou de fazer uma prova difícil, pela qual ele não abandonou sua vida atlético-noturna, e as praias, assíduo freqüentador diário: Uma boa vida de primeira, e mulherengo...
A mágica se fez após o sexto chope. Como você tem essa certeza meu camarada? Bicho, tu voltou do Maracá e já comemora o final do campeonato? Qual é meu irmão? Resposta: “Tenho uma certeza absoluta! Colei o gabarito da prova!" Dez, dez, nota dez! Fiquei meio sem jeito de ter perguntado, se o amigo tinha o gabarito certo que iria passar, etc. Naqueles tempos não tinha Enen e outros testes, e muito menos vasava gabarito, estávamos em plena ditadura militar, o bicho pegava feio, e o Pai da criatura (Jorginho) não era General, então como? O mistério começou a me embebedar mais que o álcool, fui ficando chato e, novamente, perguntei " George, abre o jogo, qual foi o pulo do Gato?”. Ele riu, riu muito e disse “Sentei atrás de um gênio!” Não tenho dúvidas, zerei o gabarito! No oitavo chope indaguei quem era o tal Einstein? Simplesmente um Japonês magro, olhos fundos de tanto estudar, óculos de grau, pinta de CDF, fera total, gênio! Paguei a décima rodada, estava confirmado, George estava na faculdade e triste de quem o contratasse como estagiário, só se for à companhia cervejaria Antártica, para o controle de qualidade, disso ele entendia, e de gastar pouco. O Pai tinha uma Rural Willys, coisa fina, dava para percorrer Santa Tereza com desenvoltura e pegar as meninas para umas voltas na barra da tijuca; veículo 4 x 4 , e a graça era atolar com as “gatinhas” que, sem chance de voltar,ficavam presas fáceis, então era só faturá-las ! As meninas ficavam desesperadas, com hora para voltar, ás 4 horas da manhã, carro atolado na areia frouxa e o bom Jorginho dava as ordens “Roberto, fica aqui na rural que vou pedir socorro na estrada” Era a senha, ele pegava seu cobertor de lã e levava sua vitima para os matos rasteiros da praia deserta e Eu tinha o tempo de dar conta do recado na espaçosa cabine da rural atolada... Amanhecia tempo frio, as meninas choravam, e Jorginho das bocas colocava uns gravetos nas rodas e ligava a marcha menor (segredo viu?), o carro se animava nas 4 rodas e salvos seguíamos o caminho do asfalto!
Essa figura era o rei do “ovo colorido”, não tinha tempo feio, a grana da cerveja estava garantida e o tira gosto também: Um pouco de sal e a cor preferida! Delícia! Nos acampamentos tínhamos o macarrão miojo (que nojo!), ele traçava de lamber os beiços! Gastava pouco e curtia muito a vida, bom engenheiro, tão bom que se formou e foi trabalhar na conservação das redes elétricas da cidade. Eu o vi em uma tremendo apagão no bairro de botafogo, tudo parado, engarrafamento monstruoso até eu avistar a “peça rara” ali, na boca do buraco, consertando (ou causando) o desastre. Saudades do sorriso farto e da malandragem implícita em tudo que fazia.
Ele demorou a passar no vestibular, graças á incompetência da “japa” que tirou ZERO ( passou uma semana querendo matar o nipônico, graças a Deus não achou sua vítima...), mas com esses fracassos na vida ele se formou um bom Pai, marido. Tenho a certeza de ter conhecido um gênio na arte de ser feliz, com pouco, gostando da vida dura, sem reclamar, e ainda por cima aprendi a gostar de ovo colorido ! Sempre escolhi o vermelho...
Roberto Solano
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
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