sábado, 5 de junho de 2010

Sevilha aos olhos do poeta

Sevilha aos olhos do poeta


João Cabral de Melo Neto escreveu:

“Sevilha de noite: A Giralda,
Iluminada, dá a lição
de sua elegância fabulosa,
de incorrigível proporção “

E encantado com a cidade disse:

“Não há uma luz sobre Sevilha,
Embora sofra sol e lua;
O que há sim é uma luz interna,
Luz que é de dentro, dela estua “

A Sevilha feminina,

“Nasceste para ser de Sevilha.
Sevilha em mapa de mulher...”

De teu corpo e do de Sevilha:
Faz a alma de quem vai à festa “

E a alma Pernambucana...

“O que pode ser para alguém
Não nascer em Sevilha, e quem
Será capaz de confessar,
Que nasceu num outro lugar?

Sevilha? É o mais grande do mundo,
É onde o alegre toca o profundo.

Madrid? É o lugar onde vais
Dançar, mas há carros demais.

Barcelona? Dançar é em vão
Não aplaudem, sentam nas mãos “

E em outro trecho,

“Pernambuco para dançar?
Bem que iria, se contrato há.

A gente de lá, que vi aqui,
Diz que tem um Guadalquivir.

Como é mesmo? Capibaribe?
E a capital como é? O Recife?

Por lá passou muito cigano?
Então por que os pernambucanos
Sabem habitar tão dentro
Nossa alma extrema, do Flamenco?

E de um ferreiro de Carmona,

“Só trabalho em ferro forjado
que é quando se trabalha ferro;
então, corpo a corpo com ele,
domo-o, dobro-o, até o onde quero

Conhece a Giralda em Sevilha?
De certo subiu lá em cima
Reparou nas flores de ferro
Dos quatro jarros das esquinas?

Forjar: domar o ferro à força,
Não até uma flor já sabida,
Mas ao que pode ser flor
Se flor parece a quem o diga “

E a sensação estranha e diferente da cidade aberta e feminina,

“Só em Sevilha o corpo está
Com todos os sentidos em riste,
Sentidos que nem se sabia, antes de andá-la, que existissem

Sentidos que fundam num só:
Viver num só o que nos vive,
Que nos dá a mulher de Sevilha
E a cidade ou concha em que vive “

O segredo,

“De Joaquim Romero Murube
Ouvi certa vez: “De Sevilha
Ninguém jamais disse tudo.
Mas espero dizê-lo um dia “

... o tudo de Sevilha está no andar de sua mulher”

A maternidade,

“nunca saberá se vive a cidade
Ou a mulher melhor sua maternidade”

E a música da terra o Flamenco,
“O Flamenco fala do amor
Como ele, também floralmente,
Mas no Flamenco um punhal oculto
Nesse canteiro cresce sempre “

E da cidade que cresceu sem perder-se, sem que o progresso lhe afetasse

“Sevilha é a única cidade
Que soube crescer sem matar-se.

Cresceu do outro lado do rio,
Cresceu ao redor, como os circos,

Conservando puro seu centro, intocável
Sem que seus de dentro
Tenham perdido a intimidade:
Que ela só, entre todas cidades,

Pode o aconchego de mulher,
Pode o macio existir do mel,

Que outrora guardava nos pátios
E hoje é de todo antigo bairro “


Esses versos são de João Cabral de Melo Neto, um Pernambucano que percebeu e sentiu emoções diferentes na cidade de Sevilha, nos idos de 1987 a 1989 , e no dito popular se diz : “Quién no vió a Sevilha no vió maravilha...”

Roberto Solano