terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A maçã

A maçã

Sempre fui encantado pela maçã. No meu tempo de garoto era uma fruta nobre, junto com o morango e o pêssego. A uva vinha em segundo plano, e a maçã enfeitava os contos de fada e outros cenários infantis. Ela é bonita, temos que concordar! O sabor pode ser discutido, entretanto se serve para as saladas e as mais belas sangrias! O Alemão gosta de fazer o purê de maçã, é muito bom mesmo.
No sentido mais visual ela tem cor e formas agradáveis, durinha, contaminou Adão e Eva, inaugurando a sacanagem no mundo! Sim, devemos a ela as nossas alegrias sexuais, grande contribuição! Duas juntas já lembram uma bunda, isso é que é uma fruta versátil e salvadora! Vou explicar depois.
Esse negócio de levar maçã prá todo lugar é engraçado mesmo, ela sobrevive a todas as sacanagens (só penso nisso...) que fazem com a coitada. As mulheres mais esbeltas adoram carregá-la na bolsa, sempre embrulhada em papel de alumínio (prateada fica mais chique!), aparece no meio de batons, lenços e celulares, sempre pronta e saborosa para a mordida sensual das fêmeas de regime. Mulher ADORA comer maça! Pelo ato que representa: Isto é saúde, dieta, beleza e apelo erótico! É sempre lindo ver uma mulher comendo aquele bolinho vermelho e suculento, elas mordem com alegria e olham para o lado, procurando um expectador, sempre há um marmanjo meio-tarado (feito eu) que adora ver o ato de amor profundo de uma linda mulher mordendo o fruto proibido! E elas gostam de se mostrar, é uma loucura! Olham prá você (observador) e fazem aquela cara de “não estou nem aí” e te ignoram! Nunca tente falar com uma mulher “ em train de manger une pomme !” Jamais mon Cher ! Elas podem ter um acesso de raiva, perigo... Só olhe e curta o espetáculo...

Foi nesse clima de dieta que estava em Búzios, com a digníssima esposa e mais duas amigas solteiras, ou melhor, encalhadas mesmo! A amiga mais esfomeada e magra já tinha saboreado sua maça na beira da piscina e estávamos em ritmo de caipirinha, uma delícia de tarde ensolarada, um vento quente moldava os cabelos da fêmea carente que se dispunha a mostrar seus atributos em minúsculo biquíni, de rabo prá cima, e eu lá... Já na terceira dose, meio zonzo e observando as lindas coxas bronzeadas que me circulavam, com todo respeito é claro! Elas estavam estiradas na beira da piscina e o papo corria frouxo e descontraído, até a faminta da Ana-magra Maria ter a infeliz idéia de achar um biscoito no fundo da bolsa e virando-se para mim ofertou: “Roberto, você vai comer o trio?” Amigos, eu gelei! Que loucura, comer a minha mulher e mais duas amigas Hein??? Não vou dar conta! É melhor cortar o mal pela raiz! Sem Viagra e meio bêbado não como nem meia-patroa diga lá um TRIO! Reagi e, de pronto, agradeci o convite “Ana, minha querida, hoje não vai dar...” Ela ficou aborrecida e insistiu “ uma mordidinha? “ Olhei para aquela carne magra abastecida de folhas e frutas e decidi “ Não, obrigado, não tenho COMPETÊNCIA! “ A minha mulher já estava gargalhando junto com a outra amiga ( menos oferecida! ) e tinha percebido a piada! Ana só veio rir um tempo depois, quando descobriu que TRIO pode ser biscoito e um conjunto de três! Pois é... Regime, regime...
Meu amigo Eduardo, um argentino de primeira qualidade veio morar no Brasil (escolha bem feita) e era um portenho saudoso... Em Arraial do Cabo fazíamos pescarias e caçadas (o homem gostava de cabrito), crepes loucos com “douce de leite” e muita cachaça mesmo. Ele tomava todas, misturava cachaça com sorvete! E, naturalmente, ficava bêbado e enjoado... O estômago do rapaz era argentino e não foi programado para comer carne de porco com batida de limão e alfajor! Sempre chamava o “Joel” e ficava mais triste que o Maradona no velório do Kirchner sem poder beber e sem cheirar... Uma coisa sempre me intrigava: o cidadão do sul comia uma maçã antes de dormir. Eu não entendia nada, mas como a maçã e benção de Mãe não fazem mal a ninguém...

Um belo dia o nosso Gardel desabou e ficou mal... Lá deitado, em casa, fui visitá-lo, e levei umas maçãs para o coitado se recuperar. Abri a sacola e coloquei as lindas frutas na sua mesa de cabeceira, o gringo gritou “tirar a la basura las manzanas maldita !!!!“ Meu amigo não entendeu nada ! O projeto de bailarino de tango estava abatido e bravo, com as maçãs que tanto adorava que está acontecendo? Eduardo, caralho! O que deu em você meu “Hermano” não gosta de maçã? Ele retrucou, a culpa é dela! Como Hein??? A maçã Hein??? Ele explicou que sempre que se excedia na bebida comia uma maçã para, se passar mal, ter uma explicação lógica e química para o fenômeno! ENTENDI !!!! Esse meu amigo é um gênio! Adoto e recomendo a todos, comam uma maçã no final da noite... No dia seguinte você terá a certeza que a fruta será a eterna culpada, livrando as bebidas da sua punição! Viva a Argentina e as Malvinas! Estou salvo, graças à maçã e ao mais inteligente amigo importado da Argentina, imagina se fosse do Paraguai... !

Roberto Solano

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Pensando com as mãos

Pensando com as mãos

Hoje entendo que podemos pensar com as partes do corpo, mãos, pés, etc... Os pés são facilmente entendidos pelos jogadores de futebol, exemplo fácil, vamos para as mãos. Minha mãe era exímia cozinheira e pensava com as mãos no trato da carne, da galinha de cabidela, no sarapatel, bolos e doces. Via sua mão deslizar sobre texturas e até suportar o calor da mistura para aferir o “ponto”, uma maravilha de sentidos afinados no propósito maior: o sabor! Divino! Os pintores são assim, percebem o “tato” da tela, a grossura da tinta, a forma da forma na mistura louca dos tons e espessuras, veja o maior de todos: Van Gogh, o mestre da comunicação visual texturizada, sentimentos mesclados em cores e formas loucamente adestradas nas mãos, sempre mãos.
Agora vou para as tecnologias... Acabaram-se os desenhos, os cálculos manuais, as escrita suave da caneta Parker 51, o papel sendo rabiscado de ponta a ponta no projeto arquitetônico, parido no papel vegetal ou manteiga... Alguém sabe o que é um papel manteiga? Já trabalharam com o Nanquim e a maldita Gillette corretiva? É o mundo mudou na borracha eletrônica, no corte-e-cola dos computadores, tudo fácil e rápido. Pergunto: E o raciocínio lógico? E a forma dando luz na sua idéia, o desenho torto sendo visto no conteúdo lógico, as contas de “cantinho”? Eu tive a sorte de trabalhar com o grande Maestro da engenharia: Carlos Alberto Fragelli. Ele e sua prancheta, sempre de pé com seus amigos ao seu lado: Livros e mais livros, algumas revistas e o papel sendo riscado, desenhado com uma letra miúda escondendo segredos infindáveis de contas que só ele sabia decifrar, segredos da engenharia. Aprendi a desenhar na empresa PROJECTUM, a melhor de todas em sua época! Desenhar e respeitar o desenho como a extensão mais importante do teu EU: teu raciocínio! E da mensagem que ele traz para o executor, sim o construtor! Esse recebia os desenhos impecáveis dos grandes desenhistas, sob o comando do fabuloso Igrejas, obras de arte que até o Oscar Niemayer invejava, ele enviava um rabisco e a equipe da PROJECTUM enviava uma obra de arte em forma de curvas perfeitas, concordantes, fantásticas, me hipnotizavam esses desenhos. Fui estagiário e fiz muitas cubagens da Universidade da Argélia, fiquei dias tentando “ver” e compreender aquelas curvas doidas de paredes loucas do gênio maior da forma, e fazer daquilo um número de quantidade: o concreto! Sim o concreto armado me fez aprender a desenhar e sentir a engenharia pelas mãos, pelo tato e pela desconfiança: cada desenho tem seus segredos lindamente escondidos nos detalhes! Hoje o computador desenha em 3D, eu prefiro os desenhos em 3I (de Igrejas, o grande desenhista e revisor de formas), dou mais valor aos rabiscos do Fragelli, ou aos traços panorâmicos do Elfer, grande amigo e engenheiro de vários quilates. Os diagramas de momentos fletores sendo multiplicados em “ tripas “ de papel manteiga, o sentimento da estrutura na sua mão, ela ali nua e crua, percebida no seu íntimo misterioso... Saudades...
Pois é, estou velho e caminho com muita desconfiança sobre os números mágicos dos “software” que tentam simplificar o difícil, legal! Mas pensar como pensa a minha mão JAMAIS! Tô fora! Não dispenso a conta simples e a observação desconfiada e confiada no detalhe, no cantinho do papel se escondem os segredos da engenharia pura. Que Deus ilumine as mãos de nossos engenheiros em muito lápis, borracha e papel, manteiga ou não, de padaria, de jornal, qualquer um que deixa a marca do pensamento claro e límpido das mãos...
Poxa que saudades do doce de banana de minha mãe...

Roberto Solano

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Uma aventura em Mauá

Uma aventura em Mauá

Amigos, já escrevi sobre NY city, a passeio, agora trago notícias de outras terras: Mauá. Não é Visconde de Mauá, local de muito verde e cachoeiras, clima de montanha e bonito. Infelizmente foi em outra Mauá, sem o Visconde mesmo, muito menos nobre, um município industrial da grande São Paulo. Foi num sábado, verão, sol escaldante, segui viagem para visitar um fornecedor de moldes para Rotomoldagem, um sistema que transforma o plástico-pó em tudo que você quiser, lata de lixo, casa de cachorro, pinico, caixa d’água, etc..
Vamos aos fatos. Às sete da matina recebo meu companheiro de viajem, o André, rapaz fino, educado, pesquisador, vestido em um blazer bege, camisa social com calça modernamente na moda, sapato de couro combinando com o blazer, muito chique! Pensei... Acho que estou mal vestido com minha blusa branca, calça jeans sapato-tenis preto... Seguimos rumo ao Santo Dumont, dia quente, de sol a pino, e eu indo prá São Paulo, o que fazer? Tudo em nome da pesquisa!
Amigos, sabem que existem dias que tudo dá errado, né? Esse foi escolhido a dedo pelo Pai eterno, que lá de cima pensou: vou sacanear esses cariocas que trocaram uma dádiva minha (sol e praia maravilhosa) para irem á São Paulo TRABALHAR !!!! Eles vão se ver comigo! Dito e feito!
O vôo saiu no horário, tudo certo até chegar nas terras paulistanas... O sacana do piloto levou uma cutucada do Pai lá de cima e deu aquela adorável porrada com as rodas da estrovenga voadora no nosso rabo, opa! Acorda seus moleques! É hora de trabalhar! Levantei meio puto com o piloto, que devia estar ainda pensando na contração sentida no segundo exato da descida, um cutucão do lá de cima é foda... Fazer o quê?
O objetivo era visitar um galpão de uma empresa familiar que fabrica os moldes da tal da ROTOMOLDAGEM, Três irmãos.

- Primeiro irmão: Rubens

Ligo para o Rubens e digo que cheguei (ou melhor, chemacho!) no horário e ouço o cidadão dizendo que pegou trânsito e estava chegando, para irmos encontrá-lo debaixo do relógio redondo do terminal dois de Guarulhos, fomos lá prá fora. Tinha gente prá todo lado, vimos uma loura ajeitando os cabelos, com os braços para cima, que loucura de mulher, que seios, que conjunto seios-suvacos, que loucura! Olho prá cima e a porra do relógio suspenso está lá na direita, longe da loira, rumamos prá lá. Debaixo do marcador de horas não vimos nenhum carro preto, voltei os olhos para a loura que estava lá longe, merda de relógio fora de lugar! E notei, além loura, outro relógio, porra! Esse corno deve estar debaixo do outro relógio. Liguei de novo “Amigo, estou debaixo do último relógio, depois de uma loira de fechar o comércio, venha! “ O camarada chegou, achou a loira,claro, e a mim , depois que eu invadi a pista com cara de carioca perdido... Calor amigos, muito, o carro preto, sem ar, seguimos até entrar na a Ayrton Senna. Priuuuuuuu! O guarda rodoviário mandou parar... Nosso ilustre motorista cantou a pedra “minha carta está vencida”...” Pensei “ FUDEU !!!! “ Só pensei, colega, até ter certeza ! O guarda chamou meu cicerone lá prá cabine e saímos, eu e o André - elegante para procurar uma sombra, achamos uma meio-sombra de um pinheiro velho e ficamos. Dez minutos, nada... Vinte minutos, nada... O Rubens não voltava... Acho que a merda é grande ! Ficamos ali contando estórias para gastar o tempo e calculando o custo de um taxi para retornarmos ao aeroporto, quem sabe a loira não estaria por lá ? Um caminhão velho , com sacos de batata, foi convocado a parar junto do nosso possante e refrescante carro “ Black “ que ardia ao sol ! O motorista, também Black, do caminhão levou um susto e o bicho morreu o motor na pista, já perturbando o trânsito. Meu amigo André veio com uma estória de um caminhão que morreu e só ressuscitou 24 horas depois, dei uma pisada de leve na ponta do mocassin do elegante colega, dando o recado, não é hora de pensar negativo. Pensamento positivo ! O caminhão pegou ! O motorista era um negão já velho, barrigudo, sandálias havaianas, óculos troncho e sujo, pendurado em uma cordinha de rezar o terço , mancava da perna esquerda... Pensei, esse aí vai virar a noite por aqui... 30 minutos, o filho do Rubens foi pegar o celular do Pai no forninho Renault, cheguei a ouvir o “ Uiiiiiii “ do garoto segurando aquela pedra preta, que fala, nas mãos e correr para o pai que já estava cercado de 6 guardas... Pensei “ Fudeu... “e repensei, vou relaxar... André tu conta as batatas da esquerda prá direita e eu conto no outro sentido. Uma, duas, quarenta e cinco, quinhentas e trinta e duas batatas ASSANDO, fora a batata do Rubens que a essa altura já estava cozida lá dentro da cabine da PM. André gritou: Quinhentas e trinta! Porra André não sabe contar! Vamos de novo, eu vou pelo teu sentido agora... Amigos já eram 11h30min horas da manhã, eu brozeadão em Sampa, com fome, o nariz vermelho, e o Rubens levando esporro da chefa, uma mulher mais braba que um siri na lata, dona do pedaço. Chegou um reboque cheio de japas dentro, a família se fudeu... Pensei... O Piloto mais queimado que Eu, do caminhão, sacou um celular ensebado do bolso e ligou, vendo os pretinhos (ajudantes) cozinhando na cabine. A fome aumentando... Pensei: carne assada (bem passada) com batatas doiradas, olhando o caminhão ali na frente. Comentei “André esses cabras não vão sair hoje! “O negão foi prá debaixo de uma árvore e ligou para o batatal. 45 minutos... Caralho! Tô fudido e a loira já se mandou... Veio o guarda com um documento na mão, me alegrei... Entregou para os pretinhos (carne assada) e voltou prá debaixo do arbusto, aonde aguardava o piloto principal. 50 minutos e vi, para meu assombro, a minha refeição ir embora, devagar e sempre, aquela fumaça invadindo a minha vista: liberaram o negão! cadê o Rubens ??????? Humilhação... Vi o André quase chorar... Calor!
Em uma hora estava eu dirigindo ( seguraram a carteira o Rubens ) o “forninho” em direção ao fogão principal, perdão “ galpão principal “. Que lugar feio amigos, horrível, eles avisaram que não era lindo, mas era o fim do mundo, um calor infernal, mas eles faziam o que a gente precisava, negócio quase fechado!

- Segundo irmão: Robério

Muito simpático, mais gordo que o outro, mostrou suas habilidades e eu joguei a isca “Vamos comer ?” Foi à salvação ! Os gordinhos fecharam o galpão e rumamos para a melhor churrascaria da área: R$ 17,90 o rodízio com feijoada e AR CONDICIONADO! Adorei, o ar condicionado, mas a comida era horrorosa, a feijoada nem quis ver, nesse calor vou morrer. Tomei um chope e respirei, uma, duas... 15 minutos e nada de carne! O Robério reagiu e chamou o maitre. Notei que os garçons tinha as orelhas vermelhas, parecia meu nariz queimado do sol... Notei também que um cliente ao lado se levantou e trouxe uma picanha pelas orelhas! Era o sistema da casa, você pegava o garçom e trazia, com a carne, até a mesa! Pegamos as sobras da mesa ao lado e comemos. Calor! Do lado de fora, voltamos para seguir em direção ao aeroporto, finalmente.

- Terceiro irmão: Roberval

Falante! O gênio da família, segundo os outros. E esse iria nos levar de volta para o aeroporto (carta em dia), que alegria! Ufa, finalmente... A nossa sorte era total! O carro também tinha a cor preta e NADA de ar condicionado, sem gasolina. Daí descobri que não se usa ar condicionado naquelas terras, e tenho certeza que é para se apreciar o som do carro ao lado, que maravilha, cada música, encantador, cidade moderna e comunicativa. O cidadão da frente jogou uma lata de cerveja pela janela, estávamos a caminho do posto de gasolina: cheio, lotado, com fila de 50 metros, pensei... FUDEU! Não volto hoje! O Roberval fez uma manobra radical e virou o possante para retornar. Do outro lado da avenida existia o posto “cueca” ???? Não entendi... Vazio, tranqüilo... Veio a explicação: Temos dois postos, um das “calcinhas” com as meninas enfiadas dentro de shortinhos apertados, daqueles estilo “ abre alas de xoxota “ separando os bifes e adentrando nas carnes frescas! E esse aqui, das cuecas, vazio... Entendi. O programa de domingo é sair, sem gasolina, comer por R$ 17,90 e abastecer nas “calcinhas” , sem antes desfilar com o carro, som nas alturas, janelas abertas, que maravilha de cidade, ADOREI !
Pegamos o caminho de volta, eu, o coitado do André-amarrotado e os três gordinhos, todos sob o sol infernal e poluição agradável do distrito industrial, pelo rodoanel, obra fantástica do Covas. Fomos deslizando pelo asfalto derretido, me sentindo um ovo frito na frigideira, feliz, direção “my house” , até o piloto resolver me oferecer um coco, sim amigos, a fruta. Paramos na beira da estrada, o vendedor estava preto da fuligem, vendia jaca e melancia, muitas moscas, calor. Moço ! Traga coco para todos! Disse o terceiro irmão, já com a mão no bolso prá pagar. Só tenho dois doutor! Salvei-me, pensei... Nada, disso! É seu, faço questão! Tomei um gole e senti o gosto de sabão em pó... Está passado, falei, para a surpresa dos irmãos. Tome o outro! De novo provei... Que situação, todos me olhavam com olhares de reprovação, tive que recusar a outra merda... O vendedor entendeu e disse, para minha infelicidade, “tem um colega ali na frente...” Seguimos. Amigos, que situação, só tinha coco estragado, tive que tomar, além dos colegas paulistas e o coitado do André.
Chegamos ao aeroporto, que alegria! Abraços nos gordinhos e calor... O ar condicionado não funcionava direito, sem a loira. Um chope, grande idéia! Pedi! O senhor não quer um chiclete? Não saquei a idéia da vendedora! Chope com chiclete? Que novidade é essa? Não tem um amendoim, ou uma batatinha frita? Não senhor, é prá depois de tomar o chope... Entendi. Quanto é? R$ 7,90! Porra, que merda é essa! Isso tudo? Sim, senhor, chope DEVASSA! Devassou a minha conta, tomei e corri direto para o portão 21, chegando lá já tinha mudado para o 19, coisas de São Paulo, muita gente, confusão, progresso, embarquei.
De volta ao Rio, que delícia, calor mas os carros usam o AR CONDICIONADO ! O taxi colocou no máximo, a meu pedido, seguimos rumo à barra da tijuca, sorria você está na barra, eu pensei, ali deviam complementar : aqui não é Mauá! Cheguei. A patroa já estava me esperando, mão na cintura, questionou “O que você foi fazer em São Paulo com esse rapaz elegante? Vocês foram para o ROTOMOTEL ?????????? Meninos, desabei... ROTOMOLDAGEM mulher!!!!!!! E pelo olhar dela não dava para explicar não, fechei a porta e segui para o cinema com o amigo elegante-amassado-feliz, o filme não interessava, mas o ar condicionado... Que maravilha !!!!!
Conclusão : Não volto nunca mais para São Paulo aos sábados de sol, Deus castiga, Deus castiga...

Roberto Solano

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Último tango em Paris

Último tango em Paris

Hoje, 04 de fevereiro de 2011, leio o jornal e vejo a triste foto da atriz Maria Schneider, acompanhada da também dolorosa notícia de sua morte. Morreu comigo um pouco da minha alegria de viver naquela mulher horrível, de olhos abertos com um cabelo espinhoso emoldurando um rosto nada belo. A foto fala, ou grita, por si só! O que aconteceu com aquela vivaltina moça do filme? Fui à busca de mais informações no obituário: nascida em Paris, no ano de 1952, morreu de causas não informadas pela família. Sabe-se que após o sucesso do filme se envolveu com drogas e tentou suicídio...
Esse é o fato, mas e a foto? Que triste figura, que maus tratos a fizeram descer do Olímpio da beleza para esse chão de feiúra? Como a vida pode ser tão danosa á uma pessoa? Ela era uma mistura de mulher, uma composição de mocidade, beleza e simplicidade. Uma beleza que beirava o normal e trazia a descoberta da mulher, sim aflorava algo incompreensível daquela que filmou na sombra do charmoso Marlon brando. Filme impecável no recado e na cena da manteiga, na submissão feminina e na sua vingança, do amor acima de tudo explicável, música linda e roteiro perfeito. Que filme! Vejam.
A pequena Schneider desfilava seus cabelos revoltos sobre uma beleza anormal de um rosto vivo e lábios perfeitos, solta na cidade mais fêmea do mundo: Paris! Bochechuda e linda, uma mulher normal que podia estar ao lado do Marlon, do teu lado ou no elevador faxinando paredes, vendendo macarroni ou sorvete na Mouffetard. Não, ela estava ao lado do grande ator, maior, que tinha um rosto talhado em curvas retas e certas, homem de beleza infinda, másculo, simbólico, muita areia para o caminhão da novata atriz. Ela não deixou a desejar e virou símbolo sexual de uma época que cavávamos a liberdade, que iria transformar o mundo em ondas de rock e juventude. Era o recado, a moça representava a liberdade juvenil e a alegria de amar sem amarras, lindo filme, linda mulher e a foto me destruindo... Que horror! Porque a vida luta capoeira? Dá rasteira nos nossos ídolos, derruba mitos, desanima. Como vou viver sabendo que aquela que foi adorada morreu feia e triste? Como? Veio à idéia, a solução: vou curtir o Rolling Stones, escolhi: “Sympathy for the devil”... Alívio... Ouço aquela música imortal e fixo meus olhos no Keith Richards, alívio amigos, que alívio... Vejo a morte na janela me olhando e dou um dedo prá ela! Velha safada, aqui não tem jogo não, sou Keith, sou Richards, sou eterno, vá caçar outro, vá derrubar as mulheres da minha vida, mas corra da linda Catherine Deneuve, ela também gosta dos Stones, entendeu?

Roberto Solano

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O boné

O boné

Sempre se casou por interesse econômico, aqui e no mundo, agora e antes. Os ricos não querem perder seus bens e criaram a herança com o casamento para garantir. No passado, início do século 20, essa prática era mais descarada, todos aceitavam e aplaudiam os noivos escolhidos pelos pais, afora a prática do dote. Bem, vamos ao que interessa, a estória verídica de um Tio de meu pai, tio Chico, homem inteligente e avançado para sua época. Foi lançado para os braços de Maria, moça educada para casar e tocar piano, fina flor da sociedade pernambucana, filha de poderoso fazendeiro, terras, muitas.
Tio Chico não fazia o perfil “confortável” para ser o dono da linda moça virgem e suas posses, mas tinha um veio político forte na família e o interesse era comum: terras x eleições, combinação que sempre deu certo no interior e ainda funciona. Nosso herói lutou o quanto pode para continuar gozando de sua liberdade e boemia, gostava de ler, beber e de mulheres. O casamento foi marcado e a festa programada para ser memorável, nata da sociedade e convidados até do Rio de Janeiro, coisa realmente fina. Aconteceu. A missa, as promessas de fidelidade, a festa com fartura de comidas, bebidas, música, discursos, e com Zequinha presente! Sim, o Zeca era primo de Chico e veio da capital para o evento. Os dois se deram muito bem, e uma semana antes já tinham percorrido as propriedades da noiva de dia e as pernas das putas da cidade à noite, mulheres de sabedoria e beleza incomparáveis, só havia coisa melhor em Paris, disse Zeca já meio bêbado para o primo que era só sorriso. Foi uma amizade fortemente consolidada de mentiras, vantagens, mulheres e bebedeiras.
O dia foi interminável para Maria, lindamente enfeitada para as núpcias, com a Mãe (Eugênia) dando o ritmo das ordens, sim muitas ordens nos serviçais, a velha era temida pelas grossas sobrancelhas e bochechas vermelhas, gorda e feia, braba e desagradável aos homens, mulher de contatos e decisões, comandava a família e, por conseqüência, parte da sociedade pernambucana. Educou a filha para ser pura e esposa de homem de valor, não gostava de tio Chico, nem ele da monstruosa sogra, fazer o que? Casamento para aumentar a riqueza da família, trazendo votos para o pai já desgastado eleitoralmente, era a solução, pronto, não se fala mais nisso, aceitou calado, como deve ser.
Na festa a bebida foi muito sofisticada, champagne francesa, vinhos portugueses, o que só animou o primo Zeca: propôs ao nubente que dessem uma fugida da casa para ver as meninas novinhas que ele viu desembarcar no porto, vindas da Europa, carne fresca, deliciosa! É claro que meu tio não negou fogo e partiu, de fininho, para o centro, direto para a casa das putas. Maravilhosas, tinham polacas e francesas, olhos azuis, seios fartos, sorrisos dadivosos, uma verdadeira festa para o prazer, foi ficando, ficando e ficou... A noite de núpcias, na casa de “facilidades”, acordou assustado... Zeca, Zeca, cadê tu? E viu Zeca deitado nos braços da mais linda polaca ruiva. Amigo Chico, fica calmo, você terá a vida toda para se dedicar a Mariazinha e essa moça aqui tem a cor dos cabelos de baixo como os de cima! Um fogo só, fique com ela primo! Chico cedeu, e cedeu e ficou mais três dias naquele paraíso. Voltou.
Depois de saber da fuga do noivo a sogra, sabiamente, disfarçou bem e os convidados foram felizes para casa sabendo que os noivos tinham saído antes para uma semana no Rio de Janeiro, presente dela, uma surpresa para os noivos... Recolheu Mariazinha no seu quarto a chorar, que assim passou os três piores dias de sua vida: sem marido, sem notícias, uma tragédia que só podia dividir com a Mãe e as tias, pela honra da família. O negro Tiziu trouxe a notícia do paradeiro de nosso herói, o que fez Dna Maria bufar e se avermelhar até os olhos se esbugalharem de raiva. Desgraçado! Esse Chico vai se ver comigo! Deixar minha princesa sozinha, isso é pecado mortal! Se não fosse o vexame Eu ia anular o casamento! Chegou a cuspir no chão e pisar forte, na madeira de lei, mato ele! Desgraçado!
Mariazinha era um caco de gente, três dias só de chá de camomila com bolacha de cego, sem fome, sem vida, desvaída em lágrimas, até... Tum-tum, na porta da frente... Tum-tum, e Tiziu falou baixinho “é ele”, correndo prá trás da escada de madeira que subia frondosa para o primeiro andar, tinha medo, Chico tá fudido, pensou...
Meu tio entrou empinado, cara lavada, barba feita, roupa de gala, sapatos lustrados, sorriso calmo e confiante, homem casado, sério. Mariazinha minha flor, venha me dar um beijo! E o terremoto começou, os trovões sograis, a chuva torrencial na face da amada, os sussurros infernais dos ventos maldosos que saiam correndo da boca das tias doidas, o gemido fingido de Tiziu, nêgo filho da puta! Tio Chico viu o circo pegando fogo, mas ELE era o dono da casa, o homem, não podia ceder, onde ficaria o macho pernambucano, que não se submete a mulher, como seu mal educado pai. Foi inteligente, disse: “Minha flor, não chore não que eu volto, só vim buscar o meu CHAPÉU!” Bateu a porta, com o boné na cabeça e sorriu feliz! Mais uma semana sem Mariazinha! A caminho do Rio de Janeiro com o primo Zeca eles riram muito, imaginando a raiva da velha e da calça mijada do negro Tiziu, medroso e safado, vai se ver comigo quando eu voltar!
Só sabemos que Tia Maria nunca reclamou de Tio Chico, um casamento feliz, de muitos filhos e alegrias, ele sempre saindo sem dar notícias de “para onde” e de “quando voltas “. Felizes, como deve ser a honrada família pernambucana.

Roberto Solano

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Problema chifral

Problema chifral

Ricardinho era bom de bola, jogava na ponta esquerda, rápido, drible curto de leveza ímpar na corrida pela lateral, um perigo! Paulão (bujão de gás) um grande beque, daqueles que ficam “filmando” as jogadas e sempre adivinham o lance terminal, chegando antes e destruindo o adversário, fulminante. Tínhamos Patinete, Lambão, Nego Zulu, Disparada, Oião, Folha seca (Didi),Bolão, Traveco e Biu-biu. Turma de peladas memoráveis e que, com raras exceções, derrubavam vários chopps no fim do jogo.Toda quarta-feira, também conhecida como quarta - sem - lei, lá no boteco da dona Fifi, senhora prendada na cozinha, que aos sábados fazia uma rabada de primeira!
Tudo andava normal até um dia Traveco chegar triste, jogou mal, meio perdido no meio do campo, lançamentos errados (coisa rara!) o time afundou-se sem seu cérebro vital. A reclamação foi dura, pegamos pesado no Traveco, Didi se exasperou e chamou a criatura de VIADO! Meus amigos, o tempo fechou! Traveco até admitia ter sido pego, meio bebum, na avenida Atlântica assoviando para uma morena que valia o chamado, boa, carnuda, bunda de judoca (redonda e dura) e de coxas longas que pareciam os lançamentos precisos que ele fazia para Ricardinho receber na linha de fundo, meio gol! Agora viado ele não era mesmo, ao contrário, um galinha, não deixava mulher triste, cabra macho, bom de cama e meio sem gosto: dizem que ele gostava de mulher velha, coisas de menino criado por Vó, sei lá...
Bem, tudo se contornou com um pedido de desculpas e uma explicação: “Estou com um problema chifral” Amigos, esses problemas são terríveis de se viver... Quer se abrir? Não, vou beber e voltar prá casa, Glorinha me espera. Ficamos calados, respeitamos esses dramas: entendemos um corno. Mas fiquei intrigado, ele era bem casado e Glorinha não ia dar prá ninguém, moça bem criada, pacata, fogo baixo e apaixonada por aquele viado ! Perdão, Traveco...
Comemos uma rabada na Fifi, estava quente, Traveco veio e tive a chance de questioná-lo “O que houve amigo? Pode se abrir” Ele pediu uma purinha (prá antes de cair de boca) e dosou a pimenta por cima da polenta, deu uma garfada e um trago, enrubesceu, chorou calado, olhos vermelhos, e disse” O caso é muito complicado, e não sei o que fazer...” Fala homem, bota prá fora amigo! É com o Paulão... Meu Deus, pensei, será que Traveco é viado mesmo? Já estava meio calibrado de cerveja e eliminei o pensamento. Fala homem de Deus! Porra, se abre! O Paulão está sendo chifrado pela Tina! Merda!
Entendi! Eles eram amigos de infância, de bafo-bafo e pião, amigos quase irmãos, mesma rua, mesmos gostos, pela bola inclusive. Saber do chifre alheio dói, embora a Cristina (Tina) não era mulher de se pôr a mão no fogo não. Loira para quinhentos talheres, boa, gostosa, perua toda, peitões duros-melões, bunda empinada, e a mais linda cordilheira dos Andes que já vi ! Quase um caminho de ouro derramado. Explico: a cordilheira do Andes é aquele pelinho que sai do umbigo e termina no Peru, sacou a comparação? Ela tinha a barriga mais linda que já vimos (o time inteiro) com aquele caminho de ouro, loiros, doirados caminhando para a xoxota mais linda que já sonhei (nunca vi...). Voltemos. O tema é delicado, porém previsível: Paulão não podia segurar uma mulher daquela, impossível, ela tinha um fogo que qualquer mortal se queima só em olhar! Cara de puta em corpo de Deusa! Meu Deus, tadinho do Paulão...
Ponderei: Amigo, o Paulão sabia do risco, casou apaixonado, era muita areia pro caminhão dele. Certo, disse Traveco, MAS é pior, muito pior... Caramba, gelei, vi no rosto do amigo que vinha uma onda maior naquele terror amoroso. Fala seu viado-filha da puta! Pronto, mexi com a fera! Ele calmo se abriu: Vi Tininha com o Ricardinho saindo do motel! Deus meu! Que loucura é essa! Tem certeza? Tenho! Estava de moto e segui à distância, até ela saltar na quadra do shopping, com aquele rabo indefectível! O carro era do Paulão, merda, merda grossa, dois chifres amigo! O Ricardinho é um irmão pro Paulão, você sabe, desde sempre, não sei o que fazer, muito menos falar... Desabou em choro não contido, assoando o nariz apimentado no papel vagabundo do guardanapo da Fifi. Que situação...
Fizemos um pacto de silêncio, não falaremos nunca mais nesse assunto! Tina é gostosa e séria! Paulão o melhor amigo-zagueiro do clube, e Ricardinho, um ex-ponta esquerda. Digo"ex" pois, sem razão aparente, num domingo de treino, o Paulão deu uma cipoada no Ricardinho : levantou aquelas pernas finas após uma entrada rumo ao gol, do nosso craque, foi feio, sacanagem ! Covardia ! Todos reclamaram do Paulão ! Pô velho quebrou o craque do time? Precisava disso ! Filho da puta ! Enquanto se empurrava o zagueirão prá fora do campo. Vimos a maca sair com aquele magrelo chorando... Quisera (a turma toda) dar uma surra no Paulão, menos eu e Traveco... A justiça Divina tarda, mas não falha! E dona Fifi ENRABADA é uma beleza! Sobre isso podemos afirmar e confirmar !

Roberto Solano