O desespero do amante
É quase noite
Ou madrugada
É quase tudo
Ou quase nada
É quase um beijo
Ou lágrima rolada
É quase amor
Ou nada
Na vida o mais importante é o desejo, é o oxigênio das realizações. a imagem de colher a flor sempre me marcou. A flor é, e deve ser, sempre intocável, linda e viva. Sempre amei as Camélias, elas me ensinaram que a sensibilidade é algo para ser sentido e perseguido a todo momento. Não colha a flor, alimente-a, regue, reze por ela, deseje-a, faça disso uma regra, e se possível use-a para os homens!
O desespero do amante
É quase noite
Ou madrugada
É quase tudo
Ou quase nada
É quase um beijo
Ou lágrima rolada
É quase amor
Ou nada
Meu querido amigo
Não estás mais aqui
Seguistes no caminho
Deixando conselhos
Abraços
Não estás mais aqui
Sua assinatura ficou
Na mulher e filhos
Rubrica nos amigos
Sabias trabalhar com inteligência
Sabias conquistar com sorriso
Poucas palavras, muito sentido
Muito sentido ficamos
Agora resta o calor da lembrança
Do teu dito o bom
Do teu não dito a certeza
Do sábio silêncio
Conhecendo meu limite
Meu limite é um sujeito difícil
Não está disponível quando quero
Arredio, foge de mim
Agressivo quando o encontro
Preciso lutar muito para vê-lo
Ele não gosta de mim e foge rápido
Se acha um ser superior e intransponível
É, realmente, O Limite
Já tentei lhe iludir
Já tentei superá-lo
Ele avança e foge
Insuperável
Já sofri com ele
Agora procuro distância
Me apaixonei por dona Prudência
O Limite não gosta dela
Paciência...
No espaço do tempo encontrei espaço
No tempo sem espaço um amigo
No amigo sem tempo meu espaço
No tempo sem amigo
Minha tristeza
Ao amigo que virou pó
"No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que retornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó retornarás."
Somos, assim, todos iguais. Não sabemos a razão, nem se há razão. Vivemos o presente sem saber o futuro na trilha que, por ser o caminho, tem pedras e pó. O inexplicável da alma não está aqui, não tem que entender: só respirando a fé seremos algo mais e, quem sabe, nesse universo misterioso lá te encontre onde o abraço mais duradouro se dará.
Afogado no mar de erros
Navegando no barco da soberba eu naufraguei
Era tão confiante que não acreditei
Lá estava nadando no mar de erros
Vi meus pecados como ondas
Minha arrogância e egoísmo juntos
Estava me afogando...
Consegui chegar na ilha do perdão
Lá respirei fundo e ouvi uma voz
"Seja humilde e pense no outro"
Assim voltei à vida
O erro do amante
O erro do amante é amar demais
O amor tem o poder da destruição
Ele, quando desmedido, mata
Atestado de óbito: Amor demais
O erro do amante foi amar demais
Sem limites, na beira da loucura
Padeceu de infarto amoroso
E morreu no leito do esquecimento
Onde está o meu poema?
Saí com ele na cabeça
Entrei no bar com ele nas mãos
O guardanapo foi seu leito
Poema leve e lindo
Como o olhar da morena
Bebi as emoções
Chorei algumas paixões
Voltei
Em casa adormeci com ele
Acordei sem ele...
Cadê o meu poema?
A morena levou?
Ofereço recompensa pra quem achar
Se possível a morena
E o poema
Estou com pressa de viver com a intensidade que só na maturidade se pode perceber. Os dias poucos que virão serão como o verão, no inverno do meu coração.
Vou tatuar você no coração
De peito aberto para um anjo
Ele virá, acompanhado, do cupido
Meu pobre coração será arranhado
Uma rosa flor desenhada
Seu nome adornando ela
Sobrenome: Amor
Assim terei você para sempre
Até que um dia a tinta da emoção se desfaça
Ou até que Deus carregue meu coração
Só pra benzer o que falta: a eternidade
Não posso viver a vida do outro
Posso imaginar a sua
Não posso ser você
Imagina ser teu?
Agora há algo misterioso
Talvez maior que tudo
Que faz meu eu ser teu
E você ser eu
O amor
Meu lado A não entende o lado B
Estão juntos no mesmo disco
O cantor sou eu, na última faixa viro
As músicas do lado A são alegres
O lado B já sofre
Samba de um lado
Bolero e tango do outro
E lá vou eu a procura da vitrola
Será que alguém vai ouvir o disco todo?
Serei entendido ou esquecido na prateleira?
No final, quem sabe, virar um jarro de planta
A nulidade do tempo
O tempo presente não existe
O que é deixa de ser instantâneamente
Ele existe e inexiste ao mesmo tempo
O tempo presente se afasta do passado
E é engolido pelo futuro, imediatamente
Esse é o mistério da vida
O tempo, na verdade, não existe
Instrumento de medida
Preso nos ponteiros do relógio
Um nada que é tudo
Como nós
Sonho de igualdade
Quando jovem sonhei acordado
As pessoas fraternas e iguais
De mãos dadas, sonhando juntas
Dividindo o pão
Do meu lado as ideias socialistas
Jesus Cristo em infinita bondade
A plena liberdade
Até que ele me apareceu
Dentro de mim uma voz dizia
"Não somos iguais"
Eu não entendia
Anos mais tarde percebi
O homem tem ambição
E aquela voz era dele
Cujo apelido é Cão
Árvore magrela, magrela criatura
Tão magra que o vento ignora
Tão ereta que assusta
Tão viva que parece morta
Tão singela que o Sol nem nota
Zélia Flor
Nasceu em jardim plantado de amor
Floresceu muito jovem
Amou também jovem
Criou família grande
Como mulher maior
Nunca deixou de acreditar
No futuro, no melhor, em Deus
Flor entre Flores
A mais linda que há
Manter o equilíbrio no momento de angústia
Manter a calma enquanto outros gritam
Ser gente quando o mundo é animal
Ver sua metade se transformar no todo
Ter candura nos olhos quando está sofrendo
Não esmorecer, e se morrer, que seja de pé
Pedistes
Pedistes tempo, dei-te espaço
Pediste espaço, dei um tempo
Pedistes amor, dei-me por inteiro
Pedistes mais, a lua roubei
Pedistes minh'alma, a Deus solicitei
Pecastes
Pedistes perdão, ofereci solidão
Sem pena, sem dor, só um aceno cabia na minha mão
Abdução
Não foi paixão, foi abdução
No seu olhar adentrei
Viajando no azul flutuei
É claro que me apaixonei
Não foi paixão, foi abdução
Hipnotizado fui conduzido
Lembro vagamente de tuas mãos
O resto foi mergulho na paixão
Não foi paixão, foi abdução
No planeta amor cheguei
Como criança no parque brinquei
Você se foi e sem coração
Fruto do amor que vem da árvore vida
Maior benção que há
Melhor presente
Teu pedaço de doação eterna
Fruto do amor que cresce sempre
Teu futuro nas mãos
Tuas mãos no futuro
Poema inexato
O poema inexato já nasce torto
Sem rima e versos trocados
Tropeça no berço, em palavras tortas
Tenta ser o que nunca será
Mas cheio de amor pra dar
Sem compromisso, se lança no papel branco
Sem ser Drumond vai misturando tudo:
Neruda, Salvador Dali, Kafka, rumo à Pasárgada...
Cai na sarjeta da literatura
E, completamente bêbado, morre na mesa do bar
A cama vazia
A mão procura às cegas
No meio da noite
O cobertor sobra
O frio é voraz
A cama está vazia
O pior despertador te acorda
O barulho imenso e calado da solidão assusta
Você busca o impossível contato
Nada
A cama está vazia
Nesse desconsolo o pensamento viaja
As lembranças invadem teu leito
O outrora abraço agora é choro
As lágrimas sequer molham o travesseiro
Secam com saudades quentes
A cama está vazia para sempre
Roberto Solano
Dedicado aos que perderam seus parceiros de vida.
O sono dos tristes
O sono dos tristes é molhado
Sem compromisso com a paz
Sono que teima em não ser bom
Traz o vazio da madrugada no acordar solitário
Sono sem sonhos, sono capenga
A vista fica turva de lágrimas, se atrapalha
O travesseiro vira pedra pesada
O triste não dorme, o triste tenta esquecer
Sem uma promessa de alegria
Dorme só pra só não adormecer
Uma pálida princesa
A pálida princesa se apaixonou
Como toda princesa o amor era platônico
De sua janela do castelo viu o jardineiro
O jardineiro já a amava beijando flores
Ela sorriu como princesa pura
Ele a viu como princesa deusa
Esse amor durou enquanto haviam flores
A pálida princesa amou tanto que desfaleceu
O jardineiro, dizem, no jardim morreu
Encontrei a paz
Encontrei a paz atravessando a rua
Ela anda rápido, sempre atrasada
Ela me olhou por um segundo
Que paz...
No dia seguinte fui buscá-la
Lá no alto da colina estava
No pôr do sol mais lindo
Sorriu pra mim
A paz quer paz
Não a vi mais
Fui lavar o corpo e me lembrei da alma
A sujeira do corpo sai com sabão
A da alma só com perdão
Fui lavar o corpo e sujei a alma
Nosso banho impuro aconteceu
Em mim o amor carnal se deu
Fui lavar a alma e o corpo desfaleceu
Pagando promessa pro Santo
Sem sentir o corpo que Deus me deu
Fui lavar o corpo e a alma
Isso aconteceu no banho de mar
Que Netuno me deu
Não me conformo com os homens
Não aceito os caminhos traçados
Não quero viver assim comandado
Não sou pau mandado
Não te olho, te condeno
Não nasci nesse mundo
Não sei dizer o sim
Não vou viver assim
Não é não
Não e não
Não
A encantadora de pássaros existe
Linda e loira como o Sol
Se tens asas vais se apaixonar
Ela vai te atrair por amor
Te encantar como a mim
Com minhas asas da imaginação
Por ela me apaixonei
Aquela noite veio me inquietar
Só e sozinho sem sonhar
Ela apareceu na janela
Linda a me chamar
Na escuridão da noite segui a Luz
Ela toda de branco me seduz
Fui beber com ela o sereno
Embriagado fiquei pequeno
Acordei com o Sol no rosto
Na boca a ressaca, o desgosto
No coração a pura emoção
Amar a lua não é fácil não
Foto de Joel Trentin