quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Essa metamorfose ambulante

Essa metamorfose ambulante


Penso na idade e na velhice. Pasmo quando observo a minha capacidade de aceitar o novo, a mudança, o incerto. Tento me olhar no espelho e me ver igual ao mesmo de ontem e, em uma linha contínua, sigo até a juventude, procurando o mesmo olhar a mesma pele e não acho nada... De novo vou em busca da explicação lógica, cronológica, e me convenço: Estou passado...

Vejo o jovem se vendo igual todos os dias, sem se importar com isso, mas querendo mudar a cada dia, um novo corte, um piercing, uma cor, quem sabe? E tudo vai mudando por desejo, e Eu não quero mudar. Concluo, se você não quer mudar é prova de uma crônica velhice! O Grande Raul Seixas dizia “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, é isso! Achei !!! A velha opinião formada, a certeza do certo, o gosto do mesmo gosto, a poltrona o carro e a boa e velha conta bancária, um velho se formando. E o jovem que já é velho, sabia? Tem vários, muitos, uns puxando os outros para a vida formal e certa, são bem velhinhos e chatos! Não vou querer indicar esse caminho, o mundo capitalista quer e implora pela mão de obra forte e juvenil, barata e farta.

Agora estou pensando nas pessoas que plantaram e não colheram, pois só plantar bastava, a mesma forma de pensar, guardar, acumular, enricar. O viver cadê? Mudar um projeto de vida é o ato mais admirável e jovial do ser humano, dar forma a um desejo e desejar mudar de desejo, amar o novo. Ser jovem é querer mudar! Difícil quando jovem, mais difícil maduro. Duro. Trabalho de escultor.

Então desvio de novo para as pessoas que já realizaram desejos, são felizes? O desejo voa e é uma mera meta, virtual, como deve ser, atingível na mente, não no corpo, não na fase concreta. E ser feliz? Complica mesmo... Ser jovem é mudar todo o tempo e ser feliz é desejar todo o tempo? Uma matemática sem muita lógica, doida mesmo.

Volto ao ponto, mudo ou não mudo? Tenho forças? Sou uma formiga nesse mundo de areia, faço meu abrigo e sofro, me cobro demais... A cigarra já cantou, está rouca e dentro já brota um besouro de casca dura.