A loucura, pilotando doidice, bateu no muro
A sanidade mental, feita de tijolos, nem se mexeu
Locura saltou de sua baratinha doidice gritando
"Vocês são loucos! Construir um muro no mar?"
E, como louca, tirou a roupa, dançou
Os psiquiatras, de cima do muro, riam e diziam
O sertão vai virar mar e o mar virar sertão
Até lá os loucos vão curar os sãos
E os sãos são os que não existem não
A paixão não tem fórmula, forma ou feição: paixão é a magia do incerto que atalha e pousa no teu coração, sem explicação.
Gritar para mudar o mundo
Todos de sua janela
Olhando o céu
Uníssono
Paz
Nada vai acontecer
Tua voz vai morrer
No vento da tarde
Desaparecer
Então descobri que a única paz capaz
É a do espírito
Meu rapaz
"Na esperança talvez de que o acaso, por mero descaso, me leve à você"
Cantarolando o samba canção de Caetano fui às ruas
Envolvido em esperanças, vestindo azul
Pisando macio como um gato
Caçando tua sombra
Sofrendo
" Que mistério tem Clarice, que mistério tem Clarice, pra guardar-se assim tão firme no coração?"
Segui, caetanamente, embebido em música
"Caminhando contra ao vento, sem lenço, sem documento"
E nada de te ver...
Voltei pra casa
"A cigarra do apartamento, o chão de cimento, existem em vão"
Chorei
"Já não serve pra nada a janela, cortina amarela: perdi meu amor"
Quando a dor dilacera
Quando a dor adentra o coração
Sem resistir a razão
Invade a mente como um furacão
Arranca vontades, destrói verdades
A dor cresce com a respiração
E na apneia da alma desfalece
A dor maior que a dor
A dor doída e sofrida
Se ajoelha diante
Da dor da perda
Sol dos tristes
O Sol dos tristes não nasce, germina no horizonte
Não queima, só doe
Na cortina da casa não entra
Passarinhos não cantam
Não seca, molha
O Sol dos tristes existe para lembrar tristezas
Saudades também acordam com ele
Clareamento, as dores ele maltrata
O Sol dos tristes é pior que um dia sem Sol
Ele vem para te lembrar
Para secar alegrias
Para, simplesmente, magoar
Diz o samba que samba não se aprende no colégio
E existe a escola de samba
O mistério maior é que o samba nasce no pé
Sobe pelas pernas e explode coração na maior felicidade
No pé, no sapatinho, na cabrocha
Quem não gosta de samba bom sujeito não é
Não sou ruim da cabeça nem doente do pé
Vamos sambar?
Efeito colateral
O pior efeito colateral é não olhar pro lado
Não ver o outro, não aceitar o adverso
Na bula da vida esse defeito é terrível
Melhor suspender a medicação
Melhor não tomar nada
Ou melhor, tomar vergonha na cara
Viajando pro meu interior
Viajando pro meu interior na estrada de barro
Quando eu choro é pura lama
Difícil viagem com destino incerto
Um medo enorme de nada encontrar
Sigo em passos largos
Paro por vezes pra olhar
O nada na frente
O tudo pra trás
Será uma estrada sem fim?
Ou o Fim no fim da estrada?
Amor atrapalhado
Meu amor é atrapalhado
Meu abraço esparramado
Meu beijo desajeitado
Começou encabulado
Ficou encantado
Com o beijo dado
Agora está desconfiado
De tudo que foi falado
E, do destino traçado
Esse amor é atrapalhado
