domingo, 31 de dezembro de 2023

Tráfego de ideias

 Tráfego de ideias 


Na cabeça o tráfego de ideias aumenta 

Umas ultrapassam outras

Algumas ficam paradas pensando

Outras correm malucas sem destino

Ideia de matar colide com a de morrer

Acidente de trânsito! Engarrafamento!

A confusão aumenta e o sono não chega

Uma ideia triste chora ao lado do morto

A ideia de vingança aparece falando alto

A ideia de desistir da ideia aparece

E

Organiza as ideias

O sono aparece

sábado, 30 de dezembro de 2023

Dar tempo ao tempo

 Dar tempo ao tempo é alimentar a eternidade

E o ano acabou

 E o ano acabou, como um picolé, derreteu

Foi bom e doce, frio e rápido

Não foi completo mas suficiente

Não deu todo o prazer mas aliviou

Agora é esperar o que virá

Agradecer o sorvete e sonhar com um sundae

E, se Deus ajudar, uma pizza calabresa



No tráfego do meu coração

 No tráfego do meu coração


No tráfego do meu coração eu parei no sinal

Lá tu estavas me olhando e congestionando minhas ideias

O sinal abriu, seu carro acelerou e sumiu 

Ainda fui, como um louco, atrás de ti

Recebi multas, avancei sinais, como um louco

E descobri que, no tráfego do meu coração, não cabe mais ilusão

O telefonema

 O telefonema


O telefone era feio, preto, imóvel

Acorrentado à parede, escravo da família

Tinha personalidade, por vezes não funcionava

Não havia nudes, e sim mudes 


No amor era o elo mais forte

"Liga pra mim", o pedido

" Te ligo amanhã", a promessa

O toque rude: " trimmmm, trimmmm"

O coração disparado 


O amor não sobrevive sem a ligação

Época de poucos beijos e muitas palavras


Esperar o telefonema era castigo

Ser rápido no atender

Ter a voz mais doce

Não chorar


Hoje não há espera, não há emoção

O telefone simplesmente morreu

E a jura de amor eterno padeceu

O celular nasceu


Roberto Solano Novaes



quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

O vácuo maior

 O vazio do desencontro tem um vácuo maior

O ar irrespirável da espera

A angústia que transborda do relógio

O amor que não chega...


O buraco no coração doe tanto

A decepção corta como navalha 

O que sobra é a poeira fina do desamor

No tráfego do meu coração

 No tráfego do meu coração eu parei no sinal

Lá tu estavas me olhando e congestionando minhas ideias

O sinal abriu, seu carro acelerou e sumiu 

Ainda fui, como um louco, atrás de ti

Recebi multas, avancei sinais, como um louco

E descobri que, no tráfego do meu coração, não cabe mais ilusão

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Mais Lennon, menos Richard

 Quero dizer menos "Eu"

Mais "nós"

Quero pensar mais no todo

Menos em mim

Quero sonhar mais com abraços

Menos comigo

Unir para dividir

Dividir pra unir

Sei que é inútil

Ser mais John Lennon 

Menos Keith Richards


segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Feliz como criança

 Feliz como criança


Fui procurar meu presente de natal

Papai Noel deixou uma cartinha

"Seja mais humano, olhe pro lado, ajude o outro"

Percebi que foi o melhor presente

E fiquei feliz como uma criança

sábado, 23 de dezembro de 2023

Meu primeiro carnaval

 A mente fervia, uma confusão de línguas

O beijo mal dado, sem experiência

Um seio desajeitado esbarrando no peito

A mão percorrendo caminhos, cega

A procura de cavernas

Abraços de pernas

Junção carnal

Meu primeiro carnaval



sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Botei


 Botei


Botei fogo na fornalha

Botei pra quebrar

"Butei" fantasia no Recife

Botei cachaça no limão


Botei moral na confusão

Botei sonho na ilusão

Botei poesia no não

Botei filho no mundo


Botei tanto que desbotei

O verão chegou

 O Sol adentrou a minha janela

Sem pedir licença, estupidamente

Dizendo:" chegou o verão"

O Sol sabe ser violento...


Abri cortinas e janelas

Desfraldei portas

Ele entrou e sentou no sofá

Esparramado ficou


O calor veio de mãos dadas

Um vento quente acompanhou

O verão chegou 

Então tudo começou



quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

A expectativa

 Há uma ponte entre o sonho e a realidade

Essa ponte se chama expectativa 

Ela balança com os ventos do humor

Ela cai nos terremotos da desesperança


A ponte da expectativa é frágil

Na terra dos sonhos tudo é fácil

Já  na realidade o solo é perigoso


Cuidado, como engenheiro da sua ponte

Construa com o cimento da verdade

Use o aço da desconfiança

E

Boa obra!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

A solidão maior

 A solidão na multidão

Se afogar no raso

Ouvir um leão na praça

Temer a própria sombra

O insólito do medo

É maior que o medo

E a solidão maior se faz

Naquilo que és incapaz

domingo, 17 de dezembro de 2023

Houve um tempo

 Houve um tempo de passarinhos cantando juntos

As borboletas tinham costume de voar juntas

Os ventos brincavam, entre folhas, de esconder

As chuvas só molhavam o necessário

O Sol era um companheiro inseparável


Hoje a fumaça espanta

O calor mata e avança 

Morrem o homem e a planta

Não há borboleta, passarinhos e esperança



quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

A tábua de salvação

 A tábua de salvação


A mente estava revolta

As ideias vagavam loucas

Parafusos soltos

Confusão


Você jogou a tábua de salvação

Aguarrado nela flutuei

Como um náufrago

Só respirando, sem pensar


O mar e o vento se acalmaram

A vista, salgada, viu a ilha

Lá cheguei sem forças

Desmaiei


Quando acordei havia água doce

Também frutas e abrigo

Paz por consequência

Felicidade por vocação


Essa ilha é você, amor do meu coração



terça-feira, 12 de dezembro de 2023

O poema fujão

 O poema fujão


Ele estava na minha cabeça

Nas minhas mãos nasceu

Lindo, leve e solto

Tão livre que fugiu

Saiu pela janela

Subiu na asa do passarinho

E partiu todo feliz

Agora, sem ele, não sei

Se sou poeta ou caçador

De poema fujão



A pausa

 A pausa


A pausa consegue ser nada e ser tudo

O respiro profundo

Uma prece

Um banco na praça


O pensar antes de ligar

O desligar pra depois pensar

A pausa depois do prazer

Um suspiro no ar 


Como viver sem a pausa?

Limpando o suor na testa

E por vezes se dar o direito de chorar


Já parou hoje?

Ouviu um passarinho?

Não?

Então leia tudo novamente

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

A roupa da eternidade

 A noite caminha com passos curtos e molhados

A madrugada é mais sombria e triste, não anda

A alvorada é escandalosa e grita como louca

Outro dia nasceu! Outro dia nasceu!

Até o louco do Sol procurar a lua, apaixonado

E o tempo costurar, novamente, a roupa da eternidade




sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

A travessia do poeta

 A travessia do poeta é a mais difícil

Ele vê torto e pisa nas nuvens

Não tem hora pra chegar

Tanto vai como volta sem saber o destino


O poeta não sabe pisar: flutua

Não tem rumo: deixa se levar

Se olhar o horizonte espera o pôr do sol

Se for se guiar pelas estrelas, se apaixona


O poeta é um perdido por natureza

Nesse descaminho tem a felicidade de se perder

Em se perdendo se acha um vagabundo

E assim vive perdido e feliz

Preço pro perdão

 Peço preço pro perdão

Perdi, pedi, pequei

Prometo, pecado pequeno

Porém pouco posso


Amar

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Olhei para o céu

Olhei pro céu e vi o peixe Lua

Olhei pro mar e vi uma estrela do mar

Te vi como uma fada a flutuar...


Não sei se o mar, o céu e a lua 

Ou,

 quem sabe, 

   uma estrela


Vão tanto te amar


Roberto Solano Novaes

sábado, 2 de dezembro de 2023

Coragem bula

 Coragem bula


Para que serve:

Para enfrentar a vida 


Como funciona:

O efeito não é imediato, tem que ter paciência ( ver bula anexa ), pode levar meses ou anos para funcionar 


Contraindicação:

Quem sofre de pânico 


Como usar:

3 vezes ao dia: ao acordar, no almoço e ao se deitar


O que fazer quando esquecer:

Tomar Memoriol e seguir o tratamento 


Precauções:

Coragem demais pode trazer péssimas consequências: brigas, arrependimentos e inimigos 


Reações adversas:

Falar demais, se achar poderoso, não olhar para o outro, não medir consequências 


Composição:

Álcool, anfetaminas e conselhos


Superdose:

No caso de superdose procurar ficar em casa e esperar passar o efeito 


Interação medicamentosa:

Não tomar com álcool pois sua coragem vai multiplicar e não podemos responder pelas graves consequências


Roberto Solano Novaes

Amor bula

 Amor bula




Para que serve:



Para ser feliz e unir os seres humanos 



Como funciona:


O amor faz efeito imediatamente após a administração, a pessoa se sente leve, fica tonta e vê tudo azul.


Contraindicação:


Não tem



Como usar:


Em forma de colírio para ver a pessoa amada; em comprimidos para beijar muito; em creme dermatológico para abraçar e " outras coisitas mais "



O que fazer quando esquecer:


Tomar simancol ( ver bula ) e repetir a dose de amor em dobro 



Precauções:


Amor demais dá o estado de bobeira: fica leso, raciocínio lento, distração continua, em casos mais grave pode virar um poeta




Reações adversas:


Ver tudo azul é normal, ficar distraído e raciocínio lento também, passa em algumas semanas, taquicardia .Cantarolar o tempo todo, perdoar demais, sacudir beijos, só pensar na pessoa amada, trabalhar menos e sonhar mais. É raro mais amor demais pode matar.



Composição:


Atenção, olhares carinhosos, beijos doces, uma pitada de ciúmes, carinhos mil.


Superdose:


No caso de superdose procurar ajuda com amigos e suspender a dose. Beber no bar e chorar vai resolver.



Interação medicamentosa:


Não tomar com os seguintes remédios: falsidade, vingança e más intenções.