sábado, 31 de outubro de 2015

Comprar ou investir



Comprar ou investir?

 Sempre pensei que investir era coisa de gente com dinheiro e posses, já comprar coisa de pobre... Ledo engano! Com a crise brasileira vejo um povo em plena decadência, lojas fechando, desemprego e inflação, tudo que faz você repensar sua poupança e sobrevida, bem como o “ato de comprar”. Comprar? Não meus amigos, não, não compramos, investimos para a sobrevivência! Comprar remete ao prazer, é um ato saboroso, pouco pensado (de preferência), quase uma terapia! Você sai do trabalho e vê aquele vinho que tanto gosta e compra; sua mulher passa na vitrine e “se encanta” com um sapato (não sei o que é esse encantamento que faz com que a criatura nunca fique feliz com uma unidade e, invariavelmente, o desencantamento acontece em menos de 24 horas... Daí vai à loja trocar e se encanta novamente), uma blusa e uma saia; mas, é o prazer que move o ato. Já investir é coisa a se pensar e repensar terá retorno? Em quanto tempo? O prazer virá depois com o resultado positivo, ou a tristeza de ter colocado o dinheiro no lugar errado. Hoje, caro amigo, tudo mudou... Não se compra mais, se investe! O vinho não entra na sacola sem um comparativo de preços e um remorso na cabeça, não devia ter comprado... Tua mulher tenta não comprar, fica irritada, “segura a onda” e acaba trazendo uma havaiana no lugar do sapato. Viagem? Só para o trabalho ou por ele. Férias? Que medo de voltar e receber o bilhete azul do patrão; por falar em patrão: esse cidadão que corre risco e gera empregos está na rua da amargura, sem crédito, matando um leão por dia para pagar impostos e sustentar o faminto governo de sindicalistas que o detestam!


 Então amigos, vamos investir? No pão, no almoço e nos santos; rezar e muito para um dia, quem sabe, você voltar a ter prazer em gastar seu suado dinheirinho e voltar a sonhar com um futuro melhor.

sábado, 24 de outubro de 2015

Fazer 70 anos

Do poeta maior:

Fazer 70 anos
(A José Carlos Lisboa)
Fazer 70 anos não é simples.
A vida exige, para conseguirmos,
perdas e perdas do íntimo do ser,
como, em volta do ser, mil outras perdas.

Fazer 70 anos é fazer
catálogo de esquecimentos e ruínas.
Viajar entre o já-foi e o não-será.
É, sobretudo, fazer 70 anos,
alegria pojada de tristeza.

Ó José Carlos, irmão-em-Escorpião!
Nós o conseguimos...
E sorrimos
de uma vitória comprada por que preço?
Quem jamais o saberá?

À sombra dos 70 anos, dois mineiros
em silêncio se abraçam, conferindo
a estranha felicidade da velhice.


- Carlos Drummond de Andrade, In: Amar se aprende amando - 24º Edição, 2001.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

O filho e o vento



O filho e o vento

São tão iguais em sensações que me confundem...
Chegaram sem minha permissão e se foram caminho afora
Simples assim: rosto, vento, beijo, amor livre e total
Hoje sinto os dois no coração, o vento e o filho, juntos

Abro a janela e ele vem me abordar, se mostra vivo e alegre
Derruba folhas, despenteia os velhos cabelos brancos, suave
Um calor maior invade e anuncia: ele está lá longe, mas feliz!
Outra lágrima fica rapidamente seca, o vento vem e me socorre...

Tenho por ele a maior admiração, sua força, seu objetivo, transparência
Sinto com ele a velocidade da modernidade e da tecnologia, sua asa elegante
Vivo por ele essa saudade contida, no orgulho do filho bem posto na vida
Na vida e no vento vejo seus olhos claros, sua mente abertamente primaveril  


Filho do vento e vento do filho, sempre e para sempre meu filho Leonardo !