quarta-feira, 14 de julho de 2010

Um pedacinho de felicidade que se foi

Ela vinha sempre com jeito, manhosa, ocupando os espaços, conquistando, apaixonante: Mimi, a gatinha que foi a alegria a mais de nosso lar. Pequena chegou, aprendeu logo suas lições de higiene e limpeza e brincou muito com todos: corria atrás dos reflexos de luz nas paredes, lutou judô com o Toby (seu grande amor!), um tigre de pelúcia que ela ganhou. O Tic-tic (a sombra da luz do teto gerada pelas mãos na cama) era uma ginástica sensacional! Ela corria prá pegar o “tic-tic" na certeza felina, no bote esperto e NUNCA pegou! Engraçado, virei criança com brincadeiras infantis e de muita alegria, a família toda na casa a brincar com aquela pequena criatura de bigodes finos e alinhados e olhar cor de mel: Uma gata tigresa, linda e esperta demais. Foram anos de alegrias, ela amadureceu, tomou conta da casa. Nas festas fazia questão de ir para a sala e sentada no centro recebia as visitas com olhar crítico e desconfiado, o recado era certo: a Dona da Casa sou EU!!!! Os mais afoitos queriam alisar... Ela não era gata de qualquer mão, educada recusava carinhos alheios; quando gostava da pessoa sim, se esfregava, mas sempre com parcimônia e elegância. Me acordava cedinho e voltava para dormir na minha cama, Eu tinha que trabalhar, né? Gato não trabalha não, sacou ? Tomar um solzinho na estante ao lado da tela do computador era uma alegria de inverno, no verão corria prá varanda e lá ficava a manhã toda. A família unida, jantar na mesa, ela pedia para subir na estante ao lado e ficava, participando de nossa união, olhando e vez por outra “rolava" um presunto fresquinho para ela saborear. Respeitava o espaço, não subia na mesa, olhava, curtia a nossa união. Hora da sopinha! Era a hora feliz! A mimi adorava tomar sua refeição da noite, petiscos amassados e preparados pelo idiota que aqui escreve, feliz ela agradecia! Miados emendados, uma opereta de gatos de rua era cantada, a sopinha estava boa! O recado era dado, para a felicidade do cozinheiro aqui.
Veio a idade, uma doença renal deu seu primeiro aviso em uma depressão de viagem, não podíamos viajar, era a solidão dela, seu terror maior! Atacava as malas quando sobre o chão estavam, o sinal vermelho, eles vão partir, eu, gatinha vou ficar só... Voltávamos e ela ali magra, triste, arredia, com raiva até de nós, humanos, que não sabem ficar parados e viver o cotidiano belo dos gatos. Somos muito chatos, saímos de casa toda hora, viajamos, gritamos vez por outra, nós gatos é que sabemos viver, saborear os segundos lentos, curtir o calor do sol, das cobertas e travesseiros macios, sabemos viver bem! Ficou irremediável mente doente e se foi em 14 de julho de 2010, a queda da bastilha, data afamada da revolução francesa e por isso essa revolução no meu coração, essa tristeza enorme, mas a alegria de seus olhos e seus miados amorosos ficarão sempre do meu lado, na minha cama, na minha mesa de cabeceira, no olhar lindo de felicidade do Leo com ela no colo, de Taciana fazendo todas as suas vontades, do balançar maroto dela no corredor e do olhar crítico nos chamando para dormir: Já são 10 da noite gente, vocês amanhã tem que trabalhar! O gato da casa sou Eu!!!!!
Mimi, eterna paixão de uma família linda que você soube unir mais e mais e nos deu um carinho que poucos vão entender, só os de alma felina e sensível, só os Novaes! Obrigado por tudo! Minha gata “francesa", só você fazia xixi no Bidê! Uma primeira dama! Rainha e soberana, nossos corações estão cheios de seus carinhos e a saudade agora vai ferir mais que suas impensadas mordidas na doença fatal, nada nos faltará tenha certeza, só você é que estará do lado de minha outra mimi, lá no céu dos gatos, que lá você tome muita sopinha e durma em paz.

sábado, 10 de julho de 2010

Meus Parabéns

Meus Parabéns



Nascido em 09 de julho de 1954, um menino clarinho, com Mãe extremosa veio conhecer esse mundo. Os irmãos foram sempre a minha referência maior, na irmã o tudo que aprendi de paciência e candura, fortaleza, luz. Meu irmão me brindou com seu jeito único de ver o mundo em formas, desenhos, inteligência, dividimos amigos e juventude, nunca juntos diretamente, mas no aprender. A mãe foi o tudo que se possa querer de amor, e gostava de todos sem maiores preferências, uma escola viva de psicologia. O Pai, sim, esse era diferente, em sua visão além tempo, genial e desenvolveu a arte de ser Deus (eleição direta, voto único, dele mesmo!).

Cresci em família rica de orgulhos e tradições, tios funcionários públicos e políticos, uma avó matriarca e poderosa, no lado paterno. Do outro lado, fiquei afastado, moravam em recife e poucos vi. Fui diferente: gostava de carrinhos, de dá-los também aos amigos; de música e de ficar elegante ! Na escola... Um problema, não me concentrava e não sei como foram me empurrando até o São Bento, colégio maior. Minha mãe deu um jeito do menino sair da escola pública e passar no exame de admissão no afamado colégio, ela era amiga do Reitor, da cozinheira, da copeira, do faxineiro do internato. Uma providencial garrafa de um bom vinho fez o coração beneditino se partir, e lá fui eu jogar bola no São Bento. O time era de primeira. No gol o querido José Luiz (o aranha negra), goleiraço nas vestimentas, na função nem tanto; Carneirinho na defesa, um tanque de guerra sem rumo e sem freios, Marcelinho na ponta direita e o famoso Ricardinho, o nosso Robinho. Estudar não era meu forte, mas jogar bola sim! As peladas com chapinha de grapette, bola de meia, até o sonho maior de jogar no campão. Os mais velhos eram donos do campão e vez por outra um pequenino, que chegava cedo ou tinha irmão mais velho era “convocado”, a chance maior! Eu ficava no “campinho” dando meus dribles desconcertantes nos adversários também desconcertantes. Veio o medo de apanhar dos maiores, vi um baixinho botar bronca e dizer “o campo é nosso, chegamos primeiro!” e vi a morte. O grandalhão veio como um gigante esmagar o insano inimigo. Vi,podem ter certeza, o meu amigo Luiz derrubar o poste em segundos, montar na barriga do inimigo e perguntar, “vamos continuar o futebol ou queres apanhar?”. Beleza de pelada e o melhor amigo ali conquistei.

Fui tímido com as meninas, criado no meio do mato, vendo as revistas que meu Pai colecionava, vi Brigite Bardot Nua !!!! Meu coração disparou! Amo a França até hoje, ali começou a paixão, que mulher! Na vida real fui parar em Ipanema, nos anos 70, tudo louco, doido mesmo, no Píer conheci as drogas, as loucuras, mas como bom atleta armei uma rede de vôlei. Sim. O máximo da glória era ter uma rede de vôlei em Ipanema, Eu, Luiz e Aluizinho organizamos. Dali se via o mar de cima, as meninas passando, as curvas do Rio, o morro Dois irmãos, o poder juvenil sobre o mundo! Não tínhamos grana, mas uma rede de vôlei! O topo do poder, um corpo jovem, a cabeça solta, na Ipanema dos sonhos. Fui vivendo nas festas da Tijuca, Santa Tereza, lá Eu era o Rei! Morador de Ipanema com rede de vôlei! Assim comi algumas meninas. Os artistas começaram pelas festas da casa de meu Pai, no Alto da Boa Vista, tinha de tudo, da jovem guarda (Vanuza lá aprendeu a cantar o hino Nacional!), até aquele “neguinho que tocava na grama” Luis Melodia.

Carnaval, Recife, primos loucos, minha mulher e companheira de até hoje e sempre. A PUC, a engenharia e vida prá tocar. Um filho lindo, com quem gastei minha imaginação, meu sobrinho Dédé, e mais amigos. Hoje aprendi que as melhores vitórias foram as das guerras que NÃO ganhei. Fico aqui mais velho, gasto, mas bem gasto mesmo, com orgulho. Devo tudo a minha capacidade de aderência e observação, boa memória visual, ao São Bento e aos Pais que passaram cultura e permitiram que as loucuras das “modernidades” entrassem na nossa casa, com os malucos também! Sim, os poetas, músicos, esses me encantam! Tive chance de conviver cm eles e aprendi muito. Com os loucos a pós-graduação! Na família tem vários, diferentes patologias, bons aprendizados.

Hoje, vou me dar PARABÉNS! Você chegou ao que querias, sem muita capacidade e inteligência, viveu copiando, uma grande máquina de Xerox, imitando, mas avançando. Fique mais velho, meu Eu, tente aprender mais, com doçura, grite menos, ofenda pouco, e fala menos ainda! Meu sonho é ficar mudo, pois surdo já estou.



Roberto Solano.