terça-feira, 31 de maio de 2022

O tamanho da verdade

 O tamanho da verdade


O tamanho da verdade é menor que o da mentira

Já o peso da verdade é chumbo 


A verdade é pequena, venenosa, cobra coral

A mentira uma sucuri gigante do Pantanal


A beleza da mentira é quase infinita 

A feiúra da verdade é monstruosa


Ah, ia esquecendo, os cabelos da mentira são lindos e esvoaçantes

Os da verdade bem curtos, de verdade


A verdade sacia

A mentira dá fome


A verdade é água pura

A mentira cachaça das boas


É verdade que a mentira não gosta da verdade

Na verdade, a verdade é a mentira sem roupa


Nua


Já a mentira tem o poder de ser linda sendo feia


Vestida

domingo, 29 de maio de 2022

Por favor

 Por favor


Por favor não me perdoe

Me odeie sempre mais e mais

Tenha raiva de mim

Aliás, se morda de raiva


Jogue as pragas maiores

Condene, difame, me pise

Faça tudo isso com cuidado!

Não morda sua língua!


Teu veneno é mortal



Cidade árvore

 Cidade árvore


Cidade árvore, cheia de ruas, curvas

Encontros e desencontros, esquinas

Feita de caminhos e escolhas

Uma metrópole viva


Cidade árvore, engarrafada, viva

Toda envolta em mistérios

Plena de vida em verdes folhas

Meros transeuntes


Cidade árvore, venha visitar os humanos

Traga sua seiva sagrada

Cure nossas dores poluídas

E se não for pedir muito, nos salve


Foto de João Roganti






sábado, 28 de maio de 2022

O amarelo grita

 O amarelo grita 


Há som nas cores da natureza

O azul canta suave 

O verde, tal um coral, invade tudo

O vermelho aqui e ali faz sua presença brilhante

As outras cores na orquestra viva completam o arranjo musical


Mas ele, só ele


O amarelo


Grita!


Foto de Orlando Jensen




domingo, 22 de maio de 2022

Andando sobre pedras e águas


 Fui andar sobre pedras e águas

O caminho era tão verde que assustava

O céu de um azul que mordia

Eu remava contra a paisagem

E sorria por dentro


Nessa trilha de pedras e águas me perdi

Não sabia voltar sem contar pinheiros

Sem marcar meus passos n'água

Uma truta me salvou saltitante

E me redescobri homem na terra

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Lua de sangue

Foto de Clóvis de Souza



 Oh Lua, perdestes a compostura?

Vestida de rouge ficas

Eras nua, tão nua e pura

Escolhesse a cor do pecado


Agora és mulher da vida 

Senhora dos desejos

Devoradora das paixões

Louca de amores


Saibas que te adoro como um adolescente

Inocentemente te vi nua 

Agora, minha amada aveludada

Devoras-me para todo sempre




sexta-feira, 13 de maio de 2022

Meu quarto interior

 Meu quarto interior


Meu quarto interior fica lá no canto esquerdo do coração

Tem uma cama forrada de amores

Uma cadeira torta de paixões

Um quadro deslumbrante da minha amada nua


No armário, escondido, beijos roubados

Carinhos perdidos no fundo da gaveta

No cabideiro pendurei as saudades


O chão é frio e feito de decepções

O teto tem uma abertura

De lá vejo teus olhos

E lá, mais longe, uns anjos bailando no céu


No meu quarto interior existe tanto amor perdido

Tanto carinho achado

Que lá só cabe um louco desvairado

E, se quiseres, você




quarta-feira, 11 de maio de 2022

Maria Josefa de Jesus

 Maria Josefa de Jesus


Sim, Maria Josefa, ou Zéfa, de Jesus como todos da família. Menina ainda, foi para o Recife vindo do interior, da roça, do mato, pra ajudar a prima mais velha que por lá estava empregada. O serviço era doméstico mesmo, simples, sem sentir o vazio no estômago, sem os mosquitos e as moscas, sem a água escassa. Convite feito e lá estava Zéfa na portaria do prédio com a prima, juntas, coladas, um frio na espinha sentia, os carros passavam rápido, os prédios altos e o medo de olhar pra cima, " como pode esse povo morar tão alto, vixe Maria", ela pensou. O prédio tinha um elevador moderno, desses que até cabia toda a família de Zéfa lá dentro, uma porta de aço que brilhava mais que panela bem areada na beira do rio. Ali Zéfa encafifou: a porta abriu e um doutor todo empinado com sua patroa perfumosa adentrou aquele espaço e sumiu... O elevador voltou e a prima disse " vamos Zéfa é a nossa vez "... Maria Josefa de Jesus não se mexeu, olhos redondos e a tez branca, pálida, com medo, disse: " vou nada ". A prima parou e disse " bora a patroa tá te esperando", " vou de jeito nenhum ". A pergunta veio como um direto no queixo " que besteira é essa menina??? ". A resposta foi pra lá de objetiva " cadê o casal de Véio que sumiu ??? ". 😁

Amigos, a situação é muito simples, aquela máquina de sumir com gente era perigosa por demais, entrar naquele quartinho e sumir desse mundo não era o plano dela não, muito nova ainda. Então melhor mesmo é ir de escada, vinte andares, é um problema grande... A solução foi a patroa descer e ficar com Zéfa até a prima subir ( desaparecer ) e descer ( aparecer ) no térreo. Maria Josefa entrou no elevador, mas até hoje, quando a patroa não está com pressa ela prefere ir de escada mesmo, está até mais bonita e com umas coxas grossas, um bela menina do interior.☺️



A pobreza

 A pobreza não destrói sonhos

A imaginação supera a dor

A criação faz a criança

A criança faz o amor


Foto de Noilton pereira






segunda-feira, 9 de maio de 2022

O homem vai ficar mudo

 O homem vai ficar mudo


A tecnologia da comunicação está tão rápida e eficiente que vamos, em breve, não falar mais; ou como a muda da novela Pantanal: só falar em último caso, pra sobreviver. Em primeiro lugar a palavra não vale mais, o tempo do " fio do bigode " já era, agora tem que ter registro se não não vale. Simples assim, " me manda um e-mail ou um WhatsApp pra confirmar, certo? " O tempo do dito está escrito acabou, a palavra e a honra são digitais. A fofoca na janela, a conversa no botequim, a declaração de amor olho no olho, etc... Acabaram! Agora,  se quiser é um nudes, um Tinder, uma live, e outras babaquices tecnológicas. Os amigos são os melhores no Facebook ou no Instagram, ao vivo e a cores é uma chatice: tem que agendar um horário que ninguém tem, pegar um Uber, marcar um local vazio pra conversar, fazer o cabelo, usar a melhor roupa para ficar instagramável, e se expor sem filtros... Não dá né? O melhor dos mundos é o virtual, ali sim suas mentiras virarão verdades e suas verdades são panorâmicas. Um espetáculo!

Falar? Pra quê? Uma chatice... Vamos ficar mudos igual à muda do Pantanal até a sucuri da solidão engolir a gente.



quarta-feira, 4 de maio de 2022

Poesia geométrica

 Poesia geométrica


Amo a reta e aceito o torto

Detesto, infinitamente, as paralelas 

O triângulo é sempre amoroso

Já o quadrado muito fechado


Amo as elipses e suas órbitas

O círculo e seu eterno fogo

As parábolas com suas adoráveis mentirinhas


E


Ponto final

domingo, 1 de maio de 2022

Alinhando pensamentos

 Fui alinhar meus pensamentos

Olhei para o céu, distraído...

Lá estavam, lindas, perfiladas na beleza

A lua seminua


Rezei forte ao Deus maior

Que sorte a minha!

Gratidão


Agora voltando meus sentimentos

Para terra, para a sola dos meus pés

Descobri o quanto sou desalinhado