quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

La Poderosa




La Poderosa

   Amigos, fui visitar meu filho nos “states”, fiz uma “trip” pra lá... Descobri que sou um traumatizado com aquele tal de “ customs “ , ou a polícia federal de lá ( graças a Deus não tinha Japonês ! ). Nessas “Trips” eu sinto um nó nas minhas tripas mesmo! Os cabras mandam você tirar tudo, e eu, com um parafuso na perna direita, fiquei uma semana decorando “I have a steel screw in my knew”, com medo de ser preso... Em tempos de terrorismo a coisa está feia... Vamos em frente: ao desembarcar no EUA, me senti na fila do aniversario do Guanabara! Tinha gente pra todo lado para entrar na tal máquina do raios-X, era indiano, chinês, árabe (disfarçado) e o babaca aqui que vos relata o fato. Meu queridíssimo filho foi tentar a vida nas terras gélidas do norte e pediu para eu levar um “ home Theater “ que, na estante, me parecia magro e pequeno; qual nada, o cidadão tinha o tamanho de um fogão à lenha quando “ ajuntado “, foi presente da Dindinha, tinha que levar! Uma semana para montar uma caixa com o dito cujo dentro em camadas de isopor (ou isonor, como se diz lá no Recife) para proteger, que pronta e examinada por fora não entraria nem no estado da Paraíba! Imagine nos “states”...
   Vamos encurtar a conversa e focar no fato. Depois do raios-X e das minhas palavras decoradas eu procuro a minha mulher que estava se remontando toda: colocando sapato, cinto, brinco, meia, casaco, etc.. E seguimos para “pescar” as malas e a minha “caixa bomba” , que dor nas costas meu amigo, levantar uma caixa com uma alça só é de lascar! A vida de terrorista é dura mesmo. Seguimos , já devidamente desviados para a seção de “ suspeitos “ , para a entrevista com o policial com cara de bailarino de salsa caribenha. Eu calado fico e minha adorável esposa respondia as perguntas:
- De dónde vienes?
- From Brasil
- Que vinieron a hacer  en los Estados Unidos?
- We are going to visit our son
- Su hijo vive en los Estados Unidos?
   Bem, meus leitores, eu já comecei a ficar puto: paguei uma professora de inglês que me custou os colhões de padre Nicolau e o sacana só queria gastar o espanhol caribenho dele, como fica isso? Estaria em Miami? Peguei o avião errado? Ele não sabe o sacrifício que foi aprender o idioma dos poderosos e tinha que gastar meu portunhol (não estava falando, mas só ouvindo da boca do bailarino) ??? Segue a entrevista:
- He lives em Seattle and works at AMAZON !
   A minha mulher, toda feliz, sabia que a Amazon era uma grande companhia americana e que esse seria o tiro de misericórdia para acabar com a entrevista, qual nada, falhou...
- ¿Cuánto tiempo va a pasar aquí y cuántos dólares usted tiene?
   Eu fiquei puto e meio (estava só puto), esse gordinho com cara de porteiro de casa de massagem em Quito (no Peru!) está passando dos limites!
- Just for Cristhimas and we have .... Dólares
 Aí ele olhou pra cara dela, para a foto no passaporte, leu o nome (TACIANA) e mandou essa?
- Es uma brasileña de buenos Aires ?
   Bem, aí eu raciocinei rápido: Taciana é nome russo que poderia explicar a tendência da família dela para as danças; Buenos Aires sempre foi a capital do Brasil aos olhos dos gringos, então soltei meu verbo em puríssimo portunhol:
- Señor, mi esposa es una bailarina de tango y baile salsa también y merengue muy bien en mi país...
   O oficial deu uma rodada no pescoço que ouvi os estalos da coluna, olhou pra mim e fixou os olhos por uns 5 segundos; eu, de minha parte, me caguei todo, sabendo que seria preso e condenado a voltar para o calor infernal do Rio de Janeiro. Mas, como todo bom mentiroso, mantive os olhos fixos e cantarolei mentalmente (La noche me quieras...) para manter a minha cara de Luis Inácio Lula da Silva, deu certo! Senti que ele agora iria me perguntar algo, seria sobre Dilma? Seria sobre Magri? Eu já pronto para responder que Dilma tinha eMAGRIcido muito, quando ouço um “come with me” . Fudeu ! Eu, minhas cuecas afetadas, minha mulher se achando e o cafetão do Panamá nos levando para conhecer o canal, sim um canal que levava até uma porta automática na qual tinha um americano (esse de verdade, com 3 x 2 metros de altura e largura) que, gentilmente, nos mandou sentar (não tinha cadeira livre) e deixar as “ bagages and the big box “ no canto. Claro que fiquei em pé e levei um esporro “ sit down !!! “, como?  Respondi um where sofrido... O grandalhão viu que não tinha cadeira e pegou uma só para a nossa bailarina e fiquei de pé olhando para os lados, só tinha suspeitos, sala lotada, vou perder meu próximo voo para Seattle, não saio daqui hoje. Já prevendo minha condenação ouço um “excuse me” e o grandalhão passando por cima de minha mulher para atender um interfone (era uma emergência!) que estava atrás dela. Pronto, fiquei viúvo, a mulher levou um chega pra lá do jogador de futebol americano que foi parar no colo de uma negona que estava sentada do outro lado da sala. Isso não seria nada, até que o brutamonte chamou meu nome e fui “convidado” a preencher um formulário maior que um pedido de aposentadoria no INSS. Voltei, tirei a mulher de cima da negona, e disse:
- Amor, agora temos que preencher essa lista aqui...
- Nossa! Vamos perder a nossa conexão, já viu quantas pessoas tem aqui? Seja rápido (ela já pegando uma caneta pra mim) que eu já fiz a minha parte! ??? Eu pensei comigo, artista é sempre assim, tratamento diferenciado...
   Bem, vou encurtar: das 5550 perguntas do formulário eu só saberia responder metade... Tô lascado ... Quando entra o bailarino e vê a minha adorável esposa no canto, de pé, com o infeliz aqui tentando escrever a minha sentença para entregar ao carrasco...
- Taciana, la señora todavía estás aquí? Ven conmigo !
   Rapaz, o guardinha foi ajudando e eu escrevi tudinho ! Nos levou com caixa e tudo lá pra fora, sem passar por mais nada, só carimbando os papéis e abrindo caminho! Na despedida me perguntou “que es el nombre artístico de la misma? “ o que respondi “ La poderosa “ piscando os olhos pra ele, que se despediu com um “ have a very good trip “ , só olhando para o gingado das cadeiras dela... Viva Dorival Caymmi!


quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Vivendo um sonho

Vivendo um sonho



 Já realizei alguns nessa vida, “viver” um só eu, na realidade, fui sentir agora. Ter um filho e criá-lo como todo pai, ver a mãe ser extremosa como tantas, saber que a escolha dele foi ditada pela mistura de competência e sorte, vê-lo crescer e sair de casa, isso temos vários exemplos por aí, são sonhos realizados de pais sortudos. Agora, ser convidado para passar um Natal na casa distante dele, montada e simples como tem que ser, ver a felicidade estampada no rosto de um casal de jovens, é um sonho vivido; ali, no dia a dia, no frio, na chuva que não pede guarda-chuva, na cidade onde a tecnologia move tudo, nos peixes sorrindo sobre bancadas do mercado central, nos caranguejos gigantes e assustadores, olhando uma cebola branca e um alho maior que a mão da minha adorável nora, a vida sendo vivida sem medo do ladrão, à pé, na madrugada gélida, sem sentir medo... Isso é viver um sonho. Entender um país que não é o exemplo de nada, não quer ser! E deu certo para os que lá moram e trabalham sem preconceito; jovens estudando e fazendo faxina para se sustentar, olhos puxados nas ruas cheias de asiáticos, negros alegres ouvindo radio e dançando soltos pela cidade, alguns pobres (ou muitos...) vivendo da esmola ou do amor alheio, drogas pesadas, problemas sociais, medicina cara e injusta, com um belo tempero: trabalho para quem quer trabalhar, justiça para quem for roubar ou “pisar na bola”, liberdade e progresso. Nosso Brasil tem tudo o que lá vi, com um detalhe fundamental: não anda pra frente, não avança sem o empurrão do maldito governo tomador, só ganha quem lá está ou quem sempre por lá ganhou. Uns dirão que isso vai mudar, que os avanços sociais são imensos, que aqui é o país do futuro! Esses estão precisando ir para algum médico, de preferência da rede publica e descobrir que vivemos um pesadelo, dia após dia, que somos e sempre seremos uma nação de um futuro que nunca chegará.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Calçadão e ciclovia



Calçadão e ciclovia


 Adão e Eva, Cosme e Damião, Feijão com arroz, calçadão com ciclovia, e outros exemplos de casamentos perfeitos... Rio de Janeiro com mar, lagoas e vistas inebriantes: o lugar perfeito para uma caminhada ou pedalada ao ar livre, certo? ERRADO ! Hoje, meu amigo, o mundo mudou para pior, não há sol e brisa marítima que faça o carioca ser leve e solto como era no passado: praia, mergulho, um chopinho na esquina e a alegria de morar no lugar mais lindo e aprazível do mundo! Exagero, diria algum Recifense... Qual nada! O Rio era “ The Best “ até ficar desassistido e pobre. Hoje o nosso governador de pé grande (antes fosse da terra do saudoso Garrincha) está sem pagar suas contas, o milagre do pré-sal não aconteceu; nosso prefeito (quase perfeito!) esburaca a cidade toda e, pensando nas glórias olímpicas, levantar uma faixa presidencial futura, faz a ciclovia mais linda desse mundo! Sim, amigos, vocês já passaram na av. Niemeyer? Não? Que pena... Deixou de ver a vista do mar azul e das ilhas Cagarras ao longe, da briga incessante do mar socando as pedras, o verde que cobre montanhas ao longe... Hoje você verá uma ciclovia tapando quase tudo, então vá de “bike”, certo? Não, colega, errado novamente: a tal pista é estreita e as colisões serão espetaculares (acho que há uma ponta de dinheiro do Globo para aumentar a audiência do Faustão nas vídeo-cacetadas); teremos de tudo um pouco: ladrão, camelô, andarilhos, gringos, skates, motoqueiros, samba de roda (de bicicleta é claro!), putas e outros frutos da terra, menos um calçadão! Aí é que mora o problema! Uma ciclovia CONFINADA! Sabe aquelas motos que se cruzam na “roda da morte” em circos do interior, zummm, zummm, e você tonto esperando a colisão, sabe? Nunca viu? Venha pra cá que será mais divertido! Onde tem ciclovia sem uma calçada do lado para servir de escape? No Rio teremos ! A cidade maravilhosa vive sua festa dominical no formigueiro humano que troca a areia pela calçada quente e atravessa a ciclovia para chegar à rua, com a turma que volta no ciclo contrário (rua-ciclovia-areia); isso transversalmente à orla marítima, já no paralelo tem de tudo: velho, criança, sorveteiro, gringo, mulher quase nua, etc... Uma verdadeira festa! Isso porque existe um casamento perfeito (volte para a primeira linha). Agora acabou a calçada e a ciclovia ficou viúva... Solitária vai viver sofrendo e enfeiando a nossa linda Avenida Niemeyer; só tenho pena dos ciclistas desavisados que vão frequentar aquela serpente que margeia o mar, vão sofrer com esse casamento desfeito (calçadão com ciclovia) e trarão péssimas lembranças do passeio... Que Deus os protejam !