Seu olhos saltam como carneirinhos brincando
Seu nariz vem definindo a linha de simetria
Lábios de traços corretíssimos
Cabelos cor de fogo cobrindo a tez branca
Quem és tu mulher?
E por que me olhas?
Tens o olhar intrigante de minha vó
A candura de minha mãe
A beleza de minha primeira namorada
Oh Senhor que não vejo
Olhe por mim
Oh Senhor que não ouço
Ouça minhas preces
Oh Senhor que não apalpo
Ofereço-te minhas mãos
Oh Senhor, não percebo seu sabor
Adoce a minhas palavras
Oh Senhor
Só faço te pedir sem sentir
Preencha meu coração
Só assim sairei da escuridão
Um passarinho falou, piado fino
Um poeta ouviu
Assoviou
O passarinho ouviu
Mexendo a cabeça disse
"vá voar criatura"
O poeta riu
O Sol a tudo assistia
O fim de tarde caia
Um poeta voou
E o passarinho versou
A maturidade
A maturidade é irmã mais nova da idade
Trelosa e meio burrinha
A irmã mais velha cobra
A irmã idade exige
Tem irmã mais velha que não cuida
Aí a maturidade se perde
Não cresce e criança se estabelece
Tem a maturidade filha única
Essa já nasce dona da verdade
Não vive a flor da idade
Em busca do poema perfeito
Em busca do poema perfeito fui beber Vinicius
No jardim as rosas não falam
Na praia quase vi o Dorival Caymmi
Em Copacabana esbarrei no Drumond
Fiquei com Pena, filho
Desesperado gritei alto, dei Bandeira
Em Campos não achei o Mendes
Fui na quitanda e nada do Mário quintana
Cansado não entendi patavina de Patativa
Chorei em versos e dormi
Acordei apaixonado por um passarinho
Seu canto era perfeito
Divisora de águas, marcando terreno
Mulher definitiva
Ela se sobrepõe
Na praia, no mar
Rainha do traço, das brumas
Mulher absolutamente certa
A vi, descobri no horizonte
O valor que ela tem
Mulher, vou dizer quanto eu te amo
Cantando a flor
Que nós plantamos ( Chico Buarque )
Eu gosto tanto de você, que até prefiro esconder
Deixo assim ficar subentendido
Como uma ideia que existe na cabeça e não
Tem a menor obrigação de acontecer ( Lulu santos )
Deu-lhe a mais limpa manhã
Que o tempo ousara inventar.
Deu-lhe até a palavra lã,
E mais não podia dar.
Deu-lhe o azul que o céu possuía
Deu-lhe o verde da ramagem,
Deu-lhe o sol do meio dia
E uma colina selvagem.
Deu-lhe a lembrança passada
E a que ainda estava por vir,
Deu-lhe a bruma dissipada
Que conseguira reunir.
Deu-lhe o exato momento
Em que uma rosa floriu
Nascida do próprio vento;
Ela ainda mais exigiu.
Deu-lhe uns restos de luar
E um amanhecer violento
Que ardia dentro do mar.
Deu-lhe o frio esquecimento
E mais não podia dar. ( Carlos Pena Filho )
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure. ( Vinícius de Moraes )
Amor de trapo e farrapo
Tudo errado mas tão gostoso
De dar arrepio na espinha
Amor de galo de rinha
Amor de arrancar toco
Amor de louco contra louca
Ciume e fogo nos olhos
Beijo, o fogo na boca
E o coração, incêndio pleno
Amor sereno
Amor pirraça
Amor veneno
Amor cachaça
Amor debaixo d'água
Amor no meio dos infernos
Amor de meter susto ao padre eterno
E já se vê
Só pode ser o amor de eu e você
( Paulo Vanzolini )
Era tanto amor, tanto amor, que assustava
Não havia momento, nem um breve respirar
Sem pensar nela
Era tanto amor, amor tanto, que sufocava
Até em sonhos ela lá estava
Era tanto amor, tanto amor, que o mundo ficou pequeno
Em cada esquina ela, no olhar, aparecendo
Foi tanto amor que até Deus duvidava
As rezas se perdiam, os Santos riam
Esse amor, maior que o mundo, virou vagabundo
Enlouqueceu completamente, na incapacidade de viver nesse mundo
( Roberto Solano)
Transformar
Transformar a distância em tempo
O tempo em esperança
Esperança em fé
Transformar o amor em frutos
Frutos em filhos
Filhos em netos
Netos... Ah, os netos
Você vai virar criança
E criança é tudo
O que é a poesia?
Não tem definição,
é tão misterioso que assusta
Tão simples que confunde
Tão amável que pode te machucar
A poesia transcende possibilidades,
navega na mente como um veleiro à deriva
Mata a fome com água
Embebeda a alma
Cachaça benta
A poesia tem uma só definição:
Ela te devora, sem pena, sem pedir licença, muito menos perdão
Para te devolver ao mundo como um anjo...
Vestido de ladrão
Segredos de liquidificador
Carinhos de enceradeira
Beijos
Abraços de travesseiros
Suspiros
Calor de forno a lenha
Amor de mãe
Beija flor de Cazuza
Rosas mudas de Cartola
Tudo pra dizer que te amo
Sem saber
Plagiando
Poetas amando
Um dia eu parei o tempo
Ele, aliviado, me disse
"Precisava descansar"
Outro dia apaguei o Sol
Ele, calorosamente, disse
"ardia há muito tempo"
Outra noite peguei a Lua
Ela, manhosamente, disse
" te amo"
Acordei
Atrasado, sol na cara, de mal com a Lua
Voltei a ser gente
A gravidez transforma, transporta para o mundo dos sonhos
A mulher passar a viver duas vidas
A criança no ventre e a imaginação na mente
Como será?
O corpo se acomoda no peso crescente
A mente viajando para mundos diferentes
O filho que virá já chegou no mundo dos sonhos
Um príncipe ou princesa, como tem que ser
No mundo da grávida com um filho pra nascer
Foto de Kelly potenti
Dali distorce fatos, contorce sonhos
Daqui eu sonho diferente Dali
Um arranjo perfeito feito do nada envolvendo tudo
Um Salvador não do mundo e sim dos pesadelos
O criador de telas impossíveis
O pintor do inacreditável
Dali e daqui
Poxa pai, amanhã é seu dia e você não está aqui
Poxa pai, ainda não me acostumei com isso
Poxa pai, tua falta ainda é maior que eu
Poxa pai, será que meu filho vai lembrar de mim?
Poxa pai, volte
Se eu te perguntar alguma coisa não responda, pergunte de volta
Se eu afirmar alguma coisa não concorde
Se eu estiver extremamente apaixonado, chore
Se eu mentir me repreenda com um sorriso
Se eu disser que voce é meu amigo, negue
Você é o melhor amigo
Perda do companheiro
Quando o companheiro se vai você perde a chave de casa
Quando achas a chave de casa a casa não é a mesma
A cortina chora, a mesa é inútil, a janela se fecha sozinha
Agora tens que andar sem bengala, e sorrir sem saber
O leito vazio te faz um buraco no coração
As noites não tem horas e sim séculos
Quando o parceiro se vai o ar não é o mesmo
O amor ainda pulsa na cidade chamada saudade
E a vida segue seu rumo reto e sem sabor
Lá se foi o seu amor
O mar esculpindo pedras
O vento cortando árvores
O planeta sem rumo
O universo marchando
O nada, o tudo
Ou tudo é nada?
Assim vivemos sem saber
O ponto final será vírgula?
A verdade maior virá?
Ou tudo ou nada
Veremos
Tinha um amigo que auscultava meu coração
Ouvia minhas dores
Aplacava minha pressão
Não era médico do corpo
Sim da alma
Esse amigo, tão generoso, partiu
Agora meu coração pulsa sem conselhos
Minh'alma padece
A saudade floresce
Amigo que estás no além
Saibas que além de amigo
Eras irmão
O cavalo de São Jorge veio beber água
Desceu do céu a galope
Buscou a fonte mais plácida
Sorveu o líquido calmante
São Jorge lá de cima assoviou
Um estridente som invadiu a Itália
Seu cavalo voltou tão rápido que deixou a cabeça
Lá em Serraville Scrivia
Em forma de arte
A teoria da relatividade
Einstein desenvolveu a teoria da relatividade que revolucionou a física. Fantástico! Nessa onda eu vou surfar com a relatividade da verdade. A verdade é única? Só a dos fatos consumados, como a morte. A verdade dentro de sua cabeça é relativa, depende do ângulo que você a vê, depende de tantos fatores... Por isso a relatividade. Hoje sou mais feliz sem verdades absolutas, só as relativas. Eu sugiro que façam o mesmo, aceite as distorções, o outro, a outra versão. Viverás bem mais leve e, quem sabe, feliz.
A doce ilusão da aposentadoria
Somos educados pra estudar, trabalhar, progredir. Não somos para guardar dinheiro para a velhice. Na minha família se dizia " guarde 10% todo mês pra seu futuro", não se explicava o que era futuro... Assim, quem já tinha um futuro programado podia economizar e os outros elegiam o futuro como presente e não podiam guardar nada pois nada sobrava. Os mais sortudos foram funcionários públicos ou empregados de multinacional, esses hoje sorriem com uma aposentadoria vultuosa e se dão ao luxo de "torrar" o dinheiro como se não houvesse amanhã. Esse é o problema: o amanhã. Temos que fazer conta do que será o amanhã: o que vamos gastar com o que vamos ter. Nessa matemática maluca entra a inflação e seus dragões ( plano de saúde, custo de vida, etc...). Matemática financeira com várias moedas que têm seus fatores de correção monetária diferentes. Faça aí sua conta de quanto você pagava no seu plano de saúde 5 anos atrás e verás que daqui há 5 anos na frente não poderás pagar. Simples assim, vamos ficar mais pobres e mais velhos. Doce a ilusão da aposentadoria sem preocupação e gozando a vida sem culpa. Doce ilusão...
É preciso uma política educacional para preparar a população, desde a infância, para a velhice e suas mazelas econômicas. As famílias estão cada vez menores e a sobrevida maior, teremos mais idosos e menos força produtiva. O jovem de hoje será o velho de amanhã e os custos serão imensos para a sociedade. Política educacional para futuros idosos já!
Roberto Solano
A certeza do incerto
A alegria da vida é a certeza do incerto
Não saber do amanhã tempera o futuro
Pode alterar o rumo
Desfrutar o improvável
A vida certa e previsível é enfadonha
O absolutamente certo é a morte
Então vamos ser leve
Livre e solto
Como o desconhecido
Para ver o mundo diferente
Para ver o mundo diferente
Olhe o fogo e ouça o gemido da madeira
Ao ver a lua sinta a sua imensa solidão
Ao ver as rugas do velho imagine a criança que foi
Na cantiga de ninar ouça Mozart
No cantar do canarinho Vivaldi
No beijo da mãe viva a saudade de quem já a perdeu
Veja o que outros não vêem, na certeza do torto
Na absoluta vontade de ser diferente,
Como um louco ou, se Deus ajudar, poeta
