Maricota quer se vacinar

 Maricota quer se vacinar

Maricota bateu pé, invocada, braba mesmo, e disse: " quero me vacinar !!! ". Eu retruquei jogando pesado: " nem gente você é!!! " Complicou, o clima pesado estava e piorou... Dizer pra ela que ela não é gente é um absurdo! Magoa a criatura, ela se ofende, cita Pinóquio, diz que se não fosse ela eu já tinha falido nas mãos de uma terapeuta, e por aí vão argumentos mil... "Pra que você quer se vacinar Maricota?" Tive que perguntar, ela respondeu: " primeiro que está na moda 😁, segundo que adoro fila " . Fila e fofoca não é sua magrela atrevida ! Tive que dizer. Não tem jeito, Maricota e minha mulher ( digníssima esposa ) têm personalidade forte e são irredutíveis. Tentei dissuadir a criatura com " a fila é imensa ", " eu posso me contaminar ", " não me faça passar vergonha ", etc... Nada comoveu a vassoura... Então apelei : " você vai perder a novela e não vai ver Tonico Rocha!!!" Bingo! Acertei no alvo! Ela adora Tonico Rocha, diz que ele é a versão " vassoural " de Brad Pit, o bigode dele é encantador, não há vassoura nesse mundo que não queira ser beijada por aqueles bigodes amazônicos, rústicos, firmes como piaçava. Ela então repensou e me disse " tá bom ( muito tristonha ), dessa vez não vou, mas quando acabar no tempo de imperador " eu vou me vacinar e quero também fazer o PCR! "

Socorro!!!!!😁😁😁🙂

A arte

 A arte

A arte faz o homem e o menino faz arte

A arte fez Cazuza e Noel Rosa

A arte só não faz ninguém melhor

Melhor é fazer a arte

O mundo sem a arte é monótono

É Manuel sem ser bandeira

É Tom sem Jobim 

Concreto demais, sem flor

Viver sem arte, sem ler o torto, não entender o feio

É avião sem asa e amor sem ciúmes

É ser nada sem nada ser

O nada

 O nada

O nada brota do tudo

Ele tem sabores

O nada é absolutamente nada

No nada do vácuo

O nada é absolutamente tudo no amor

O amor perdido é o nada doído 

O vazio maior, de dentro pra fora

O nada é saboroso na dor que cessa

No instante maior do alívio

No respirar sem sofrer

O nada do zero não me afeta nada

O nada da desesperança afeta tudo

A divindade do nada será o caminho ou nada no caminho?

Só sei que nada sei

Revisitando Vandré

 Revisitando Vandré

Revisitar Geraldo Vandré é mergulhar no oceano

Mar de tanto amor que me afogo em tristezas

Abraçado em Matraga pra não me calar

Vou nadando com tanto pra se salvar

Eu vou levando a minha vida enfim, cantando sim

Trocando tristezas por esperanças sem fim

Em disparada, caminhando e cantando o amor demais

Pra depois do amor poder só chorar

Com Rosa flor na cor de rosa

Vou revisitando a mais forte voz do coração

Daquele que não calou, cantou e versou

Amor e dor

Revolta e indignação

Falando, sobretudo, de flores

Maricota e a Ômicron

 Maricota e a Ômicron

Já tinha me esquecido da minha fiel companheira de pandemia: maricota. Pra quem me lê agora, de primeira vez, vou explicar: Maricota é a minha vassoura de piaçava ( aliás, com PH, Phiaçava, como ela gosta de ser chamada, mais chic). Essa vassoura ficou minha confidente e amiga nos momentos mais difíceis e duros ( a lombar de o diga ) dos meus serviços de faxina. Ela também sofre e tem sentimentos: odeia o tal de rumba ( aquele limpador de chão cheio de sacanagem, isto é, tecnologias) que os americanos inventaram. Aspirador de pó ela até gosta mais acha ele muito invasivo e barulhento, um chato que fala alto, insuportável convívio por muito tempo. Voltemos ao ponto da conversa que tive com ela quando voltei ao armário pra retornar meus calvário:

- oi maricota, tudo bem?

- oi meu querido e ingrato amigo...

Ela estava sentindo minha falta:

- eu nunca mais te procurei pois a Covid melhorou e contratei uma funcionária para os serviços

- você me abandonou...

- não, só fui descansar um pouco, agora vamos retornar aos velhos tempos de faxina, a Ômicron chegou.

- Ômicron? Que diabo é isso com nome de ar-condicionado split de última geração.

A maricota tem verdadeira paixão por ar condicionado split pois eles deixam o clima agradável e filtram as poeiras e ela não precisa ser utilizada, na verdade, a maricota é uma folgada.

- é maricota, lascou tudo de novo e teremos que ficar de castigo novamente eu e você, você e eu, certo?

- não! Sou vassoura mais tenho orgulho! Não quero mais a sua companhia, você agora é um metido a besta, folgado e, sobretudo, ingrato!

- maricota eu te amo...

E foi assim que voltei para meu isolamento social com a chata da Maricota enfrentando esse ar-condicionado novo ( Ômicron) que dá sintomas leves... Sei não... Maricota é que tem razão: " um dia de faxina faz qualquer um repensar a sua vida ". Essa maricota é realmente uma psicóloga de primeira! Vou dar mais atenção pra ela.

O impulso

 O impulso

O impulso é o veneno do ansioso

É o castigo da criança

Um beijo roubado

O desejo nos olhos

O impulso pode matar

Induz ao erro mais tolo

Traduz o amor mais bobo

É o senhor da estupidez

O impulso é mais rápido

Mais veloz que a luz

Mais incontrolável  

Que o olhar

O impulso é a sombra

De tua alma esquecida

No sol da vida a bailar

Tabuada do amor

 Tabuada do amor

2 e 2 são 5, Caetano disse

1 + 1 é amor

1 + 2 é demais

1 - 1 é dor demais

-1 é solução

1 + 0 é solidão

1 a mais é filho

1 a menos é sogra

1 + 1 milhão é Flamengo

1 sem vergonha sou eu

1 distraído é você que me leu

Mãe

 Mãe

Mãe sonhei com você

Não sabia se era verdade

No mundo onde não há certezas

Você lá estava

Mãe eu te vi tão perto

Lá no mundo sem distâncias

Já a tinha nos braços

Com certeza

Mãe foi tão bom

No mundo onde a bondade é real

Onde tudo é possível

Transformaste meu impossível

Te vi

Beijei

Acordei

E agora mãe? 

O que fazer desse encontro?

Te esperar em outro?

Não serei o mesmo filho

E tu serás sempre meu sonho perfeito

Vivendo no meu imperfeito sono

De amanhã

A sombra do medo

 Sombra do medo

Viver sob a sombra do medo é pior que ele

Ele, o medo, se doma como um tigre

Sua sombra não

O rugido do leão é mais temido

A visão da escuridão destrói a luz da vela

O temor do nada atropelada o tudo

O medo do medo procria mais que coelhos

É uma doença tão contagiosa...

Sem vacina vai te destruir

Antes de você sentir o verdadeiro 

Medo

Descanso do tempo

 Descanso do tempo

"O tempo não para", disse Cazuza

E

"O tempo Rei  ", Gilberto Gil 

O tempo é um Rei que não para

Só

Descansa

Descansa no cochilo do cachorro na rua

Descansa num olhar de súplica da beata

Descansa no suspiro do cortador de cana

Na lágrima

Folga no breve instante entre o olhar e o beijo

Folga no momento exato que a mãe dorme

Folga quando a chaleira grita e o café cheira

Folga no descuido absoluto do pecado urgente

Vá descansar, folgar teu pulsar incansável 

Vá dormir um sono profundo

Vá não ser tempo sem tempo de parar

Pra livrar-se do teu eterno castigo

De tempo ser

Curso de Engenharia da vida

 Curso de Engenharia da vida

Matérias:

- Resistência dos materiais: Você vai aprender a errar e aprender com os erros; ser tenaz; cair e levantar.

- Instalações: Se adaptar a qualquer problema; resistir aos choques; tamponar os vazamentos das falhas; escoar as dúvidas.

- Fundações: Aprender a pisar em solo firme; distribuir as cargas pesadas dos maus pensamentos; estaquear tristezas e saber construir sobre elas.

- Estruturas de concreto: meter a mão na massa e concretar sonhos; curar sentimentos; armar e desarmar ressentimentos; medir as deformações da alma ( incluindo as deformações lentas ).

- Estruturas de Aço ( professor Paulinho da Viola ): Trabalhar com nervos de aço; vencer os grandes vãos dos desafios; superar tudo que há de concreto.

- Pontes: Superar rios de problemas; atravessar desafios impossíveis; ver o pôr do Sol.

- Planejamento e controle de Obras: para aprender a ser feliz na obra da tua vida.

Duração do curso: indeterminada como os bons vinhos.

O que meus pais não me explicaram

 O que meus pais não me explicaram 

Por que o leite tem a temperatura do dedo?

Por que a colher aviãozinho é?

Por que o espirro de pai é assustador?

Por que o beijo de mamãe é o melhor?

Por que a gatinha lambe os filhotes?

Por que a gente treme de frio?

Por que papai tem bigode?

Por que tanta alegria na buzina do carro?

Até hoje perduram as dúvidas 

Assim como o desejo maior de não querer saber

E deixar viver o restinho da infância ainda dentro de mim

Elos

 Elos 

O primeiro é o umbilical

O seio materno vem

E o calor da mãe se torna eterno

Depois a escola, uma porta se abre...

Outro mundo, crianças se testando

Assim chegamos nos amigos, porto seguro

Elo do amor sem limites é tão medroso...

Experiências demais

Mais e mais

O elo no dedo esquerdo

O amor prometido 

Demais

O elo do filho que tatua a alma

O peso mais leve da vida

Amor incondicional

O elo com o passado se faz agora presente

Você já desfaz mais do cria

Você já não tem elos

Você é brisa que será pó

Desejos

 Desejos

Eles nascem na noite, soturnamente

Uns morrem de inanição

Outros de vergonha mesmo

Os mais vivos vão além 

Não os guardo mais

Não vale colecionar

Mais vale sonhar

Sonhar em domar a dúvida

Esquecer a traição

Não temer ser mortal

Morrer só de amor

Desejo de ver o fim virar começo

De conversar com Deus

De levar a amada sempre

De aceitar o erro eterno

De viver

Ouro no céu

 Joguei o Sol na água parada da visão

Tal pedra infantil ela criou círculos

Foi em um crescente calmo como brisa

Ali embaçando a minha vista

Trazendo mais ouro na riqueza do céu

Trazendo uma paz tão divina que chorei

Foto de Luiz Felipe Rodrigues

A volta do filho do coronel

 Era verão, o calor no sertão pernambucano se mostrava forte e disposto... O coronel não: na rede descansava ao sabor da sombra e de algum vento desavisado... " coronel, coronel " um menino magro corria com um papel na mão: era carta pro coronel. Naquele tempo as cartas eram poucas, ou nunca, porém importantes. O filho estava na Europa já se faziam dois pares de ano, foi estudar na França, tinha que voltar doutor, era a regra. Ano de 1930, calor infernal, uma carta dizia " painho estou chegando mês que vem no porto do Recife..." O coronel coçou as ventas, esticou as pernas e disse pro mulatinho : " peça a Zefa pra trazer uma pinga, a notícia é das boas ". Feito. O beiço estalava com a cachaça esquentando a goela, a notícia se espalhou, o menino vai voltar, homem feito, macho, doido pra trabalhar e trazer orgulho pro pai.

O tempo passa mais rápido que a carreira do lagarto na caatinga e é chegado o dia. Paletó de linho branco e chapéu de palha, uma bengala de madeira nobre com cabeça esculpida e de ouro. Esse é o coronel Siqueira Brito, homem de palavra e que já calou muita gente, já botou pra correr lampião, já deflorou muita menina nova ( quando os peitinhos estão do tamanho de um limão é a hora do abate ), uma lenda por aquelas bandas. O dia azul, o porto de Recife tinha a tão desejada brisa que adoça os cocos no nordeste e traz o chic-chic das folhas. Chegou o herdeiro. O motorista do coronel, seu Tião, um negro alto e esguio avistou... Lá vem a criatura: uma roupa leve, um lenço amarrado no pescoço, um olhar atravessado feito cu de calango, umas calças justas e um sapato de verniz. E pra completar uma voz um tanto fina disse " estava morrrrrendo de saudades de painho". Painho sentiu  seu rosto queimar, as mãos espalmadas pra " dar lhe uns bofetes ", que foram evitados pela rápida intervenção de Tião carretão ( era o apelido dele ): " vamos coronel vai escurecer na estrada ". E lá foi o Ford bigode com a criatura saltitante no banco de trás, falante e esbaforido, perfumado que só... O coronel na frente entristecido com a frescura que emanava do banco traseiro... " Painho, eu preciso urinar ". Tião recebeu ordens de parar e o coronel disse " você vai mijar atrás daquela moita ali, está entendendo ", com uma voz pouco convidativa. O " menino " foi caminhando e o coronel saiu do carro com uma pistola no punho atrás da criatura. Tião gritou " não faça essa besteira coronel !" O que de pronto ouviu de volta " se ele acocorrar eu MATO " 🤣🤣🤣🤣🤣

O vento

 Paulo Mendes Campos disse;

" O vento é o aprendiz das horas lentas "

Seria a tempestade o professor das horas corridas?

O vento...

"De aflição e dispara à outra praia, onde talvez enfim possa assentar

seu momento de areia — e descansar"

Ah Paulinho...

E o amor? Como assentar para descansar? 

Ele consegue ser tempestade na hora incerta e vento sem hora

O amor, não é Paulinho?

 Nunca para e sossega, posto que é chama, não é Vinícius?

 Não conhece a paz pois o coração não descansa nunca 

E assim areia jamais será

Olhos azuis

 Já podes brincar de azul

Teus olhos são mais

Já podes confundir loucos

Teus olhos vão os perdoar

Se vais ser mais suave

Se vais trazer a leveza

Só uma cor vai te dizer

O vermelho paixão de teus olhos azuis

Foto de Heinz boerder

Vá

 Vá

Vá ganhando para aprender a perder

Vá perdendo até começar a agradecer

Vá perder seu medo usando a tua fé 

Vá se quebrar para deixar entrar luz em ti

Vá aceitar o riso alheio até soltar o teu

Vá sentir seu ego fugir do teu coração

Vá apanhar sem chorar e bater sem dar risada

Vá ver os milagres até acreditar em um só: a vida

Vá aprendendo a respirar amor e expirar o ódio

Vá ver Deus em tudo até ver o seu rosto

Vá viver sem culpa e não culpar para viver

Vá amar sobretudo e sobretudo amar