quarta-feira, 26 de agosto de 2020

No caminho do céu

 No caminho para as nuvens havia coqueiros

Havia também um mar de tantos sonhos sonhar

A areia fina nos pés vinha cantar 

Os olhos, esses sim, no caminho a se maravilhar


segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Mariazinha, a esposa do coronel

 A aflição de Mariazinha


Maria Siqueira Brito, também conhecida como inhá zinha, ou Mariazinha, pelo marido, era mulher quieta como de praxe naqueles tempos. Seu marido, ou melhor, digníssimo esposo, sim, mandava e desmandava. Era lei. Os homens respeitavam o dono da terra, do dinheiro e das mulheres. O coronel Siqueira era um predador, sabia desfrutar das delícias das carnes ( alheias ) sem a " observância" de Mariazinha, sempre desconfiada... O coronel, após a refeição maior do meio dia ia descansar, ou como ele dizia, " tirar uma palhinha" para no final da tarde passear com seu cavalo mangalarga, bicho bonito, bem tratado e escovado, como de praxe. Ela, já desconfiava dos olhares que seu varão ( e bote ão nisso 😁) para a linda morena de cadeiras fartas e seios duríssimos (que causava  irritação na dona da casa), criatura que ajudava na serventia do casarão. A moça, de rara beleza, tinha sempre um sorriso no canto da boca ao ouvir o chamado grave do inhô " traga meu café menina ", que chegava quente para a língua seca de desejo na boca do coronel ir  passear nos seus lábios masculinos, " ô delícia, ô delícia" com olhar direcionado para a cadência coreográfica daquele  pecado em forma de mulher. Mariazinha, inconformada, nada podia fazer, percebia que o coronel não estava mais ocupando sua feminilidade ( era costume no fim do dia ela perguntar pro marido " vosmecê vai me ocupar hoje? " para, no balançar positivo da cabeça ir se lavar).

O tempo passou e o cavalo machucou a perna, sendo obrigado ao  dono percorrer sua propriedade sobre uma égua comum. Mariazinha, esperta no todo, estratejou o plano, e meia hora após a saída do marido soltou o alazão, que, a passos miúdos, avançou trilha costumeira. Lá chegando a cena cinematográfica se fazia brotar: debaixo da mangueira, o coronel estatelado de felicidade sobre o colo de sua deusa marrom recebia uns cafunés. " O que é isso Siqueira Brito? Que desvergonhice !" A voz feminina acordou o macho adormecido que, ao ver sua dama, deu a resposta " é pra te poupar Mariazinha, é pra te poupar 😁" . E a paz voltou a reinar na fazenda.

Coronel Siqueira Brito

 Coronel Siqueira Brito


Essa figura viveu no nordeste e, dono de terras, era respeitado como tal. Na época um dos seus filhos, um rapaz franzino e de muita " sensibilidade" foi estudar em Paris. Anos se passaram até o retorno do agora doutor no porto do Recife. O herdeiro da macheza do pai desceu do navio com o diploma nas mãos, pele alva e mãos muito finas, a voz estridente já dizia tudo " que saudade painho ", com um aceno pouco atrativo para o pai. O coronel colocou o filho nos trilhos dizendo " vamos deixar os abraços lá pra fazenda" e acenou para o motorista buscar a viatura. O rapaz entendeu que o pai não tinha mudado muito, mas a vontade de contar as novidades da terra dos perfumes e da moda era muita e, assim, desandou a falar na viagem. O coronel na frente, ao lado do motorista, calado. A estrada de terra e o calor não ajudava o tempo a  passar e a voz delicada do passageiro veio em solicitação " painho, eu preciso urinar ". O coronel, de pronto, respondeu " meu filho aqui no nordeste se mija, entendeu? E mijo quente e grosso..." Em francês o suspiro " ó mon Dieu"... É urgente painho... O coronel mandou encostar o Ford e saltou do carro para abrir a porta para a criatura se " aliviar" no mato. "Vá pra traz da moita pra se desanuviar". O moço saiu um tanto o quanto com andar apertado e o coronel atrás com a arma na mão... O motorista, ao ver a cena, gritou " Coroné não faça besteira! ", O coronel respondeu curto e grosso " se acocorar eu MATO ! " 😁