segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Interpretação de um sonho ( Por Maria Elizabeth )



Interpretação de um Sonho

Era verão, tempo de praia no Nordeste. A família do senhor de engenho tinha uma casa de veraneio no litoral norte de Pernambuco. Como acorria todos os anos, ali se reunia a família nos finais de semana. Manhã de domingo.  A turma jovem ainda em pleno sono, a dona da casa na cozinha providenciando o almoço. Na sala, sentados à mesa do café sogra e genro conversavam animadamente, ele contando um sonho que tinha tido naquela noite:  “Sonhei que estávamos na casa de minha mãe em plena cheia. Água para todo lado, a casa inundada e todos os carros boiando no quintal, uma coisa danada.” Na década de 70 houve várias inundações (cujo codinome no Recife é cheia) que atingiram a cidade do Recife e outras no caminho do Capibaribe. Na capital de Pernambuco, muitos bairros ficavam completamente alagados, as casas tomadas pela água imunda. Uma coisa terrível mesmo, só resolvida com a construção de uma barragem muitos anos depois. Pois bem, o narrador dava detalhes à sogra do seu sonho e ela ouvindo a tudo bem atenta.
Semana seguinte e todos na casa de praia novamente. O genro ansioso esperando a sogra chegar para contar sua fracassada investida no mundo do jogo do bicho. Explico a ansiedade, a sogra era jogadora contumaz, fazia fé na Loteria, jogava no bicho, na Sena, etc e tal. O marido não gostava que ela jogasse, então ela se valia do silêncio e cumplicidade do velho motorista da família. Estava acostumada a ganhar de vez em quando, lembrando sempre de gratificar bem o seu cúmplice.
Lá pelas 10h a sogra chegou, trazendo sua alegria e muitos presentes para os netos, uma festa! O genro ficou pensativo. Seria aniversário de alguém? O dia das crianças já passou, o Natal nem chegou. Então qual seria o motivo de tantos presentes?
Beijinhos pra lá, beijinhos pra cá, a criançada alvoroçada abrindo os presentes, o genro chamou a sogra de lado e iniciaram o seguinte diálogo:
- Que tantos presentes são esses, minha sogra?
- Você lembra do  sonho que me contou, meu genro? Baseada nele, eu joguei uma milhar certeira e tirei uma bolada boa. Deu até para o motorista comprar uma geladeira nova!
- Como assim, sogra?  Estava justamente esperando a senhora chegar para contar que seguindo seu exemplo, joguei no bicho. Apostei na milhar de todas as placas dos carros da família. Como resultado, fracasso total. Não acertei nem no grupo! (No bicho, a mais baixa remuneração.) Não é possível! Eu joguei na placa de todos os carros, de papai, de mamãe, dos meus irmãos, da minha irmã, dos meus cunhados, no meu, no da minha mulher, de todos da família!
A senhora olhou pra o genro frustrado e com seu jeito simpático lhe disse:
- Meu filho, venha comigo que vou lhe explicar.  
E segurando-lhe o braço, conduziu-o até o local desejado. O bar. A casa era grande e embaixo da escada que dava acesso aos quartos ficava o bar, elemento indispensável naquela casa de praia.  A sogra deu uma boa risada e disse “No seu sonho os carros não estavam boiando na água da cheia? Então? O que anda na água é lancha e não carro, meu querido!” E feliz apontou para um objeto.
Pendurada na parede de trás do balcão do bar estava a placa da lancha que havia caído há algum tempo e ficou como decoração e naquele momento servia como comemoração!
E a velhinha matreira arrematou: “Não basta sonhar meu genro. Tem que saber interpretar o sonho”.

 Maria Elizabeth Heráclio do Rêgo Freire


Nenhum comentário:

Postar um comentário