quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Coisas de família ( de Maria Elizabeth, minha prima Lizá )

O Vereador e a Macaca
A senhorita já tinha passado da idade de casar, pois naqueles tempos moça depois dos vinte e tantos e solteira, estava prestes a ficar pra titia, quando conheceu o rapaz. Ela estudante de biblioteconomia e ele de direito.  Pois bem, namoraram e sem muitas delongas marcaram o noivado. 
Havia um problema: ela era mais velha do que ele! Um pecado. O que a família do rapaz iria dizer? Então mais do que depressa, a não tão jovem deu um jeito de “trocar” todos os documentos e pronto: dois anos mais moça que o noivo. Tudo certo. Marcaram o dia da festa.
Acontece que naquela época o rapaz era vereador de Orobó, cidadezinha que faz divisa com a Paraíba. Uma rua corta os dois estados, num lado Orobó (Pernambuco) do outro Umbuzeiro (Paraíba).
No dia do noivado, haveria uma sessão solene na Câmara de Vereadores local e lá foi o noivo cumprir sua obrigação como legítimo representante do povo de Orobó. A sessão estava marcada para as duas da tarde e como Orobó ficava a menos de duas horas do Recife, daria tempo para tudo, inclusive para o noivo se apresentar cheiroso e elegante para pedir oficialmente a mão da filha do senhor de engenho.
Tudo corria como esperado, quando o presidente da Câmara tomou a palavra. O rapaz gelou. O danado do homem puxou do bolso um maço de papéis e começou a falar.  O quase nubente foi ficando nervoso, olhou pro relógio, já marcava mais de três horas  e o homem falando. Olhou de novo, o ponteiro grande passava das quatro e o homem ai que estava empolgado. Quando finalmente bateram cinco horas da tarde, o noivo não aguentou mais. Levantou-se, foi se esgueirando, passando pela multidão, que, diga-se de passagem, já estava bem enfadada, pois fazia um calor danado e o homem nada de parar a discurso. Finalmente, o pretendente chegou perto da tribuna. Ficou olhando para ver se o locutor se tocava, mas nada, o homem não parava nem para beber água. Num gesto desesperado, próprio dos amantes verdadeiramente apaixonados, o vereador prestes a noivar chegou mais perto e num golpe certeiro roubou o restante das folhas que ainda estavam para ser lidas. O povo gostou. Aplaudiu. O presidente, surpreso, ficou sem saída, e para o bem de todos, encerrou a sessão.
O noivo correu, foi para a capital. Banhou-se, barbeou-se, enfeitou-se e tirou a senhorita do caritó!
Não entenderam porque no título tem macaca? É que aqui no Nordeste, quem passa dos vinte e cinco anos e não casa, diz-se que dá o primeiro tiro na macaca. A cada 5 anos a mulher dá mais um tiro. O risco é a macaca morrer e a mulher ficar solteira para todo o sempre! Desta feita, a filha do senhor de engenho e a pobre macaca escaparam!
Maria Elizabeth Freire


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