A mariola e o
macarron
Eu, quando jovem,
comi muita mariola no colégio. Pão com ovo também. São coisas simples que tem
um enorme valor sentimental (hoje) e educativo (no passado). Vi alguns amigos
comerem uma merenda especial, cachorro quente e grapette; na saída da escola os
mais favorecidos ($) “traçavam” um belo sundae de morango... Eu babava e comia
meu pão canoa com geleia de morango. Muitos anos depois fui experimentar o tal do
“macarron”, françês, dos bons, com um sabor indescritível, uma verdadeira obra
de arte. Mordi e lembrei-me da mariola, não sei o porquê, mas estava no meu
coração adulto uma lembrança de um outro doce tão simples e puro que apareceu
do nada essa lembrança. Na minha boca o sabor incomparável do magnífico
macarron e na mente a mariola com alguns fragmentos dos suspiros que mamãe
fazia (ótimos!). Por quê? Ao provar um belíssimo Bordeaux me veio um certo
ranço do vinho “sangue de boi” de garrafão que me deu o maior porre juvenil de
todos os tempos. Estou revivendo sabores, uma bela confusão mental que tem um
objetivo: saber o que é bom e o que é melhor, entender que o tempo faz o
tempero da vida. Com 15 anos eu não saberia valorizar o macarron e com 20 um
belo Bordeaux não valia um centavo do meu bolso. A vida dando seu devido valor
na moeda do tempo. E as decepções? Foram tantas e tão idiotas (hoje) que me
vacinei para o amanhã. Amores passaram, beleza, e fica a dureza de entender a
dor da perda com a alegria do saber perder. Isso é ser objetivo. Simples.
Voltemos aos nossos
valores “mariolas” e os valores "macarron”. Sabia que o tempo pode invertê-los?
Hoje tento simplificar, ou melhor, “mariolar” as coisas. Por que ter um carrão
se ando engarrafado todos os dias? Não é melhor andar mais à pé do que se
acomodar aos modernismos, aos confortos? E falar “Tête-à-tête”? Melhor que
mandar uma mensagem ou achar que o facebook é o melhor dos macarrons e usá-lo
para tudo? Um feijão feito em panela de barro, um bom café da roça, uma pinga
mineira, coisas simples. Um belo presunto “pata negra” é caro e muito bom,
viajar de classe executiva é ótimo! Paris??? Se você pode desfrutar faça-o, sem
receio de experimentar uma mariola antes. E o nossos objetivos? Quando devemos
buscar o “macarron”? Quando ficar feliz com a "vida mariola”? Aí é que é o “ó” do “borogodó”, temos que
dosar o desejo do querer tudo com a satisfação do pão nosso de cada dia. Viver
e ser feliz é muito difícil na equação de criar objetivos possíveis sem se
acomodar; ao mesmo tempo imaginar o impossível como meta abstrata e verdadeira
ao mesmo tempo. Você está se doando demais? Confundindo valores? Sonhando
demais para sofrer além, ou levando o dia-a-dia como se fosse um paraíso na
terra? Amando demais ou de menos? Comendo e bebendo sem limites? Trabalhando
feito um louco e infeliz com o que faz? O chefe então... Nem vamos falar...
Pare um pouco para
saborear uma mariola, depois coma o que mais ama. Compare. Pense e repense seus
valores. Tenha força para mudar, coragem! Não admita que a vida te chame de
“Mariola” como um amigo da infância, que talvez hoje seja o Dr. Macarron!
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