Efeito multiplicador
Lendo a fabulosa
crônica do não menos fabuloso Veríssimo concluí que podemos modificar a “nossa”
realidade e fazê-la muito mais real e importante. O nobre escritor tece sobre o
futebol de calçada, com bolas improvisadas, diz lá: “Sensacional! Mata no
peito, põe no chão, faz que vai mas não vai,passa por um, por dois... Fáu, Foi fáu
do beque! O Juiz não deu! O juiz está comprado, senhores ouvintes!” (Jornal o
Globo de 26-09-2013 página 17). Isso se passava na cabeça do menino que
narrava, para si mesmo, a fantástica partida de futebol que terminava assim: “Atenção.
Ele olha para o gol. Vai chutar.Lá vai bomba... E lá vem a mãe, senhores
ouvintes! A mãe invade o campo. Ele tenta se esquivar. Dá um drible espetacular
na mãe. Dois. A mãe pega ele pela orelha. Pela orelha! E o juiz não vê isso!”
Realmente um absurdo! Mãe quando invade o campo é bronca, se for a sogra então
é para anular o jogo senhores!!!! Eu me lembro de quando jogava meu futebol de
calçada no final da Av. Rio Branco em frente às vidraças da TAP; fui bater uma
falta e aparece (sem ser convidado) meu pai na barreira! Absurdo senhores
ouvintes! Absurdo! Fiquei um mês afastado dos campos e com a bola retida pela
FIFA!!!!
O que importa é que a
nossa cabeça tem capacidade de mudar tudo para melhor ou para pior! Minha irmã
levou uma mordida passando em frente à uma grade de ferro, na ladeira do Leme,
e até hoje quando vê um indefeso cachorrinho acredita ser um lobo feroz! Fazer
o que? Eu quando ouvia os jogos pelo radinho eu entendia melhor o Mané
garrincha do que quando vi jogar no Maracanã. Meus ídolos sempre foram muito
mais imaginados do que vistos. Fui ver o Mick Jagger já velho (eu) e ele mais
jovem ainda! Foi bom, mas com gostinho de que faltava “algo mais”... Era o
efeito multiplicador que não havia! A torre Eiffel continua encolhendo na minha
cabeça! A primeira vez que a vi foi um deslumbre, o pescoço doía de tanto olhar
prá cima; e hoje até acho ela modesta... Poderia ser maior, não é mesmo? Porque
não fazem outra? No estilo “Dubai de ser?” Enorme, com quatro vezes o tamanho
da baixinha, que tal? Esses franceses têm que ser mais criativos e faturar
mais!
E para levantar o ego
o escritor manda essa: “Lá vai ele de novo. Cabeça erguida! Passa a bola e
corre para receber de volta... Que lance! O passe não vem! Não lhe devolvem a
bola! Assim não dá, senhores ouvintes... Só ele joga nesse time!” Pois é, só a
gente mesmo é que pode fazer o jogo ser produtivo, fazer gol, esbanjar classe!
Quem sabe um dia, usando o meu efeito multiplicador vou poder escrever tal como
o grande Veríssimo? Seria “sensacional, senhores ouvintes, sensacional!”.
Roberto Solano
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