Sou do tempo
Sou do tempo em que
Selfie era foto 3 x 4
Havaianas eram para
os pobres e trabalhadores
Um telefonema servia
para resolver problemas
Um carro para mostrar
aos amigos: “esse é do meu pai”
Sou do tempo em que havia tempo prá tudo
Conversar na varanda, contar piada, ir ao Maracanã sem medo
Sou do tempo em que o medo estava escondido no imprevisto
O ladrão era até camarada e poderia te reconhecer na pelada
Os olhos eram para ver outros olhos e admirar belezas
Sorrisos verdadeiros, a cara limpa, a moça bonita por
natureza
Academia para os fisiculturistas, fortões das praias,
exceções
Ser machão era ato de baixinho folgado, chutando a canela do
grandão
Não tinha cinto de segurança, nem a palavra segurança: só o
conselho de mãe
As doenças matavam com rapidez: a foice da velha
afiadíssima, corte preciso
Dieta para os doentes, comida sem remorso, colesterol? Nome
de xarope?
Beijo de mãe passava a dor, conselho de amigo sempre, havia
amigo
Sou do tempo que dormia no ônibus e me acordavam no ponto
final
Na praia virava camarão, sentava na esteira, usava pomada
minâncora
Sp2 não era símbolo matemático e sim supositório de FNM
Trepar podia-se, mas o risco era tão grande e chamava-se
tesão
Hoje vivo sem tesão,
em frente da televisão, andando num carrão
Passeando de avião, hemorroidas
de montão, remédio pro coração
Dinheiro não conto
não! Não toco mais violão, do pau falo não!
WhatsApp, Instagram, hashtag,
facebook, email, Selfie, Iphone 4,5,6
Socorro !!!!! Cadê
meu amigo, meu irmão, o negão da pelada?
Chamem o ladrão !!!!
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