Pesado como pedra
Hoje acordei pesado como pedra
Não pedra comum e sim pedra de pedreira
Pedra que será triturada em seu destino incerto
Em pó, que é nosso destino final, em alma de pedra
Tem dias que acordo como areia
Não areia comum, areia boa, de rio doce
Areia que será acariciada por pedreiros, macia
Areia que vai casar sólida com cimento, forma
Outros dias sou cimento puro
Sou cinza no ser e útil para os outros
Sinto-me forte como madre Tereza de Calcutá
Viro concreto! Realizo sonhos! Bom homem...
Mas hoje acordei pesado como pedra
Procuro areia, procuro cimento e mãos
Quero virar concreto, quero ser algo melhor
Quero reviver sem pensar no pó
Com olhos ardidos vou levantando cansado
Da pedra despir-me, ser gente como gente comum
Dela só herdar o cansaço, o peso e a dureza
E ouvir Chico...
“Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi mundo então que cresceu “
E nessa roda viva olhar a vida
Tão dura como pedra
Tão concreta que dói
Tão água que choro
Devoro-me nessa dor sem explicação
Dormi pluma e acordei pedra
“É sol é pedra, é o fim do caminho...”.
Pouso os olhos no calendário: Março chegou
Quero ser Abril e, tomara, virar Maio
Quero ser leve para sonhar com músicas
Voar sem destino certo e andar solto
Da pedra só gostar do nome, só pisar, mais nada!
Mas hoje acordei pesado como pedra...
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