Matando caranguejos
Nosso corpo é um mangue. O mangue depende do
mar, do sol, dos seres vivos que lá habitam, das folhas, frutos, um ecossistema
muito complexo com milhões de bactérias em equilíbrio. Somos assim e vamos
envelhecendo: o mar ficando mais longe, as águas saudáveis das marés pouco nos
visitando, apodrecemos um pouco a cada dia. C’est la vie!
Agora temos que administrar o lodo, cuidar dos
peixinhos que ainda nos visitam, colher frutas e tocar em frente. A vida é bela
e única, o mar é a nossa alegria maior, o homem-mangue sabe de seu oxigênio,
seu sal, sua bruma branca. O vento o melhor amigo, derrubando frutos e trazendo
passarinhos. O sol com seu calor vai cozinhando a terra, movendo as nuvens,
trazendo a chuva doce para nos benzer. O tempo, esse sim é o inimigo maior! Ilimitado,
devorador e transformador. Um dia o mangue morre...
Temos um bicho perigoso por lá: o caranguejo.
Ele vive lá, percorrendo nossas entranhas, sendo expulso pelas águas, movendo
as terras mais distantes, cavando sua toca. Vivemos com ele em equilíbrio até
que um dia eles se multiplicam. As andantes criaturas se organizam para nos
devorar! Sim, são terríveis! Muitas vezes nem nos percebemos do mal que se
esconde em nosso corpo. Calados, trabalham em silêncio, sem incomodar, até...
Os buracos se incham, a terra fica sem ar, apodrece... No calor da escuridão
eles vão te matando Bicho-homem-mangue.
Aí entram os caçadores de caranguejos,
pisando no teu corpo, enfiando as mãos nas tuas entranhas até fisgar o bicho de
patas. Um trabalho duro de gente obcecada, que vive disso, muito pouco ganham,
são dedicados e estudiosos. Viver de caçar e matar caranguejos, não é fácil! Esses
heróis da medicina nos trazem a vida de volta, em forma de esperança, na eterna
luta contra o inimigo mais difícil da ciência: o câncer!
Fica aqui meu carinho para aqueles que
escolheram esse caminho mais duro, na esperança de que um dia o mangue fique
sempre lindo, limpo e saudável, cheio de peixinhos brincando com cavalos marinhos;
um mundo de mistérios e descobertas, sem os malditos caranguejos...
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