Medalha de bronze
Eu convivi com um
amigo de rara inteligência emocional, na minha juventude. Esse rapaz me ensinou
como podemos ser felizes sem sermos o melhor. O melhor é chato! Todos te cobram
e a obrigação de ser medalha de ouro é enfadonha. O melhor é estar entre os
melhores, ou melhor, ainda se achar o melhor! César Lavalle era assim: simples,
inteligente e desfrutador, sabia viver!
Os jovens miram o
sucesso, isso é natural. A beleza física era desejo de todos. Uns iam para os esportes, outros para o conformismo.
Nosso herói descobriu que para obter um belo corpo a melhor opção era o remo. A
lagoa Rodrigo de Freitas ficava perto de Ipanema e a disposição foi enorme. Fez
remo com muita divulgação entre os amigos que com ele se aventuraram no esporte
matinal, na esperança do corpo perfeito com os lindos “brotinhos” correndo atrás.
César não era feio nem bonito, e muito magro começou os árduos treinos no frio
da madrugada. O tempo passou e ele realmente encorpou algumas valiosas gramas no
seu esbelto corpo.
Vamos ao que
interessa: campeonato de remo! O nosso amigo chegou com uma bela medalha de
bronze! Um sucesso no colégio! Um feito a ser devidamente comemorado! Até um
chato desfazer a mágica... Nosso herói foi terceiro lugar na categoria que ele
estava habilitado na qual só tinham mais 2 candidatos! Que absurdo isso! Último
lugar???? Sim! Nada que tirasse o mérito da medalha e muito menos a alegria do
ganhador! O chato que “dedurou” o Lavalle foi expulso do nosso grupo, afinal não
há coisa pior que ser chato e burro! Tomamos vários chopes em homenagem ao
nosso atleta da zona sul! Isso nos bastava!
Um belo dia, nas
vésperas do vestibular, notei que o César estava queimado de praia e destoava
da turma muito branca de alunos aplicados e preocupados que viravam noites nos
livros e não desfrutavam da bela praia de Ipanema no início do verão. Perguntei
ao César “Você não está estudando?” Ele respondeu “Só o suficiente pra passar...”
Aí fui mais longe com a minha inveja em vê-lo caminhando para o mar e eu para
estudar na casa do Castrinho. “Você não tem medo de não passar no vestibular?”
Ele soltou essa pérola que guardo na minha memória emocional: “Roberto não
esquento não, pois SE DER DEU! SE NÃO DER FUDEU! SE FUDEU FODA-SE!!!!!
Meu herói é e sempre
será medalha de ouro na vida!
A tempo: Ele passou
para a PUC e se formou engenheiro como os outros de pele clara e noites mal
dormidas...
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