sábado, 7 de abril de 2012

Minhas aventuras domésticas

   Nos bons tempos eu tinha aventuras fora de casa. Hoje dentro... Meu “sonho de consumo” é uma BOA empregada doméstica! Como li hoje no jornal: elas estão sumindo do mercado, com a expansão do comércio e outros setores de serviços elas vão ser manicure, vendedoras, etc... Limpar latrina nunca mais!!! É o grito de guerra delas e o meu é SOCORRO !!!! Com a minha mulher em pânico, vendo sua vida ser transformada em um inferno: academia não, lavar roupa sim; shopping Center não, passar roupa sim... E por aí vai o sofrimento dela e meu desespero com a frase popular: “perco o marido, mas não perco a empregada!” Acontece que o marido ficou...
   Vamos às ações de um homem que tem que resolver tudo, executivo, eficiente, etc. Contratamos a “karatê-kid” que não funcionou: lenta demais. Para fritar um ovo era meia hora + meia hora para colocar no prato com colherzinha de sobremesa, “o senhor quer mais um pouquinho?” E eu respondia” só se for para a janta!”, ali sentado na mesa do almoço, vendo o tempo passar e minha reunião de trabalho ter que remarcar. Conclusão: as artes marciais da 3ª idade não servem para trabalhos domésticos... Contratei a “Jaburu”, por indicação da nossa lutadora chinesa. Jaburu poderia ser tudo MENOS empregada doméstica: surda, voz grossa e dissonante, enorme e forte como um búfalo. Logo no primeiro dia ouvi um estrondo na cozinha, seria uma explosão de gás? Terremoto? Atentado? Nossa que susto! Quando cheguei lá e vi a nossa adorável funcionária com olhos esbugalhados e uma voz cavernosa dizendo “pode descontar do meu salário”: ela, simplesmente, derrubou 20 pratos de uma só vez! E ainda, após análise crítica, acho que fiquei no lucro! Jaburu era o cão chupando manga! Após uma semana de tentativas e desastres (queimou o ferro de passar, o aspirador de pó e tudo que tinha fio na casa) demiti a nossa lutadora de vale tudo. Minotauro te cuida meu velho! Indiquei uma academia aqui perto de casa para ela começar como faxineira, e isso é o começo de uma carreira brilhante! Já deve estar com a faixa preta!
   Continuamos a pesquisa, após consultar Pai João e receber uns passes ele me disse “ Meu Zifíu... Tu vais receber uma entidade da Bahia... E não deu outra, chegou a Baiana. Uma conversa de “ derrubar avião”: sou cozinheira de forno, fogão e barraquinha de acarajé! Delícia pensei comparando com os ovos “câmera lenta” de Karatê-kid. Completou: vatapá, caruru, galinha ao molho pardo, cocada... Contratei na hora! Primeiro dia. Chego em casa e sinto firmeza na poderosa entidade ( filha de Oxum): uma feijoada apitando na panela de pressão! Comemos todos com satisfação. No dia seguinte a caganeira foi geral! E o cú ardendo!!!! Pimenta escondida no tempero da feiticeira do nordeste. Minha mulher gritou “ Não posso comer pimenta!” e fui lá questionar. Doutor, eu coloquei esses temperos aqui, e li”: “ pimenta do reino em pó”. Mas isso é pimenta! Não doutor, na minha terra pimenta é aquela ali, com dedos gordos apontando um vidro de malagueta... Pensei... Fudeu! O dia do peixe no forno foi uma delícia: era um linguado mais salgado que bacalhau! Amor, esse peixe é linguado? E uma cabeça afirmativa da minha mulher dizia sim, e após a primeira garfada dela um sonoro NÃO!!!! Que coisa salgada! Descobrimos que o defeito da baiana era a largura dos quadris ( ela tinha que entrar pela porta de lado, feito um caranguejo) e o peso das mãos. Conclusão: hoje está faxinando a academia de capoeira “Bons baianos não fogem da luta!” sugestivo nome que abriga mestre ” Galo doido” que me confessou” Essa baiana tem um rabo-de-arraia que derruba qualquer um...” Acho que o nosso mestre já entrou na porrada da baiana ou no acarajé, deve estar com o “forever” todo lascado... Tadinho do “ galinho “.
   E vamos em frente, rezas e mais rezas até que eu lembrei-me da medalha milagrosa que trouxe de Paris. Resgatei a peça e contrido fiz meu pedido “Je voudrais, Mère de Dieu, une bonne employé pour les services de ma Maison... E ouço o telefone tocar: era uma indicação de extrema confiança para uma candidata que trabalhou na Europa... Eita santa forte! Dei um beijo na medalha e esperei, contando as horas, o dia seguinte. Tudo certo! A senhora era ótima! Tinha trabalhado em um restaurante português e na casa de uma francesa, e falava francês! Só um detalhe: ela disse que todos os anos passava férias em Paris... Très Chic !!!! Eu pensei. Pas de problème ! Contratei na hora !
 No dia seguinte já estávamos preparando o cárdápio da semana :
 2a feira.................................. Coq au vin

 3a feira................................. Bouef bourgnion

 4a feira................................... Cassoulet

 Enfim, vou poupar o leitor, que já deve estar babando no colo ( feito eu ). Vamos aos fatos : O milagre c’est fini... A senhora prendada veio, na hora da refeição, com essa conversa :
-         Os senhores são pessoas muito educadas e formam uma linda família...
-         Obrigado Alice.
-         Não poderei ficar com vocês...

 Eu engasguei... Fiquei pálido e procurei a medalhinha no bolso para rezar, nada de achar... Meus Deus. Contendo as lágrimas aceitei o argumento: ela tinha dado a palavra para a patroa francesa e iria trabalhar na casa da amiga americana dela.

- O doutor não fique “concerné”, isto é preocupado, que talvez eu não possa por ficar (rester), pois não sei falar Inglês! Deixe seu e-mail comigo, certo?

 Eu ali fiquei triste e com o e-mail no cartão para entregá-la, quando ela disse “O senhor tem FACEBOOK” Desmaiei... Minha mulher me acordou abanando e ouvindo “ reveillez-vous, reveillez-vous, s’il vous plaît !!!”
 Meu sonho acabou...


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