Essa prova
eu não faço!
Coisa de
“cabra macho”. Estávamos no colégio de São Bento, década de 70, duelando com o
mais temível professor de Francês da história! Professor Paulo Armando.
Criatura realmente diferente: cabelos longos, usava umas sandálias do tipo
franciscanas, um nariz grande e empinado, pinta de “playboy”, e dizem as más
línguas que era uma “pegador” na sua área (tijuca), não deixando saia sem um
olhar desejoso. Pois bem, existem professores rigorosos, mas do nível dele não.
Era estudar muito para passar “raspando” na prova final! Passar direto era
coisa não possível e eu sofria nas mãos de Madame Sara, uma francesa que
recebia a missão impossível de fazer esse que aqui escreve passar de ano. Todos
sofriam, e muito!
O campão
era o palco das qualidades maiores dos competentes meninos atrevidos do ginásio
que jogavam contra a turma do científico (mais velhos e parrudos). Nosso time
não desejava nada às melhores seleções da época: no gol Zé Luis, o “Aranha
negra”, goleiro de vestimentas condizentes e todos os aparatos de um grande
“goalkeeper”. Na zaga Carneirinho trombava qualquer vulto que ousasse invadir
seu espaço. Ceguinho, com seus óculos embassados levantava poeira e sentava
pernada em todos (até em nossos atacantes que, por descuido, iam buscar a bola
com o grande Zé para recomeçar a partida), não tinha conversa não, o pau comia!
O ataque era brilhante com os craques Marcílio (um terrível driblador),
Ricardinho (um gênio da bola), Espanhol e Marcelinho pela ponta direita. Eu,
por vezes era escalado para a ponta esquerda, com jogadas tão endiabradas que
nem o “Fio maravilha” sonharia em fazer! Com um detalhe: nunca dava certo...
A turma
era boa de bola e, na maioria, flamenguistas de coração. Alguns botafoguenses
eram aceitos e poucos torciam pelo fluminense, time de elite e do afamado
professor Paulo Armando. Nosso herói, o Espanhol, estava sempre no pódium das
peladas e na lista da segunda época, prova que nos torturava, roubando-nos as
tão sonhadas férias. A turma dos comportados passava pelo Paulo com certa
dificuldade e os “meros mortais” com grande dificuldade, imaginem os
peladeiros...
Na maldita
prova da 2ª época o meu amigo Espanhol foi fazê-la com peito aberto e olhar
confiante! O sacana do Paulo Armando chamou o nosso melhor jogador e mandou
sentar na primeira fila (sem chance de colar), estendendo a camisa do
Fluminense sobre a madeira dura da carteira.
-
Espanhol!
- Sim
professor...
- Você vai fazer
a tua prova aqui na minha frente!
Quando lá
chegou o nosso companheiro se deparou com aquela camisa colorida
e estendida, em verde-vermelho-branco.
- Professor
Armando, sobre essa camisa eu não faço a prova!
- O que ????
- Não faço
não...
- Vai ganhar
zero !!!
- Pois então pode dar !!!
E nisso,
como os heróis gregos, em passos decididos, caminhou em direção à porta e por
lá saiu, sem antes puxá-la com vigor contra a parede. Isso é que se chama amor
ao time! Aonde já se viu um flamenguista se curvar diante de um imperador com a
camisa do time inimigo! Jamais...
Ouvimos o
suspiro de nosso professor “ Desolée “ que saiu da boca vingativa de um
torcedor já desesperado pelas inglórias derrotas sofridas diante de nosso
majestoso time vermelho e preto.
Só sei que a mãe do espanhol era
mulher de fibra e coração quente: foi á luta em defesa do filho. O nosso
torturador foi obrigado a dar mais uma chance ao nosso querido colega e valente
jogador, que com a ajuda de São Judas Tadeu (padroeiro do mengão) passou de
ano, como aquela bola rasteira que cruzou rente a trave e nos deu a tão sonhada
vitória sobre os grandalhões do científico. Dizem que nesse dia o santo não
atendeu mais a pedidos e foi conversar com o todo poderoso pedindo umas férias
bem longe do outro santo colega, o Bento.
Roberto
Solano
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