quinta-feira, 15 de março de 2012

Ar condicionado maneiro !


Ar condicionado maneiro!

 Tem coisas que só se vê no Rio de Janeiro:

 Cena 1:

- 3 horas da tarde chego ao escritório e toca o celular: “Pai, a maior merda! Um cara foi atropelado e bateu no vidro de trás, sangue pai, muito sangue...” Filho, você está bem? “, ele disse que sim e eu parti direto para encontrá-lo na frente da PUC, Marquês de São Vicente. Fui conversando com ele e monitorando os passos até chegar no local do acidente. O atropelado, por uma Van, caiu sobre o carro do garoto e bateu com a cabeça, cena feia mesmo. Lá chegando já haviam socorrido o jovem e um guarda municipal nos encaminhou para a delegacia.

Cena 2:

- Na delegacia foram feitos os depoimentos e seguimos para o centro da cidade na missão de fazer a perícia técnica no veículo acidentado: o carro estava com o vidro traseiro quebrado que tombou sobre proteção da mala, ou seja, sem vidro algum na traseira. Seis da tarde, já escurecendo, vamos para o encontro do desconhecido endereço do instituto Carlos Éboli, atrás do teatro Carlos Gomes, centro da cidade.
 No caminho parei em um sinal na lagoa e o vendedor de biscoito globo sacou a frase consoladora: “Maior prejú né doutor?” E que prejuízo, acenei positivamente, com meu filho do lado, não tínhamos tempo para comprar e nem fome para os biscoitos. Começa a chover um pouco, preciso chegar logo!
 Chegamos ao Humaitá e um retão se abriu, acelerei forte. Um motoqueiro emparelhou com o carro e buzinou, olhei:
- Ar condicionado maneiro!!!!
 E eu ali, vendo a figura rindo da minha cara de triste e cansado, tirando um “sarro” com um sujeito em situação pior que a dele, usando o ar condicionado natural. Só tem gozador nessa cidade, pensei e segui rindo o meu caminho tortuoso até o centro

 Cena 3:

- Chegamos! Um local escuro, um carro do Bope parado e um soldado fortemente armado. “Boa noite”, falei e recebi igual. Perguntei “como falar com o perito?”, ele disse “toca a campanhia e espera nessa janelinha aí”. Meus amigos, tudo escuro e aquela abertura branca com um funcionário público, sem pressa, aparece para pendurar o teu papel (solicitação de perícia) em um varal, junto com outros... O tempo passando, a chuva ficando forte. “Doutor, fique aqui que chove menos!” O simpático PM vem me aconselhar e puxar um papo: “ estou à uma hora esperando, e olha que sou policial...” ele conta a estória de um flagrante de drogas e apreensão que necessita da confirmação técnica. Eu pensei que aquela noite prometia... Perguntei sobre o BOPE os treinamentos, as cenas do filme, se tinha que comer comida no chão, etc... Passando o tempo até chegar um policial magrinho com uma câmera fotográfica na mão, olhou o carro e falou: “ esses meu colegas... Não dá prá fotografar nesse escuro...” Queridos leitores, não sou de morrer na praia e como um bom engenheiro dei a solução “ Não posso parar lá dentro debaixo do poste de luz? Lá vai dar certo, e sua máquina tem um bom flash, não é?” O policial percebeu que não ia voltar para ver a novela e que também não se livraria de mim... Fomos para as fotos... 9 horas da noite...
Cena 4:

- Engarrafado em botafogo, com fome e sede, volto para casa, agradecendo aos santos a sorte que tive de não ser passado prá trás na cidade maravilhosa e poder chegar em casa antes das 11 horas para dormir...
 “Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil...” O cristo ali me olhando e me avisando que tudo tem seu preço, não perca seu bom humor e curta seu novo ar condicionado. Então voltei, já abrindo os vidros, por São Conrado, rumo à Barra da Tijuca, bem longe das delegacias e burocracias que atrasam o desenvolvimento de uma linda nação.

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