Ar condicionado maneiro!
Tem coisas que só se
vê no Rio de Janeiro:
Cena 1:
- 3 horas da tarde chego ao escritório e toca o celular: “Pai,
a maior merda! Um cara foi atropelado e bateu no vidro de trás, sangue pai,
muito sangue...” Filho, você está bem? “, ele disse que sim e eu parti direto
para encontrá-lo na frente da PUC, Marquês de São Vicente. Fui conversando com
ele e monitorando os passos até chegar no local do acidente. O atropelado, por
uma Van, caiu sobre o carro do garoto e bateu com a cabeça, cena feia mesmo. Lá
chegando já haviam socorrido o jovem e um guarda municipal nos encaminhou para
a delegacia.
Cena 2:
- Na delegacia foram feitos os depoimentos e seguimos para o
centro da cidade na missão de fazer a perícia técnica no veículo acidentado: o
carro estava com o vidro traseiro quebrado que tombou sobre proteção da mala,
ou seja, sem vidro algum na traseira. Seis da tarde, já escurecendo, vamos para
o encontro do desconhecido endereço do instituto Carlos Éboli, atrás do teatro
Carlos Gomes, centro da cidade.
No caminho parei em
um sinal na lagoa e o vendedor de biscoito globo sacou a frase consoladora: “Maior
prejú né doutor?” E que prejuízo, acenei positivamente, com meu filho do lado,
não tínhamos tempo para comprar e nem fome para os biscoitos. Começa a chover
um pouco, preciso chegar logo!
Chegamos ao Humaitá e
um retão se abriu, acelerei forte. Um motoqueiro emparelhou com o carro e
buzinou, olhei:
- Ar condicionado maneiro!!!!
E eu ali, vendo a
figura rindo da minha cara de triste e cansado, tirando um “sarro” com um
sujeito em situação pior que a dele, usando o ar condicionado natural. Só tem
gozador nessa cidade, pensei e segui rindo o meu caminho tortuoso até o centro
Cena 3:
- Chegamos! Um local escuro, um carro do Bope parado e um
soldado fortemente armado. “Boa noite”, falei e recebi igual. Perguntei “como
falar com o perito?”, ele disse “toca a campanhia e espera nessa janelinha aí”.
Meus amigos, tudo escuro e aquela abertura branca com um funcionário público, sem
pressa, aparece para pendurar o teu papel (solicitação de perícia) em um varal,
junto com outros... O tempo passando, a chuva ficando forte. “Doutor, fique
aqui que chove menos!” O simpático PM vem me aconselhar e puxar um papo: “
estou à uma hora esperando, e olha que sou policial...” ele conta a estória de
um flagrante de drogas e apreensão que necessita da confirmação técnica. Eu
pensei que aquela noite prometia... Perguntei sobre o BOPE os treinamentos, as
cenas do filme, se tinha que comer comida no chão, etc... Passando o tempo até
chegar um policial magrinho com uma câmera fotográfica na mão, olhou o carro e
falou: “ esses meu colegas... Não dá prá fotografar nesse escuro...” Queridos
leitores, não sou de morrer na praia e como um bom engenheiro dei a solução “
Não posso parar lá dentro debaixo do poste de luz? Lá vai dar certo, e sua
máquina tem um bom flash, não é?” O policial percebeu que não ia voltar para
ver a novela e que também não se livraria de mim... Fomos para as fotos... 9
horas da noite...
Cena 4:
- Engarrafado em botafogo, com fome e sede, volto para casa,
agradecendo aos santos a sorte que tive de não ser passado prá trás na cidade
maravilhosa e poder chegar em casa antes das 11 horas para dormir...
“Cidade maravilhosa,
cheia de encantos mil...” O cristo ali me olhando e me avisando que tudo tem
seu preço, não perca seu bom humor e curta seu novo ar condicionado. Então voltei,
já abrindo os vidros, por São Conrado, rumo à Barra da Tijuca, bem longe das
delegacias e burocracias que atrasam o desenvolvimento de uma linda nação.
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