domingo, 9 de janeiro de 2011

O prazer idiota

O prazer idiota



Sei que vocês vão ficar chateados com o meu dizer. O papo é sério, vou tocar em assunto polêmico e delicado. Até aonde vale o prazer pela vida, ou a vida pelo prazer? Tem gente que sofre, no meu humilde pensar, de um defeito técnico de gostar de coisas perigosas e no meu ver sem sentido: um prazer idiota. A vida é única e boa se você colega aproveitar uma boa praia, a natureza, vinhos, comidas deliciosas, sexo e prazer,viagens, o ar e os passarinhos, tantas coisas a fazer... Entendo um bom charuto, uma dose de “underberg” (meu pai tomava, horrível!) e até gostar de dar o fiofó, gosto é gosto, me esforço para entender e me adaptar daí esbarro na loucura: gostar de subir em pedra! Ou seja, alpinismo. Quando menino fui, pelo colégio de São Bento, me aventurar em programas similares, não achava muita graça, mas era divertida, uma caminhada com amigos e um cabo de aço prá subir na pedra, os padres todos felizes (estavam mais perto do céu...) o coletivo valia mais e éramos crianças.

Hoje vejo mais uma tragédia de um alpinista morrendo á toa. Volto a dizer minha restrita opinião, e só! Vou tentar entender o prazer idiota-egoísta do cidadão. Ele planeja o ano todo, gasta dinheiro e tempo, viaja lá pro cú do mundo, passa frio e fome acampando e olhando pro céu e decide “Hoje é o dia! Vou subir!” E tome a furar pedra, fincar ferro na rocha ou no gelo, vento, o pé congela, o nariz fica vermelho e dói, o pinto desaparece e chega lá. Delícia dos deuses, orgasmos milenares, uma festa para os sentidos, estou no topo, sou o melhor e mais corajoso, sou o fodão do cú do mundo! Só eu comi o cú do mundo! E...

Tira-se uma foto do local, uma bandeira do Brasil, uma respirada no pior ar rarefeito do planeta, troca a cueca (toda molhada das ejaculações permanentes) e volta. Tudo de novo, corda, pino, frio e vento. Esqueceu de um detalhe, a morte. Sim, ela, a velha da foice, a nossa companheira de nascimento, safada e esperta, te espera. Um escorregão, um pino mal ancorado, uma avalanche, muitas formas da filha da mãe de abraçar, ele te quer, ela te ama , viu? E aí, você descobre que estavas é perturbando a velhota, futucando o rabo dela, provocando, prá que? Não entendo, sinceramente não entendo...

Tem doido prá tudo nesse mundo, até prá mascar fumo de rôlo (meu avô dizia), mas burrice é demais... Subir na pedra e tirar uma foto vale tua vida? Trazer uma pedra de gelo prá sogra? Um dedo congelado e amputado é uma medalha prá mostrar ao neto? O que é isso? Entendo várias loucuras, desvios, até gostar de sexo-sujo (o carinha da novela gosta!), correr de carro, trepar com o pau dos outros (voyeur), pular de pára-quedas, etc... São atos curtos, são riscos menores. Subir em pedra não é prazeroso, não sou lagartixa e vou parando por aqui, antes que o leitor fique bravo com esse velho chato e conservador que tem medo até de subir escada...



Roberto Solano

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