segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Dom Justino

Dom Justino

Na minha infância, no Alto da Boa Vista, fui arrastado para o ensino superior do colégio São Bento, sim superior, como sempre. Era um aluno relapso, só gostava de jogar bola, bafo-bafo, soltar pipa, caçar passarinho e bola de gude. Estudava na escola municipal Menezes Vieira, até entrar no São Bento : minha vida mudou. Os alunos eram internos e sofriam com a distância dos pais, invariavelmente ricos, com filhos a educar no melhor colégio, educação superior, insisto. Minha Mãe era uma diplomata, na boa conversa, e sabia agradar a todos, bateu na porta do reitor, Dom Justino. Esse senhor tinha um olhar calmo e uma severidade ímpar, sabia comandar os meninos, era culto e um bom apreciador de vinho, ela chegou com uma garrafa de um ótimo italiano e um pedido de ingresso para um péssimo aluno. Tudo resolvido e coloquei meu uniforme azul adentrando no internato, sendo semi-interno, voltava prá casa todos os dias e meus amigos lá ficavam para rezar e dormir, acordando com um banho frio ás cinco da matina, disciplina.
Uma vez um colega fugiu, pulando o muro. Dom Justino foi atrás e trouxe o infeliz pelas orelhas, chamou os internos no campo de futebol e aplicou uma bela surra com seu cinto de couro grosso, não houve mais tentativas de fugas, Dom Justino era justo, isso ele era. Em 1967 tivemos uma chuva centenária no Rio de Janeiro, uma calamidade, 1000 mortos! Ficamos isolados no Alto da Boa Vista, sem vista alguma, sem luz, sem estradas. Minha Mãe, temerosa com a estabilidade de nossa casa, apelou para Dom Justino, homem bom, para acolher seus dois filhos homens no colégio em período de férias. Lá passei uma semana vendo os padres jogando bocha e comendo do melhor. Nas tardes eles conversavam se cruzando pelo corredor em uma marcha contínua e creio que espiritual, os beneditinos eram aplicados e exigentes. Aquele verão foi calamitoso, chuva imensa na nossa precária cidade, que o próprio nome diz “Um Rio em Janeiro”, verdade. Tenho medo do verão desde aqueles tempos confinados no colégio de São Bento sem entender que o mundo pode acabar debaixo de chuva. Longe de meus Pais estava sem medo, pois sabia que tinha do meu lado o homem mais justo de todos, meu querido reitor Dom Justino.
Roberto Solano

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