Sonho e pesadelo
Leio sobre Marta: “Eu
tinha tudo. Sempre fui de classe média. Carro hipoteca, viagem de férias,
família feliz. De um dia para outro a nossa vida começou a desabar como um
castelo de areia... Hoje não tenho nada e se não fosse por meus pais eu não
tinha nem como dar de comer às crianças”. Marta não é africana, nem indiana e
menos ainda brasileira. Marta é casada e tem um marido também falido (arquiteto)
que já tentou o suicídio, ela é contadora e desesperadamente sobrevive sendo
mais uma espanhola endividada.
Os números assustam:
6,2 milhões de desempregados (27 %); 10% das famílias com todos seus membros
desempregados; 11 milhões abaixo da linha de pobreza; 26,5% dos menores de 16
anos em risco de exclusão social! Essa é a dura realidade de uma parte da Europa
falida, sem perspectiva, com cultura e sem trabalho, com uma história sólida de
vitórias e amargando derrotas. Portugal vai pelo mesmo caminho (estamos cheios
de engenheiros portugueses por aqui no Brasil), a Grécia já foi para o brejo e
outros países na fila. O que houve? O mundo quebrou? Ou “brincaram” de ricos
com o euro dos ricos (Alemanha e França). Não sou economista e não entendo os
motivos, só sei que perder é muito duro. Quando se é pobre há sonhos e
conformação, já a classe média sonha menos e sofre mais com as perdas. Um
projeto “Tempos de crise” é a fonte de apoio para os desesperados, tentando
direcionar a mente das pessoas para viver pobre como pobre, a população está
deprimida e a dívida agora é social. Como se adaptar? E quem não tem um ente
familiar para ajudar? Dizem que as filas dos “sopões” estão cheias de
empresários, a vida agora será cavada de pequenos” bicos” e negócios informais sendo
que e esses empresários jamais pagarão suas dívidas, é uma situação sem
solução. O mestre Vanzolini tem um samba que diz “eu sei ser pobre sem raiva e
só sem tristeza” é difícil mesmo. E a vergonha? Complicado, diz à reportagem
que as pessoas evitam andar nas ruas para não ter que explicar sua situação
financeira; colocam o carro na oficina e não vão buscar; tiram os filhos da
escola privada e colocam na pública. Ficam deprimidas! Os “loqueros” estão
cheios (psicólogos), a sociedade de consumo sem consumo é podre.
E agora? Até quando vamos nós brasileiros gastar nosso real hipervalorizado na Europa? Eu tenho
vergonha de ser brasileiro por saber que não temos estrutura para enfrentar uma
crise como eles lá estão enfrentando. É amigo, cuide-se para os tempos das
vacas magras, pois o pasto é mutante e a economia é cruel. Se o espanhol com cultura,
vinho e um “pata-negra” está sofrendo tanto, imagine nós sem cultura, cachaça e
rapadura... Viva o povo nordestino, que tem raça e sobrevive sua Espanha, de sol
a sol, sem chuva todos os anos.
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