quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sauna de pobre

Sauna de pobre



Chegando o inverno e no Rio de Janeiro se admite sentir frio... Será? 17 graus. Para carioca é uma temperatura bem baixa, incômoda, o povo se veste mal, atrapalhado: não somos paulistas!

O mês de Maio traz uma doçura em meu ser. Tento explicar o que só eu sinto: um noivo. Casar com a natureza, delícia! O céu azul clarinho, portenho. O ar leve e fresco, com o frio de carioca mesmo.

A vontade aquece o forno, dá fome de queijos e vinhos, um desejo de ser mais bonito e vistoso: elegante. Carioca não sabe “entender” o frio, ele curte! Basta! Vamos prá praia, andar no calçadão, exibir uma “écharpe nova”, sem esquecer as havaianas. Uns tem frio e outros exibem corpos malhados e fortes, cabelos molhados, em uma mistura difícil de entender. Quem mora por aqui sabe que o frio é um “ser” adotado, um cachorro de rua, um gato no lixo: existe, ou você o aceita ou não, sente a sua dor e a sua fome ou não. Opcional esse frio, entendes?

Venho de família nordestina, friorentos e parados ficam: nariz frio sempre, cobertores demais, reclamações demais, chato isso! Acostumei a sentir frio pelos outros, um frio social. Meus primos super agasalhados e eu ali sem camisa. Chato ficava. Então colocava uma camisa de malha para diminuir a ladainha “você é louco? Vai pegar uma gripe!” e outras baboseiras deum povo que acende lareira nos 22 graus de Gravatá e toma vinho com o melhor fondue do mundo! Tudo no Recife é o melhor do mundo, se não é vai ser...

Vamos prá sauna? Já fostes em Penedo? Uma vila finlandesa que se debruça sobre a Dutra, no caminho de São Paulo. Lá uns malucos tomam sauna e depois caem nos rios e cachoeiras gélidas que descem da serra da Mantiqueira. Quer pegar uma gripe? Vai uma sinusite aí? Eu recomendo! Depois você me conta lá no hospital, certo? Eu não tenho esse problema: faço sauna de pobre! Estou imune aos resfriados! Sério!

Explicando o milagre e mostrando o santo: Guino! Um japonês que esbarrou na minha adolescência, um mestre de 6º Dan no Judô, figura muito querida. Esse cidadão nipônico tomava banho no clube ginástico Português. Uma nuvem de fumaça encobria o banheiro e lá, em total relaxamento, estava nosso chirran. Calmo e entregue as delícias do calor infernal que vinha na água fervente. Ele devia ter sido um chá em outra encarnação! Não se abalava uns 10 minutos, ficando lá, meio morto, levemente curvado, olhando o pinto pequeno... Depois vinha a ducha gelada! Não dava para crer! O Japa se tremia todo, acordava para o inverno e saía fumegando ainda. Na toalha branca eu via seu olho vermelho e seu sorriso maroto “Bom prá gripe”! Eu indaguei "Grande mestre, você não tem medo de se resfriar?" Meu guru, com a cara amassada e um quimono no braço falava “ Aluno que não faz sauna de pobre fica doente !" Verdade! Nada que vem de um mestre pode ser descartado! Fiz o meu teste-drive... Uma semana de febre...

Uma semana sem judô... Até voltar e perguntar “Mestre, eu quase morri”... E ele devolveu “ Não vai morrer mais de gripe!” Era a senha, tinha que acreditar... Acreditei. Hoje faço a minha sauna de pobre religiosamente, meu pai aprendeu e fazia também, no jeito nordestino dele, nem tão quente e nem tão frio...

Então colega, vai adotar o sistema? Estás em dia com o plano de saúde? Tens uma semana de férias? Recomendo o tratamento, muito bom mesmo! Tem cada filme bacana na seção da tarde... Vais se curar para sempre dos males respiratórios, do nariz escorrendo, dos incômodos espirros.

Sim, ia me esquecendo: traz prá mim um chocolate de Penedo, tá?



Roberto Solano

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