Zé Arruela
Sempre fui cauteloso
na direção. Quando jovem dei umas batidas inaugurais sem maiores gravidades até
que meu irmão entrou em um poste na Av. Vieira Souto (muito chique) e se
quebrou todo... Até hoje ele diz retirar cacos de vidro do rosto. Passei a ficar
velho e mais comportado ainda! Vamos aos fatos:
Recife, verão e transito
confuso. Os pernambucanos são os paulistas do Nordeste: se vestem bem, tomam Uísque
escocês e tem carros grandes; podem estar duros em casa, mas jamais na rua! E
são ricos nas aparências, as madames com “chauffeur”, os garotões com carros
poderosos e as peruas de SUV, ninguém anda de ônibus, só pobre! Andar de taxi é
coisa deplorável ou uma emergência a ser devidamente justificada a posteriori!
Tradições...
Lá vou eu, em meu
caminho, desviando dos malucos: lá não “rola” esse negócio de “dar seta”, macho
é macho e pronto! Entra da esquerda para a direita e vice-versa sem maiores
considerações; e você, caro leitor que está na direção, que se vire! Passa na
sua frente um carro desvairado e um filme na sua cabeça “não foi dessa vez...” Coisas
da terrinha. Em frente ao hospital Português tem um cruzamento em que você tem
que fazer um malabarismo de se deparar com os “inimigos” (carros na contramão)
de frente! Coisa de louco! Para depois entrar à direita e dobrar para o
estacionamento do hospital. Eu fiquei com medo de bater o possante veículo da
minha sogra em algum “inimigo”. Parei. E os carros passando na minha frente...
Uma forte buzina ouvi na traseira, outra, mais outra...
- Zé Arruela !!!!
Fui batizado pelo meu
adorável cunhado! Era ele, que depois falou: “Tinha uma abestalhado no transito
que me fez atrasar... Um Zé arruela! FDP!” Opa! Sou eu, meu cunhadinho. Ele ria
e ainda disse “bem que eu desconfiei, você é um roda presa mesmo!” Que
situação...
Outra cena: véspera
de Natal e a adorável incumbência de ir comprar tira-gosto e vinhos na Casa
dos frios; quem é de lá sabe a delícia que é ver a disciplina, educação
e organização das madames e seus motoristas com vários acepipes e perus nas
mãos. Não estava dirigindo (graças a Deus) e sim a minha sobrinha afoita e
desbocada. Ali ela estacionou na vaga dos deficientes:
- Querida, não pode parar aqui...
- Frescura Tio, vá comprar que eu fico no carro, se aparecer
um perneta te aviso e tu voltas mancando, avia sô, avia...
Sai no calor e a moça
ficou ouvindo música brega, no Whatsapp com o noivo. Voltei suado com as mãos
ocupadas e o bolso vazio (o povo de lá só gosta do bom e do melhor e eu tenho
que comparecer), e o carro foi acelerado em uma marcha ré afoita.
- Cuidado querida, tem um caminhão aí atrás...
- Frescura Tio, tem que “emburacar de vez” se não não vamos
sair daqui...
E tome de buzinadas,
meu coração abatido já quase enfartando... Passamos da primeira fase do jogo: a
marcha ré! Entramos na 2ª que era voltar prá casa, ela acelerou, cortou para
direita e num lance cinematográfico entrou à esquerda na frente de um ônibus.
Sabe aquele barulho de freio de lona vencido? Uhhhhhh, ziiiiiiiii, riiiiiiii,
fuuuuuu. Fudeu! Pensei eu já enfartando, ela me viu lívido e disse:
- Segura o Cú Tio Beto, segura o cú !!!
Amigos, eu passei a
usar a tática infalível do Piu, piu, piu... Não conhece?
- Piu, piu, piu
- Porra Tio, que merda é essa ???
- Piu, piu, piu
Eu já piava bem alto,
suando frio e rezando... Piu, piu, piu...
- Para tio! Que coisa chata!!!
- Piu, piu, piu...
Ela parou o carro,
com aquela freada que tua cabeça vai prá frente e o rabo prá trás, muito mais
emocionante que montanha russa.
- Explica aí o porquê desses PIU !
- Querida sobrinha, tinha uma amigo meu que, ao pegar carona
morreu sem dar um PIU !!!!
Ela ficou com pena e voltei
pra casa, todo cagado...
Hahaha ameii a cara d Recife e da sua sobrinha ahahah
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