sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Dia perfeito


Dia perfeito

 Algumas estórias ficaram em minha memória pelo valor da curiosidade e outras pelo humor embutido. Esse verão no Rio de Janeiro está atípico: seco, muito calor e praias lindíssimas banhadas por águas caribenhas. Isso basta para trazer alegria ao povo que sofre um pouco de tudo que falta, desde o salário até as contas que chegam sem perdão nesta época (IPVA, IPTU, seguro, material escolar, etc..); além disso, temos os escândalos de corrupção com o Nestor Cerveró proibindo a fabricação de máscaras carnavalescas com o rostinho dele (coisinha linda da mamãe!), falta água em Sampa e no Rio vai faltar também, falta vergonha no governo e sobram os aumentos de gasolina e todo o resto que vem atrás, uma beleza de país!

 Então vamos ao que interessa, vamos pra praia! É o que sobrou de bacana na cidade ex-maravilhosa. Tomei coragem e fui bem cedo caminhar na soberba Barra da Tijuca, a praia era um sonho em vida, mar calmo e vazio, uns velhotes caminhando e surfistas na água, umas gostosas passavam com as coxas emprestadas de Ronaldinho gaúcho humilhando as outras mulheres que trotavam na areia frouxa. Dei um mergulho, agradeci por ser abençoado e encontrei um amigo aposentado. Como falam os aposentados! É uma alegria para eles ter com quem dividir suas aventuras, já para quem ainda vai trabalhar uma tristeza... O papo foi demorado e o tempo passando... Tinha que partir... Vamos mergulhar? Foi a dica para quebrar a metralhadora fonética do cidadão, e deu certo! Ao voltar contei a estória de um grande empresário e industrial que não tirava férias, trabalhava até altas horas, homem de frente e decisões nas empresas que comandava. Um dia meu pai precisou falar com a criatura e ligou para a secretária e ela disse que ele não estava trabalhando naquele dia. O velho ficou assustado e perguntou “algum problema de saúde?”, ela respondeu “Não Dr. Solano é que hoje é um dia perfeito”. Ele não entendeu, mas acatou com a dúvida do dia perfeito na cabeça. Belo dia, ao final de uma boa conversa ele perguntou ao nobre amigo o que seria um “dia perfeito”, a resposta veio “Caro Solano, a minha vida é o trabalho e a família, não tenho laser, mas gosto muito da natureza e ela tem dias que se apresenta tão linda, tão linda que não resisto! Eu ligo para a minha secretária e digo “dia perfeito”, então ela desmarca todos os compromissos, até uma visita do Papa ela cancela!”.


 É isso, quem pode pode e quem não pode se sacode. O homem podia ser e era um apaixonado pelo dia perfeito. Com essa estória na cabeça saí da praia sem muita pressa, sem culpa e admirando a alegria do meu amigo aposentado, será que ele não matava trabalho em dias perfeitos??? Tenho que aprender muito mais com os aposentados!

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