Dia perfeito
Algumas estórias
ficaram em minha memória pelo valor da curiosidade e outras pelo humor
embutido. Esse verão no Rio de Janeiro está atípico: seco, muito calor e praias
lindíssimas banhadas por águas caribenhas. Isso basta para trazer alegria ao povo
que sofre um pouco de tudo que falta, desde o salário até as contas que chegam
sem perdão nesta época (IPVA, IPTU, seguro, material escolar, etc..); além
disso, temos os escândalos de corrupção com o Nestor Cerveró proibindo a
fabricação de máscaras carnavalescas com o rostinho dele (coisinha linda da
mamãe!), falta água em Sampa e no Rio vai faltar também, falta vergonha no
governo e sobram os aumentos de gasolina e todo o resto que vem atrás, uma
beleza de país!
Então vamos ao que
interessa, vamos pra praia! É o que sobrou de bacana na cidade ex-maravilhosa.
Tomei coragem e fui bem cedo caminhar na soberba Barra da Tijuca, a praia era um
sonho em vida, mar calmo e vazio, uns velhotes caminhando e surfistas na água,
umas gostosas passavam com as coxas emprestadas de Ronaldinho gaúcho humilhando
as outras mulheres que trotavam na areia frouxa. Dei um mergulho, agradeci por
ser abençoado e encontrei um amigo aposentado. Como falam os aposentados! É uma
alegria para eles ter com quem dividir suas aventuras, já para quem ainda vai
trabalhar uma tristeza... O papo foi demorado e o tempo passando... Tinha que
partir... Vamos mergulhar? Foi a dica para quebrar a metralhadora fonética do
cidadão, e deu certo! Ao voltar contei a estória de um grande empresário e industrial
que não tirava férias, trabalhava até altas horas, homem de frente e decisões
nas empresas que comandava. Um dia meu pai precisou falar com a criatura e
ligou para a secretária e ela disse que ele não estava trabalhando naquele dia.
O velho ficou assustado e perguntou “algum problema de saúde?”, ela respondeu “Não
Dr. Solano é que hoje é um dia perfeito”. Ele não entendeu, mas acatou com a
dúvida do dia perfeito na cabeça. Belo dia, ao final de uma boa conversa ele
perguntou ao nobre amigo o que seria um “dia perfeito”, a resposta veio “Caro
Solano, a minha vida é o trabalho e a família, não tenho laser, mas gosto muito
da natureza e ela tem dias que se apresenta tão linda, tão linda que não
resisto! Eu ligo para a minha secretária e digo “dia perfeito”, então ela
desmarca todos os compromissos, até uma visita do Papa ela cancela!”.
É isso, quem pode
pode e quem não pode se sacode. O homem podia ser e era um apaixonado pelo dia
perfeito. Com essa estória na cabeça saí da praia sem muita pressa, sem culpa e
admirando a alegria do meu amigo aposentado, será que ele não matava trabalho
em dias perfeitos??? Tenho que aprender muito mais com os aposentados!
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