As
aventuras de dona Gilda em Paris
Amigos, toda viagem tem paisagens,
sabores e pessoas. Eu curto muito ver pessoas e, se possível, interagir com
elas. Entendam que esse “interagir” pode ter lado bom e um lado ruim também!
Temos os chatos, os larápios, os mendigos e outros mais. Garçom é sempre
lembrado! Em Florença fui a uma cantina que o rapaz chegou dizendo “falo
Italiano, inglês, espanhol e francês!” Eu senti firmeza e fui direto ao Inglês”
macarrônico”, que é o melhor em terras de boa massa. Bem, no final da excelente
refeição eu “futuquei o cidadão” com o famoso” Parlez vous français???” e a
resposta veio frágil” un peu” com um leve tremor nos lábios... Ele não falava
nada! Italiano é sempre italiano: dono do mundo! Você aí não fala italiano?
Prego prá você! Estás fora de moda e não entendes o verdadeiro sentido da vida:
amar loucamente, se vestir sempre na moda e comer sem medo de ser feliz!
Entendeu? Não se esqueça da “La Mama” que é o centro do universo! Viver a vida
de forma italiana é arte, e é assim como os argentinos (mais pobres) que são
verdadeiramente felizes! Foda-se o mundo! Entendeu? “Viva l'esercito delle
Crociate Brancaleone” ou “El Boca Juniors es el mejor equipo de fútbol en el
mundo!”.
Voltemos pra Gilda. Uma mulher com menos
de 1,5 m de altura (isso não é medida, é hora! Diria uma amiga sábia!). Não a
medi e fui “gastar” meu francês com a dita cuja criatura no pequeníssimo
elevador do hotel, em Paris. Ela ali, falando em francês legitimamente
aprendido no “Colégio Sacre-couer- de- Jesus” ou de Marie; eu com meu do São
Bento. Ela firme perguntando “Est-ce votre primiére fois ici?“ E eu pasmo...
Senti que a meia-pessoa era brasileira e respondi: “podemos falar em português!”
Ela disse” Je prefer le français!” Gostei da moça (80 anos!) que gostava um
pouco da língua esquecida: o francês! Eu com quase 60 anos aprendi a “tal
língua dos inteligentes” quando menino, nas duras mãos de um professor terrível.
Agora vejo o tempo perdido... Fui péssimo em inglês (o professor era ruim e
fanho) e melhorzinho no francês. Hoje somos uma exceção! Quem fala francês aí?
Sou velho (concluí) e Gilda também! ERRADO !!! Gilda era “o cão com a dor e a
dor doendo”, vivaltina com olhos enormes em lentes que os ampliava ainda mais, entendeu?
Gilda, a pequena mulher, estava no mesmo hotel em Paris, com a sua pequena
irmã, espertíssimas!
Bem, para encurtar: Gilda sabia de tudo!
Café da manhã: vá à padaria do “Paul” e faça a festa! Liquidação? Ora, hoje
começa! disse Gilda, toda arrumada e perfumosa com sua sacola do lado, saindo
cedo “vou chegar quando começar!”. Eu não sei o motivo mas todo dia que saía do
hotel esbarrava com ela. Descobri que esse hotel (no coração do bairro Saint
Germain) é fantástico para gente velha! Um passo você está no metrô! Espirrou?
Está na melhor farmácia de Paris, do lado no ponto de ônibus (Gilda adora a
linha 70), Fome? 100 bistrôs ali, na porta... Uma comprinha? Um shopping na
frente... Nossa, eu entendi a alegria de Gilda: falar Francês e curtir o que há
de bom em Paris: flanar, sentir-se leve, viver o que há de bom na vida! Viva Gilda
e sua irmã, que como eu, pretende todo ano voltar para Paris (no verão) e viver
uma vida que não existe mais... Sim ela insiste em entender o mundo de forma
mais calma, inteligente, na discussão, em conversas sem fim sobre o destino da
humanidade, tomando um café ou uma “perrier citron”, gastando o tempo, tal
Simone de Beauvoir... Essas pessoas são únicas no valorizar a vida. Paris,
Praga, Bariloche, Rio de Janeiro são cidades comuns, sem Gilda, com ela tudo
melhora!
Vivam Gildas! Essas mulheres sábias, que com
a possibilidade infinda da felicidade de poderem viajar, escolheram Paris para
gastar o tempo, e, em “Saint Germain dês Près,” isso ainda é possível! Viver
uma velhice dinâmica com o tempo a seu favor, na cidade luz, que entende e
aceita a alegria dos mais velhos! Salut!
Roberto Solano
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