Qual lâmpada vai queimar primeiro?

Qual lâmpada vai queimar primeiro?

Pois é, uma questão sem solução! No meu tempo de estudante de engenharia um professor me dizia que certas coisas não se pode estabelecer uma “estatística”: um apartamento novo, lâmpadas novas, mesma marca, mesma data de fabricação, qual delas irá queimar antes? Qual vai durar mais? Ferrou... Não há solução matemática e muito menos explicação lógica.
O mesmo grande mestre levantou a bola e disse “No corpo humano também é assim, qual órgão vai pifar primeiro?” Hoje a medicina já pode prever tendências e até te sugerir uma idade provável, via telêmeros. Você quer saber? Eu não! Vou levando minhas lâmpadas, trocando algumas, acendendo velas e tocando em frente.
Agora vejo os mais idosos se desmanchando na vida, luzes se apagando, na lógica ilógica da vida. Outros com 90 anos subindo em escadas e trocando as luzes do apartamento! Não há explicação... Uma coisa é certa: a voltagem da casa. Com isso pode-se prever queima de aparelhos elétricos, a queda de luz e seu retorno violento: o humor! Tem gente que nunca domou seus leões internos e que esbravejou por um nada! A raiva de ser pobre, o ódio do erro, a falta de humor nos momentos mais duros, chutou paredes, derrubou mesa e jogou coisas pela janela. Alta tensão! Pavio curto... E os cigarros? Esse é um fio desencapado, infeliz ato de comer fumaça, bosta! Eu fumei, todos nós fizemos algo errado, mas fumar é provocar curto-circuito na tua casa, todos os dias...
Meu Pai dizia que nascemos programados para morrer, lá pelos 30 anos vinha um comando de retorno. As tuas células começavam a morrer mais e nessa conta corrente o saldo será negativo a cada dia, mais e mais, crescendo e você voltando para o nada que um dia chegastes. O sonho da vida eterna continua vivo, na ciência, nos vaidosos, nos medrosos. Poucos se preparam para o desfecho final. Viver é bom, principalmente com tudo funcionando, carga total! Bebendo o bom da vida, comendo seus momentos de prazer e sabendo brigar com a dor. Equilíbrio. Fácil falar e mais difícil ainda é cuidar de minhas lâmpadas, principalmente aquelas lá do meu jardim, que tomam sol e chuva todo o ano, minha juventude verde, queimando etapas, loucuras e noites mal dormidas, vivendo ao ar livre, solto, cachorro de rua, gato de bar. Sobrevivi, queimando muitas lâmpadas...
Agora é pensar na minha voltagem, dominar emoções, fazer algum exercício, harmonizar o conjunto e curtir a vida ainda sem dor. Esperar a solidão... Esse é o medo maior, da malvada, a dominadora criatura que está atrás de ti. Ela vai se aproveitando do tempo e do espaço, levando amigos para longe, te buscando. Ela te quer, ela te ama! Maldita! Amiga da velhice, companheira dos enfermos, dos feios, dos desamados... Não sei se mais a temo que a morte! Danada!
Como um lutador aposentado, estou no ringue da vida, levando porrada, dando uns soquinhos aqui, outro ali. Muhammad Ali, Cassius Clay, já velho e lutando contra a morte, bravamente, um herói! Esse é um bom eletricista da vida! Com a doença de Parkinson desde a década de 80. Briga pela vida como nos bons tempos! Cabra bom e valente! Prá ele vai meu voto de melhoras e sobrevida. Ele ainda tem forças para ajudar dos desvalidos do Haiti. Que Deus mantenha suas luzes acesas e que mande umas para mim...


Roberto Solano