Arnaldo bebia demais, não bebia pra esquecer, bebia pra lembrar. O dia nascia com a saudade batendo no peito como o despertador do trabalhador: hora de trabalhar pra lembrar, seguia na rua no rumo do bar. O bar abria cedo com café quente e pão na chapa, os homens por lá chegavam com pressa, Arnaldo não. O tempo não se mede, a saudade sim! Ele dizia. Chegava e apoiava sua dor nos cotovelos, o olhar triste e a barba mal feita, remela no olho, calça pendurada no cinto, e a pinga na mão. O cheiro do café trazia as novidades: o resultado do jogo, o vereador ladrão, a bunda da sanfoneira, tudo ali no ar. Na cabeça dele começava a chegar a lembrança dela, Laurinha, um amor que se foi e agora volta na memória do bêbado quase morto no álcool; ele se levanta, afasta a cadeira e chama ela "vamos Laurinha, vamos pra casa meu amor", os homens deixavam ele passar cambaleando e cumprimentavam o casal: nunca se sabe o dia de amanhã, o amor de Arnaldo com Laurinha era um patrimônio da cidade, o respeito ao amor deles era a certeza de que, se Deus quiser, ele volta amanhã bem cedinho para declarar seu amor impossível.
sábado, 15 de fevereiro de 2025
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