Lapa de
homem!
Minhas idas e vindas à Recife são para visitas
familiares e observações. Foi-se o tempo dos carnavais, das serenatas ao luar (a
moçada não conhece esses eventos românticos) e das paqueras. Fiquei velho!
Pronto! Agora é mais ver do que fazer. Dentro desta ótica ouço as histórias
engraçadas que só o povo de lá entende, vejam essa:
- Patroa- Ô
essa menina... Faz um suco de graviola prá mim...
- Empregada –
Posso não...
- Patroa- Ôxente... Por quê?
-O
liquidificador quebrou.
- Mostre.
A novata funcionária, vinda do interior,
apresentou o “copo” do liquidificador rachado, um descuido, boa moça, aplicada,
uma fatalidade.
- Se aperrei
não eu compro outro, jogue fora!
A patroa era de boa vontade e aquele modelo da
“Arno” tinha em qualquer mercado para vender, não tão caro e a moça estava indo
bem na cozinha, dizem até que fazia uma galinha de cabidela de primeira, o
problema era trazer a bicha viva e torcer o pescoço para matar e sangrar... A
patroa não podia ver sangue... Coisas de gente de terras civilizadas.
Voltando do mercado, dia seguinte, um “copo”
novinho chegava para trabalhar sobre a poderosa máquina de triturar frutas:
graviola, mangaba, pitanga, cajá, siriguela (o patrão gostava de tomar com uma
boa pinga na varanda, domingo de sol).
- Patroa-
lave bem direitinho para tirar essa catinga de plástico novo, visse?
- Empregada-
Posso não...
- Patroa- por
quê?
- Joguei
tudinho fora, a senhora mandou...
Entenderam a lógica da coisa? Quebrou-lascou?
E depois fui convidado para uma cantoria de
despedida, muito honrado fiquei, comecei tomando cerveja (o dono da casa sabe
que carioca gosta de uma loirinha gelada). A turma estava tomando “Red” ou” Black”,
entenderam? São os whiskies preferidos de lá, média de idade da bebida: 12
anos, dos usuários 12 x 5,5 = 66 anos. Engenheiro faz conta sempre! As músicas
tinham mais ainda! Eu cantei “pesadas trevas” de 1904! Sucesso estrondoso! Foi
quando pediu licença para cantar uma “Lapa de homem” da maior qualidade! Em Frances!
“Ne me quitte pas”, modernizando um pouco o repertório...
Saí de lá pedindo para a minha mulher “ Ne me
quitte pas!”, troncho e bêbado, deixando para trás uma turma animada com o
letrado cantor, que dizem estar interessado em uma amiga minha mais jovem que a
média local.
Dia seguinte, acordo com ressaca, e volto para
o Rio sem saber do enlace final. Será que o Frances “deu samba” com minha
amiga? Perguntei para minha mulher:
- Será que
os dois “ficaram” ????
- Sei não...
“ Lapa de homem” não me pareceu interessado...
- Por quê?
Aí, a minha senhora, já querendo acabar com
meu papo chato disse: “sabe aquela estória do liquidificador quebrado que você achou
tanta graça contada por sua prima?” Sim! Respondi de pronto. Se o rapaz fosse o
liquidificador não fazia nenhum suco que prestasse...
Entenderam o significado de “Lapa de homem”?
Saudades do Recife...
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