A saga do Jiu-jítsu
e a luta de Janjão x Zé encrenca
O Marcelo Alonso é um fotógrafo e repórter de
lutas, lançou um belo livro chamado “From Vale Tudo to MMA” com o fotógrafo
japonês Susumu Nagao. Fui convidado para
o lançamento no Rio de Janeiro e deparei-me com antigas figuras desse esporte
pouco convencional, o famoso “vale tudo”.
O livro retrata bem a trajetória de homens
que se achavam deuses e com méritos fizeram a estória no Brasil de uma arte
milenar japonesa, o Jiu-jítsu. Tudo começou com o Maeda, ou Conde Koma, que
chegou ao Brasil em 1913. Esse japonês tinha vencido mais de 1000 combates! Em todos
imobilizou seus adversários, sendo discípulo de Jigoro Kano que fundou o judô. Um
brasileiro aprendeu as técnicas do mestre e fez a luta se popularizar no Brasil,
o grande Carlos Gracie. Eu recomendo a leitura do livro.
Vamos aos fatos que me tocam. Meu pai
treinou com Hélio Gracie aqui no Rio de janeiro e contava fatos curiosos da
numerosa família, que fui conhecer anos após. Eu, de minha parte, tinha medo de
apanhar. Na escola vi um baixinho dar uma surra em um grandalhão (bem mais
velho) com um belo Tomoe-nague e uma montada definitiva, onde o mais forte
ficou esperneando , sendo humilhado à vista dos colegas. Fiz uma amizade eterna
com o Luiz Alberto e fui treinar judô com ele. Lá conheci um shihan, faixa
vermelha do 6º Dan, mestre Ogino. Figura simples e calma que me ensinou um
pouco da “arte suave” do Judô: aprendi a cair, respeitar os adversários e usar
a disciplina como meio para o sucesso. Esse grande mestre uma vez falou-me de
um capoeirista (mestre pastinha) que viu jogar com uma navalha nos pés, “eu
nunca que enfrento um homem desses!“, afirmou com sábia propriedade! A morte
seria certa em cortes de um “ventilador-humano” que varria o céu em todas as
direções! Mais tarde fui para a Gama filho treinar com a nata do judô carioca
como Sansão e Luis Virgílio, sob o comando do professor De Lucca. Um dia vi a
revanche do colega do São Bento na pele do Sansão: meu amigo Luiz (faixa marrom)
foi treinar com o Sansão (campeão carioca) e, sem querer querendo, aplicou um belíssimo Ipon no negão!
E apanhou por 15 minutos seguidos! Foi pela técnica e disciplina do Ogino que o
meu amigo se lascou! Tinha nada que desmoralizar um campeão! Coisas desse
esporte digno. De outra feita o Luiz caiu como morto sem respirar no chão, com
o Virgílio por cima gritando “corre De Lucca, corre que ele não está respirando”.
Simplesmente um Uchi-mata de esquerda fez meu herói do campo de futebol voar e
cair com um pesado faixa-preta por cima! Tadinho do Luiz... Aposentou-se da
luta por motivo de viagem e trabalho, e eu fui parar nas mãos do Carlson
Gracie... Que diferença! Esqueça a disciplina e corra atrás de apanhar pouco!
Lá em Copacabana o “bicho pegava”. Até às 19 horas treinava-se com gente igual à
gente! Depois, colega, o bicho chegava em nomes de Peixotinho, Pinduka, Rosado,
Amaury, Rosenthal... É mole? Não dava prá mim e não deu mesmo, acabei minha
carreira com os ligamentos do joelho rompidos, na mesa do cirurgião.
Hoje aprendi a treinar “Taxi”, uma luta
dinâmica que permite uma retirada estratégica com um braço estendido!
Maravilha! Vi, também, o duelo de Rickson com o enorme Rei Zulu, no
maracanãzinho lotado, que luta! Claro que os “invencíveis” ganharam: o jiu-jítsu,
evidentemente. Aprendi com os Gracie que a certeza da vitória é um fato! E
Carlson falou “jiu-jítsu é para os fracos, o forte não precisa aprender, mas se
aprender fica invencível”, com razão e propriedade!Palavra de um grande mestre. Certa feita ele reuniu a turma
para ensinar uma gravata. Um colega, bem forte por sinal, gritou “professor
esse acreano não bate!” Como??? O fabuloso campeão colocou o jovem e parrudo
faixa branca iniciante na frente da roda para aplicar a boa e velha técnica da
gravata, e... O rapaz não sentia nada! Que humilhação! Nosso mestre teve que
explicar uma anatomia incomum de raríssimas pessoas que tem a veia jugular em trajetória
interna e outras invenções para desistir de estrangular o baixinho lá do Acre,
coisas de academia.
Muito falei e não contei da luta mais sangrenta
que assisti: Janjão x Zé encrenca. Janjão é enorme e forte, um monstro! O Zé
fraquinho e ágil! O pau comeu aqui em casa: Janjão baixou hospital com dois dentes
arrancados e orelha quebrada! Pois é, Zé encrenca é um filhote de gato,
endiabrado, que atacou meu belo elefante de madeira, sobre a prateleira,
fazendo esse estrago... Gato luta tudo! E bem, fugiu correndo após o estrondo que fez... Os Gracie
devem ter tido muitos gatos em casa, disso tenho certeza!
Roberto Solano
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