domingo, 6 de fevereiro de 2011

Uma aventura em Mauá

Uma aventura em Mauá

Amigos, já escrevi sobre NY city, a passeio, agora trago notícias de outras terras: Mauá. Não é Visconde de Mauá, local de muito verde e cachoeiras, clima de montanha e bonito. Infelizmente foi em outra Mauá, sem o Visconde mesmo, muito menos nobre, um município industrial da grande São Paulo. Foi num sábado, verão, sol escaldante, segui viagem para visitar um fornecedor de moldes para Rotomoldagem, um sistema que transforma o plástico-pó em tudo que você quiser, lata de lixo, casa de cachorro, pinico, caixa d’água, etc..
Vamos aos fatos. Às sete da matina recebo meu companheiro de viajem, o André, rapaz fino, educado, pesquisador, vestido em um blazer bege, camisa social com calça modernamente na moda, sapato de couro combinando com o blazer, muito chique! Pensei... Acho que estou mal vestido com minha blusa branca, calça jeans sapato-tenis preto... Seguimos rumo ao Santo Dumont, dia quente, de sol a pino, e eu indo prá São Paulo, o que fazer? Tudo em nome da pesquisa!
Amigos, sabem que existem dias que tudo dá errado, né? Esse foi escolhido a dedo pelo Pai eterno, que lá de cima pensou: vou sacanear esses cariocas que trocaram uma dádiva minha (sol e praia maravilhosa) para irem á São Paulo TRABALHAR !!!! Eles vão se ver comigo! Dito e feito!
O vôo saiu no horário, tudo certo até chegar nas terras paulistanas... O sacana do piloto levou uma cutucada do Pai lá de cima e deu aquela adorável porrada com as rodas da estrovenga voadora no nosso rabo, opa! Acorda seus moleques! É hora de trabalhar! Levantei meio puto com o piloto, que devia estar ainda pensando na contração sentida no segundo exato da descida, um cutucão do lá de cima é foda... Fazer o quê?
O objetivo era visitar um galpão de uma empresa familiar que fabrica os moldes da tal da ROTOMOLDAGEM, Três irmãos.

- Primeiro irmão: Rubens

Ligo para o Rubens e digo que cheguei (ou melhor, chemacho!) no horário e ouço o cidadão dizendo que pegou trânsito e estava chegando, para irmos encontrá-lo debaixo do relógio redondo do terminal dois de Guarulhos, fomos lá prá fora. Tinha gente prá todo lado, vimos uma loura ajeitando os cabelos, com os braços para cima, que loucura de mulher, que seios, que conjunto seios-suvacos, que loucura! Olho prá cima e a porra do relógio suspenso está lá na direita, longe da loira, rumamos prá lá. Debaixo do marcador de horas não vimos nenhum carro preto, voltei os olhos para a loura que estava lá longe, merda de relógio fora de lugar! E notei, além loura, outro relógio, porra! Esse corno deve estar debaixo do outro relógio. Liguei de novo “Amigo, estou debaixo do último relógio, depois de uma loira de fechar o comércio, venha! “ O camarada chegou, achou a loira,claro, e a mim , depois que eu invadi a pista com cara de carioca perdido... Calor amigos, muito, o carro preto, sem ar, seguimos até entrar na a Ayrton Senna. Priuuuuuuu! O guarda rodoviário mandou parar... Nosso ilustre motorista cantou a pedra “minha carta está vencida”...” Pensei “ FUDEU !!!! “ Só pensei, colega, até ter certeza ! O guarda chamou meu cicerone lá prá cabine e saímos, eu e o André - elegante para procurar uma sombra, achamos uma meio-sombra de um pinheiro velho e ficamos. Dez minutos, nada... Vinte minutos, nada... O Rubens não voltava... Acho que a merda é grande ! Ficamos ali contando estórias para gastar o tempo e calculando o custo de um taxi para retornarmos ao aeroporto, quem sabe a loira não estaria por lá ? Um caminhão velho , com sacos de batata, foi convocado a parar junto do nosso possante e refrescante carro “ Black “ que ardia ao sol ! O motorista, também Black, do caminhão levou um susto e o bicho morreu o motor na pista, já perturbando o trânsito. Meu amigo André veio com uma estória de um caminhão que morreu e só ressuscitou 24 horas depois, dei uma pisada de leve na ponta do mocassin do elegante colega, dando o recado, não é hora de pensar negativo. Pensamento positivo ! O caminhão pegou ! O motorista era um negão já velho, barrigudo, sandálias havaianas, óculos troncho e sujo, pendurado em uma cordinha de rezar o terço , mancava da perna esquerda... Pensei, esse aí vai virar a noite por aqui... 30 minutos, o filho do Rubens foi pegar o celular do Pai no forninho Renault, cheguei a ouvir o “ Uiiiiiii “ do garoto segurando aquela pedra preta, que fala, nas mãos e correr para o pai que já estava cercado de 6 guardas... Pensei “ Fudeu... “e repensei, vou relaxar... André tu conta as batatas da esquerda prá direita e eu conto no outro sentido. Uma, duas, quarenta e cinco, quinhentas e trinta e duas batatas ASSANDO, fora a batata do Rubens que a essa altura já estava cozida lá dentro da cabine da PM. André gritou: Quinhentas e trinta! Porra André não sabe contar! Vamos de novo, eu vou pelo teu sentido agora... Amigos já eram 11h30min horas da manhã, eu brozeadão em Sampa, com fome, o nariz vermelho, e o Rubens levando esporro da chefa, uma mulher mais braba que um siri na lata, dona do pedaço. Chegou um reboque cheio de japas dentro, a família se fudeu... Pensei... O Piloto mais queimado que Eu, do caminhão, sacou um celular ensebado do bolso e ligou, vendo os pretinhos (ajudantes) cozinhando na cabine. A fome aumentando... Pensei: carne assada (bem passada) com batatas doiradas, olhando o caminhão ali na frente. Comentei “André esses cabras não vão sair hoje! “O negão foi prá debaixo de uma árvore e ligou para o batatal. 45 minutos... Caralho! Tô fudido e a loira já se mandou... Veio o guarda com um documento na mão, me alegrei... Entregou para os pretinhos (carne assada) e voltou prá debaixo do arbusto, aonde aguardava o piloto principal. 50 minutos e vi, para meu assombro, a minha refeição ir embora, devagar e sempre, aquela fumaça invadindo a minha vista: liberaram o negão! cadê o Rubens ??????? Humilhação... Vi o André quase chorar... Calor!
Em uma hora estava eu dirigindo ( seguraram a carteira o Rubens ) o “forninho” em direção ao fogão principal, perdão “ galpão principal “. Que lugar feio amigos, horrível, eles avisaram que não era lindo, mas era o fim do mundo, um calor infernal, mas eles faziam o que a gente precisava, negócio quase fechado!

- Segundo irmão: Robério

Muito simpático, mais gordo que o outro, mostrou suas habilidades e eu joguei a isca “Vamos comer ?” Foi à salvação ! Os gordinhos fecharam o galpão e rumamos para a melhor churrascaria da área: R$ 17,90 o rodízio com feijoada e AR CONDICIONADO! Adorei, o ar condicionado, mas a comida era horrorosa, a feijoada nem quis ver, nesse calor vou morrer. Tomei um chope e respirei, uma, duas... 15 minutos e nada de carne! O Robério reagiu e chamou o maitre. Notei que os garçons tinha as orelhas vermelhas, parecia meu nariz queimado do sol... Notei também que um cliente ao lado se levantou e trouxe uma picanha pelas orelhas! Era o sistema da casa, você pegava o garçom e trazia, com a carne, até a mesa! Pegamos as sobras da mesa ao lado e comemos. Calor! Do lado de fora, voltamos para seguir em direção ao aeroporto, finalmente.

- Terceiro irmão: Roberval

Falante! O gênio da família, segundo os outros. E esse iria nos levar de volta para o aeroporto (carta em dia), que alegria! Ufa, finalmente... A nossa sorte era total! O carro também tinha a cor preta e NADA de ar condicionado, sem gasolina. Daí descobri que não se usa ar condicionado naquelas terras, e tenho certeza que é para se apreciar o som do carro ao lado, que maravilha, cada música, encantador, cidade moderna e comunicativa. O cidadão da frente jogou uma lata de cerveja pela janela, estávamos a caminho do posto de gasolina: cheio, lotado, com fila de 50 metros, pensei... FUDEU! Não volto hoje! O Roberval fez uma manobra radical e virou o possante para retornar. Do outro lado da avenida existia o posto “cueca” ???? Não entendi... Vazio, tranqüilo... Veio a explicação: Temos dois postos, um das “calcinhas” com as meninas enfiadas dentro de shortinhos apertados, daqueles estilo “ abre alas de xoxota “ separando os bifes e adentrando nas carnes frescas! E esse aqui, das cuecas, vazio... Entendi. O programa de domingo é sair, sem gasolina, comer por R$ 17,90 e abastecer nas “calcinhas” , sem antes desfilar com o carro, som nas alturas, janelas abertas, que maravilha de cidade, ADOREI !
Pegamos o caminho de volta, eu, o coitado do André-amarrotado e os três gordinhos, todos sob o sol infernal e poluição agradável do distrito industrial, pelo rodoanel, obra fantástica do Covas. Fomos deslizando pelo asfalto derretido, me sentindo um ovo frito na frigideira, feliz, direção “my house” , até o piloto resolver me oferecer um coco, sim amigos, a fruta. Paramos na beira da estrada, o vendedor estava preto da fuligem, vendia jaca e melancia, muitas moscas, calor. Moço ! Traga coco para todos! Disse o terceiro irmão, já com a mão no bolso prá pagar. Só tenho dois doutor! Salvei-me, pensei... Nada, disso! É seu, faço questão! Tomei um gole e senti o gosto de sabão em pó... Está passado, falei, para a surpresa dos irmãos. Tome o outro! De novo provei... Que situação, todos me olhavam com olhares de reprovação, tive que recusar a outra merda... O vendedor entendeu e disse, para minha infelicidade, “tem um colega ali na frente...” Seguimos. Amigos, que situação, só tinha coco estragado, tive que tomar, além dos colegas paulistas e o coitado do André.
Chegamos ao aeroporto, que alegria! Abraços nos gordinhos e calor... O ar condicionado não funcionava direito, sem a loira. Um chope, grande idéia! Pedi! O senhor não quer um chiclete? Não saquei a idéia da vendedora! Chope com chiclete? Que novidade é essa? Não tem um amendoim, ou uma batatinha frita? Não senhor, é prá depois de tomar o chope... Entendi. Quanto é? R$ 7,90! Porra, que merda é essa! Isso tudo? Sim, senhor, chope DEVASSA! Devassou a minha conta, tomei e corri direto para o portão 21, chegando lá já tinha mudado para o 19, coisas de São Paulo, muita gente, confusão, progresso, embarquei.
De volta ao Rio, que delícia, calor mas os carros usam o AR CONDICIONADO ! O taxi colocou no máximo, a meu pedido, seguimos rumo à barra da tijuca, sorria você está na barra, eu pensei, ali deviam complementar : aqui não é Mauá! Cheguei. A patroa já estava me esperando, mão na cintura, questionou “O que você foi fazer em São Paulo com esse rapaz elegante? Vocês foram para o ROTOMOTEL ?????????? Meninos, desabei... ROTOMOLDAGEM mulher!!!!!!! E pelo olhar dela não dava para explicar não, fechei a porta e segui para o cinema com o amigo elegante-amassado-feliz, o filme não interessava, mas o ar condicionado... Que maravilha !!!!!
Conclusão : Não volto nunca mais para São Paulo aos sábados de sol, Deus castiga, Deus castiga...

Roberto Solano

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