Chuva no Rio
Estava tudo normal:
mês de maio, sol, dias claros e um céu azul deslumbrante. A felicidade batendo
na janela nas manhãs frias e límpidas. Um calor suportávelmente agradável que
até incomoda! O mar com humor variável, de ondas mais atrevidas e outros
momentos de paz, assim seguia a cidade maravilhosa até vir a frente fria
invasora.
Sim, existe a guerra
com tempos frios. O carioca não entende de chuva e frio: não somos paulistas e
tememos as nuvens, com motivos mil! No verão o mundo se desfaz em dor, sob
ondas de calor e chuvas torrenciais, poderosas, derrubando casas e morros,
pavor sentimos.
Chegou o feriado de
Corpus Christi e veio do céu o vento varrendo calçadas, uivando e derrubando
folhas. Logo depois a chuva fina e feia, constante, fria e mal educada. Uma
sombra cobre os morros e belezas da cidade maravilhosa que ficam escondidas sob
esse manto cinza. Feio. Muito feio não ver as curvas da linda mulher vestida.
Ela vinha sempre linda, dourada de sol, pernas compridas, seios dois-irmãos e
peitos maracanãs, seminua em biquínis da moda. Mulher cidade, cheia de segredos
e calores íntimos, túneis, florestas e águas. Fêmea por natureza, de curvas
perfeitas, linda e nua, clara, banhada de sol e mar, salgada.
Agora já é Sábado e o
castigo continua. Chuva e vento sem piedade. O povo se assusta na falta de um
manual de instrução: como viver na chuva! Estamos apavorados!!! Já liguei para
um amigo paulista e ouvi uma voz tranqüila de quem sofre há muito dessa
tristeza. Ele gosta de carros, cinema, teatro, shows e roupas caras. Tem até
galocha! Usa capa de chuva e diz que tem uma “ puta mãe”! Vocês sabem o que é
isso? Paga tudo com “pau” e me chama de “meu”. Carinhoso e amigão! Quando vem
para o Rio exibe suas gordurinhas e as celulites da patroa, estranha a piscina
grande e salgada com areia. Gosta e muito de caipirinha com churrasco. Foge do
sol...
Ele me deu conselhos
de paulista, tentou me levar para Campos do Jordão, acalmou minha impaciência
com os quilométricos engarrafamentos e disse que um dia eu vou morar em Sampa!
SOCORRO!!!! Amigo é assim, conforta mas não resolve o problema.
Liguei de pronto para
Recife. Ali temos tudo de bom: calor, sol e alegria. Recebi conselhos
nordestinos de plantar e agradecer aos céus a chuva. Desliguei. Fico com a
minha tristeza de viver quatro dias de frio e chuva sabendo que “Ele” vai, lá
de cima, fechar a torneira. O Cristo Redentor tem que tomar banho não é mesmo?
E banho frio! Ele sofre muito com o sol do dia-a-dia, tadinho...
Amanhã vai dar sol
(espero) e os cariocas vão voltar a sorrir e brincar com a vida. É o que somos:
alegres, desde que haja sol amigos, sem vento, muita mulher bonita e chope na
praia, futebol e descompromisso. Sim, sem esquecer de sacanear os paulistas, é
claro! Faz parte!
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