quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Quem sofre mais ?


Quem sofre mais?

Sempre me perguntei ao ver a vida dura dos humanos, a fome, a pobreza, os enfermos, etc... Quem sofre mais? Aonde se esconde a dor maior? Não sei e nunca saberemos... Talvez o Jesus Cristo em seu abandono na cruz, procurando o todo poderoso Pai, no suplício final, na solidão do nada.
Vamos sair desse mundo e migrar em pensamentos para os viventes que respiram, comem, brincam, gozando de boa saúde. Quem sofre mais? A amada abandonada? O corno calado? O viciado em jogo, perdendo tudo? O vascaíno doente com a vitória do Flamengo? O viado abandonado pelo amante em plena parada gay? É está difícil escolher...
Simplificando o jogo de idéias: Quem ama sofre? Sim! Quem é invejoso também sofre? Sim, claro, não se pode ter tudo! O velho? Com certeza, nas suas limitações... A criança? Óbvio, no desejo do tudo querer e no teste limitador da vida...
Caindo mais ainda na filosofia de botequim: O enganado! Sim, o traído pela mulher, pelo sócio ladrão e filho da puta, pela cabrocha que safadamente trocou de macho, pelo colega da repartição (amigo falso...), pela vida que queria ter e nunca conseguiu, sonhos apagados e lavados com muitas lágrimas e cervejas. Enfim, o bar é o celeiro dos sofridos, é lá que fui investigar. Troquei idéias com sábios parceiros da escola prática da vida até chegar no Paulão. O Paulo, sujeito calmo, pensador e de poucas palavras, gostava de ouvir, um sábio. Bebia muito e tinha candura no olhar, sempre intervinha como um Papa, quase benzendo a galera que fazia silêncio para ouvi-lo. Realmente esse era o homem que eu procurava! Dele sairia a verdade pura e límpida da fonte da sabedoria popular, corri para o bar.
Seu Manuel, solta uma gelada aí! Dois copos, por favor! E fui incomodar o meu guru, lá na mesa cativa, coçando a sua barba e lendo jornal. O homem era um devorador de livros, dizem que sua alma esquerdista o fez estudar russo e que dominava tudo, de Lênin á Marx, uma sumidade! Eu, avesso á política, pagava minha conta e pulava fora quando a “galera” tecia comentários sobre a Dilma, Lula e Sarney... Tô fora!
Cheguei lá, puxando a cadeira velha de madeira sobre piso de cimento batido e pintado de vermelho, botequim de primeira tem piso pintado. O barulho acordou o nosso herói:
- Fala Paulão, quanto tempo!
- Senta meu irmão...
A cerva chegou suada de fria no ponto.
- Toma essa comigo?
- Só essa?
O Paulão gostava de beber e tomar uma só era como casamento sem padre, um nada.
- Não, tenho a tarde livre, vamos em frente, hoje corre por minha conta!
- Quanta bondade é essa, camarada?
Ele desconfiou...
- È uma pergunta filosófica, meu amigo, conto com sua sapiência para me ajudar...
Teci todo o emaranhado que escrevi acima sobre o tema “quem sofre mais”. Ele calmamente ouviu, calado e sorvendo seu precioso líquido louro. Era inteligente para deixar o pagante (eu) sofrer um pouco mais e pagar um tanto mais; era a regra do jogo, pobre em botequim vende conversa e recebe bebida, jogo é jogo e a regra tem que ser seguida, ética acima de tudo!
Lá pela hora da Ave Maria já tínhamos rezado um terço de uma grade de cerveja (24 / 3 = 8 + uma para o santo!), também o santo deve beber um pouco para nos proteger e alimentar a nossa alma (palavras do Paulão, que é devoto de Santo Onofre). E nada da resposta...
- Pô, Paulão, já estou meio doidão e mais confuso ainda...
- Porque, meu camarada? Essa pergunta é de resposta rápida e curta, tem compromisso com a patroa?
Ele sabia que eu era bem casado e, no fundo, ele admirava meu amor pela Claudinha, olhava com um olho de peixe morto as belas coxas da patroa...
Detestava aquela laminha de espuma que ficava nevando o seu bigode e que ele fazia questão de raspar com a língua seca, iguana, ao olhar para meu patrimônio. Raiva mesmo! O danado estalava a língua quando via uma bela fêmea adentrar o bar, ou passando na porta, dizia “Já fui bom nisso, já fui bom nisso”.
Voltando.
- Paulão, verdade mesmo, o que é o sofrer? Qual a personalidade humana que mais vai sofrer?
- Amigo, o perfeccionista!
Manuel, mais uma, por favor!
- O que? Perfeccionista? Não pesquei...
- Amigo, o mundo é imperfeito, certo? Como você pode querer consertá-lo? Vais sofrer o resto da vida e morrer infeliz.
Caiu a ficha! Esse é O Paulão, meu guru espiritual, figura ímpar, homem de bar e cultura, fodam-se os livros, os teóricos!
Vi ali, na minha frente, meu professor de matemática que tirou ponto do gênio da turma (erro de caligrafia), pois o sujeito tinha gabaritado a prova: “Dez só dou prá mim mesmo, aluno meu não tira dez”: infeliz... Outro amigo que não viajava para o exterior porque não falava a outra língua, e Portunhol, não arranhas? Nunca! Sou monoglota... Outro que tem uma “tabuleta” de compromissos até 2020, tudo anotado, viagens, exames médicos, pedicura, etc... É o tal de “TOC”??? Será???? Minha mulher que quer tudo arrumado, casa limpa, horror a poeira, chatice... Sofredores.
E você aí? Topas ir prá praia em dia de chuva? Come um prato frio, com muita pimenta prá esquentar, dando risada, pois o microondas quebrou? Riu daquele pum que, desaforado, saltou do teu rabo desavisado que estava no elevador? Lembras da cara de horror da velha? Que situação...
Salve Paulão, viva a imperfeição! Seja feliz, rindo do erro e agradecendo o acaso do acerto!
Salta a saideira aí seu Manuel...

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