terça-feira, 19 de agosto de 2025

Pensamento

 Pensamento 


Quando o pensamento não voa ele rasteja

Quando para sufoca ou adormece

Ensiste em ficar martelando a mesma música 

Ou torturando a incansável culpa

Do viver

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Um frio

 Um frio


Um frio adentrou o coração 

Sem definição nem aviso

Siberiano e tão invasivo 

Lá se estabeleceu como dono

Foi trazendo mágoas retidas

Renascendo medos esquecidos

Matando minha paz 


Um urso polar apareceu 

Era você, com sorriso gélido 

De braços abertos me chamando 

Pra conhecer a sua solidão

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Mais um dia

 E lá se vai mais um dia

Na estrada torta e na ventania do tempo 

A mágica da vida se renova

Rios, matas e asfalto quente 

Dissolvendo o dia

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Separação

 Quando o meu jeito torto de ser encontrou sua retidão absoluta 

Um susto! Como ser tão certa no caminho tão torto?

Foi então que entendi o meu destino 

E aí se deu a mais valorosa separação

segunda-feira, 21 de julho de 2025

A engenharia da amizade

 A engenharia da amizade


A amizade começa na arquitetura do amor 

Em curvas de Admiração 


A fachada transparente 

Sempre virada pro sol da confiança 


A estrutura da amizade tem uma fundação sólida 


 O abraço 


Os pilares são robustos feitos de 


Atenção 


As lajes são firmes, planas e plenas de confidências 


O telhado metálico, forte, resiste às tempestades 


A localização é privilegiada: teu coração

sábado, 12 de julho de 2025

Tesouros


 Tesouros


Os maiores tesouros não têm preço 

Não estão à venda


Uma pedra escolhida na praia

A folha que dançante caiu 


A caneta tinteiro do avô 

O solitário da vovó 


Talvez um amor impossível 

Quem sabe o desejo de voar


Tesouros sem preço são melhores 

O dinheiro não pode comprar


Valorize-os

quarta-feira, 9 de julho de 2025

O filhote de ema

 Meu pai era um pavão (outra ave) e gostava de ser diferente, além de dar opiniões e aparecer. Como um engenheiro de grande valia ele foi trabalhar na construção de Brasília. Lá, em terras áridas do planalto central a ema (ave dessa crônica) era abundante, uma graciosa criatura que encantou o engenheiro; veio a ideia de levar um filhote de ema para o Rio de Janeiro e fazer sucesso com o novo animal de estimação. Belo dia ele adentrou sua casa com o filhote nas mãos e entregou aos cuidados de minha mãe, que o adotou com carinho e dedicação. A boa esposa ofereceu milho, papa de farinha, frutas diversas e nada... A pequena ave não comia nada. O tempo passava e a agonia de ver a morte anunciada se instalou. Meu pai foi consultar um veterinário para saber o motivo da inapetência do animal, o médico disse: filhote de ema só come mosca! Ora, por que? Perguntou meu pai. Resposta: a ave mãe choca seus ovos e, na proximidade da eclosão dos mesmos, ela fura com seu bico um deles. Pronto, quando os pequeninos nascem o "ovo irmão" já está podre e as moscas são alvo fácil para alimentar os habitantes do ninho. 

A natureza é criativa e, por vezes, cruel; assim papai viu seu sonho desabar no fracasso quando chegou com a nova receita alimentar em casa: a ema morreu!


Roberto Solano