sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

O país dos angustiados

 O país dos angustiados 


O país dos angustiados mora no amanhã 

No futuro cheio de soluções 

Um lugar tão bom que não há ansiedade 

O planejado acontece sozinho 

O amor se realiza do seu jeito 

O outro sempre concorda, e bate palmas

O país dos angustiados é real como os sonhos 

Tão impossível que só existe no amanhã 

Tão louco que nem te vê

A solução do problema

 A solução do problema 


A solução do problema, às vezes, está do seu lado 

Como um amigo ingrato, não te ajuda 

Você, como ingênuo, procura

A busca te leva pro país dos angustiados 

Nesse local não se olha para o lado 

Só pra frente, só pro milagre do amanhã 

Que nunca acontece...

Olhe pro lado e seja feliz

Saudade

 Não se mata a saudade 

Saudade se tortura, lentamente 

Se paga na mesma moeda

Olho por olho, gemido por gemido 

Não mate a saudade, seja mais cruel

Ela merece



quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

ABC do desejo

 ABC do desejo


Desejo:

A de amor verdadeiro 

B bondade 

C coragem pra me reerguer 

D dignidade 

E esperança pra respirar melhor 

F força pra não desacreditar 

G ganhar sem rir e perder sem chorar 

H horas sim, horas não, sem perder a hora

I imaginar o mundo melhor 

J jogar mesmo sem regras e sem bola

K kilometros de distância da falsidade 

L luz

M Maria de Jesus 

N do não bem dado 



O Deus pai, me receba

P entender o porquê 

Q querer viver

R receber para aprender a dar

S saber sempre um pouco mais 

V vida longa, vida breve, com a vivacidade do Cazuza 

X do problema seja o Y da solução 

Y da solução seja o Z da salvação 

Z assim falava Zaratustra: "Quantos homens sabem observar? E entre os poucos que o sabem – quantos observam a si próprios? Cada um é para si próprio o mais distante..."


Roberto Solano Novaes

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

O dia seguinte do natal

 O dia seguinte do natal 


No dia seguinte jesus fez xixi e côcô 

O mundo continuou

Aqui estamos comentando alegrias

Outros mergulhados em tristezas

Sobrevivemos 

No dia seguinte do natal a vida pede licença 

Voltamos a ser gente com pecados 

Somos realidade 

São Pedro e Maria lavam o pequenino 

O salvador, gente como a gente, faz xixi 

Novamente



quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Amores

 Amores


Amores difusos, amores confusos, obtusos

Amores claros, amores raros

Amores plenos, amores menos

Amores sem graça, não faça, desgraça 

Amores, dores e disabores 

Quem não os tem?

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

No teu travesseiro

 No teu travesseiro sonhei sonhos loucos 

Até sonhei que você me amava loucamente 

Endoidecido de amor eu acordei com dissabor

O teu amor era pouco e se acabou

O travesseiro da cama, simplesmente, despencou.



segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O saber do descuido

 O saber do descuido 


No saber do descuido encontramos o incerto

O incerto, por sua vez, é sempre certo 

De acontecer 

Então no erro do olhar desviado 

No aceno improvável de acontecer 

Na mesa de um bar escondido 

Pode surgir o amor casual

Desprovido de compromisso e leve

Sem nada mais querer que sobreviver 

Pode ser o mais lindo e completo 

Sem saber, no descuido, o amor da tua vida



domingo, 15 de dezembro de 2024

Garimpeiro do amor

 Garimpeiro do amor


O garimpeiro do amor é um incansável 

Ele busca nas flores, na aurora, preciosidades 

Ele trabalha, dia a dia, a sua loucura

Ele busca o amor maior

O garimpeiro do amor lê poesias pra acreditar 

Acredita tanto no seu sonho que não dorme

Sabe que o que procura é impossível de achar 

Procura mais e mais, na quase loucura de amar

O que procura



sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Finito como você

 A imagem do horizonte infinito 

As incontáveis estrelas bailando no céu 

As ondas quebrando sem cessar 

A profundeza de teu olhar

Tudo que não se pode medir 

Tudo que, por ser certo, é incerto 

Me leva ao poder inexorável do amor

Que se diz infinito para quem o vê 

E, na verdade, é finito como você



quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Ventos úmidos

 Ventos úmidos no coração deserto 

Será o prenúncio de chuva?

Ou lágrimas confinadas?

A esperança se veste de verde 

O vento úmido vem aplacando a dor

E no coração desértico nasce uma flor



terça-feira, 3 de dezembro de 2024

No oco do nada


 No oco do nada encontrei o vácuo de tudo

E lá, ainda assim escondido, estava o seu adeus

Ao perceber o desabamento do mundo eu renasci

Para nunca mais sofrer de abandono 

Pra não te amar jamais 

Pra mentir pra mim mesmo 

Eternamente

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Poema da depressão

 Poema da depressão 


Cai no buraco invisível 

Tão fundo quanto meu desespero 

As paredes escorregadias 

As mãos mais que frágeis 

Escorregando 

Fui adentrando dentro de mim 

Lá no fundo não havia fundo 

O fim não era o destino 

O trajeto sim

Assim descobri a depressão 

Que não é nada em vida

Já que lá no poço não há vida

Nem ninguém vai me notar

domingo, 1 de dezembro de 2024

A falta do nada

 A falta do nada


Que falta faz o oco do tempo 

O vazio absoluto por dentro 


Olhar atravessado pra feiúra do umbigo 

E descobrir que o dedo mindinho é nada


Olhar no céu o bailar das nuvens 

Fechar os olhos na sombra da mangueira 

E lá ouvir a sonata dos passarinhos 


Pisar no chão de terra e esperar a chuva

Rir da besteira que é rir sozinho 

E depois rir de novo 


Só, e caminhar com sua sombra 

Tentar correr dela


Chupar uma manga no pé 

E, sem querer, pisar em uma formiga 


Ser gente por pouco tempo 

E depois voltar a ser gente sem tempo