sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Era um monstro

 Era um monstro 

Cabeça de cachorro doido

Dentes de trigo asiático 

Garras de urso siberiano 

Olhos esbugalhados, como tinha de ser

As orelhas ouvindo barulho de almas perdidas 

Ele me fitou

Fitei ele

Sorri

Ele deu uma gargalhada de palhaço de circo

Ficamos amigos 

E acordei aliviado



A dúvida e a certeza

 A dúvida e a certeza 


A dúvida se encontrou com a certeza 

"Será que é ela mesmo?"

A certeza pensou "ela vive em dúvida"

A conversa começou: " quer um café ou chá?"

A dúvida, em dúvida, pediu água 

"Como você tem sempre a certeza das coisas?"

"Porque nunca te conheci", respondeu a certeza 

E com absoluta certeza pediu a conta

E nunca mais se encontraram

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

A beleza

 A beleza


A beleza não é só estética 

Há desenvoltura no ar

Doçura no olhar

Uma certeza de não estar

E, sobretudo, saber amar



Arrependimentos

 Arrependimentos


São tantos 

Beijos não roubados

Brigas que não fiz

Perdão não perdoado 

Recados com giz

Amores proibidos 

Nunca ter fugido 

Pecados sem valor

Não causar dissabor 

Arrependimentos de amor 

Não valem nada sem dor



Viga balcão

 Viga balcão 


Nasci viga, mas não satisfeita, virei balcão 

Eu quero ser bonita e difícil 

Amostrada!

Sim, eu avanço sobre o ar e tenho curvas

Sou sensual!

Sim, tenho o poder de chamar à atenção 

Meu nome devida ser viga mulherão!

Destruidora de corações

 Destruidora de corações 


Ela era destruidora de corações 

Os apaixonados estavam envenenados

Como um dependente de drogas, amavam ela

Seu corpo enlouquecerdor

Suas carícias celestiais 

Sua imagem de tolinha 

Mulher de mil facetas e perigos

Destruidora de lares 

Capaz de fazer um padre negar a Deus 

Criatura única, pelo demônio abençoada

Cuidado amigo, se a ver finja amá-la 

E, se puder, deixá-la



quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Pilar esbelto

 Pilar esbelto


Sou um pilar esbelto, pode me chamar de magrinho

Os arquitetos me amam, os engenheiros não 

Sou malandro e bom de briga

Pego carga sem rebolar, mas cuidado!

Tenho que ser calculado com muita destreza 

Outra coisa, não aceito empurrão!

Com carinho e manutenção eu duro muito

Gosto de aparecer, meu sonho é ser mastro de veleiro 

E viver livre das cargas, ao



sabor dos ventos

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Beijos absurdos

 Beijos absurdos


Beijos absurdos, nunca dados, existem 

São cometas perdidos no céu da boca 

Começam e nunca terminam

Insaciáveis como o desejo

Acompanham abraços transpassando coração 

Tremedeiras nas pernas 

Frio na coluna 

Tonturas mil

Viagem ao infinito 

Do amor



Amante de amores impossíveis

 Amante de amores impossíveis 


Sou amante, dos bons, de amores impossíveis 

Amores inacabados, loucos, tortos

Amores adolescentes e puros de alma

Amor tão grande que não cabe no coração 

Amor de trapo e farrapo 

Amor de soldado na trincheira 

Amor que morre no calor da lareira 

Amor de freira

Amor sem fronteira 

Amor por vir e existir

Amor demais pra ser verdade 

Amor maior que o mundo 

A seu redor



Mercado de nuvens

 Mercado de nuvens


Lá no mercado de nuvens se vende paz 

Uns anjos, muito bem treinados, vão te atender

A fila é grande e a paciência você compra na entrada

Tem a barraca do amigo, da namorada, da mãe 

Artigos de primeira necessidade: beijos e abraços 

Outros mais duradouros, como promessa

A feira é enorme, a clientela satisfeita 

A moeda, não se esqueça de levar 


Amor




segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Colhendo amor

 Colhendo amor 


A mãe planta amor

O filho colhe

Depois escolhe crescer 

Viver longe dela

A semente vai germinar 

O bom filho vai replantar 

Amor 

Assim a mãe vai receber 

O que plantou a vida toda

E o bom filho verá nos olhos dela a candura

Dos olhos dos anjos

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Houve um tempo

 Houve um tempo 


Houve um tempo em que falávamos como gente 

O olhar, o sorriso, a lágrima, faziam parte

O outro podia chorar ou rir, sem dizer nada

O abraço era um presente de amigo

Um simples toque nas mãos um alento

Houve um tempo que olhos falavam

Lábios tinham valor, e o sussurro um segredo 

Hoje só temos a telinha do celular pra gelar emoções 

Hoje somos máquinas vestidas de gente 

E quanto somos gente não temos mais graça



quinta-feira, 19 de setembro de 2024

As aparências enganam

 As aparências enganam 


As aparências enganam? Ou as pessoas mudam? Por vezes julgamos sem uma análise mais aprofundada e, sempre erramos. Errar é humano. Viver julgando é desumano, mas é o que nos resta para sobreviver, tentar descobrir o certo e o errado; e se o errado estiver certo? Complicado... Aceitar a variabilidade das pessoas é o melhor caminho. Afirmar só com a possibilidade de voltar atrás e mudar seu parecer. Pergunte sempre, na certeza e na dúvida, afinal somos seres errantes, aceite isso.

O invencionista

 O invencionista 


Existe o mentiroso, o que nunca mente e o invencionista. São diferentes vertentes para um mesmo fato, por exemplo: há um atropelamento, sem muitos danos à vítima; o mentiroso vai dizer que a vítima estava quase morta e foi removida em estado gravíssimo para o hospital, o que não mente dirá que o atropelado fraturou a perna e foi socorrido, sem maiores gravidades para o hospital; o invencionista dirá que o atropelamento foi uma distração do condutor ao observar a linda morena atravessando a rua e, não deu tempo de freiar, atingindo o rapaz (namorado dela) que a viu e correu para o abraço, sendo que se jogou sobre o carro com um ramalhete de flores nas mãos. Cada um com sua versão, eu, pessoalmente, prefiro à do invencionista. Por tanto, tenha cuidado ao afirmar que alguém é mentiroso, pode ser um invencionista ou um poeta disfarçado.




segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Alegria

 Quando do céu em chamas você chegou

O azul ficou mais limpo

Flores amarelas no caminho 

O mar se faz como espelho e reflete


Alegria



sexta-feira, 13 de setembro de 2024

A velhice mofada

 Noites sem sonhos 

Dias sem graça 

Vida apagada


Futuro sem amanhã 

Passado esquecido

Memória tardã


Espelho sem utilidade 

Olhar perdido 

A morte é um pedido 


A velhice mofada

Um castigo sem sentido 

O sentido sem nada


Roberto Solano



quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Desconheço

 Desconheço o sabor do vento

E menos ainda a doçura do mar 

Conheço o sal de suas lágrimas 

E a pimenta do seu ciúme


Prometo não mais provar teu veneno 

E do amargo beijo esquecer

Pra degustar a vida

Bem longe de você

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

O frio que me aquece

 O frio que me aquece

O silêncio ensurdecedor 


Teu amor me endurece


Falar de Deus com o diabo 

Confessar pecados à um pobre coitado


Isso me deixa animado 


Te amar é viver o adverso

É refazer conceitos


É 


Aceitar o mundo todo em um só verso



quarta-feira, 4 de setembro de 2024

O Rio da vida

 O Rio da vida 


Esse rio que nasceu na gruta 

Fez-se água do amor

Segue riacho por anos 

Tem sua primeira cachoeira na adolescência 

E vai, como um louco, rasgando a terra

Um rio que segue os rumos dos ventos 

Dribla as pedras e deixa musgos

Reflete a lua pensando ser mar

E segue seu rumo acariciando as margens 

Se achando sempre maior do que é

Vaidosa criatura 

Deságua no lago da velhice 

Perde o rumo para inchar

E sonhar em chegar no mar



Precisamos do negro

 Precisamos do negro 


Precisamos do negro para ver o branco

Ver estrelas na noite escura

Dormir e sonhar colorido 

Valorizar a luz

E, se possível, ser luz



terça-feira, 3 de setembro de 2024

A força do pensamento


 A força do pensamento 


A força do pensamento vem dos músculos d'alma 

Com a energia do desejo 

Percorrendo sua mente com vontade 

Chega firme na academia da ilusão 

E levanta tantos pesos que a memória duvida 

Assim a força do pensamento se faz