sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

O país dos angustiados

 O país dos angustiados 


O país dos angustiados mora no amanhã 

No futuro cheio de soluções 

Um lugar tão bom que não há ansiedade 

O planejado acontece sozinho 

O amor se realiza do seu jeito 

O outro sempre concorda, e bate palmas

O país dos angustiados é real como os sonhos 

Tão impossível que só existe no amanhã 

Tão louco que nem te vê

A solução do problema

 A solução do problema 


A solução do problema, às vezes, está do seu lado 

Como um amigo ingrato, não te ajuda 

Você, como ingênuo, procura

A busca te leva pro país dos angustiados 

Nesse local não se olha para o lado 

Só pra frente, só pro milagre do amanhã 

Que nunca acontece...

Olhe pro lado e seja feliz

Saudade

 Não se mata a saudade 

Saudade se tortura, lentamente 

Se paga na mesma moeda

Olho por olho, gemido por gemido 

Não mate a saudade, seja mais cruel

Ela merece



quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

ABC do desejo

 ABC do desejo


Desejo:

A de amor verdadeiro 

B bondade 

C coragem pra me reerguer 

D dignidade 

E esperança pra respirar melhor 

F força pra não desacreditar 

G ganhar sem rir e perder sem chorar 

H horas sim, horas não, sem perder a hora

I imaginar o mundo melhor 

J jogar mesmo sem regras e sem bola

K kilometros de distância da falsidade 

L luz

M Maria de Jesus 

N do não bem dado 



O Deus pai, me receba

P entender o porquê 

Q querer viver

R receber para aprender a dar

S saber sempre um pouco mais 

V vida longa, vida breve, com a vivacidade do Cazuza 

X do problema seja o Y da solução 

Y da solução seja o Z da salvação 

Z assim falava Zaratustra: "Quantos homens sabem observar? E entre os poucos que o sabem – quantos observam a si próprios? Cada um é para si próprio o mais distante..."


Roberto Solano Novaes

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

O dia seguinte do natal

 O dia seguinte do natal 


No dia seguinte jesus fez xixi e côcô 

O mundo continuou

Aqui estamos comentando alegrias

Outros mergulhados em tristezas

Sobrevivemos 

No dia seguinte do natal a vida pede licença 

Voltamos a ser gente com pecados 

Somos realidade 

São Pedro e Maria lavam o pequenino 

O salvador, gente como a gente, faz xixi 

Novamente



quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Amores

 Amores


Amores difusos, amores confusos, obtusos

Amores claros, amores raros

Amores plenos, amores menos

Amores sem graça, não faça, desgraça 

Amores, dores e disabores 

Quem não os tem?

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

No teu travesseiro

 No teu travesseiro sonhei sonhos loucos 

Até sonhei que você me amava loucamente 

Endoidecido de amor eu acordei com dissabor

O teu amor era pouco e se acabou

O travesseiro da cama, simplesmente, despencou.



segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O saber do descuido

 O saber do descuido 


No saber do descuido encontramos o incerto

O incerto, por sua vez, é sempre certo 

De acontecer 

Então no erro do olhar desviado 

No aceno improvável de acontecer 

Na mesa de um bar escondido 

Pode surgir o amor casual

Desprovido de compromisso e leve

Sem nada mais querer que sobreviver 

Pode ser o mais lindo e completo 

Sem saber, no descuido, o amor da tua vida



domingo, 15 de dezembro de 2024

Garimpeiro do amor

 Garimpeiro do amor


O garimpeiro do amor é um incansável 

Ele busca nas flores, na aurora, preciosidades 

Ele trabalha, dia a dia, a sua loucura

Ele busca o amor maior

O garimpeiro do amor lê poesias pra acreditar 

Acredita tanto no seu sonho que não dorme

Sabe que o que procura é impossível de achar 

Procura mais e mais, na quase loucura de amar

O que procura



sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Finito como você

 A imagem do horizonte infinito 

As incontáveis estrelas bailando no céu 

As ondas quebrando sem cessar 

A profundeza de teu olhar

Tudo que não se pode medir 

Tudo que, por ser certo, é incerto 

Me leva ao poder inexorável do amor

Que se diz infinito para quem o vê 

E, na verdade, é finito como você



quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Ventos úmidos

 Ventos úmidos no coração deserto 

Será o prenúncio de chuva?

Ou lágrimas confinadas?

A esperança se veste de verde 

O vento úmido vem aplacando a dor

E no coração desértico nasce uma flor



terça-feira, 3 de dezembro de 2024

No oco do nada


 No oco do nada encontrei o vácuo de tudo

E lá, ainda assim escondido, estava o seu adeus

Ao perceber o desabamento do mundo eu renasci

Para nunca mais sofrer de abandono 

Pra não te amar jamais 

Pra mentir pra mim mesmo 

Eternamente

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Poema da depressão

 Poema da depressão 


Cai no buraco invisível 

Tão fundo quanto meu desespero 

As paredes escorregadias 

As mãos mais que frágeis 

Escorregando 

Fui adentrando dentro de mim 

Lá no fundo não havia fundo 

O fim não era o destino 

O trajeto sim

Assim descobri a depressão 

Que não é nada em vida

Já que lá no poço não há vida

Nem ninguém vai me notar

domingo, 1 de dezembro de 2024

A falta do nada

 A falta do nada


Que falta faz o oco do tempo 

O vazio absoluto por dentro 


Olhar atravessado pra feiúra do umbigo 

E descobrir que o dedo mindinho é nada


Olhar no céu o bailar das nuvens 

Fechar os olhos na sombra da mangueira 

E lá ouvir a sonata dos passarinhos 


Pisar no chão de terra e esperar a chuva

Rir da besteira que é rir sozinho 

E depois rir de novo 


Só, e caminhar com sua sombra 

Tentar correr dela


Chupar uma manga no pé 

E, sem querer, pisar em uma formiga 


Ser gente por pouco tempo 

E depois voltar a ser gente sem tempo 


sábado, 30 de novembro de 2024

O susto

 O susto


O susto é irmão do medo

Eles andam juntos, em silêncio 

Procuram a dor 

Ao ver ela o susto corre

O medo cresce 

E o incontrolável acontece



Alegre ou palhaço

 Alegre ou palhaço 


Se você é alegre, cuidado

Se você é palhaço não tem volta

Se você ama muito é alegre

Se ama demais é palhaço 

Se conta piadas é alegre 

Se a piada é você: palhaço 

Se pensa pouco fica alegre 

Se pensa demais é um palhaço chorando 

Se não sabes rir serás triste 

Se ri demais serás um palhaço triste



quinta-feira, 28 de novembro de 2024

O sono dos inocentes

 O sono dos inocentes 


Se você puder, veja uma criança dormindo 

Ao chegar junto ao berço observe

A respiração cadenciada

O silêncio profundo 

Tente reparar no anjo da guarda 

Também ele dorme

Não tanto, afinal ele trabalha 

Então reze por eles

E, nesse momento, conhecerás 

O sono dos inocentes

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Sapata

 Sapata


Vivo no chão 

Tenho vocação para ser uma pirâmide 

Mas me jogam no chão 

E, pior, me enterram!

Me finjo de morta...


Quando o prédio trinca a culpa é minha 

Vida de sapata não é fácil não 


Suporto tudo sobre o solo

Já o solo, ele não me ama, muita pressão 


Assim, vivemos esse casamento, eu e ele

Até que o dono do terreno nos separe

domingo, 24 de novembro de 2024

Laje nervurada

 Laje nervurada


Sou diet e sou linda

Cheia de curvas, alta e magra

A Gisele Bündchen das Lajes

Gosto de aparecer 

Sou inteligente 

E posso te fazer contente 


Roberto Solano

sábado, 23 de novembro de 2024

Viga parede

 Viga parede 


Não sou viga, não sou parede

Por vezes viga, outras parede

Complicada por natureza geométrica

Linda aos olhos de quem sabe me ver

Muitas vezes escondida

Outras tantas encostada no vizinho 

Chegam a me chamar de empena cega.

Absurdo!

Sou viga parede com um desejo imenso 

De ser um arco

E chamar sua atenção

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Alertas

 Alertas 


"Homens trabalhando", não leve cerveja 

"Vista escorregadia", vendo as moças 

"Briga de marido e mulher", corra

"Poeta trabalhando", respeite

"Animais na pista", baile funk

"Pare, olhe e escute", gente chata na área

"Piso molhado", velho não entra

"Aperte o cinto", governo petista

domingo, 17 de novembro de 2024

O tempo

 O tempo 


Falar do tempo é dizer nada do tudo

Saber que ele está no meio de nós 

Como o ar, porém, nos respirando 

O inventor do tic-tac é um devorador 

Um eterno insatisfeito, sujeito inquieto 

Que nasce e morre ao mesmo tempo 

O tempo

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Pesquisando o amor

 Pesquisando o amor


Fui pesquisar o amor

Dissequei corações 

Fui fundo na paixão 

De Romeu até Julieta 


Mergulhei na bíblia 

Em Jesus Cristo encontrei o maior


Em Neruda a poesia 

No primeiro beijo o deslumbramento 

Nos castelos medievais a fantasia 


Mas nenhum amor foi maior que o não correspondido 

Nem mais profundo que o platônico 

Sem ciúmes, sem decepção, só coração 

O amor sonhado é o que se multiplica eternamente



sábado, 9 de novembro de 2024

O dia de amanhã

 A flecha do momento atravessou o amanhã 

O futuro ferido caiu no chão do tempo 

Sangrando dúvidas e angústias desmaiou 

A ambulância com seus médicos chegou 

O futuro sobreviveu para todo o sempre 

E viveremos sem nunca saber o dia de amanhã



terça-feira, 5 de novembro de 2024

Meu eu

 Meu Eu


A campainha soou, era cedo, o café no fogo... Atendi e quem lá estava? Eu! Sim, inacreditável, sem tirar nem por, eu estava olhando eu! Quase desmaiei, fiquei branco e meu outro Eu me apoiou, " você está bem?" O assustado outro eu me perguntou. Eu respondi, sem fôlego,  "tonto". Meu outro eu ( vou chamar de oeu) me amparou até o sofá... Um copo d'água chegou, um gole e um respiro... Você é igual a mim, eu disse; oeu respondeu: eu sou você ! Desmaiei. Quando acordei o oeu já estava do meu lado cuidando de mim, com todo o carinho me disse " não se assuste, eu sou você com um detalhe importante: sou o que há de bom em ti, seu lado positivo e inteligente, sem cometer erros, o melhor de você mesmo".

Gente, não é fácil conhecer seu lado positivo, não sabemos lidar com isso, sempre vemos o lado negativo com mais cuidado e maior crítica, o positivo fica para a observação de terceiros. O que vou perguntar pra oeu+? Sou bom demais ou de menos? Tenho dado o máximo de mim? Perguntei: o que posso fazer pra melhorar? Oeu+ ficou calado. O que você tem pra me dizer? Ele foi direto ao ponto: cuide de mim.

sábado, 2 de novembro de 2024

Pra tudo na vida

 Paciência é a palavra 

Esperar o verbo

Aceitar o caminho 

Adaptar a solução 

Pra tudo na vida

Meu irmão

terça-feira, 29 de outubro de 2024

O coro dos contentes

 No pedaço de seu abraço eu me despedaço

Teu beijo partido me partiu em mil pedaços 

No olhar enviesado errei o caminho 

E com o coração quebrado seguirei 

Meu anjo torto

E sempre 

Desafinando o coro dos contentes



domingo, 27 de outubro de 2024

Saudade do que não conheci

 Saudade do que não conheci


Bateu saudade, grande, de um amigo que não tive

Da namorada, imaginada, perfeita

Daquele país que não visitei

Da truta pescada no rio da fantasia 

Da mulher perfeita que não me achou

Dos meus 18 anos que não vi

Dos conselhos de um passarinho mudo

De não ter nascido louco nem surdo

Do que não vivi



Chamem o Rei

 "Vou-me embora pra Pasárgada"


Mas


"No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra."


Chamem o Rei!!!!

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Amor improvável

 Amor improvável 


Ele não gostava dela

Ela não gostava dele

Um esbarrão e um aceno de mão 

Um olhar enviesado e um desejo desavisado 

Um encontro para avaliar sentimentos 

O amor, simplesmente, apareceu 

Ele não gostava dela 

Ela não gostava dele



segunda-feira, 21 de outubro de 2024

O cantinho

 O cantinho 


Todos temos um cantinho 

Um sofá velho

Um travesseiro pra chorar

Uma sombra de árvore 

Ajoelhado ao pé da santa rezar

A cadeira no canto do botequim 

O olhar no horizonte sem fim

Ou no seio da mãe, simplesmente, mamar

O cantinho é seu encontro com o carinho

Até a paz, finalmente, chegar



domingo, 20 de outubro de 2024

A solidão

 A solidão 


A solidão faz os objetos crescerem

O sofá fica enorme e o corredor sem fim

O ar infla os pulmões como uma bomba 

A pequena janela do quarto ganha grades

O andar é sempre interrogativo

O silêncio grita como um corvo

E as paredes imóveis, imensas 

A solidão devora até o Sol da manhã 

E gosta, apaixonadamente, da noite



sábado, 19 de outubro de 2024

A chuva na vidraça

 A chuva na vidraça 


A chuva molha o vidro da janela 

E um choro mais triste invade o quarto 

A tristeza vem no desamparo da neblina 

O frio no encalço da solidão doe 

A noite faz a moldura da dor 

Cada um com a sua

A do amor perdido 

A de quem partiu

A do velho solitário 

A do impossível desejo 

E na janela as gotas correndo 

Até a tua face molhar



sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Encontrei a Paz

 Encontrei a Paz


Encontrei a Paz e ela não estava em paz

Perguntei: " por que não estás em paz?"

Resposta: "estou deprimida"

Ela não acha graça em nada, muita paz 

Ofereci um pouco de problema

Um punhado de obrigações 

Um filho pra criar

Um casamento pra levar

Dívidas e desconfianças

Ela sorriu, e educadamente, agradeceu 

"Já reencontrei a minha paz, obrigada"

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Eu me despeço

 Eu me despeço 


Amigos, eu me despeço 

De gente chata

Dos olhares invejosos 

De quem se acha melhor 

Do pior

Adeus fazer sala 

Ajudar quem não merece

Falar sem ser consultado 

Muito menos ouvir besteiras 

Me despeço com um aceno

E o dizer, até nunca mais


Roberto Solano Novaes



domingo, 13 de outubro de 2024

Sono dos inocentes

 Cansado de passar o tempo e engomar recordações, vou descansar entre o passado e o presente e desprezar o futuro. Como um boi no pasto vou ruminar meus pecados até engoli-los sem remorso, depois, debaixo da sombra da árvore, pensar em nada, absolutamente nada, até dormir solenemente o sono dos inocentes.


sábado, 12 de outubro de 2024

Delicado

 Delicado


Pegue na minha mão pra dizer não 

Toque no meu cabelo para um apelo

Sinta meu cheiro e esqueça o desespero 

Me dê um beijo para saciar seu desejo 

Acaricie meu seio e esqueça seu anseio 

Seja delicado na hora do pecado

Pedra, poesia, poeira

 Pedra, poesia, poeira


Pedreiro de pedras, e poeta de poeiras 


Mãos calejadas de marretadas, pensamentos longe 


No escuro da noite o peso das pedras


Na poesia perdida, entre o som das batidas, poeira 


Sou poeta de coisas duras e não sei amar


Em pedras duras só sei teu nome replicar

O problema de hoje

 O problema de hoje


O problema de hoje é o amanhã 

A certeza do incerto e a ilusão da esperança 

Queria um hoje puro, sem pensar no amanhã

Como um pássaro voar, dono do céu 

Como a pedra da Gávea sentar no sol parado 

Como, no infinito segundo do primeiro beijo, acreditar 

O problema do ontem é o hoje

Para todo o sempre, o nada e o tempo

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Qualidade e Defeito

 Qualidade e defeito 


Se viram no bar

Qualidade com lindos cabelos 

Defeito careca

Ela maravilhosa 

Ele feio e esquisito 

Quem diria que se amaram?

E, nove meses depois, nasceu

O ser humano 

Com qualidades e defeitos 

Fruto do amor impossível

domingo, 6 de outubro de 2024

O despertador

 O despertador 


O despertador acorda o trabalhador 

O amor desperta a dor

Não há amor sem dor

Não trabalho sem despertador



sábado, 5 de outubro de 2024

Não pede licença

 Quando o sol não pede licença, ele entra na tua retina como tua mãe no teu quarto, como teu primeiro amor, dominando os espaços, invadindo, simples assim.



sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Argumentos

 Argumentos 


Quando eu me for não levo lembranças 

Chegarei cheio de argumentos 

Defenderei meus pecados 

Não acusarei, jamais, meus amigos 

E lá no tribunal final dos mortais um advogado 

Sim, uma advogada, me espera


Mamãe



quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Amor e ódio

 Amor e ódio 


Amor e ódio se sentaram na mesma mesa

O mundo pedia pela paz e fim das guerras 

Difícil foi reunir os dois pra conversar 

Amor sentou com educação e elegância 

Ódio, com roupa rasgada e rangendo os dentes 

Como mediadora, a digníssima senhora Esperança 

O mundo esperava por isso há muitos anos 

"Boa noite" disse Amor com suavidade 

"Boa noite é o cara@#$!", resposta do ódio 

"Vamos manter a calma e respirar fundo", dona Esperança falou

" Eu quero paz", "eu quero guerra"

" Eu posso te amar", " eu posso te escalpelar"

Um barulho surdo na mesa: um soco cheio de ódio 

Uma lágrima corria dos olhos do Amor 

A reunião acabou com brigas, xingamentos, e outras baixarias

Quem ganhou?

A imprensa televisiva, bateu recordes de audiência



sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Era um monstro

 Era um monstro 

Cabeça de cachorro doido

Dentes de trigo asiático 

Garras de urso siberiano 

Olhos esbugalhados, como tinha de ser

As orelhas ouvindo barulho de almas perdidas 

Ele me fitou

Fitei ele

Sorri

Ele deu uma gargalhada de palhaço de circo

Ficamos amigos 

E acordei aliviado



A dúvida e a certeza

 A dúvida e a certeza 


A dúvida se encontrou com a certeza 

"Será que é ela mesmo?"

A certeza pensou "ela vive em dúvida"

A conversa começou: " quer um café ou chá?"

A dúvida, em dúvida, pediu água 

"Como você tem sempre a certeza das coisas?"

"Porque nunca te conheci", respondeu a certeza 

E com absoluta certeza pediu a conta

E nunca mais se encontraram

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

A beleza

 A beleza


A beleza não é só estética 

Há desenvoltura no ar

Doçura no olhar

Uma certeza de não estar

E, sobretudo, saber amar



Arrependimentos

 Arrependimentos


São tantos 

Beijos não roubados

Brigas que não fiz

Perdão não perdoado 

Recados com giz

Amores proibidos 

Nunca ter fugido 

Pecados sem valor

Não causar dissabor 

Arrependimentos de amor 

Não valem nada sem dor



Viga balcão

 Viga balcão 


Nasci viga, mas não satisfeita, virei balcão 

Eu quero ser bonita e difícil 

Amostrada!

Sim, eu avanço sobre o ar e tenho curvas

Sou sensual!

Sim, tenho o poder de chamar à atenção 

Meu nome devida ser viga mulherão!

Destruidora de corações

 Destruidora de corações 


Ela era destruidora de corações 

Os apaixonados estavam envenenados

Como um dependente de drogas, amavam ela

Seu corpo enlouquecerdor

Suas carícias celestiais 

Sua imagem de tolinha 

Mulher de mil facetas e perigos

Destruidora de lares 

Capaz de fazer um padre negar a Deus 

Criatura única, pelo demônio abençoada

Cuidado amigo, se a ver finja amá-la 

E, se puder, deixá-la



quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Pilar esbelto

 Pilar esbelto


Sou um pilar esbelto, pode me chamar de magrinho

Os arquitetos me amam, os engenheiros não 

Sou malandro e bom de briga

Pego carga sem rebolar, mas cuidado!

Tenho que ser calculado com muita destreza 

Outra coisa, não aceito empurrão!

Com carinho e manutenção eu duro muito

Gosto de aparecer, meu sonho é ser mastro de veleiro 

E viver livre das cargas, ao



sabor dos ventos

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Beijos absurdos

 Beijos absurdos


Beijos absurdos, nunca dados, existem 

São cometas perdidos no céu da boca 

Começam e nunca terminam

Insaciáveis como o desejo

Acompanham abraços transpassando coração 

Tremedeiras nas pernas 

Frio na coluna 

Tonturas mil

Viagem ao infinito 

Do amor



Amante de amores impossíveis

 Amante de amores impossíveis 


Sou amante, dos bons, de amores impossíveis 

Amores inacabados, loucos, tortos

Amores adolescentes e puros de alma

Amor tão grande que não cabe no coração 

Amor de trapo e farrapo 

Amor de soldado na trincheira 

Amor que morre no calor da lareira 

Amor de freira

Amor sem fronteira 

Amor por vir e existir

Amor demais pra ser verdade 

Amor maior que o mundo 

A seu redor



Mercado de nuvens

 Mercado de nuvens


Lá no mercado de nuvens se vende paz 

Uns anjos, muito bem treinados, vão te atender

A fila é grande e a paciência você compra na entrada

Tem a barraca do amigo, da namorada, da mãe 

Artigos de primeira necessidade: beijos e abraços 

Outros mais duradouros, como promessa

A feira é enorme, a clientela satisfeita 

A moeda, não se esqueça de levar 


Amor




segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Colhendo amor

 Colhendo amor 


A mãe planta amor

O filho colhe

Depois escolhe crescer 

Viver longe dela

A semente vai germinar 

O bom filho vai replantar 

Amor 

Assim a mãe vai receber 

O que plantou a vida toda

E o bom filho verá nos olhos dela a candura

Dos olhos dos anjos

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Houve um tempo

 Houve um tempo 


Houve um tempo em que falávamos como gente 

O olhar, o sorriso, a lágrima, faziam parte

O outro podia chorar ou rir, sem dizer nada

O abraço era um presente de amigo

Um simples toque nas mãos um alento

Houve um tempo que olhos falavam

Lábios tinham valor, e o sussurro um segredo 

Hoje só temos a telinha do celular pra gelar emoções 

Hoje somos máquinas vestidas de gente 

E quanto somos gente não temos mais graça



quinta-feira, 19 de setembro de 2024

As aparências enganam

 As aparências enganam 


As aparências enganam? Ou as pessoas mudam? Por vezes julgamos sem uma análise mais aprofundada e, sempre erramos. Errar é humano. Viver julgando é desumano, mas é o que nos resta para sobreviver, tentar descobrir o certo e o errado; e se o errado estiver certo? Complicado... Aceitar a variabilidade das pessoas é o melhor caminho. Afirmar só com a possibilidade de voltar atrás e mudar seu parecer. Pergunte sempre, na certeza e na dúvida, afinal somos seres errantes, aceite isso.

O invencionista

 O invencionista 


Existe o mentiroso, o que nunca mente e o invencionista. São diferentes vertentes para um mesmo fato, por exemplo: há um atropelamento, sem muitos danos à vítima; o mentiroso vai dizer que a vítima estava quase morta e foi removida em estado gravíssimo para o hospital, o que não mente dirá que o atropelado fraturou a perna e foi socorrido, sem maiores gravidades para o hospital; o invencionista dirá que o atropelamento foi uma distração do condutor ao observar a linda morena atravessando a rua e, não deu tempo de freiar, atingindo o rapaz (namorado dela) que a viu e correu para o abraço, sendo que se jogou sobre o carro com um ramalhete de flores nas mãos. Cada um com sua versão, eu, pessoalmente, prefiro à do invencionista. Por tanto, tenha cuidado ao afirmar que alguém é mentiroso, pode ser um invencionista ou um poeta disfarçado.




segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Alegria

 Quando do céu em chamas você chegou

O azul ficou mais limpo

Flores amarelas no caminho 

O mar se faz como espelho e reflete


Alegria



sexta-feira, 13 de setembro de 2024

A velhice mofada

 Noites sem sonhos 

Dias sem graça 

Vida apagada


Futuro sem amanhã 

Passado esquecido

Memória tardã


Espelho sem utilidade 

Olhar perdido 

A morte é um pedido 


A velhice mofada

Um castigo sem sentido 

O sentido sem nada


Roberto Solano



quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Desconheço

 Desconheço o sabor do vento

E menos ainda a doçura do mar 

Conheço o sal de suas lágrimas 

E a pimenta do seu ciúme


Prometo não mais provar teu veneno 

E do amargo beijo esquecer

Pra degustar a vida

Bem longe de você

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

O frio que me aquece

 O frio que me aquece

O silêncio ensurdecedor 


Teu amor me endurece


Falar de Deus com o diabo 

Confessar pecados à um pobre coitado


Isso me deixa animado 


Te amar é viver o adverso

É refazer conceitos


É 


Aceitar o mundo todo em um só verso



quarta-feira, 4 de setembro de 2024

O Rio da vida

 O Rio da vida 


Esse rio que nasceu na gruta 

Fez-se água do amor

Segue riacho por anos 

Tem sua primeira cachoeira na adolescência 

E vai, como um louco, rasgando a terra

Um rio que segue os rumos dos ventos 

Dribla as pedras e deixa musgos

Reflete a lua pensando ser mar

E segue seu rumo acariciando as margens 

Se achando sempre maior do que é

Vaidosa criatura 

Deságua no lago da velhice 

Perde o rumo para inchar

E sonhar em chegar no mar



Precisamos do negro

 Precisamos do negro 


Precisamos do negro para ver o branco

Ver estrelas na noite escura

Dormir e sonhar colorido 

Valorizar a luz

E, se possível, ser luz



terça-feira, 3 de setembro de 2024

A força do pensamento


 A força do pensamento 


A força do pensamento vem dos músculos d'alma 

Com a energia do desejo 

Percorrendo sua mente com vontade 

Chega firme na academia da ilusão 

E levanta tantos pesos que a memória duvida 

Assim a força do pensamento se faz

sábado, 31 de agosto de 2024

V

 Viajando na Verdade 


Vejo a Vaidade


Vagamente...


Vagabundo...


Vejo Vultos


Volto Voluntário da Vacância


Verdadeiro


O Valor Vai 


Voltar Verdadeiramente 


Você Vai Valorizar


A Vida


Roberto Solano Novaes

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Os pesos e medidas

 Os pesos e medidas 


O peso da luz no espelho da vida

O tamanho do vento que traz alegria 

A velocidade do pensamento parado 

A densidade do amor perdido

O calor inexplicável do beijo da morte

A grandeza da pessoa amiga

A distância infinita do amigo aflito

O som ensurdecedor de seu grito por socorro 

Nada se mede nos sentimentos 

Só no metro curvo e na balança sem peso

Vais compreender



quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Expectativa e Realidade

 Expectativa e Realidade 


Expectativa conheceu Realidade no Tinder

Foi atração imediata, amizade e amor

Amor de Web, sempre quebra a expectativa 

Foi o que aconteceu, se encontraram

Expectativa de calça justa e blusa vermelha 

Realidade de jeans e camisa branca 

Uma saindo de casa, banho tomado, perfumada

A outra, vindo apressada do trabalho 

O local era aberto, fim de tarde, verão 

Expectativa viu a realidade, que decepção 

A Realidade olhou a expectativa, que mulherão 

Não deu certo, a realidade não é igual à expectativa 

O amor acabou



domingo, 25 de agosto de 2024

Atropelamento do poeta

 Atropelamento do poeta


O poeta foi atropelado 

As ideias passavam buzinando 

Como loucas atravessando sinais

Por cima do meio fio

Acertaram o poeta da calçada 

Depois vieram as palavras soltas

Outras de bicicleta com verbos na garupa 

Uns adjetivos de skate 

A confusão estava formada

O poeta atropelado na calçada 

Tentando fazer versos

Sobreviver 


O poeta foi socorrido pela ambulância Drummond 

Atendido na emergência Neruda 

E está nas mãos do cirurgião Manuel bandeira 


Rezemos por ele

sábado, 24 de agosto de 2024

Era tanto amor

 Era tanto amor 


Era tanto amor que Deus não acreditava

Os anjos riam e davam cambalhotas 

Quando se beijavam passarinhos cantavam

Nas ruas o povo aplaudia as mãos dadas

Amor tão grande que poetas desmaiavam 

As mães mostravam para os filhos 

O amor impossível e inacreditável 

E assim esse amor foi vivido, exaurido em vida

Nada sobrou, só contos e histórias de amor 

Romeu e Julieta 

Eu e você 

Nunca viveremos esse amor 

Ele nasceu e se evaporou em nuvem 

Subiu aos céus como tinha que ser 

Era tanto amor, tanto amor, que Deus não acreditou 

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Suas curvas

 Ah suas curvas...

Eram intensas e sutis

Quase um traço alegre

Ou uma sinfonia de luz

Não sabia decifrar o mistério 

Que há, há, sinuosa atração 

Caminho do desejo?

Ou desenho divino 

Não sei...

Só sei que lá escreverei

Amor



Amor eterno

 Amor eterno 


O amor eterno é a utopia do desejo

O sonho do apaixonado 

A certeza de quem vê

No palco sagrado do altar


O amor eterno é tão certo como o amanhã 

Tão perfeito que não existe 

E se existir será como Vinícius de Moraes 

Enquanto dure

Muro de arrimo

 Muro de arrimo 


Chato ser muro, viver dividido entre vizinhos 

Ser muro de arrimo é bem pior

Posso tombar, escorregar e até cair

Sou caprichoso, não gosto de água 

Temporal é meu maior inimigo 

Meu maior amigo é a drenagem 

Confesso ser um sujeito difícil, chato mesmo 

Cuidado comigo!

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

O poder do silêncio

 O poder do silêncio 


O poder do silêncio é corroer palavras 

Oxidar pensamentos raivosos

Gritar por fantasmas 

Rezar


O poder do silêncio é acalmar crianças 

Adormecer os mais velhos 

Digerir a mais profunda oração 

Dizer sim ao coração 


O poder do silêncio é falar a língua dos surdos 

Fazer o amor ser mais platônico e puro

Pedra árvore

 Pedra árvore 


Você de longe é pedra

De perto é árvore 

Você encanta areias

E passarinhos 

Você é uma pedra árvore 

Você me engana



quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Aquele momento

 Aquele momento 


Aquele momento em que você sopra a xícara de café e toma o primeiro gole


Aquele momento de olhar o céu azul no domingo azul


Aquele instante de abrir a janela do carro e despentear os cabelos 


Na hora de provar o pudim da mãe e sorrir pra ela


O momento exato do nascimento do filho 


Esses momentos são de paz, paz celestial

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Viga em balanço

 Viga em balanço 


Ela é a única a se dar ao luxo de ter um único apoio 


A mais delicada de todas, a mais linda 


Se lança para o vazio com poesia e classe 


Virtuosa criatura espacial, paixão dos arquitetos 


Caprichosa, precisa nascer certa e de muitos cuidados 


Seu único apoio precisa ser firme e robusto 


Mulher de um homem só: seu engaste


A mais feminina das estruturas, respeita-a

Sociedade das sapatas

 Sociedade das sapatas 


Somos muitas, desde às singelas até Cássia Eller 


Tem as corridas, longas, elas vão longe 


As de divisa são difíceis, adoram encrenca com vizinho 


As geminadas, sempre de mão dadas, lindinhas


Todas são importantes e esquecidas, sepultadas


Quando o prédio vai cair, se diz "é culpa das sapatas"


Triste sina das senhoras precocemente abandonadas


Todas tão distintas, tão valiosas e sepultadas

Consolo curto

 Consolo curto 


Nasci pra apoiar, consolar, resolver 

Os pré-moldados me amam

Sem a minha presença eles não existem

Isso mesmo: sou curto mas sou gostoso 

Elas, as vigas, que o digam 

E tem mais: adoro a delicadeza do neoprene!

Sou mesmo convencido, me acho o máximo 

Mesmo sendo o mínimo.

Viga de transição

 Viga de transição 


Nasci pra sofrer


Em forma de viga, imensa, e sobrecarregada 


Sobre mim o peso da estrutura 


Não posso falhar!


Cheia de barras retorcidas, estribos, concreto, complicada 


Como um Aquiles da engenharia, eu sofro 


Sou tudo e sou nada, escondida por ser feia


Viga gorda, feia, é triste viver na transiçãoy

Anjos travessos

 Anjos travessos 


Só conheci anjos travessos 

Alguns, como viu o Macalé, com asas de avião 

Nada de candura, muito de travessura

Após a frenada que dei, a gargalhada 

"Você quase morreu"

De outra feita o tiro passou, o susto ficou 

"Dessa vez foi por pouco"

E a risada solta no ar...


Anjos travessos 

Gostam de brincar 

E de salvar



segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Viga Vierendeel

 Viga Vierendeel 


Eu sou uma viga casamenteira 

Junto os pavimentos com classe e elegância 

Muitas vezes esquecida

Por outras sou trocada

Pela treliça, odeio ela 

Dona treliça, cheia de truques e diagonais 

Comigo não! Meu papo é reto!

Sou bela por natureza 

Sou Vierendeel por destreza 

A mais bela de todas!

domingo, 18 de agosto de 2024

Pilar curto

 Pilar curto 


Eu sou um pilar curto 
Curto ser baixinho e gordinho 
Sem preconceitos e fácil de lidar 
Flambagem é para os fracos!
Só não gosto de ser chamado de Toco
Muito menos de tamborete de forró!
Conte comigo sempre, sou amigo do construtor 
Barato, confiável e aguento peso
Conte comigo!

Roberto Solano 

sábado, 17 de agosto de 2024

O momento exato




O momento exato entre o salto e a queda

Entre o estampido e a dor

Do último olhar na janela 

Da lágrima e o aperto no coração 

Da aflição da agulha que adentra a carne

Do beijo de despedida no portão 

O momento exato é, sobretudo, uma ilusão

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Eu a vi


 Eu a vi


Eu a vi, lá na Bahia 

Uma aldeia de índios 

Seu bicho preguiça 

E seu olhar 


Em breve momento vi

A floresta e rios em seus olhos 

Uma paz inexplicável 

Uma brisa verde adentrou meu coração 


Simplesmente a vi

A menina e a pureza 

Na força maior da natureza


Roberto Solano

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Saudade

 Saudade 


Saudade é dor da alma

Aquela que adere

Que maltrata rindo

E mata homeopaticamente


Invade espaços, mãe da tristeza maior

Senhora de todos os asilos

Aquela que não morre por vocação 

Aquela que perfura o coração



O susto do anjo

 O susto do anjo 😇 


Anjo não se assusta 

Este anjo de assustou

O capeta que assopra apareceu 

Esse danado afasta anjos com sopros

Sopros quentes que dissolvem asas

Asas de anjo, algodão 

Suspiros malditos, anjos sem asas, sem ação