quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

O peixe pedra



 Naquele fim de tarde o peixe pedra avançou

Com seus dentes de diamantes

Sobre a criatura dourada do céu

Foi um golpe certeiro da gulosa criatura

Foi neste dia que o peixe pedra comeu o sol


Amanhã a rocha escura voltará

O sol também

E quem sabe 

O genial fotógrafo...

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Lua dengosa


 Fui cativar passarinhos

Ela veio dengosa

Sem um pio

No silêncio da noite

Mostrar seu som imaginário

De passarinhos lá do céu

Que cantam pra anjos

Adormecendo coração sofrido

Sorri

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Naquela pedra

 Parei naquela pedra

Quem não pararia?


Olhei daquela pedra

Quem não olharia?


Com meu


chapéu de alegria

Fiz a felicidade da retina

Descansei as pernas

A alma foi lavada


Oh meu Rio

Suas pedras doces

Seu mar salgado

Encantador

Petrificado fiquei

Na beleza entorpecido

Sonhei

domingo, 27 de dezembro de 2020

Pegar o Sol


 Uma vez tentei pegar o sol

Meus pés na água 

O coração lá longe

Caminhamos 


O dia se deitava no mar

Eu com olhos salgados

Mirava meu rei

Solitário


Andei, andei

Chorei, chorei

Perdi meu tempo

Ele, garboso, fugiu


Amanhã de novo tentarei

No meu renascer

Serei só

Sol

Pintado por Deus


 Do gelo à água 

O branco total carrega

A mágica faz o azul

Todo

Ao longe a montanha 

Como parede de outro azul

Celeste

Um quadro pintado

Por Deus abençoado


 No cálice de galhos secos

Quem os secou

Se deita


O astro rei 

Senhor da vida

Se acalma


Agradeça o que vês

Pois

Neste momento de paz

Serás um rei

sábado, 26 de dezembro de 2020

Loira e molhada

 Loira e molhada

De pingos e respingos

Se veste

Linda criatura

Na cor e forma

Formosura do criador

Só posso te dizer

És uma flor


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

A história mais linda

 A história mais linda


A noite caía e ela seguia

Sobre o burrico o rico conteúdo

Na sua barriga

Ele ao lado com seu passo certo

Santo


O cantinho feito de carinho

Um burro, um boi, a cabrita

O silêncio traz o espírito mais santo


O menino chega como a lua 

Luz, paz e alegria

Nasceu!

O mundo cresceu

No amor


E o que mais contar?

A história se completa

É perfeita

Abra seu coração

É

Chegou

Natal

domingo, 20 de dezembro de 2020

Tucano

 Eu levo a vida no bico

De galho em galho

Me viro em cores

Em formas e elegância

Muito prazer

Eu sou lindo

Sou 

Tucano


Paraty

 Paraty, perfeito pra mim, perfeito pra ti

O sol vai rezar na igreja

Confessa seus pecados mais quentes


A cidade respira a paz secular

O mar beija 

O olhar suspira

Com tanta delicadeza

Que

A lágrima corre 

Pro mar


sábado, 19 de dezembro de 2020

Perguntas

 Quem é o senhor imperador de Pedras?

Quem é a criatura solitária na areia ?

Quantas nuvens estão no céu? 

Quem dirá a verdade? 

O mar


sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

As rosas não falam

 As rosas não falam

As flores não sofrem

Se choram foi a chuva

Se molham de amor

Puro

Tão singelo que 

Eu acredito

Em Deus


Lua de paixão

 Foi nesta lua que o barão de Münchhausen fugiu

Em uma corda amarrada na pontinha dela

Desceu até a terra 

Foi nesta lua que o plebeu aqui se apaixonou

Com uma corda ele me laçou forte

Subi ao mundo da lua 

Onde estou

Até 

Agora


terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Controlador de tráfego

 Sou controlador de tráfego

Não desses carros humanos

Nada de aviões, trens...

Sou maior e melhor

Tenho meu natural apito

Respeitado sou

Controlador de nuvens


Eclipse lunar

 Morderam meu chocolate branco?

Ou meu bombom preto ganhou calota

Estou vendo o negro?

Ou brincando de esconder o leite?


Sei ver o belo?

Sou torto?

Estou lunáticamente louco?

Ou simplesmente estupefato de satisfação?

Você decide

domingo, 13 de dezembro de 2020

Abraçar a natureza

 Abraçar a natureza

Traz paz

Na luz e cor

No ar puro

A foto diz

O amor lúdico

O sentimento forjado

De verde, água e mulher



sábado, 12 de dezembro de 2020

Girassol

 Ah você girassol

Giras lua?

Meu coração girou

Tonto de beleza

Caiu no teu amarelo

Desmaiado

Assusto

E

Feliz

Envelheci

 Confesso que envelheci

Tinha corpo frondoso

Hoje são galhos secos

Os pássaros se divertiam

No meu verdume

Hoje sou senhora

Idade avançada

Cabelos brancos

De nuvens

Roubadas


Beija flor

 Tenho olho de jabuticaba

Um bico farpado

Elegância em cor

Azul de dar inveja

E um verde amigo

Sou além disso tudo

Beija flor

Lindo

Galante

Conquistador


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Graveto e vida

 De galho em galho fui colhendo vidas

Cada graveto tinha movimento e expressão

O sentimento atravessou a árvore e sobreviveu

Secou em lágrimas

O vento ao chão lançou


E o coração

Ah

Essa lá viu 

Vida e emoção

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

E Deus criou a Urca

 Deus quando criou o mundo guardou suas pinceladas finais para o Rio

Usou e abusou das cores na baía de Guanabara

Com um pincel de fino trato traçou a urca

Depois do serviço feito admirou o Cristo

E pensando com suas nuvens celestiais disse

" Meu filho vai abençoar todo esse encanto" 

E assim descansou



Sou um gato

 Com minha língua felina

Meu olho apaixonado

Te devoro

De amores mil

Sou um gato

E basta


quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Na beira da estrada

 Vermelho esparramado, escancarado, despudorado

Na beira da estrada acenando

Os olhos que passam sentem

O calor do amor 

Derretendo corações desavisados

Flamboyant atrevido e assanhado

Amo você


terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Amarelando

 Amarelo, amarelo, trago a cor

Roubei do sol

Finquei nas asas

Sou borboleta feliz

Viajo na cor

Visito flores

Só amarelando amarelos


domingo, 6 de dezembro de 2020

Evocando Joaquim Cardoso


 Tal qual os coqueiros doidos de Tramataia

Eu evoco Joaquim Cardoso

Explica aí Joaquim

A loucura de Cabedelo

Traduz meu mestre

Essas cores celeste

Com tuas letras certas

De poesia completa

sábado, 5 de dezembro de 2020

Ave parapente

 Ave parapente

Ave paraquedas

Apare meu sofrimento

Segure a minha queda

Com garras de rapina

De falcão

Liberta meu coração


quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Aviãozinho do amor

 Viaja o pai, viaja o filho

O aviãozinho do amor

Traz a alegria

A certa medida

Da imaginação

Na aviação




Uma versão infantil 👇


Papai vamos viajar de avião?

Sim meu filho, você dirige

Papai esse avião é pequeno

Não, meu filho, vou de carona!

Como papai? 

Na asa meu filho

Que asa?

A da imaginação...



terça-feira, 1 de dezembro de 2020

A pomba e a lua

 A pomba para, o tempo olha

A lua só observa

O céu estático

O galho 

A conversa atravessa 

O tempo, o céu e chega 

Até à lua


segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Calor materno


 O calor materno é lindo

Tão lindo que invade corações frios

Tão imenso e amoroso

Na felina imagem

Que se chama vida

Aquela porteira

 Aquela porteira com o céu azul

A bicicleta como testemunha

O dia mais lindo convida

A sombra a pensar na vida

A vida abraçando o sol

O sol pede desculpas

" Sou lindo, sou rei, sou tudo"

Convencido me convenceu



segunda-feira, 23 de novembro de 2020

A magia do Natal

 A magia do natal escorre 

O menino olha o céu

Na chuva a água mostra

O divino valor de Deus



Gente rara

 Gente rara


 

     Somos todos iguais, ponto! Mas, se você tiver olhos no seu coração e uma pitadinha de inteligência, verás outro tipo de gente: gente rara. São e estão por aí. Só aprenda a  identificá-los e  nunca julgá-los!  Isso é  importante: o raro de  um não é  o mesmo do outro. A tua  pedra de zircônia pode valer mais que o diamante da Rainha da Inglaterra. Um amigo meu, rara pessoa, dizia “No fundo no fundo é igual no raso!” Sábio...

     Então vamos  tentar  vê-los?  Em  primeiro lugar vem  os olhos:  os incomuns  tem expressão  anormal,  para mais ou  para menos. Meu  grande e  melhor professor de  francês tinha  um olhar definitivo, penetrante  até  ao dizer a  minha  nota... Fiquei  em  segunda época  e  fui adoçar a  minha amargura em  uma calmíssima professora e olhos tranqüilos.  Minha Mãe sabia olhar diplomaticamente, sempre com uma intensidade gradativa, dependendo do observador e da questão  emocional  envolvida, chorava  também, muito.  Meu  velho  era  altivo, sempre  vendo o  mundo  por sobre  as  prateleiras  dos  normais,  um  bom comandante de olhos verdes e calmos, como a baía de São Salvador.

     O sorriso. Esse é o passaporte mais “sem vergonha” dos humanos. Um  belo sorriso te  pega de  surpresa  e engana-te! Cuidado! São lindos e cativantes, gravam mensagem e sabores na tua memória, fique atento.

     A beleza. Danada  essa menina. Vem sempre  para  te iludir. Os belos  sofrem  muito com a  capacidade de iludir e se contaminam: acabam sendo iludidos pelos mais inteligentes. Temos que dosar a beleza, cuidar dela dando descontos polpudos. Eu tenho muita insegurança com gente bonita, sempre há perigo de vermos dobrado, ficamos inebriados e bêbados, cuidado rapaz! O amor é cego e o destino sempre te condena!

     A feiúra. Grande trunfo de Deus para enriquecer o espírito humano: os feios são superiores sempre! Eles nascem preparados para vencer, tornam-se fortes e de implacável personalidade, sabem o que querem e o “como conseguir”, descontando os burros... Tadinhos... Sem perdão.

     O inteligente: abre-se o leque das  possibilidades. Podem ser o que  forem, ricos, pobres, bonitos, aleijados, doentes... Vais se divertir com eles e aprender muito, desde  que  sejas também  um pouquinho qualificado por  Deus. Eu  sempre  adorei  os  que sabem  mais do que  eu. A regra é  clara:  estamos sempre aprendendo a viver. Observe.

     Os loucos. Vamos terminar  por aqui?  É uma loucura  falar deles, são tantos que, posso  afirmar que são todos! O grau vai mudando, de acordo com tua capacidade de vê-los. O doido  maior é  o que não se  vê doido também. Perigo á vista! Não sou doido, sou normal: FUDEU!!!! Tenha respeito por eles, eles são os mais dotados, sensíveis e do nada tiram o tudo: sonho.

      Por aqui termino afirmando que já vi e vejo tanta gente rara! E isso me dá a maior felicidade. Foi raro escrever isso...

domingo, 22 de novembro de 2020

A raiva do mar

 Quando o mar espuma 

Seus dentes de onda

Seus mistérios

São

Raiva


O mar e seus conflitos

Lá Netuno quem guarda

Esconde tristezas

Espuma beleza

Pra quem vê


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Amarelo


 Amarelo na saga e no sangue

Ave por destino divino e cor

Sou o que Deus fez, amarelo

Jaca, maracujá, abacaxi, canarinho

Sou o que sou

Amarelo

Verde vivo

No Brasil

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O sonho do anjo

Quando um anjo sonha uma criança acorda

A criança de asas brancas brinca 

O anjo dorme tão profundamente que

Se imagina criança brincando

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Asas do avião


 Na minha prisão de concreto

Vejo um céu disperso

Minhas lágrimas são 

As asas do avião

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Vôo da ave


 No vôo solto, solto o desafio

A bravura da ave, ave Maria!

Lindamente contra a chuva

Molha, sobretudo os olhos

De quem a vê


Sem você

 Como seria?


A vida sem você?

Um balé sem Tchaikovsky

O futebol sem Pelé

Einstein sem ser relativo

O sol sem aquecer


A vida com você é

O eterno viver leve

O prazer de sentir o nada

O nada podendo ser tudo

O amor sem cobrança


A vida sem mim

Está em você

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Recado de luz

 O céu manda seu recado de luz

O mar recebe 

As nuvens vão brincando com cores

As pedras duras

Olham


terça-feira, 6 de outubro de 2020

Mão feminina


 Entre vales e montanhas a mão feminina

Percorre

Caminhos de segredos profundos e profanos

Mergulha

Nas curvas sinuosas que mostram os encantos

Realiza

Seu alpinismo erótico no corpo mulher

Busca

O que de mais íntimo existe e

Prazer

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Praia dos carneiros

 Coqueiros afoitos, destemidos, furando o céu

São magros, uns elegantes e outros doidos

Fazem graça ao vento, vendendo verde

Suas cabeleiras trazem som e sombra

Criaturas lindas de Deus

Pernambuco

Praia dos carneiros


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Com licença


 Não quero forçar a barra

Nem quero invadir

Só quero mostrar beleza

Por isso

Com licença grade

Eu sou 

Lua


domingo, 27 de setembro de 2020

Um dia tão lindo

 Tinha um sol lá no horizonte

Umas gaivotas fazem pinturas no céu

O mar sendo coberto de ouro solar

Neste cenário uma onda atrevida

A onda joga no quadro sua assinatura

Secular encontro da natureza

 Em um dia tão lindo


sábado, 26 de setembro de 2020

Espiando o nada

 Sobre a cadeira espio o nada

Ele me olha por trás da janela

O tempo passa como o vento

Sem compromisso com o nada

E muito menos com o tempo

Espio...


domingo, 20 de setembro de 2020

Recife

 Terra de rara beleza

Massacrada por edifícios altos

Visto ao longe sua pena

Seu sofrer na faca fincada



Ó Recife bela das tardes 

Morena nas curvas dos rios

Mulher formosa não mereces

Essas lanças em teu corpo

sábado, 19 de setembro de 2020

O mecanismo do tempo

 " Entender a brevidade da vida e a eternidade de um olhar puro "


No cadenciado do relógio pendurado na parede

Sustento meu pensamento

No pulsar imediato dos segundos nunca percebidos

Eu descubro meu nada

Vou entrar no tempo e neste  avião viajar

Eu nu


Aterrizo no chão insólito e vazio

O nada é duro pedra

O tudo é vento

Terra tempo

Tempo sem terra


Neste mundo o possível não existe

O mais louco sonho é uma flor

As músicas são sentidas na pele

O Sol se respira agradavelmente


O que faço hoje se evapora 

O que nunca fiz é real

A solidão sumiu de vergonha

O amor tem peso de chumbo


No mecanismo do tempo tropecei

As forças não tem lei nem gravidade

A maior energia é o engano

Voltei mais tropego que fui


Agora na parede os ponteiros me acusam

Fui viajar sem o passaporte do fim

Não levei nada e tudo lá deixei

Fui entender o tempo interior

E

O interior me fez de tolo

Tão

Tolo que acreditei

No 

Meu

Sorriso


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Um pé de nuvens


 Plantei um pé de nuvens

Depois de chuvas mães

Floriu

A tal flor cresceu no vento

E só, e tão só, pariu nuvens

Nuvens brancas em profusão

Uma chaminé exalando nuvens

E florindo o céu azul


domingo, 13 de setembro de 2020

Quando eu virar piano

Quando eu virar piano

Na música da vida já fui cavaquinho
Por vezes fui afoito e pandeiro
Outras levei a vida na flauta

Na juventude um violão afinado
Corri rápido como um tamborim
Sempre afinado e aplaudido

Agora a idade chegou pra desafinar
Vou virar piano, pesado
Quem vai carregar o piano?
E quem tocará o tango final?

Sol e flor

 Sol e flor, flor e sol

Cor e céu, céu e cor

Do amor, nasceu a flor

E da flor só amor




sábado, 12 de setembro de 2020

Fim do túnel

 Na postura insólita braços líquidos

Na água a cortina sólida

Nas pernas o eixo

Do vazio perdido

No fim do túnel


Sexo

 No encontro dos corpos a harmonia

As formas são complementos do amor

Linhas deslinhadas em curvas retas

A força do ato no ato de força 

Sexo



quarta-feira, 26 de agosto de 2020

No caminho do céu

 No caminho para as nuvens havia coqueiros

Havia também um mar de tantos sonhos sonhar

A areia fina nos pés vinha cantar 

Os olhos, esses sim, no caminho a se maravilhar


segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Mariazinha, a esposa do coronel

 A aflição de Mariazinha


Maria Siqueira Brito, também conhecida como inhá zinha, ou Mariazinha, pelo marido, era mulher quieta como de praxe naqueles tempos. Seu marido, ou melhor, digníssimo esposo, sim, mandava e desmandava. Era lei. Os homens respeitavam o dono da terra, do dinheiro e das mulheres. O coronel Siqueira era um predador, sabia desfrutar das delícias das carnes ( alheias ) sem a " observância" de Mariazinha, sempre desconfiada... O coronel, após a refeição maior do meio dia ia descansar, ou como ele dizia, " tirar uma palhinha" para no final da tarde passear com seu cavalo mangalarga, bicho bonito, bem tratado e escovado, como de praxe. Ela, já desconfiava dos olhares que seu varão ( e bote ão nisso 😁) para a linda morena de cadeiras fartas e seios duríssimos (que causava  irritação na dona da casa), criatura que ajudava na serventia do casarão. A moça, de rara beleza, tinha sempre um sorriso no canto da boca ao ouvir o chamado grave do inhô " traga meu café menina ", que chegava quente para a língua seca de desejo na boca do coronel ir  passear nos seus lábios masculinos, " ô delícia, ô delícia" com olhar direcionado para a cadência coreográfica daquele  pecado em forma de mulher. Mariazinha, inconformada, nada podia fazer, percebia que o coronel não estava mais ocupando sua feminilidade ( era costume no fim do dia ela perguntar pro marido " vosmecê vai me ocupar hoje? " para, no balançar positivo da cabeça ir se lavar).

O tempo passou e o cavalo machucou a perna, sendo obrigado ao  dono percorrer sua propriedade sobre uma égua comum. Mariazinha, esperta no todo, estratejou o plano, e meia hora após a saída do marido soltou o alazão, que, a passos miúdos, avançou trilha costumeira. Lá chegando a cena cinematográfica se fazia brotar: debaixo da mangueira, o coronel estatelado de felicidade sobre o colo de sua deusa marrom recebia uns cafunés. " O que é isso Siqueira Brito? Que desvergonhice !" A voz feminina acordou o macho adormecido que, ao ver sua dama, deu a resposta " é pra te poupar Mariazinha, é pra te poupar 😁" . E a paz voltou a reinar na fazenda.

Coronel Siqueira Brito

 Coronel Siqueira Brito


Essa figura viveu no nordeste e, dono de terras, era respeitado como tal. Na época um dos seus filhos, um rapaz franzino e de muita " sensibilidade" foi estudar em Paris. Anos se passaram até o retorno do agora doutor no porto do Recife. O herdeiro da macheza do pai desceu do navio com o diploma nas mãos, pele alva e mãos muito finas, a voz estridente já dizia tudo " que saudade painho ", com um aceno pouco atrativo para o pai. O coronel colocou o filho nos trilhos dizendo " vamos deixar os abraços lá pra fazenda" e acenou para o motorista buscar a viatura. O rapaz entendeu que o pai não tinha mudado muito, mas a vontade de contar as novidades da terra dos perfumes e da moda era muita e, assim, desandou a falar na viagem. O coronel na frente, ao lado do motorista, calado. A estrada de terra e o calor não ajudava o tempo a  passar e a voz delicada do passageiro veio em solicitação " painho, eu preciso urinar ". O coronel, de pronto, respondeu " meu filho aqui no nordeste se mija, entendeu? E mijo quente e grosso..." Em francês o suspiro " ó mon Dieu"... É urgente painho... O coronel mandou encostar o Ford e saltou do carro para abrir a porta para a criatura se " aliviar" no mato. "Vá pra traz da moita pra se desanuviar". O moço saiu um tanto o quanto com andar apertado e o coronel atrás com a arma na mão... O motorista, ao ver a cena, gritou " Coroné não faça besteira! ", O coronel respondeu curto e grosso " se acocorar eu MATO ! " 😁

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Na estrada de ferro, no caminho celeste
Atravesso meu pensamento por ela
Majestosa criatura da arte
Torre das torres, símbolo da cidade luz

Luz que não há explicação na ótica
Só no sentimento, só para quem vê
Quem sente Paris pressente você
Em toda cidade mulher,  tu madame Eifell

Se faz presente.

Roberto Solano Novaes

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Jardim de Luxemburgo

Naquele jardim sentei-me para olhar o tempo
O tempo me observou em esculturas mudas
Alguns pássaros falantes discutiam no céu
Uma criança parou para ver a borboleta

Eu, infantilmente, descolori minh'alma
Pintei flores e repintei minhas saudades
Reencontrei uma paz perdida atras da coluna
Vi flores escalando pedras, vi pedras dóceis

Repintei a parede da minha saudade escura
De cores nobres e rouges, tal qual um Monet
E vagabundo fui sentar na cadeira verde
E do verde de lá sai marchando para o palácio

De Luxembourg sai como um rei feliz
Do seu reinado de natureza e belezas mil
Da cidade paris encantadora, paralisado fiquei
E deslumbrado nesse adormeci acordado

terça-feira, 16 de junho de 2020

Conselhos pra quem se aposenta


As dicas : 


Short e sandálias a vontade, 

muita despreocupação, um punhado de sonhos, 

dinheirinho guardado no bolso,

 sono atrasado na mochila, pra gastar

 Não se esqueça de parar ao ver uma sombra e água fresca. 


Vá regar amigos, corrigir desavenças, plantar solidariedade

Seu companheiro é o tempo, quem você tanto queria

Esqueça o futuro, ele não te pertence, viva o agora

Seja cada vez mais observador, ouça o silêncio, um sábio


Tenha, sobretudo, a preguiça: ela será sua amante 

Reveja seus pecados, se arrependa, e cometa outros 

Divinamente destrua compromissos, construa sorrisos

Ame quem quiser, mas não esqueça do amigo aqui

Que te felicita 

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Bateu uma saudade

Bateu uma saudade

Hoje bateu uma saudade infantil e pura

Do uniforme azul, dos paralelepípedos,  ladeira

Do campão, areia, sol quente na testa suada

Brincadeiras e vantagens, mentiras e medos


Bento santo

O tempo não se contava, a sineta sim

As aulas eram a doce espera do recreio

O recreio era a vida na forma mais simples

Nesse compasso os ventos e as lacerdinhas


Santo Bento


Vi de tudo um pouco, coragem, esperteza

Ouvi outro tanto, senti o tanto do espanto

Ri demais e chorei de menos, bom tempo

O que recebi não tem preço, foi só amigos e apreço


Colégio São Bento


Hoje bateu uma saudade

Maior ainda dos que não sentem mais

A saudade aqui juntos, pra lá foram

Jogar, brincar, no campão divino

Do

São Bento

domingo, 7 de junho de 2020

O pilar


O pilar 


Nasci com a missão maior de carregar

Como Aquiles faço meu árduo trabalho

Sou quem traz a sombra, o princípio

Na estrutura sou o rei, posto, de pé 


Quem me vê talvez não me compreenda

Sou forte por dentro, amigo de Euler

Sou o que mais reto te direciono 

Sou belo, másculo, herói calado


Sou coluna

Caminho

Pai 

Pilar 

Filho

Talvez até no espírito

Santo

Amém

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Bateu uma tristeza

Bateu uma tristeza

Sem avisar ela chegou toda proza
Dona tristeza é assim, não entra, invade
Vai trazendo sua mala de más notícias
Joga tudo no meio da sala e senta

Agora a casa é dela, sem limites
Não sabe se aquietar, remexe, vendaval
Traz o frio e se agasalha na sua frente
Te ver chorar e ri, sem a menor cerimônia

Visita incerta

Agora o silêncio, esse é outro desamigo
Faz companhia à ela, se comunicam, telepatia
Te ignora com classe e elegância
Senhor de fino trato, frequenta teatro
É

Malvado

Sinto que estou bem só ao lado deles
Percebi que adentram e não tenho querer
Sou um mais no enorme clube dos tristes

Choro.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Quando?


Quando tua vontade monta na minha
Como cavalo adestrado vou marchando

Quando teu desejo engole o meu
Sou rato enfeitiçado por olhos de cobra

Quando o meu veneno borbulha 
Você se desdobra em mirabolantes desculpas

Quando o amor aparece
Outro dia se foi

Quando a raiva adormece
A insônia perdura 

O fim será quando?
Virá pelas mãos do nunca?
Na corcunda dos ciúmes?
No vento frio da morte?

Quando?

O Não virar Sim
E
Na dobra do teus joelhos
Você rezar o perdão

terça-feira, 12 de maio de 2020

Os olhos do poeta

Olhos do poeta

O poeta não vê, ele sente
Não olha e sim percebe o
Imponderável

Na lucidez dos normais
Vê o torto belo
Na linha reta matematicamente
Vê as curvas se fechando

Esse olho não te pertence
Poeta
Essa tua imaginação sim
Poeta
Invente o mundo
Poeta
Os cegos de alma agradecem

domingo, 3 de maio de 2020

Mês de maio

Quando chega o mês de maio me apaixono
Uma paixão sem explicação...
Será porque é o mais feminino do ano ?
Será porque é o que beija todas as mães?
Ou será pela beleza celeste das noivas ?

Não sei, só sei que o céu fica mais azul claro
Que a brisa da manhã invade minha janela
Ar frio de preguiças mil, dá vontade de ficar
Ficar na cama, amar os livros, sonhar acordado

Não sei se esse amor trará frutos
Como um caqui vermelho que nos brinda
Não sei se esse amor me trairá como outros
Tomo um vinho tinto e penso

Mês mulher, mês amor, venha aplacar meu coração!
Coração sofrido de amores queimados no verão, aguados no Jobim de março e constatado mentira no duro Abril

Venha senhora de tantos carinhos e ternura
Venha ser a rainha da minha esperança
Venha floridamente, francesamente mulher
Brincar de amor comigo

Merci

terça-feira, 21 de abril de 2020

A pandemia e o custo humano

Pandemia e o custo humano

A tragédia é na área da saúde física, financeira e mental. Mortos alguns e os vivos trarão cicatrizes profundas na alma. A vida no confinamento é dura e amarga, as distâncias físicas encurtadas e os interesses serão conflitantes. É bom estar junto de quem você ama e quer bem, não o tempo todo: falta o ar necessário do " eu comigo mesmo" ou o alívio da solidão temporária. Muitos casamentos serão destruídos, amizades rompidas, valores revistos. Sentimentos colocados na panela de pressão para cozinhar dores, amores, raivas e mágoas; uma feijoada indigesta que temos que comer juntos, com ou sem a pimenta do desejo, vai descer e mal. Esse é o nosso momento de rever atitudes, respirar fundo e responder menos, se possível de voz baixa, calmo e sereno, monástica vida que tens, por obrigação, criar. A sensação do tempo congelado no próprio tempo, do vazio, do ar difuso no medo, cansa. Estamos exaustos, por que? Simples entender: não nascemos pra perder e muito menos pra entender que há outros mundos diferentes dentro de você mesmo e um em transformação lá fora, quando a clausura passar espero ter nova compreensão das coisas simples e simplesmente me conformar com os mistérios da vida e quem sabe da morte.

sábado, 4 de abril de 2020

Promessas de quarentena

As promessas na quarentena

Eu sei que nos momentos de dificuldade temos que nos apegar aos santos para amenizar nosso sofrimento e uma boa promessa ajuda, o santo gosta que se enrosca. Vamos lá :

- nunca mais segurar em uma vassoura ( exceção: em caso de legítima defesa e presente de natal pra adorável sogra )

- não passar em frente das casas Bahia, ponto frio, Magalu ( ô rima rica 😁) , para não ver os aparelhos da linha branca ( não sei quem deu o nome mas quando chego perto a coisa fica é PRETA! 😡).

- papel YES nunca mais, deve ter no mercado o papel NO, não posso ver um papel YES e não tremer de medo do espirro, assusta mais que rajada de AR 15.

- lavar cuecas não! Quando terminar esse castigo eu só usarei cuecas descartáveis ou, se não houver pra vender, vou colocar um Modess dentro da bicha e não lavo mais ! 😡

- vou gritar tanto PUTA QUE PARIU que a vizinhança vai me expulsar do prédio quando eu pôr os pés na rua, prometo rezar um terço ( com redução da pena um quinto ) para redimir esse deslize pecaminoso.

- não atender mais às ordens de minha mulher.

Rezei com tanta fé para Nossa Senhora da Quarentena que um clarão apareceu na minha frente, um anjo de olhos azuis, máscara e luvas me falou " a Santa aceitou sua promessa mas declinou do último pedido, ela disse que é Santa mas não tem essa competência, troque agora ". Fechei os olhos e pedi " quero ficar surdo! ". O anjo respondeu " isso é fácil pois você já está nesse caminho por longo tempo, fique tranquilo e durma em paz"

Ao acordar já ouvi, muito de longe, " vá...vá...fa...fa........zer............... Café"

O Santa boa! 😁

sábado, 22 de fevereiro de 2020

A perda da mãe



A perda da mãe é se lançar no vazio

O céu fica de um azul claro tão triste

Que de dentro da alma saí um suspiro de dor

O amor de mãe é o tudo dentro do nada

De onde viemos não sabemos

Pra onde vamos também não

Só uma coisa é certa : ela te dará a mão

Sempre

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O peso do futuro


O peso do futuro

Na idade mais ampla a mochila do futuro é leve

Na mocidade temos duro compromisso com o amanhã

Temos que plantar, trabalhar, acreditar no que virá

Agora só resta o saboroso presente, a vida é uma brisa boa

Até o derradeiro momento vou carregar a mochila vazia

Serei o vento nas árvores, a onda no mar, até o nada chegar