quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Escada de marinheiro

Quantas escadas já subi 

Quantas desci e outras sentei

Todas sem pensar e observar que

Há vida nelas


Já cai e me levantei

Outras olhei com olhos do passado

Muitas, tantas, simplesmente ignorei

Há ratos nelas 


Formas raras, curvas, medo

Contemplação rara, deslumbramento

Monumentos brigando com o Céu

Há história nelas 


Hoje, só hoje que vi 

Que naquelas que subi

Eu, verdadeiramente, não desci

Há orgulho em mim


Descendo e subindo fico no plano

Na planície dos olhos marejados 

No nada sou sem elas, sozinho

Olhando o mar e concluindo:


A vida é tão difícil quanto

A escada do marinheiro

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Tentando entender


Tento entender o que o homem fez na lua

E, qual a grande vantagem de descobrir?

O mistério do universo atrelado à Deus 

Seria a vida ?

Tento entender o sentido da vingança

Ainda procuro digerir o amargo do perdão

Seria a morte?

Vou levar comigo a marca da paixão

Essa senhora nunca perguntou nada 

Roubou a minha consciência sempre

Seria o amor?

Agora sem dúvidas afirmo 

Sou a dúvida ambulante 

Sou a certeza do nada

E

Nada com certeza

terça-feira, 20 de agosto de 2019

O sonho


Hoje acordei mais cedo para ver o sonho

Só que o sonho já me via de olhos abertos

Voltei a sonhar

Nesse sonho novo de nada de novo havia

Nos sonhos não há tempo nem espaço

O velho vira novo e o novo é nuvem

Voltei a acordar

Me vi mais confuso e embrulhado na coberta

Voltei a dormir acordado

Sonhei com a vida real e acreditei no que vi

Nunca mais sonhei, não mais sorri 

O sonho já não me desperta mais

Eu já não acredito no impossível

Olhos fechados e abertos 

Sem sonho

Morri

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Olhar perdido

Estado de alagoas, verão sol e calor, o verde dos canaviais invade retinas, um senhorzinho anda na pista de rolamento. Meu carro avança lentamente em busca de um atalho para ir rumo ao mar, as férias são direcionadas para o desfrute do litoral nordestino, praias e prazeres, vida feliz. Agora eu estou no meio da plantação da cana e cruzo com aquele homem de outra realidade, vivente do campo, magro e velho, sandálias curtidas e deformadas pelas jornadas de sol castigantes; a calça sacode no vento escondendo pernas finas de osso puro: fome. Aquele homem de camisa branca amarelada era o representante da miséria vivida, nordestina no destino em castigos diários, provação diária, dor. Fui observando sua silhueta de galho velho, seco e torcido, seu nariz de quase tucano e a pele de encardida feitura. O rosto quase sem expressão, de amassada tortura já não sabia transmitir emoção, o quase pedra refletia o quase morto humano. Seu olhar era perdido, via além do horizonte, sobre o verde da cana e além, sobre o azul. Ele nada me disse e tudo falou. Parti mais só que cheguei. Acelerei o carro na esperança de ver outras vidas, sorrisos, e crianças brincando... hoje ao me deitar veio-me seu olhar perdido e perdido fiquei até dormir com olhos molhados e tristes.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

A terceira idade na academia

Há 14 minutos
Detalhes
Uma coisa é certa: jovem não gosta de velho! Notei que a academia que frequento não está na " crista da onda " do modismo, ficando velha e os jovens correm para as mais modernas e atraente. As novas academias tem vários aparelhos modernos , azaração, desfile de corpos esculturais e muito selfies; a que frequento ficou pra trás ... os meus " colegas " são quietos e vão chegando de mansinho : os homens com cabelo penteado ( os carecas de boné ) , camisa esportiva, bermuda e, acreditem , sapato mocassim! Prontos para serem convidados para algum evento após a " malhação " . As senhoras são discretas, uma bolsa, camiseta da Renner e tênis coloridos; figem fazer exercícios e a conversa rola entre elas, uns amores ... Os velhos são mais aplicados e conversam menos, até um outro velho encostar...O objetivo é ir pra academia, malhar é outro objetivo, secundário, obsoleto! Passar a manhã na musculação, alongamento, yoga, pilates é uma diversão ( única ) para os velhotes. Um detalhe! Velho não leva celular pra academia! Impressionante como eles fazem pra se comunicar, deve ser telepatia  ou indução magnética! Fantástico! 
 A 3a idade é a que você pode " malhar " no seco ! Quando entra na piscina é um horror ! O professor faz os movimentos e os seculares alunos " tentam " acompanhar : levanta o braço direito e abaixa o esquerdo, não pode ! Vai dar merda ! Tem que ser tudo dentro d'água para o professor acreditar que estão fazendo o exercício. Sair da piscina é um desespero, a velhota sai ofegante e chamando Jesus o tempo todo, " ai Jesus, aí Jesus..." até se enrolar em um robe felpudo e caminhar no seco pra fora daquela piscina aquecida... menos um dia ... ufa !
E assim caminha a humanidade para viver 120 anos com saúde total! Por falar nisso, onde fica a minha academia????

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Enfrentando a velhice

Na verdade a idade me atingiu como um raio no campo
Não a desejava como também tinha até medo da velhice
Ela me escolheu como uma menina colhe uma rosa
Simples assim

Fui ficando quase um sábio e quase um grande homem
Digo quase pois nada é definitivo depois de perder amigos
Nada nesta estrada vida é tão importante quanto a marcha
Simples assim

Ter a certeza que o tempo vale muito e não contabilizo
Contar dias é tão enfadonho quanto numerar os anos
O que vale é estar no jogo e não de marcar um gol
Simples assim

Ser maduro é tão mais fácil quanto menos praticamos
Treinar mais o que? A vida é uma mochila nas costas, leve-a
Simples assim

Ame mais e desconfie menos
Olhe mais para o vazio, com calma
Pra lá vamos um dia
E todo dia pense que haverá um amanhã
Simples assim

domingo, 6 de janeiro de 2019

Salada de segundos

Salada de segundos 

Já devorei anos como um cão faminto 

Engoli meses com voracidade juvenil 

Algumas semanas foram mortas a pauladas




E esquecidas na geladeira da vida 

Agora estou de dieta e como segundos 

São eles deveras magros e sem sabor 

É o que sobrou da feira vida vivida 

É o que o relógio da vida me traz

sábado, 5 de janeiro de 2019

Conversa com meu espelho

Minhas conversas com o espelho são duras

A cada dia uma vaga resposta ele traz 

Uma nova mentira vem no meu rosto

Ele mente muito de mãos dadas ao tempo


No meu melhor sorriso desconfio de seu olhar

Ele é tão falso quanto são sete anos de azar

Na minha tristeza o vermelho do olho salta

Para o mergulho infinito dos reflexos 


A cada dia uma mudança, sem forças me despeço 

Com raiva não faço a barba e sujo tua cara de sabão 

Me rendo na tua imobilidade eterna sem um alô 

Te deixo embaçado no banho quente da covardia


Perdão calado dou lhe para tua morte sem mim

Ficarás só na parede mofada até o prego te matar

Estraçalhado no chão vais sentir minha falta

E lá no espelho dos meus pecados te encontrarei

Adeus