Meu eu hoje se encontrou com Meu eu de ontem no amanhã
A conversa foi sobre o presente no futuro
Meu eu não entendeu hoje
Meu eu desconfiou do amanhã
O ontem endoidou e esqueci o passado
Roberto Solano Novaes
Na vida o mais importante é o desejo, é o oxigênio das realizações. a imagem de colher a flor sempre me marcou. A flor é, e deve ser, sempre intocável, linda e viva. Sempre amei as Camélias, elas me ensinaram que a sensibilidade é algo para ser sentido e perseguido a todo momento. Não colha a flor, alimente-a, regue, reze por ela, deseje-a, faça disso uma regra, e se possível use-a para os homens!
Meu eu hoje se encontrou com Meu eu de ontem no amanhã
A conversa foi sobre o presente no futuro
Meu eu não entendeu hoje
Meu eu desconfiou do amanhã
O ontem endoidou e esqueci o passado
Roberto Solano Novaes
A vida não é um ângulo reto
Menos ainda uma curva perfeita
Quisera uma brisa fresca de verão
A vida é dura
Dura como pedra talhada
Calos doídos nas mãos do escultor
A arte do bem viver é viver com a arte
Então se acostume com o incerto
Derrape nas curvas
Descubra o artista
Você
Há uma ponte entre o sonho e a realidade
Essa ponte se chama expectativa
Ela balança com os ventos do humor
Ela cai nos terremotos da desesperança
A ponte da expectativa é frágil
Na terra dos sonhos tudo é fácil
Já na realidade o solo é perigoso
Cuidado, como engenheiro da sua ponte
Construa com o cimento da verdade
Use o aço da desconfiança
E
Boa obra!
Rivotril
O descompasso do meu coração quando cruzo o teu olhar, que médico há de explicar?
As palavras que eu quero dizer mas não consigo falar, que xarope vai me ajudar?
O beijo que tanto desejo roubar, que beija-flor há de realizar?
E o medo imenso de não saber te amar, que Rivotril há de sanar?
Roberto Solano Novaes
Senhora poesia
Blin blom...
Soa a campainha
Quem é?
Sou a poesia
O que queres?
Te encantar...
A moça abre a porta e vê uma senhora de olhos profundos, rosto corado, sorriso pleno.
Posso entrar? Diz a senhora.
Faça o favor disse a moça já encantada
A senhora entra com a certeza de não ver o óbvio
Você está amando? Pergunta a poesia
Não sei, responde a moça
Então me responda a três perguntas:
- ele te olha nos olhos?
- ele vê sua alma?
- ele já te beijou as mãos?
A moça disse que não
A poesia então disse
Bati na porta errada
Adeus
Roberto Solano Novaes
Nosso encaixe é perfeito
Sem defeito
Nosso amor foi desfeito
Com defeito
E agora?
Você sem seu par
Eu ímpar
Não sei viver
Sem encaixe
Com o mal feito
O amanhecer violento ( usando o Carlos Pena filho)
O amanhecer violento me tirou da cama
Levantei tonto para o espanto no espelho
Fui me assustar no primeiro passo
A rua e seus mistérios
Os pobres se esbarrando
O calor humano escorrendo pros ralos
Uma moça linda passou
O pensamento se desviou
E desisti do mundo
Voltei pra casa
Como um vagabundo
Tão escondida
Teu nome não condiz com tua beleza
Muitas vezes desvalorizada
Tantas outras ignorada
Poucas mulheres as vêem
Tantas esquecem
A nuca feminina
Armário de sentimentos
Fui arrumar meu armário de sentimentos
Lá encontrei uma sacola de defeitos
Minha mochila de pecados
A jaqueta da juventude mofada
A sandália da humildade sem uso
Uma meia furada do amor perdido
Uma camiseta do amigo que partiu
A calça jeans/Belchior que não me serve mais
Muita emoção espalhada
Uma caixinha de segredos
E uma carta de amor
Li, chorei, e fechei o armário
Sem guardar rancor
Roberto Solano Novaes
Quebrando algemas
Sou escravo dos meus pensamentos
Não sou o que penso
Nem penso no que sou...
Quero quebrar algemas
Libertar-me de mim mesmo
Aceitar a liberdade total
Até descobrir que o fim é o começo
Que amar é maior que desejar
Que as algemas libertam
Roberto Solano Novaes
A alegria do pobre transcende
A alegria do pobre é mais
Há um toque infantil
Há suavidade angelical
A alegria do pobre é pura
Beleza de se ver
Difícil de se compreender
Como só assim pode ser
Roberto Solano Novaes
Marquei encontro comigo mesmo
Lugar a combinar entre as partes
Foi numa rua deserta e escura
Debaixo de uma árvore cheia de pensamentos
Eu disse "quem é você?"
E, como Chico, "diga logo se gostas de mim"
A resposta veio lenta como a Lua
"Sou o teu mistério"
Como te desvendar?
Como me descobrir?
Meu outro eu respondeu
"Olhando para o céu e contando as estrelas"
Nos abraçamos fortemente
Para nunca mais perguntar novamente
Roberto Solano Novaes
A revolta do poeta
Não quero mais ser poeta
Não quero ser um fingidor como Pessoa
Nem ir para Pasárgada
Tão pouco perguntar "e agora José?"
As rosas não falam mesmo
Amanhã vai ser outro dia
Sem segredos de liquidificador
Sem Amélia, mulher de verdade
Eles passarão e eu passarinho
Não quero mais ser poeta
Poeta sofre sem saber
Poeta morre sem morrer
Poeta vive sem viver
Perdido na poesia
Os Passionais (o filme)
Os Passionais amam demais
Choram demais
São teatrais
Os Passionais esquecem demais
Pensam de menos
Italianos demais
Os Passionais não sabem falar
Gritam
Imploram por atenção
Quando têm a atenção
Não acreditam
Na própria emoção
Mistérios demais
Lapidando verdades descobri mentiras
Abraçando amigos achei inimigos
Costurando meus defeitos vi qualidades
Admitindo meus erros acertei mais
Dormindo de dia sonhei bastante
Nadando no raso me afoguei
Andando nas nuvens senti firmeza
Meu positivo é negativo por vocação
A vida tem mistérios demais
Roberto Solano Novaes
No mundo da delicadeza
No mundo da delicadeza as casas são leves
Paredes de algodão doce, engenharia infantil
As ruas são asfaltadas de nuvens
As pessoas são educadissimas
Quase não falam, se cumprimentam no olhar
Os amores são eternos e quase perfeitos
Os policiais não trabalham, as cadeias abertas
No mundo da delicadeza não há briga, nem cara feia
As meninas são fadas voadoras
Os meninos Peter pan
A vida é tão suave que não sabemos os dias
Nem se é tarde ou noite
O amanhecer é constante
Como a felicidade
Era só uma gota que
Descia pelo vale dos seios magníficos
Veio mais rápida e parou para ouvir o coração
Um vento quente chegou e ela avançou
Era verão, sol, calor, corpo nu
A gotinha se juntou à outra e desceram
Agora mais rápido possível até a barriga
Continuará ela sua jornada?
Você ajeitou seu chapéu e perfumou o ar
A gotinha criou coragem e derrapou loucamente
Até sumir, completamente, no umbigo
Assim eu, alucinado com a cena, ri
Você perguntou "está rindo de que?"
Respondi "da alegre vida de uma gotinha de suor"
Vinda de você, meu amor
Roberto Solano Novaes
Aquele momento fugaz
Entre o sinal verde e o vermelho
Que você sopra o café quente
Retoca seu penteado na pressa de sair
Olha os números do elevador subindo
Fecha os olhos na agulha da injeção
Respira fundo antes de puxar o esparadrapo
Beija a testa do filho antes dele dormir
Mergulha sua alma no perdão da óstia
Esse momento é o curto descanso da tua alma
Respirando teus suspiros descobri a leveza do ar
Bebendo do teu suor o sabor do amor
Olhando a tua beleza acreditei em Deus
Sentindo na tua mão o valor da arte
Sou obrigado a dizer que és divina
Te vendo com os lábios
Apalpando com a língua
Devorando com os olhos
Cheirando com as mãos
Degustando teus gemidos
Confundindo os sentidos
Senti que te amo
O fogo invadiu o céu queimando tudo
Os gravetos emergiram com raiva da terra
O Sol recebendo sua culpa eterna chorou
É o fim do mundo em brasa e pó
Nem as nuvens serão poupadas
Não vai sobrar nada
Só o remorso do homem
Com a mão queimada
Queria escrever algo impactante
Palavras de força, com emoção
Queria dizer mais ao coração
Não sei, não posso ter essa ilusão
Não sou Neruda nem Drummond
Tão pouco Quintana
Nem Pessoa eu sou
Sou poeta da desilusão
Procurando palavras
Que cheguem ao coração