sábado, 27 de janeiro de 2024

Meu hoje

 Meu eu hoje se encontrou com Meu eu de ontem no amanhã

A conversa foi sobre o presente no futuro 

Meu eu não entendeu hoje

Meu eu desconfiou do amanhã

O ontem endoidou e esqueci o passado


Roberto Solano Novaes

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

A vida não é um ângulo reto

 A vida não é um ângulo reto


Menos ainda uma curva perfeita


Quisera uma brisa fresca de verão


A vida é dura




Dura como pedra talhada


Calos doídos nas mãos do escultor


A arte do bem viver é viver com a arte




Então se acostume com o incerto


Derrape nas curvas


Descubra o artista


Você

Expectativa

 Há uma ponte entre o sonho e a realidade

Essa ponte se chama expectativa 

Ela balança com os ventos do humor

Ela cai nos terremotos da desesperança


A ponte da expectativa é frágil

Na terra dos sonhos tudo é fácil

Já  na realidade o solo é perigoso


Cuidado, como engenheiro da sua ponte

Construa com o cimento da verdade

Use o aço da desconfiança

E

Boa obra!

Rivotril

 Rivotril


O descompasso do meu coração quando cruzo o teu olhar, que médico há de explicar?


As palavras que eu quero dizer mas não consigo falar, que xarope vai me ajudar?


O beijo que tanto desejo roubar, que beija-flor há de realizar?


E o medo imenso de não saber te amar, que Rivotril há de sanar?


Roberto Solano Novaes

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Senhora poesia

 Senhora poesia


Blin blom...

Soa a campainha

Quem é?

Sou a poesia

O que queres?

Te encantar...

A moça abre a porta e vê uma senhora de olhos profundos, rosto corado, sorriso pleno.

Posso entrar? Diz a senhora.

Faça o favor disse a moça já encantada

A senhora entra com a certeza de não ver o óbvio

Você está amando? Pergunta a poesia

Não sei, responde a moça 

Então me responda a três perguntas: 

- ele te olha nos olhos?

- ele vê sua alma?

- ele já te beijou as mãos?

A moça disse que não

A poesia então disse

Bati na porta errada

Adeus


Roberto Solano Novaes

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Encaixe perfeito

 Nosso encaixe é perfeito

Sem defeito


Nosso amor foi desfeito

Com defeito


E agora? 

Você sem seu par

Eu ímpar


Não sei viver

Sem encaixe

Com o mal feito

sábado, 20 de janeiro de 2024

O amanhecer violento

 O amanhecer violento (  usando o Carlos Pena filho)


O amanhecer violento me tirou da cama

Levantei tonto para o espanto no espelho

Fui me assustar no primeiro passo

A rua e seus mistérios

Os pobres se esbarrando

O calor humano escorrendo pros ralos

Uma moça linda passou

O pensamento se desviou

E desisti do mundo

Voltei pra casa

Como um vagabundo

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

A nuca

 Tão escondida

Teu nome não condiz com tua beleza

Muitas vezes desvalorizada

Tantas outras ignorada

Poucas mulheres as vêem 




Tantas esquecem


A nuca feminina

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Armário de sentimentos

 Armário de sentimentos


Fui arrumar meu armário de sentimentos

Lá encontrei uma sacola de defeitos

Minha mochila de pecados 

A jaqueta da juventude mofada

A sandália da humildade sem uso

Uma meia furada do amor perdido

Uma camiseta do amigo que partiu

A calça jeans/Belchior que não me serve mais

Muita emoção espalhada

Uma caixinha de segredos

E uma carta de amor

Li, chorei, e fechei o armário

Sem guardar rancor


Roberto Solano Novaes



domingo, 14 de janeiro de 2024

Quebrando algemas

 Quebrando algemas


Sou escravo dos meus pensamentos

Não sou o que penso

Nem penso no que sou...


Quero quebrar algemas

Libertar-me de mim mesmo

Aceitar a liberdade total


Até descobrir que o fim é o começo

Que amar é maior que desejar

Que as algemas libertam


Roberto Solano Novaes

Alegria de pobre

 A alegria do pobre transcende

A alegria do pobre é mais

Há um toque infantil

Há suavidade angelical


A alegria do pobre é pura

Beleza de se ver

Difícil de se compreender

Como só assim pode ser


Roberto Solano Novaes

Encontro comigo mesmo

 Marquei encontro comigo mesmo 

Lugar a combinar entre as partes

Foi numa rua deserta e escura

Debaixo de uma árvore cheia de pensamentos


Eu disse "quem é você?"

E, como Chico, "diga logo se gostas de mim"

A resposta veio lenta como a Lua

"Sou o teu mistério"


Como te desvendar?

Como me descobrir?


Meu outro eu respondeu

"Olhando para o céu e contando as estrelas"


Nos abraçamos fortemente

Para nunca mais perguntar novamente


Roberto Solano Novaes

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

A revolta do poeta

 A revolta do poeta


Não quero mais ser poeta

Não quero ser um fingidor como Pessoa

Nem ir para Pasárgada

Tão pouco perguntar "e agora José?"

As rosas não falam mesmo

Amanhã vai ser outro dia

Sem segredos de liquidificador

Sem Amélia, mulher de verdade

Eles passarão e eu passarinho

Não quero mais ser poeta

Poeta sofre sem saber 

Poeta morre sem morrer

Poeta vive sem viver

Perdido na poesia

domingo, 7 de janeiro de 2024

Os Passionais

 Os Passionais (o filme)


Os Passionais amam demais

Choram demais

São teatrais


Os Passionais esquecem demais

Pensam de menos

Italianos demais


Os Passionais não sabem falar

Gritam 

Imploram por atenção


Quando têm a atenção

Não acreditam

Na própria emoção

sábado, 6 de janeiro de 2024

Mistérios demais

 Mistérios demais


Lapidando verdades descobri mentiras

Abraçando amigos achei inimigos

Costurando meus defeitos vi qualidades

Admitindo meus erros acertei mais

Dormindo de dia sonhei bastante


Nadando no raso me afoguei

Andando nas nuvens senti firmeza

Meu positivo é negativo por vocação

A vida tem mistérios demais


Roberto Solano Novaes

No mundo da delicadeza

 No mundo da delicadeza


No mundo da delicadeza as casas são leves

Paredes de algodão doce, engenharia infantil

As ruas são asfaltadas de nuvens

As pessoas são educadissimas

Quase não falam, se cumprimentam no olhar

Os amores são eternos e quase perfeitos

Os policiais não trabalham, as cadeias abertas

No mundo da delicadeza não há briga, nem cara feia

As meninas são fadas voadoras

Os meninos Peter pan

A vida é tão suave que não sabemos os dias

Nem se é tarde ou noite

O amanhecer é constante

Como a felicidade



sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Era só uma gota

 Era só uma gota que


corria despretensiosamente

Descia pelo vale dos seios magníficos

Veio mais rápida e parou para ouvir o coração

Um vento quente chegou e ela avançou

Era verão, sol, calor, corpo nu

A gotinha se juntou à outra e desceram

Agora mais rápido possível até a barriga

Continuará ela sua jornada?

Você ajeitou seu chapéu e perfumou o ar


A gotinha criou coragem e derrapou loucamente

Até sumir, completamente, no umbigo

Assim eu, alucinado com a cena, ri

Você perguntou "está rindo de que?"

Respondi "da alegre vida de uma gotinha de suor"

Vinda de você, meu amor


Roberto Solano Novaes

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Aquele momento

 Aquele momento fugaz 

Entre o sinal verde e o vermelho

Que você sopra o café quente

Retoca seu penteado na pressa de sair

Olha os números do elevador subindo

Fecha os olhos na agulha da injeção

Respira fundo antes de puxar o esparadrapo

Beija a testa do filho antes dele dormir

Mergulha sua alma no perdão da óstia


Esse momento é o curto descanso da tua alma

És divina

 Respirando teus suspiros descobri a leveza do ar

Bebendo do teu suor o sabor do amor

Olhando a tua beleza acreditei em Deus

Sentindo na tua mão o valor da arte

Sou obrigado a dizer que és divina

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Confundindo os sentidos

 Te vendo com os lábios

Apalpando com a língua

Devorando com os olhos

Cheirando com as mãos


Degustando teus gemidos

Confundindo os sentidos

Senti que te amo

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

O fim do mundo

 O fogo invadiu o céu queimando tudo

Os gravetos emergiram com raiva da terra

O Sol recebendo sua culpa eterna chorou

É o fim do mundo em brasa e pó

Nem as nuvens serão poupadas

Não vai sobrar nada 

Só o remorso do homem

Com a mão queimada



segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Poeta da desilusão

 Queria escrever algo impactante

Palavras de força, com emoção

Queria dizer mais ao coração

Não sei, não posso ter essa ilusão

Não sou Neruda nem Drummond

Tão pouco Quintana

Nem Pessoa eu sou

Sou poeta da desilusão

Procurando palavras

Que cheguem ao coração