domingo, 30 de agosto de 2015

Uma senhora de idade



  Recebi em casa a visita de uma senhora de idade, por pouco tempo, mas o suficiente para conversarmos muito e, para mim, observar o quanto a vida é um sopro ou uma brevidade talvez; uma magnífica aventura, sob os olhos da dignífica senhora de mais  idade. A idade é muito mais mental do que física (dizem os jovens e os otimistas), a mente conduz o corpo, não temos que temê-la, viver o dia-a-dia e não pensar na velhice. Fácil assim. Ficar velho é o doloroso castigo que podemos fugir e ( ou ) fingir. Essa senhora ensinou-me que fingir é um ato e fugir uma opção falsa, não há coluna que não se vergue e costas que não doam, memória que não falhe e solidão que não nos persiga. Viveu uma vida dura com um marido apegado, filhos muitos, parentes demais, amigos de menos, trabalho mental enorme e emocional absurdamente lapidado em lágrimas escondidas e frustrações absurdas. Sorriu e ainda sorri, acha graça em estar ainda viva na fé em cristo salvador e na sua grande autoestima. Mulher de garra e de briga, doce como o mais delicioso doce de coco verde, verde, verdade hoje ainda!  Não tem a postura de antes: a cervical se curva para frente, cansada; mas com sua altivez ela compensa seu perfil de idosa: uma rainha, de olhos muito verdes na eterna esperança da vida eterna. Hoje vive um dia após outro com seu terço para rezar no quarto solitário da  viuvez recente, tem problemas, tem filhos adoráveis, tem os pés doloridos para caminhar, tenta acompanhar as novidades, a internet, o celular que toca e não responde seus frágeis toques na tela, tem muita vergonha de não saber mexer nesses aparatos infernais, adora uma novela, tem saudades do bom e velho telefone com fio e disco, do velho e eterno Chacrinha. Hoje luta contra uma surdez pequena que embaralha sua audição e maltrata sua vaidade: “surda eu? Não! Seu pai é que era surdo!”. Ronca no cochilo da tarde: “eu nunca ronquei! ", e se acha muito ativa ! Disfarça muito bem suas rugas e diz "nunca fiz plástica”, toda feliz! Aquela amiga que fez se arrependeu, ou pior: " ficou sem expressão ". Duro é suportar os convites para ser jovem novamente! " Mamãe vai virar a noite dançando ", pensam as filhas, e todos acham que ela é ainda o eixo e esteio da família, a toda poderosa de sempre, a mulher de fibra , um porto seguro.
  Aprendi em uma semana o valor da boa conversa, da simples razão de não ter razão, do riso frouxo e da boa mentira! O amor, sim, esse cidadão se fez presente; tudo estava centrado nele, no querer viver bem, nas poucas e roucas palavras, na desobrigação de se entender, em alguma desordem mental que só traz alegria ao viver, sem a obrigação de acertar, sem cobranças. Fico feliz em participar da vida dessa senhora de idade, sem idade, de aprender a  contabilizar o nada, só querendo receber carinho e dar um algo mais que poucos podem entender: o justo compreender que nada faz sentido sem o que já fez muito sentido, que o passado é a única moeda que temos para dar em troca aos que ainda se sentem jovens, e que, é nessa moeda que  eles também vão pagar esse preço.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Conselho ao filho que sai de casa




Conselho ao filho que sai de casa

 Seu pai um dia fez o mesmo que você e teu filho também fará
Aprendestes o bastante para errar com humildade
Aprendestes muito pouco para acertar com absoluta certeza
Vais pousar em outras terras, conquistar o seu espaço, voa!

Seu pai fez o que podia com as asas que tinha e olhos de águia
Agora te vá passarinho, lutar com os ventos, buscar abrigo e sonhar
Aprenda a contar até 10, respire fundo e decida pelo coração
Seu pai quis te ensinar o que sabia, mas, perdoa, ele não sabe muito...

Nem muito nem pouco, bata na cara da sorte e respeite adversários
Tenha medo sem vergonha de ter, chore sozinho, mostre determinação
Apanhe da vida sorrindo, levante troféus com indagações, aceita e só!
Veja teu futuro como o céu de todo dia, sol, chuva e vento, calor e frio

Agora nunca se esqueça de tua mãe, ela sim se doou além das forças
Seu pai foi uma testemunha do amor maior, materno, sobrenatural
Reze por ela e pelas mulheres, sempre sabendo que o mundo é delas!
Respeite o próximo, cultive a saúde do corpo e só lembre do que foi bom

Ouça música, leia poemas, ria sem motivo, acalme seus devaneios
Grite sozinho, lute com tua sombra e respeite-a!
Jamais diga não se puder dizer um talvez
E, talvez, um dia, entenda seu Pai.


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O dia em que o mundo recomeçou




O dia em que o mundo recomeçou


 Fazem  70 anos que o homem brincou de Deus e fez o inferno. Neste fatídico dia a força maior da natureza sem controle, de átomos colidindo e gerando uma energia inimaginável, sem medidas, um louco cogumelo de fumaça e fogo a destruir tudo. A guerra acabou e o medo fez a humanidade se calar, num medo maior que a própria imagem do demônio, uma dose de veneno maior que o dragão que o cuspia, um horror que não cabia no planeta. Matou e mutilou, deixou o castigo eterno da radiação, mudou o DNA e mutilou esperanças, ficamos todos orfãos, sem ação. Sempre houve matança, dor e poder,somos bichos maus e passamos a ser terríveis! Fizemos a bomba nuclear para mudar o mundo dos dias contados para os dias que  ainda faltarão: um relógio ao contrário, na contagem do pavor. Os poderosos tiveram a coragem de mudar a ordem lógica da guerra, não é mais a força que ganha e sim o capeta sem controle. Deus fez o mundo e o homem o desfez, conseguiu o impensável: destruir o mundo em uma ordem, um telefonema, um botão vermelho. O inferno veio do céu, sobre um povo milenar, cortando vidas e levando crianças, entortando a roda da vida. Choremos e nunca mais esqueçamos desse horror colossal, desse dia em que o mundo recomeçou mais triste, mudo e sem entender mais nada.